A luta do camarada Stalin contra o revisionismo iugoslavo (Parte I)
Nota do blog: Traduzimos e publicaremos nas próximas semanas, uma série de correspondências entre o Comitê Central do Partido Comunista (Bolchevique) da União Soviética–PC(b) da URSS e o Comitê Central do já degenerado Partido Comunista da Iugoslávia–PCY, sob direção do revisionista Tito. Tais documentos foram colhidos dos últimos escritos do camarada Stalin, recentemente publicados na internet, os quais nós do blog acreditamos que em grande parte não havia ainda em português do Brasil.
Tal qual afirma a Liga Comunista Internacional–LCI, em sua Carta de Fundação, “Em 1947 foi fundada a Cominform, através da qual o camarada Stalin lutou arduamente contra o revisionismo moderno e através da qual o revisionismo de Tito foi esmagado e condenado. Foi a Cominform que começou a luta contra o primeiro Estado com o revisionismo no poder. Na conferência de Budapeste o revisionismo de Tito foi condenado e expulso, mostrando claramente que é falso que o camarada Stalin tenha conciliado com as linhas revisionistas de reconciliação nacional e outras linhas revisionistas que surgiram após a Segunda Guerra Mundial. A Cominform sob a direção do camarada Stalin começou a luta contra o revisionismo moderno que seria completada pelo Presidente Mao anos mais tarde.”
Tais correspondências constituem documentação de profundo significado histórico para compreender a luta de duas linhas entre marxismo e revisionismo no Movimento Comunista Internacional. Esta carta consiste na comprovação da árdua luta travada pelo camarada Stalin contra o revisionismo moderno, luta através da qual o revisionismo de Tito foi esmagado e condenado e se desmascarou o primeiro Estado com o revisionismo no Poder, nomeadamente a Iugoslávia sob direção da camarilha de Tito. Neste documento, são denunciados inúmeros desvios do Partido Comunista da Iugoslávia–PCY: as calúnias contra a linha revolucionária da URSS socialista sob direção do camarada Stalin, a prática de espionagem similar aos estados burgueses imperialistas, a ausência de democracia interna e da prática da crítica e da autocrítica, o reboquismo ao programa da Frente Única, enfim, exemplos flagrantes de sua completa degeneração em partido burguês e da própria Iugoslávia em ditadura da burguesia. Constituem, pois, de material de grande interesse ao movimento comunista brasileiro.
Carta ao camarada Tito e outros membros do Comitê Central do Partido Comunista da Iugoslávia (J.V. Stalin, 1948)
27 de Março de 1948
Suas respostas de 18 e 20 de Março foram recebidas.
Consideramos sua resposta incorreta e, portanto, completamente insatisfatória.
1. A questão de Gagarinov pode ser considerada encerrada, uma vez que o senhor retirou as acusações contra ele, embora ainda consideremos que eram caluniosas.
A declaração atribuída ao camarada Krutikov de que o governo soviético alegadamente se recusou a entrar em negociações comerciais este ano, não corresponde, como se pode ver, aos fatos, pois Krutikov negou categoricamente.
2. No que diz respeito à retirada de conselheiros militares, as fontes de nossa informação são as declarações dos representantes do Ministério das Forças Armadas e dos próprios conselheiros. Como é sabido, nossos conselheiros foram enviados para a Iugoslávia a pedido do governo iugoslavo, e foram enviados muito menos conselheiros do que o solicitado. É portanto óbvio que o governo soviético não tinha nenhum desejo de reforçar seus conselheiros na Iugoslávia.
Mais tarde, porém, os líderes militares iugoslavos, entre eles Koča Popović, consideraram possível anunciar que era essencial reduzir o número de conselheiros em 60 por cento. Eles deram diversas razões para isso; alguns sustentaram que os conselheiros soviéticos representavam uma despesa demasiado elevada para a Iugoslávia; outros sustentavam que o exército iugoslavo não precisava da experiência do exército soviético; alguns disseram que as regras do exército soviético eram rígidas, estereotipadas e sem valor para o exército iugoslavo, e que não fazia sentido pagar os conselheiros soviéticos, uma vez que não havia nenhum benefício a ser obtido com eles.
À luz desses fatos podemos compreender a bem conhecida e insultuosa declaração feita por Djilas sobre o exército soviético, numa sessão do CC do PCY [N.T.: Partido Comunista da Iugoslávia], nomeadamente que os oficiais soviéticos eram, do ponto de vista moral, inferiores aos oficiais do exército britânico. Como é sabido, essa declaração antissoviética de Djilas não encontrou oposição por parte dos outros membros do CC do PCY.
Assim, em vez de procurarem uma acordo amigável com o governo soviético sobre a questão dos conselheiros militares soviéticos, os líderes militares iugoslavos começaram a abusar dos conselheiros militares soviéticos e a desacreditar o exército soviético.
É claro que esta situação criaria uma atmosfera de hostilidade em torno dos conselheiros militares soviéticos. Seria ridículo pensar que o governo soviético consentiria em deixar seus conselheiros na Iugoslávia sob tais condições. Dado que o governo iugoslavo não tomou quaisquer medidas para contrariar essas tentativas de desacreditar o exército soviético, é ele quem assume a responsabilidade pela situação criada.
3. As fontes da nossa informação que levaram à retirada dos especialistas civis soviéticos são, em sua maioria, declarações do embaixador soviético em Belgrado, Lavrentiev, bem como dos próprios especialistas. A sua afirmação, de que Srzentić alegadamente disse ao representante comercial, Lebedev, que os especialistas soviéticos que procuram informações econômicas deveriam dirigir seus pedidos a autoridades superiores, nomeadamente ao CC do PCY e ao governo iugoslavo, não corresponde à verdade. Aqui está o relatório feito por Lavrentiev em 9 de março.
“Srzentić, assistente de Kidrič no Conselho Econômico, informou Lebedev, o representante comercial, sobre um decreto governamental que proíbe os órgãos do Estado [N.T.: iugoslavo] de fornecer informações econômicas a qualquer pessoa. Portanto, independentemente das promessas anteriores, ele não pôde fornecer a Lebedev os detalhes requisitados. Era uma das atribuições dos órgãos de segurança do Estado [N.T.: iugoslavo] exercer o controle nesta matéria. Srzentić também disse que o próprio Kidrič pretendia falar sobre isso com Lebedev.”
Do relatório de Lavrentiev pode-se ver, em primeiro lugar, que Srzentić nem sequer mencionou a possibilidade de obter informações econômicas do CC do PCY ou do governo iugoslavo. Em qualquer caso, seria ridículo pensar que seria necessário se dirigir ao CC do PCY para obter todas as informações econômicas enquanto ainda existiam os ministérios apropriados dos quais os especialistas soviéticos tinham previamente obtido diretamente as informações econômicas necessárias.
Em segundo lugar, o relatório de Lavrentiev deixa claro que o inverso do que escreve é verdadeiro, nomeadamente que os órgãos de segurança iugoslavos controlavam e supervisionavam os representantes soviéticos na Iugoslávia.
Poderíamos muito bem mencionar que nos deparamos com uma prática semelhante de supervisão secreta sobre os representantes soviéticos em estados burgueses, embora não em todos eles. Deve também ser enfatizado que os agentes de segurança iugoslavos não seguem apenas os representantes do governo soviético, mas também o representante do PC(b) da URSS na Cominform, o camarada Yudin. Seria ridículo pensar que o governo soviético concordaria em manter seus especialistas civis na Iugoslávia em tais circunstâncias. Como se pode verificar também nesse caso, a responsabilidade pelas condições criadas cabe ao governo iugoslavo.
4. Na sua carta expressa o desejo de ser informado dos outros fatos que levaram à insatisfação soviética e à tensão nas relações entre a URSS e a Iugoslávia. Tais fatos realmente existem, embora não estejam relacionados com a retirada dos conselheiros civis e militares. Consideramos necessário informá-lo sobre eles.
(a) Sabemos que existem rumores antissoviéticos que circulam entre os camaradas dirigentes na Iugoslávia, por exemplo, que o “PC(b) da URSS está degenerado”, “o chauvinismo de grande potência é desenfreado na URSS”, “a URSS está tentando dominar economicamente a Iugoslávia” e “a Cominform é um meio do PC(b) da URSS para controlar os outros partidos”, etc. Essas alegações antissoviéticas são geralmente camufladas por fraseologia de esquerda, como “o socialismo na União Soviética deixou de ser revolucionário” e que só a Iugoslávia é o expoente do “socialismo revolucionário”. Foi naturalmente ridículo ouvir tais declarações sobre o PC(b) da URSS de marxistas questionáveis como Djilas, Vukmanović, Kidrič, Ranković e outros. No entanto, permanece o fato de que tais rumores têm circulado há muito tempo entre muitos altos funcionários iugoslavos, que ainda circulam, e que estão naturalmente a criar uma atmosfera antissoviética que está pondo em perigo as relações entre o PC(b) da URSS e o PCY.
Admitimos prontamente que todos os Partidos Comunistas, entre eles o Iugoslavo, têm o direito de criticar o PC(b) da URSS, assim como o PC(b) da URSS tem o direito de criticar qualquer outro Partido Comunista. Mas o marxismo exige que a crítica seja honesta e não dissimulada e caluniosa, privando assim os criticados da oportunidade de responder às críticas. De qualquer modo, as críticas dos responsáveis iugoslavos não são abertas nem honestas; são tão dissimuladas quão desonestas e de natureza hipócrita, pois, enquanto desacreditam o PC(b) da URSS pelas suas costas, publicamente elogiam-no farisaicamente até aos céus. Assim, a crítica é transformada em calúnia, numa tentativa de desacreditar o PC(b) da URSS e de difamar o sistema soviético.
Não temos dúvidas de que as massas do Partido Iugoslavo repudiariam essa crítica antissoviética como estranha e hostil se soubessem dela. Pensamos que essa é a razão pela qual os oficiais iugoslavos fazem essas críticas em segredo, nas costas das massas.
Mais uma vez, pode-se mencionar que, quando decidiu declarar guerra ao PC(b) da URSS, Trotsky também iniciou acusações de que o PC(b) da URSS era degenerado, como também de que sofria das limitações inerentes ao nacionalismo estreito das grandes potências. Naturalmente ele camuflou tudo isso com palavras de ordem de esquerda sobre a revolução mundial. Todavia, é bem-sabido que o próprio Trotsky degenerou e, quando foi desmascarado, passou ao campo dos inimigos jurados do PC(b) da URSS e da União Soviética. Pensamos que a carreira política de Trotsky é bastante instrutiva.
(b) Estamos perturbados com a atual condição do PCY. Estamos surpresos com o fato de o PCY, que é o partido dirigente [N.T.: da nação iugoslava], ainda não estar completamente legalizado e ainda ter um status semilegal. As decisões dos órgãos do Partido nunca são publicadas na imprensa, nem os relatórios das assembleias do Partido.
A democracia não é evidente dentro do próprio PCY. O Comitê Central, em sua maioria, não foi eleito mas sim cooptado. A crítica e a autocrítica dentro do Partido não existem ou quase não existem. É característico que o Secretário de Pessoal do Partido seja também o Ministro da Segurança do Estado. Noutras palavras, os quadros do Partido estão sob a supervisão do Ministro da Segurança do Estado. De acordo com a teoria marxista, o Partido deveria controlar todos os órgãos estatais do país, incluindo o Ministério da Segurança do Estado, enquanto que na Iugoslávia temos exatamente o oposto disso: o Ministério da Segurança do Estado controla efetivamente o Partido. Isso provavelmente explica o fato de a iniciativa das massas do Partido na Iugoslávia não estar ao nível exigido. É compreensível que não possamos considerar tal organização de um Partido Comunista como marxista-leninista, bolchevique.
O espírito da política de luta de classes não é sentido no PCY. O aumento dos elementos capitalistas nas aldeias e cidades está em pleno andamento e a direção do Partido não está tomando medidas para controlar esses elementos capitalistas. O PCY está sendo ludibriado pela degenerada e oportunista teoria da absorção pacífica de elementos capitalistas por um sistema socialista, emprestada de Bernstein, Vollmar e Bukharin [1].
De acordo com a teoria marxista-leninista o Partido é considerado a força dirigente do país, que tem seu programa específico que não pode se fundir com o das massas não partidárias [N.T.: refere-se à Frente Única]. Na Iugoslávia, pelo contrário, a Frente Popular é considerada a principal força dirigente e houve uma tentativa de submergir o Partido dentro da Frente. Em seu discurso no Segundo Congresso da Frente Popular, o camarada Tito disse: “O PCY tem algum outro programa além do da Frente Popular? Não, o PCY não tem outro programa. O programa da Frente Popular é o seu programa.”
Parece assim que na Iugoslávia essa surpreendente teoria da organização do Partido é considerada uma nova teoria. Na verdade, está longe de ser nova. Na Rússia, há 40 anos, uma parte dos mencheviques propôs que o Partido Marxista fosse dissolvido numa organização de massas operária e não-partidária e que o segundo deveria suplantar o primeiro; a outra dos mencheviques propôs que o Partido Marxista fosse dissolvido numa organização de massas não-partidárias de operários e camponeses, com o último suplantando novamente o primeiro. Como se sabe, Lenin descreveu esses mencheviques como oportunistas maliciosos e liquidacionistas do Partido.
(c) Não conseguimos compreender porque é que o espião inglês, Velebit, ainda permanece no Ministério das Relações Exteriores da Iugoslávia como Primeiro-Ministro Adjunto. Os camaradas iugoslavos sabem que Velebit é um espião inglês. Também sabem que os representes do governo soviético consideram Velebit um espião. Entretanto, Velebit permanece na posição de Primeiro-Ministro Adjunto das Relações Exteriores da Iugoslávia. É possível que o governo iugoslavo pretenda usar Velebit precisamente como um espião inglês. Como é sabido, os governos burgueses consideram admissível ter espiões dos grandes estados imperialistas nos seus quadros, com vista a assegurar a sua boa vontade, e até concordariam em colocar seu povo sob a tutela desses estados para tal finalidade. Consideramos essa prática totalmente inadmissível para os marxistas. Seja como for, o governo soviético não pode colocar a sua correspondência com o governo iugoslavo sob a censura de um espião inglês. É compreensível que enquanto Velebit permanecer no Ministério das Relações Exteriores iugoslavo, o governo soviético se considere colocado numa situação difícil e privado da possibilidade de manter correspondência aberta com o governo iugoslavo através do Ministério das Relações Exteriores iugoslavo.
Esses são os fatos que estão causando a insatisfação do governo soviético e do CC do PC(b) da URSS e estão pondo em perigo as relações entre a URSS e a Iugoslávia.
Esses fatos, como já foi mencionado, não estão relacionados com a questão da retirada dos especialistas militares e civis. Todavia, são um fator importante no agravamento das relações entre os nossos países.
CC do PC(b) da URSS
Moscou,
27 de Março de 1948
[1] Eduard Bernstein e Georg Vollmar foram líderes revisionistas do Partido Social-Democrata Alemão; Nikolai Bukharin foi um direitista, membro pró-kulak do bloco de direita e trotskista, executado em 1936.