Resenha: Guerra de Túneis (1965)
Ficha técnica
Título: Guerra de Túneis (Dì dào zhàn)
Diretor: Ren Xudong
Roteiristas: Ren Xudong e Pan Yunshan
Data de lançamento: 1965
Duração: 96 minutos
Nota do blog: Publicamos a seguir uma resenha sobre o filme “Guerra de Túneis“, produzido na China Popular (1949-1976) em 1965, às vésperas da Grande Revolução Cultural Proletária (1966-1976). O filme trata de um dos grandiosos capítulos da Grande Revolução Chinesa: a Guerra Antijaponesa (1937-1945), e apresenta um aspecto real deste processo, que foi a utilização de túneis pelo povo e mílicias, tanto para resistir como para atacar o invasor fascista japonês. Essa tática colocada em prática pelas massas sob orientação do Partido Comunista da China – PCCh ressoa até os dias de hoje nos processos de lutas anti-imperialistas, como é o caso dos túneis construídos pela Resistência Nacional Palestina.
O filme “Guerra de Túneis” começa 5 anos após o início da invasão japonesa na China e da resistência do povo deste país, quando ocorre, em 1º de maio de 1942, um grande massacre no distrito de Jizhong. Logo após isso, o exército fascista japonês se dirige para as pequenas vilas desse distrito, atacando de maneira sanguinária sua população e causando uma grande destruição. Um desses locais é a Vila Gaojia, que já teve seu chefe da vila assassinado no ataque ao distrito, e agora conta com várias casas destruídas e muitas prisões. A partir disso, os habitantes e milícia da vila começam a pensar como se defenderão da agressão do invasor fascista japonês e, em conjunto, escolhem ampliar e melhorar as cavernas que passam por baixo da vila para que pudessem esconder a população local e se proteger dos ataques dos invasores. Após um longo processo de preparação dos túneis, há um segundo ataque, já com menos mortes, mas ainda sem a população conseguir contra-atacar de maneira consistente os inimigos, não evitando assim mais destruição na vila e o assassinato do novo chefe da vila. Neste momento, nota-se a necessidade de preparar os túneis não apenas para se esconder, mas principalmente para atacar os invasores, começando assim uma complexa construção de estruturas de combate, torres de vigilância, proteções para os atiradores e, principalmente, melhorias nos túneis, envolvendo rotas de fuga, sistemas de drenagem e proteção contra fumaça, armadilhas e muito mais. Acontece um terceiro ataque, muito maior e cruel que os primeiros, mas com a utilização das novas estruturas construídas e com a ajuda do Exército Principal, sob comando do Partido Comunista da China – PCCh, os invasores fascistas japoneses são duramente derrotados e têm que retornar para sua base. Com isso, a milícia e o Exército percebem que é o momento para atacar a base do inimigo e vencer de vez a batalha.
Como um filme, “Guerra de Túneis” já apresenta um enredo bastante interessante de como um povo de uma vila rural, sem armas, sem recursos e em desvantagem numérica pôde combater e vencer um exército fortemente armado de um país imperialista e fascista]como o Japão. Porém, a história do filme não é apenas um enredo de ficção, mas sim retrata acontecimentos reais da Guerra Antijaponesa na China (1937-1945) e a tática da guerra de túneis foi de extrema importância para a resistência e vitória do povo chinês e do PCCh. Inclusive, esta não foi a única vez na história que a tática dos túneis foi utilizada da mesma forma que na China. É possível citar o exemplo do Vietnã na guerra contra o imperialismo ianque e, mais recentemente, o uso dos túneis pela Resistência Nacional Palestina, principalmente o Hamas, na sua heroica batalha contra o Estado sionista de Israel.
Além de narrar a grandiosa luta do povo chinês, o filme apresenta em sua trama conceitos do maoismo e demonstra, de maneira mais implícita, importantes aspectos da construção da Guerra Popular, plasmados pelo Presidente Mao Tsetung. Um destes aspectos que fica bastante claro ao assistir ao filme é a necessidade da participação do povo na guerra e a importância que isto teve para a vitória chinesa. A guerra de guerrilhas e a guerra de túneis proporcionaram uma resistência em áreas que se encontravam atrás das linhas inimigas. Assim como em todos os aspectos da Guerra Popular, neste cenário o aspecto humano é muito mais importante que armamentos ou outros recursos materiais. Se a população das vilas e aldeias não estivesse convencida da necessidade da guerra e munida da ideologia do proletariado, principalmente o maoismo, à época Pensamento Mao Tsetung, não haveria como avançar na luta contra o inimigo. E toda essa confiança do povo na ideologia não nasce do nada: na China, e em outros processos revolucionários da História, o trabalho dos membros do Partido Comunista nas bases de apoio é extremamente necessário para forjar a massa na ideologia e na violência revolucionária. Se o trabalho é sólido em uma situação como a mostrada no filme, na qual a tática das 3 destruições (“queimar tudo, matar todos e roubar tudo”) usada pelo invasor fascista japonês vem alimentando o ódio revolucionário da população e as forças principais do exército não estão presentes, as massas podem usar sua força e seus conhecimentos para construir uma vigorosa resistência. Se não há a presença da ideologia do proletariado na vida das massas, há grande possibilidade da população colocada em um contexto como esse se entregue ou, como é mostrado no filme, venha a trair seu povo e se unam aos invasores.
Outro aspecto importante, que advém deste primeiro e aparece de forma bem explícita na trama do filme, é o papel da chefatura e pensamento guia do Presidente Mao Tsetung, tanto na formação ideológica do povo quanto sua aplicação na prática da guerra. Após o primeiro ataque dos soldados japoneses, quando os habitantes e a milícia da vila precisam pensar no que farão para se defender de futuros ataques, utilizam sua magistral obra “Sobre a guerra prolongada” para orientar seu caminho e, então, optam pela construção dos túneis. Outro exemplo acontece após o segundo ataque japonês, em um momento de bastante desesperança, o capitão da vila lê um trecho desta obra, no qual o Presidente Mao coloca a questão de preservar as próprias forças e destruir as forças do inimigo, afirmando que o principal é destruir as forças do inimigo porque só assim é possível preservar as próprias forças de maneira permanente. Com isso, o personagem compreende que utilizar os túneis apenas como uma maneira de esconder e proteger sua população não era o correto e, então, propõe a construção das estruturas de combate, que lhes garante a vitória.
Por fim, uma questão importante que aparece de maneira mais implícita neste filme é a participação das mulheres no processo revolucionário, nas decisões da vila e, principalmente, na guerra. Logo no início do filme é apresentado o destacamento de mulheres da vila e este terá um peso crucial mais a frente, já que são essas mulheres que constroem grande parte das entradas escondidas para os túneis, as quais, muitas delas, não são descobertas pelos invasores. As mulheres também tem um papel bastante importante na construção dos túneis e nos momentos de batalha, atuando lado a lado com os homens da vila, sem serem privadas do combate. Além disso, após a morte do segundo chefe da vila, quem assume o comando é sua esposa e comandante do destacamento de mulheres, mostrada no filme como uma mulher forte que comanda com muita sobriedade as decisões da vila neste contexto de guerra.
O filme “Guerra de Túneis” apresenta uma trama muito rica, permitindo que o espectador tenha contato com este momento tão crucial para a história do país, do PCCh e do processo revolucionário do povo chinês. Com os personagens, que demonstram muito bem os momentos de medo e incertezas durante os ataques e, ao mesmo tempo, a coragem, a prontidão e a confiança na ideologia do proletariado em sua etapa mais avançada, é possível perceber o impacto da chefatura do Presidente Mao e o poder das massas ao lutar contra um inimigo facínora e para conquistar o que é seu por direito. É um filme que não passa em branco e que pode trazer ao espectador grandes contribuições na forja ideológica e na compreensão do grande processo que foi a vitoriosa Grande Revolução Chinesa.