Porque é que a Segunda Internacional defende Trotsky (N. Krupskaya, 1936)

Nota do blog: Publicamos artigo da grande dirigente comunista russa Nadezhda Krupskaya, camarada de armas do grande Lenin, em combate à defesa e proteção dos oportunistas da Segunda Internacional ao bando contrarrevolucionário trotskista-zinovievista, responsável por articular décadas a fio atividades conspirativas de terrorismo, sabotagem e traição contra a ditadura do proletariado na União Soviética, para isso chegando a aliar-se e realizar espionagem para a Alemanha Nazista e outros países fascistas e imperialistas. Precede o escrito uma apresentação redigida pelo Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) e veiculada em seu portal em fevereiro de 2010, recuperada através do Arquivo da Internet.

Caricatura soviética de 1927 ridicularizando Zinoviev, Trotsky e Kamenev, líderes da “Oposição de Esquerda” e de centros terroristas e conspirativos contra a ditadura do proletariado na União Soviética. Trotsky é o tangedor de órgão, Kamenev, o papagaio e Zinoviev, a chanteuse (cantora de boate): “Tocamos e tocamos, mas ninguém escuta!”.

Apresentação

É com muito interesse que publicamos texto do ano de 1936 da grande revolucionária, camarada de armas de Lenin, Nadezhda Konstantinovna Krupskaya (1869-1939).

Revolucionária, pedagoga, após o triunfo da revolução socialista de 1917 foi coordenadora do Glavpolitprosvet (o Comitê Principal para Educação Política) e delegada coordenadora no Comissariado para a Instrução Pública, militante bolchevique e membro do Comitê Central do Partido Comunista da Rússia (b) (1927-1939), esposa e camarada de Vladimir Ilyich Lenin.

Krupskaya discursando a soldados de uma Divisão de Infantaria do Exército Vermelho na Frente Sul durante a Guerra Civil Russa, 6 de setembro de 1918.

O texto remete exatamente ao ano em que em todo o mundo rufavam os tambores da Segunda Guerra Mundial, resultado da aguda crise geral do sistema capitalista a nível mundial e da necessidade dos grupos mais vorazes do capital financeiro empreenderem nova partilha do mundo. E, uma vez que em um sexto do planeta, no território da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, não apenas não havia crise econômica como se edificava uma nova sociedade, uma cultura e uma vida revolucionárias e progressistas, um novo Homem mesmo, atacar a Pátria do Socialismo, exemplo de uma vida nova para todas as massas exploradas e oprimidas em todo o mundo, era questão crucial. Varrer a União Soviética, o sistema socialista, tal era o sonho dos senhores da guerra em todo o mundo.

E essa ação nefasta encontrou aliados decisivos, no interior da União Soviética, precisamente no revisionismo, nos antigos dirigentes que há anos vinham sabotando a construção do socialismo e usando de seus cargos para frear a marcha histórica rumo à frente. Explosões de fábricas, assassinatos, planos de auxílio a uma eventual invasão estrangeira, nada fugia ao repertório dos bandidos que sonhavam regressar ao capitalismo. Os trotskistas, Trotsky em pessoa, como demonstram os fatos históricos, foram peça-chave tanto no pacto com a polícia secreta alemã para tentar derrocar o regime soviético quanto na campanha difamatória mundial contra a Pátria Socialista e seus dirigentes, particularmente o grande camarada Stalin.

Assim, quando nos processos de Moscou, acompanhados pelo mundo inteiro, os mais vis renegados e terroristas traidores da causa do Socialismo, como Bukharin, confessaram seus planos e foram condenados pela férrea mão da ditadura do proletariado, nesse momento aqueles mesmos países que invadiram e pilharam e devastaram a URSS nos anos que se seguiram imediatamente à vitória da Revolução de Outubro, aqueles mesmos que fomentaram as duas guerras mundiais, que lançaram pela primeira e até agora única vez bombas atômicas sobre seres humanos, esses mesmos correram a denunciar a “barbaridade”, o “totalitarismo” que é a ditadura dos antigos explorados sobre os seus algozes…

E enquanto os Partidos Comunistas, orientados pela gloriosa Internacional Comunista, sustentavam sua luta em meio a mais severa clandestinidade, resistindo heroica e diariamente à barbárie nazifascista, enquanto na Espanha revolucionária os combatentes somente encontraram apoio material e humano na URSS internacionalista, enquanto em todo o mundo acirrava-se a contradição entre o sistema imperialista e o, então frágil porém inquebrantável sistema socialista, nesse momento de que lado o sr. Trotsky, do alto de suas colunas no New York Times, de que lado se colocava?

Esse texto de Krupskaya trata exatamente deste tema. Camarada e esposa de Lenin, é frequentemente citada pelos trotskistas e “objetivos investigadores do regime soviético” como adversária irreconciliável de Stalin e do Comitê Central bolchevique, “vítima” de Stalin, etc., etc… Mas, como diz o provérbio, os fatos são persistentes. E a verdade histórica é uma só.

Este curto documento é um flagelo contra essas tentativas ridículas e estapafúrdias de contrapor Krupskaya ao regime soviético. Acusa com firmeza a união de todos os reacionários contra o País dos Sovietes e refere-se à Stalin como “o coração e o cérebro da revolução”. Nestes dias em que a calúnia e a falsificação histórica ganham ares de uma verdade quase incontestável, ir até a fonte é mais que uma necessidade: é uma obrigação.

E, olhando e procurando com espírito crítico, dever-se-á reconhecer: não importa o dinheiro gasto em publicidade anticomunista, a realidade encarrega-se de dissipá-la. E é a própria vida e luta cotidiana das massas exploradas em todo o mundo a prova maior da vitalidade e vigor revolucionário estampado na gigantesca obra teórica e prática dos grandes chefes do proletariado revolucionário internacional Marx, Engels, Lenin, Stalin e o Presidente Mao.

Lenin e Krupskaya em 1922.

A direção caluniosa da Segunda Internacional

Porque é que a Segunda Internacional defende Trotsky

N. Krupskaya

4 de setembro de 1936

“O socialismo não se edifica por ordens vindas de cima. O automatismo burocrático é incompatível com a sua essência: o socialismo vivo e criador, é a obra das próprias massas populares”,1 dizia Lenin, nos primeiros dias da nossa Revolução Socialista de Outubro.

Em 6 de maio de 1919, no seu discurso ao I Congresso Russo da Instrução Pós-Escolar, Lenin declarava: “Se nos chamamos Partido dos Comunistas, devemos compreender que só agora, quando vencemos obstáculos de ordem externa e destruímos as velhas instituições, é que pela primeira vez se coloca realmente, e em toda a sua amplitude, a primeira tarefa da verdadeira revolução proletária, a saber, a organização de dezenas e de centenas de milhão de homens.”2

Depois da morte de Lenin, as massas uniram-se ainda mais estreitamente em torno do Partido. “Lenin está morto, mas a sua obra vive”. Decorridos anos estivemos em posição de ver como, dia a dia, crescia e se reforçava a organização de dezenas de milhões de trabalhadores, chamados, em número cada vez maior, à administração do país, à edificação do socialismo. O caráter social do nosso país soviético modificou-se inteiramente; milhares e dezenas de milhares de organizadores saíram do seio das massas populares. E como provas eloquentes, temos o movimento stakanovista, as conferências do último inverno entre os dirigentes do Partido e do governo e os organizadores do trabalho nos diferentes ramos de produção. Kolkhozianos, operários, condutores de ceifeiras-debulhadoras, camponeses recolhendo mais de 500 quintais de beterrabas por hectare, etc. Todos puderam ver como, na base da organização econômica, a amizade entre os povos dos países dos Sovietes se reforçou e como o nível cultural das massas se elevou. E as inúmeras massas de trabalhadores veem como Stalin se dedica inteiramente e sem reservas à sua causa, à causa de Lenin, à causa da edificação socialista, como as conduz para uma vida melhor. Veem-no e têm confiança nele, rodeiam-no duma confiança e amor absolutos.

Os trotskistas e zinovievistas não se preocupam com o futuro das massas. Tudo com o que eles se preocupavam era como eles poderiam agarrar o poder, mesmo se isso fosse com a ajuda da Gestapo e dos mais selvagens inimigos da ditadura do proletariado, ansiosos para restaurar o estado burguês da sociedade e a exploração capitalista das massas de trabalhadores no país dos Sovietes.

Tinha-se iniciado uma discussão no fim de 1920, sobre o papel dos sindicatos. E Lenin escrevia, a respeito da posição de Trotsky: “Ele (Trotsky) caiu numa série de erros quanto à própria essência da questão da ditadura do proletariado. Mas, independentemente disso, perguntamo-nos porque é que falta entre nós um trabalho de colaboração amigável de que teríamos tanta necessidade? Isso diz respeito às nossas divergências na questão dos métodos a adotar para abordar as massas, para exercer uma influência preponderante sobre as massas, para se ligar com as massas. Reside aí o essencial.”3

Não foi por acidente que Trotsky, que nunca captou o caráter essencial da ditadura do proletariado, que nunca compreendeu o papel desempenhado pelas massas na construção do socialismo, Trotsky, que acreditava que o socialismo poderia ser construído a partir de ordens superiores, optasse pela via de organizar atos terroristas contra Stalin, Voroshilov, e outros membros do Birô Político que estão ajudando as massas a edificar o socialismo.

Não foi por acaso que o inescrupuloso bloco em torno de Kamenev e Zinoviev andou junto com Trotsky, passo a passo, em direção ao abismo da insondável traição à causa de Lenin, à causa das massas trabalhadoras, à causa do socialismo. Trotsky, Zinoviev, Kamenev, e todo o seu bando de assassinos, trabalharam lado a lado com o fascismo alemão e formaram uma aliança com a Gestapo.

Daí a unanimidade de todo o país em sua exigência: “Esses cães malucos devem ser fuzilados!” Quando leram nos jornais as confissões dos acusados no processo, os operários disseram-se: “Eles queriam restaurar a ditadura burguesa; quanto a nós, as massas, tinham-nos esquecido; os teríamos alguma vez deixado chegar ao poder?”. Com efeito, esqueceram que “o socialismo vivo e criador é obra das próprias massas” e colocaram-se nas primeiras fileiras da burguesia contrarrevolucionária.

Eles desejavam semear a confusão nas massas. Eles queriam assassinar o Camarada Stalin, o coração e o cérebro da Revolução. Eles falharam. O miserável bando de canalhas foi executado.

As massas estão se reunindo mais próximas do que nunca em torno do Comitê Central; sua lealdade a Stalin é mais forte do que antes.

Elementos sem-partido escrevem-nos que se deveria publicar, a título de suplemento, as obras completas de Lenin e de Stalin nos jornais de grande tiragem. O grau de consciência, a sede de aprender aumentam. “Ah! Como é magnífica a escola de adultos construída em Pushkino: não deixamos de admirar!”, dizia-me no outro dia um velho camarada, dirigente de uma empresa, que, há quarenta anos, tinha seguido os meus cursos do Domingo. Ele tinha também conhecido a prisão. A partir de 1918, organizou na sua aldeia natal um kolkhoze hortícola e recebeu um prêmio de “um milhão de rublos” pelo seu trabalho modelo como diretor de um sovkhoze.

A edificação socialista desenvolve-se e com ela crescem as necessidades culturais das massas. Devemos satisfazer essas necessidades, reforçar as escolas de adultos, alargar a rede destas escolas, a das bibliotecas, criar casas de cultura, clubes nos kolkhozes e museus. Na etapa atual, deve-se, sobretudo, dirigir a atenção para a qualidade do ensino, para a qualidade do trabalho das bibliotecas, das salas de leitura, dos clubes e das casas de cultura.

Dispomos já duma rica experiência neste domínio. Depois da Revolução Socialista de Outubro, a iniciativa dos operários manifestou-se grandemente no domínio cultural. E as tentativas que não foram bem sucedidas porque não souberam sempre ter em conta dificuldades e porque se tomava os “desejos por realidades”, mesmo essas tentativas não foram perdidas, trouxeram os seus frutos. Elas ensinaram-nos a encarar melhor o presente, a odiar ainda mais os vestígios do passado, tornara-nos ainda mais conscientes da necessidade de alargar e aprofundar os nossos conhecimentos e de saber aplicá-los à própria vida. Vemos que a edificação socialista progride incessantemente e que o trabalho continua ainda mais intenso, em colaboração mais estreita.

Nem é acidental que a Segunda Internacional se comporta como se tivesse enlouquecido, apressando-se para proteger o bando assassino de Trotsky e Zinoviev, e esforçando-se para desmanchar a Frente Popular. De Brouckere, Citrine, e seus companheiros, pedem perdão por todas as malfeitorias cometidas pelos inimigos da classe operária da União Soviética, contra seu Partido e seus líderes. No uivo antissoviético levantado pelo mundo burguês, a voz da Segunda Internacional é a mais alta.

A Terceira Internacional nasceu da luta contra a Segunda Internacional. Com o auxílio de renegados, Kautsky e seus comparsas, a Segunda Internacional continuou numa selvagem direção caluniosa contra a ditadura do proletariado, contra o poder soviético. A Segunda Internacional se empenha em defender e justificar a ordem capitalista e em atirar areia nos olhos das massas operárias. Portanto, ela agora apoia o agente da Gestapo, Trotsky. Mas a tentativa foi um fracasso. Nossa terra soviética se tornou uma terra poderosa, e ergue cada vez mais alto a bandeira do Comunismo. Com firmes passos ela avança constantemente no caminho indicado por Marx, Engels e Lenin.

Nem os trotskistas, nem os partidários de Zinoviev, nem a Segunda Internacional, obterão êxito em esconder o fato e em jogar areia nos olhos das massas.

A situação tensa do cenário internacional e a ameaça do perigo da guerra aumentarão a cautela dos trabalhadores e aumentarão e reforçarão a Frente Popular das massas trabalhadoras do mundo inteiro.

Izvestia, 4 de setembro de 1936, nº 224.4


1 V. I. Lenin, Obras Completas, tomo XXII, p. 45, edição russa.

2 V. I. Lenin, Obras Completas, tomo XXIV, p. 277-278, edição russa.

3 V. I. Lenin, Obras Completas, tomo XXVI, p. 66, edição russa.

4 Uma versão resumida desse artigo foi veiculada em “International Press Correspondence” (12 de setembro de 1936, volume 16, nº 42, p. 1162) e sua tradução está no site Revolutionary Democracy, sob o título “Por que a Segunda Internacional toma Trotsky sob sua proteção”. A versão integral, em inglês, se encontra no mesmo site, sob o título “Why Is the Second International Defending Trotsky?”. Foi traduzida para português de Portugal pelas Edições Maria da Fonte, como parte do livro “O Complô contra a Revolução Russa: os ensinamentos do Processo de Moscou contra o centro trotskista-zinovievista” (1936). A versão que publicamos em Servir ao Povo baseia-se na tradução (da versão resumida) de Revolutionary Democracy, acrescida dos demais trechos da íntegra das Edições Maria da Fonte.