PCBrasileiro: uma cisão, dois descaminhos
Nota do Blog: Em virtude de ter vindo à luz novas informações, a saber, principalmente o Manifesto do que se denomina agora “PCB-RR”, editamos e republicamos nossa análise sobre a cisão do PC Brasileiro.
Nesse mês, foi publicado o “Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do Partido Comunista Brasileiro”, assinado por uma “Coordenação Provisória do Movimento Nacional em Defesa da Reconstrução Revolucionária”. A foto que ilustra a publicação, no entanto, já dá até uma sigla para a nova fração: “Partido Comunista Brasileiro – Reconstrução Revolucionária”, o “PCB-RR”. Esse é o ponto mais alto da crise que cindiu o PCBrasileiro.
Em julho, quando tornaram-se públicas as pugnas, chamou a atenção de todos que não havia nada, absolutamente nada, de política. As acusações mútuas eram personalismo barato de parte a parte, comprovadas com a exposição inacreditável de centenas de mensagens, documentos e até trocas de correspondências partidárias, constando nomes, funções dentro da organização e posição política. Enfim, um show de intrigas, fofocas, maquinações; métodos típicos de partidos burgueses que bem caracterizam a “luta interna” no PCBrasileiro e que correspondem realmente a uma linha burguesa.
Passado o frenesi das redes sociais, o tal “Manifesto…” é a tentativa da fração expulsa de expor o conteúdo político da disputa. De um lado, expulsos, estão Ivan Pinheiro, Jones Manoel e outros, contra a maioria do CC revisionista de Edmilson Costa, Mauro Iasi, Sofia Manzano e outros.
Das divergências ideológico-políticas apresentadas pelos expulsos, selecionamos as três mais importantes, quais sejam: 1) a maioria do CC revisionista busca um “marxismo puro” e renega o leninismo, descartando suas “decorrências político-filosóficas” expressas na experiência histórica concreta, na intenção de domesticar o leninismo à academia, 2) a maioria do CC revisionista tende ao “etapismo”, como expressão do seu reformismo, 3) a maioria do CC revisionista tem um método sectário e autoritário em matéria de organização.
Ao tratar de cada um dos pontos, a tal “Coordenação…” não se dá conta que, no frigir dos ovos, não se difere do CC revisionista no essencial, sendo apenas matizes.
‘Marxismo-leninismo’ sem o camarada Stalin
Na sua crítica ao “marxismo puro”, o “Manifesto” afirma: “A fração academicista do partido, com sua vacilação típica, sempre teve como principal preocupação a produção de um ‘marxismo puro’ – ou seja, um marxismo que, em nome de afirmar seu direito à existência, precisa o tempo todo reiterar suas penitências diante das experiências das ditaduras proletárias do século XX e de hoje. Portanto, a fim de assegurar esse marxismo academicamente aceitável, preferem a defesa de uma formulação menos rigorosa, o ‘marxismo e leninismo’ – uma fórmula que rapidamente se justifica afirmando que ‘o marxismo na teoria social e o leninismo na teoria da organização’, demonstrando… seu repúdio ao leninismo em suas decorrências político-filosóficas. … À guisa de crítica à experiência soviética, rompem com o próprio leninismo”.
Condenável, de fato. A maioria do CC do PCBrasileiro é enferma daquele mal que Lenin chama de “marxismo de cátedra”, cuja caracterização do próprio é rigorosamente aplicável aqui: “a repercussão do marxismo na literatura burguesa”, no caso, na intelectualidade burguesa.
Porém, os “dissidentes”, que acusam o CC revisionista de repudiar “o leninismo em suas decorrências político-filosóficas”, parecem também não ter um forte apreço por tais decorrências. Pois bem, quais são as decorrências do leninismo? A teoria e prática de Lenin e dos seus partidários no MCI ao longo do século XX, pelo menos. Estes, após 1924, tiveram um chefe reconhecido: Stalin, que definiu e desenvolveu o leninismo (“a teoria e a tática da revolução proletária em geral, a teoria e a tática da ditadura do proletariado em particular”). Defender as decorrências práticas do leninismo não é uma abstração, ou uma forma vulgar de levantar uma aparente defesa preenchida por ataques. Defender as decorrências do leninismo é defender, no fundamental, a direção do camarada Stalin.
Pois bem, não é o que fazem os “dissidentes”: na continuação de seu Manifesto, eles criticam o fato de a direção atropelar definições estatutárias em que foram vencedores e, como exemplo, citam o documento de seu XIV Congresso (2009) intitulado “Socialismo: balanço e perspectivas”. Tal documento, aparentemente defendido pela autointitulada “ala esquerda”, afirma, dentre outras coisas, que o início da decomposição do PCUS em 1950 se devia – entre outras coisas – à “acomodação e rendição ideológica dos quadros” e que tal fenômeno teve como impulsionador a “visão e o estilo carismático e personalista de direção de Stalin”, além da “estrutura hierarquicamente rígida dos anos 1930”, do dogmatismo “através da codificação do marxismo”, “o recrutamento de quadros para o Partido com base no critério da confiança, da fé…” e outros. Em seguida, na prática dizem que tais erros – de Stalin, é lógico – poderiam ter sido resolvidos no “XXI Congresso, em 1959”, que “poderia ter sido a base para uma reforma política ampla e profunda” com vistas a eliminar a tal burocracia. Ou seja, o renegado Kruschov – principal formulador do revisionismo moderno, da coexistência pacífica entre burguesia e proletariado, da transição pacífica ao socialismo, da colaboração com a burguesia… – teve a oportunidade de corrigir os erros de Stalin que produziram a decomposição do PCUS. Essa não é a posição de quem defende o marxismo-leninismo e a direção do camarada Stalin; essa foi exatamente a posição da IV Internacional trotskista, que aplaudiu Kruschov por ocasião do seu “relatório secreto”, aliás, das suas várias versões, desde sempre, assim como o fizeram todas as agências imperialistas.
A direção do camarada Stalin, ao definir o leninismo e aportá-lo na prática concreta da construção do Socialismo, na luta contra o revisionismo de Trotsky, Bukharin, Zinoviev, Kamanev e companhia tanto dentro do Partido como na Internacional Comunista; a sua direção na Internacional, consolidada no VII Congresso, aplicando rigorosamente a concepção de Lenin de que a IC era o “Partido Comunista Mundial”; a sua direção política e militar na Grande Guerra Pátria destruindo a besta nazifascista; todo esse enorme trabalho teórico e prático faz resplandecer sua enorme contribuição ao marxismo-leninismo. De fato, sem tomar partido pela direção do camarada Stalin, não é possível defender o próprio leninismo; sem o trabalho teórico-prático de Stalin, entre os quais está a definição do leninismo, este é inconcebível; ou, em outras palavras, não se é leninista se não se defende o camarada Stalin. Tanto os academicistas declarados, como os seus “críticos mordazes” recém-expulsos, pretendem castrar o leninismo e detratar o camarada Stalin, nisto fazendo coro com o imperialismo, o revisionismo e toda a reação.
‘Anti-etapismo’ ou rechaço à aliança operário-camponesa?
O segundo elemento de sua crítica é quanto ao “etapismo”. Eles fundamentam que o “etapismo” conduz a uma aliança com a burguesia. Eles afirmam que o “etapismo” reapareceu, no PCBrasileiro, nas eleições de 2008 a 2014, quando se ligou crescentemente com o PSOL para a disputa dos pleitos, chegando a apoiar a própria plataforma de determinados candidatos dessa sigla; também teria reaparecido na participação do PCBrasileiro nas frentes de luta, em que se centralizavam as práticas e posições pelas plataformas destas; e na defesa do governo Dilma, durante o impeachment, embora considerem correto tê-lo feito. Por fim, condenam o “etapismo”, dizendo que o mérito histórico da tal “reconstrução revolucionária” foi ter rompido com a ideia da “revolução nacional-democrática”.
Pois bem. Quanto às críticas da tática reboquista nas eleições, nas frentes de luta e em outros pontos, os “dissidentes” acertam parcialmente. São inconsequentes, na medida em que atribuem ao chamado “etapismo” tais erros. Em realidade, todas as tendências direitistas, reboquistas, oportunistas, reformistas, pacifistas e legalistas em matéria de tática têm na chamada “luta contra o etapismo” a sua raiz, como demonstraremos.
O próprio conceito de “etapismo” usado pelo PCBrasileiro em geral, é um conceito revisionista antimarxista. Marx e Engels enfatizaram e trabalharam duramente pela revolução democrática nos países em que esta se encontrava atrasada, relembremos suas lutas contra Lassalle e seus seguidores, em defesa do papel do Partido Operário Social-democrata na revolução por derrubar o império feudal prussiano e estabelecer a república democrática da Alemanha. Lenin não cansou de citar, em sua defesa da aliança operário-camponesa, trecho da carta de Marx a Engels, de 1856, em que aquele afirmava que “o êxito da revolução na Alemanha” dependia de apoiar a insurreição operária “com uma segunda edição das guerras camponesas”. Aliás, o conceito “etapismo” é também antileninista, pois foi Lenin quem definiu que a revolução nos países coloniais, semicoloniais ou que ainda não haviam passado pela revolução democrática seriam por duas etapas: a democrática e socialista, a primeira prepara as condições para a segunda, etapas as quais não se achavam separadas por “uma muralha da China”, segundo afirmava. E ele explicou, muitas vezes, que tal etapa democrática se caracterizava não por uma aliança estratégica com a burguesia, mas por se apoiar firmemente na aliança com o campesinato e por cumprir tarefas ainda democrático-burguesas, como a eliminação da dominação pré-capitalista sobre a posse da terra e a exploração do campesinato. Nas palavras de Lenin, a primeira etapa da revolução é democrática, e ela deve ser dirigida pelo proletariado e estabelecer a “ditadura democrática revolucionária de operários e camponeses” (Duas táticas da social-democracia na revolução democrática). Assim, Lenin mesmo disseram: “O marxismo elevou a classe operária a dirigente do campesinato”.
Por fim, o tal conceito “etapismo” é ainda anti-maoista. O Presidente Mao, na direção da Revolução Chinesa, desenvolvendo o marxismo-leninismo, formulou a teoria da Revolução de Nova Democracia, segundo a qual, com a passagem do capital à sua fase monopolista, o imperialismo, este como uma tendência em toda a linha para a reação e a violência, pôs fim à época da revolução burguesa mundial e que, com a Grande Revolução Socialista de Outubro, que inaugurou uma Nova Era, a história universal entrou à época da revolução proletária mundial. Isto é, desde então a burguesia passou à contrarrevolução, historicamente, e as revoluções democráticas nos países oprimidos pelo imperialismo passaram a ser parte da revolução proletária mundial. É revolução de nova democracia porque é revolução democrático-burguesa, porém de novo tipo, pois dirigida pelo proletariado, uma vez que na época do imperialismo a revolução democrática, ainda pendente nos países oprimidos pelo imperialismo, só pode ocorrer se dirigida pelo proletariado. Ou seja, sob sua direção, através de seu partido, o Partido Comunista e baseado na aliança operário-camponesa e por meio da luta armada prolongada, para estabelecer a “ditadura conjunta das classes revolucionárias”, isto é, o proletariado, o campesinato, a pequena-burguesia e asseguramento dos interesses da média burguesia. O grande Lenin afirmou que o problema central de qualquer revolução é o Poder, de que a medula do poder é a força armada e que, segundo as leis da guerra, só com uma força armada pode-se derrotar uma força armada, e que o problema do proletariado para conquistar o poder é, em última instância, a classe dominar a arte militar e constituir seu exército revolucionário. O Presidente Mao sintetizou afirmando que o Poder nasce do fuzil, que o partido manda no fuzil e nunca permitir que o fuzil mande no partido. Assim, sintetizando toda a experiência milenar das lutas das classes exploradas e oprimidas, principalmente da luta do proletariado, desenvolveu de forma completa a teoria militar do proletariado, a Guerra Popular, isto é, guerra de massas dirigida, absolutamente, pelo Partido Comunista pela conquista do Poder para o proletariado nas revoluções de nova democracia, socialista e sucessivas revoluções culturais proletárias; o Poder conquistado e defendido mediante uma força armada dirigida pelo Partido Comunista. Mais, formulou que a revolução proletária tem três instrumentos fundamentais: 1) o Partido Comunista, que é o principal, é direção e eixo de tudo; 2) o Exército Guerrilheiro Popular (EGP) e 3) a Frente Única Revolucionária (FUR). Três instrumentos, três armas em que a FUR é para cercar o inimigo e apoiar a luta armada revolucionária, o EGP é para fazer esta luta armada e medula do Novo Poder e o Partido Comunista “são os heroicos combatentes que manejam estas duas outras armas”. Nós reiteramos: direção do campesinato pelo Partido Comunista, a direção da guerra camponesa pela conquista da terra e pelo estabelecimento do Novo Poder, parte por parte, aplicando o programa da revolução democrática de confisco da terra dos latifundiários e sua entrega aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra e confisco do grande capital local e estrangeiro; que com a conquista do Poder em todo país, conclui-se a etapa democrática, passando-se ininterruptamente à etapa socialista.
A única coisa correta na tal “luta contra o etapismo” é o rechaço à ideia de que a revolução possa ser dirigida pela burguesia (qualquer que seja o seu setor), ideia defendida pelo PCdoB revisionista. Porém, para os verdadeiros comunistas, falar em “etapa democrática”, repetimos, não significa falar em direção da revolução pela burguesia; significa etapa democrática baseada na aliança operário-camponesa e mediante luta armada, dirigida pelo proletariado, através do Partido Comunista, ininterruptamente ao Socialismo, a Ditadura do Proletariado.
Portanto, a grandiloquente palavra de ordem “Luta contra o etapismo!” é uma tese anti-marxista-leninista muito em voga graças à dita “Teoria Marxista da Dependência”, segundo a qual não existe mais “etapa democrática” porque não existiria mais a divisão do mundo entre potências imperialistas e países (semi)coloniais, pois os países outrora (semi)coloniais se tornaram, todos, capitalistas (os “centrais” e os “da periferia”) – assim defendem. Assim, segundo eles, a teoria de Lenin sobre a revolução em duas etapas está superada. Quanto à evidente relação de exploração e saqueio que os imperialistas exercem sobre as nações oprimidas, eles explicam dizendo que as antigas semicolônias são, agora, capitalistas dependentes, e os países imperialistas exploram, mas o fazem à maneira capitalista, desenvolvendo o capitalismo. Tal tese se opõe à do capitalismo burocrático. A tese do capitalismo burocrático, que nasceu da rica experiência concreta da revolução chinesa, do labor teórico e prático de outro titã do proletariado internacional e continuador de Marx e Lenin, o Presidente Mao Tsetung, que afirma que os países ainda pré-capitalistas, com o advento do imperialismo se converteram em colônias (e outras formas de dominação como a semicolônia) nos quais engendraram, via a exportação de capital, um capitalismo de tipo burocrático, que se desenvolve sobre uma base podre pré-capitalista, feudal/semifeudal – relações de propriedade da terra baseada no monopólio e concentração desta –, mantendo-as intactas e subjacentes, através da evolução de suas formas, sendo aproveitada sistematicamente pelo imperialismo e classes dominantes locais para obtençãodo lucro máximo – que é a lei econômica do imperialismo.
A tese do capitalismo burocrático, formulada pelo Presidente Mao, tem uma decorrência prática: o proletariado revolucionário deve unir-se ao campesinato através de dirigi-lo na luta pela terra, conquistando-a por meio da luta armada revolucionária como guerra popular prolongada pela conquista do Poder, apontando contra o latifúndio, o imperialismo e a grande burguesia local (burocrática-compradora) – sendo essa a etapa democrática –, não com o objetivo de“desenvolver o capitalismo”, mas sim, com o objetivo de arregimentar os camponeses para as forças revolucionárias através de dirigi-lo na luta pela destruição do latifúndio, libertando as forças produtivas no campo e estabelecendo o Novo Poder, parte por parte, até instaurá-lo em todo o País, passando à revolução e construção socialistas (segunda etapa da revolução). Essa é a tese da Revolução de Nova Democracia, desenvolvimento do Presidente Mao da tese leninista da “ditadura democrática de operários e camponeses”, aplicada aos países oprimidos pelo imperialismo como “ditadura conjunta de classes revolucionárias”. Já a tese do “capitalismo dependente”, tese trotskista de decorrência necessariamente nefasta: embora pareça ultrarrevolucionária na defesa de que a revolução nos países oprimidos é já socialista, portanto eliminando qualquer possibilidade de “aliança com a burguesia”, no caso, seu setor nacional (média burguesia), ela, na verdade, é direitista, pois elimina toda a importância estratégica da aliança operário-camponesa, reduzindo-a a mera fraseologia oca.
Ao negar a aliança operário-camponesa como central e estratégica para a Revolução no Brasil e, portanto os demais países oprimidos, nega-se a própria possibilidade de crescimento das forças revolucionárias, de como levar a luta armada como forma principal de luta (é uma forma dissimulada de negar a própria luta armada); só resta, em seu lugar, uma estratégia extremamente vaga, como a do Poder Popular defendida pelas duas bandas em pugna, reafirmado no último Congresso do PCBrasileiro, e sobre a qual nada dizem os atuais “dissidentes”. Poder Popular que é apresentado como uma “dualidade de poderes”, porém que deverá surgir do mero crescimento do movimento de massas “sob uma plataforma anticapitalista” e sem necessidade de luta armada (que só começaria depois da “dualidade de poderes”). Linda quimera. Como se a reação anticomunista fosse observar, admirada, a construção de um amplo movimento de massas que se pronuncia “anticapitalista”, sem contra ele lançar toda sua ira repressiva por destruí-lo todo o tempo. Tenha santa paciência! E assim, para acompanhar essa “estratégia”, vêm as táticas passivas, a disputa eleitoral desmoralizada ante o povo (e, consequentemente, a gradual transferência do centro da gravidade da organização para as eleições), o pacifismo e o reformismo. Ao rejeitar isso, os “críticos” do PCBrasileiro estão, desde já, no mesmo pântano, apenas com pequenas graduações de diferença. Como decorrência disso, nenhum das duas nem sequer considera um problema o eleitoralismo.
Não é a aliança com a burguesia que os “anti-etapistas” rejeitam em primeiro termo, mas sim a aliança operário-camponesa e suas decorrências práticas: a tática da violência revolucionária, a luta armada. E qualquer argumento estúpido, de que não há mais campesinato ou de que é residual, é desbaratado pelos simples fatos empíricos: o MST, um movimento de camponeses – e que não abarca toda a massa camponesa existente, mas somente uma parte –, é um dos maiores de todo o mundo, em que pese sua direção oportunista. Atentai senhores “comunistas” revisionistas: os mais de 5 milhões de famílias camponesas, pequenos proprietários (mais ou menos 20 milhões de camponeses) são a reprodução de sem-terras, cada novo casal que herda a pequena propriedade dos pais, em mais ou menos 16 a 20 anos produz novos camponeses sem-terra, basta que os filhos e filhas chegarem a certa idade maior que não podem mais sobreviver daquela pequena propriedade, constituirão novas famílias, ainda que um ou outro vá para as grandes cidades, outros e outras continuarão na terra e só a existência do movimento camponês organizado e sob a repressão sistemática, a luta pela terra não para e cresce. Isto sem falar dos mais de 5 milhões de famílias camponesas sem-terra que se movem desesperadamente de uma região a outra na busca por um pedaço de chão onde trabalhar e criar seus filhos.
As grandes megalópoles nos países oprimidos é uma das resultantes do imperialismo, ou seja, da decomposição do capital em sua fase monopolista, que expulsa as massas do campo, mas só até certo ponto, pois que dependem da existência de uma economia camponesa permanentemente arruinada pois tem subtraída a renda da terra, produzindo alimentos e matérias-primas abaixo do custo que formam o principal da do valor da força de trabalho explorada pelo capitalismo burocrático, origem da superexploração e lucro máximo do capital monopolista. Nesse velho sistema em decomposição acelerada, o imperialismo, não há lugar para bilhões de seres, menos ainda nas megalópoles dos países oprimidos. Inclusive os Estados imperialistas, também em acelerado processo de reacionarização, não podem impedir que as torrentes de massas migratórias de nossos países oprimidos cheguem às suas casas, pois que a oligarquia financeira internacional, donas das corporações industriais e de serviços necessitam mais e mais da força de trabalho jovem, que no “primeiro mundo” se escasseiam velozmente pelo envelhecimento das populações de nacionais, e da superexploração dessas massas de imigrantes, para fazer frente a suas crises galopantes e de proporções cada vez mais sem precedentes.
Por tais razões a luta pela terra só cresce nos países oprimidos, no Brasil não há outro caminho para camponeses indígenas, quilombolas, famílias atingidas por barragens, mineração e florestas homogêneas, bem como o movimento de defesa do meio natural, que não a radicalização das formas de luta. Crescem em radicalidade e em número de famílias mobilizadas, sobretudo na Amazônia, onde os camponeses organizados e dirigidos pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) desenvolvem a luta armada pela terra, e o crescimento da revolução agrária atrairá milhões de famílias camponesas vivendo em condições infra-humanas nos grandes centros de volta ao campo. Os camponeses que deixam o campo, o fazem contra sua vontade e isto ocorre porque ainda não têm um nível de organização e uma força armada revolucionária para levar sua luta contra os poderosos latifundiários, os reis do “agronegócio”, os que estão transformando as vastas regiões do país em desertos verdes de eucalipto, cana e soja e milho transgênicos, além das mineradoras (exploração de minério e petrolíferas), todos devastadores do meio natural pelos desflorestamentos e contaminação do solo e subsolo, das águas, da flora, fauna e dos humanos, por venenos, metais pesados etc..
Por isso, Lenin dizia: “A ditadura democrática revolucionária de operários e camponeses é indiscutivelmente apenas uma tarefa transitória e temporária dos socialistas, mas ignorar esta tarefa na época da revolução democrática é abertamente reacionário”.
Ecletismo, pragmatismo e sectarismo
Por fim, os “dissidentes” criticam o CC revisionista por seu sectarismo e autoritarismo, violação do centralismo democrático e perseguição. Porém, os “críticos” não chegam nem aos pés de dar uma resposta ao problema – inclusive porque são parte do mesmo problema.
O PCBrasileiro insiste em chamar sua organização de um “operador político” – e o grupo reunido na tal “Coordenação…” também usa tal conceito. Em abril de 2016, na Conferência Nacional Política e de Organização, fundamentam o que isso significa: “O Partido precisa ser percebido como um operador político e não como uma instância legitimadora da verdade. Não pode ser, sob pena de involuir para antes do Iluminismo, um tribunal filosófico e científico para seus militantes, impondo uma única interpretação do marxismo-leninismo. O PCBrasileiro, mesmo retendo os princípios essenciais do marxismo-leninismo, não impõe uma única interpretação desses legados aos seus militantes. A unidade do Partido se refere ao seu programa e seus princípios de organização e atuação na luta de classes”.
Tal forma orgânica separa completamente a ideologia da política e da construção organizativa. No organizativo, é um critério pequeno-burguês de partido; no filosófico, é ecletismo e sofística. A organização serve à ideologia e política e não ao contrário. Não? É o “abc” do leninismo. Embora pareça excessivamente “democrática”, ela, na verdade, deriva necessariamente em sectarismo e autoritarismo em política e no organizativo. Funciona assim: você, militante, pense o que quiser sobre o que seja o marxismo-leninismo, não importa; nós não tomaremos uma decisão unificada e, portanto, você está privado do direito de influir nessa questão; mas, ao final de tudo, você vai guiar toda sua prática poresta política/tática, decidida pela direção, que é uma derivação da minha interpretação do que é o marxismo-leninismo, quer você concorde com ela ou não – e se não o fizer, será devidamente sancionado pela disciplina do partido e desmoralizado com intrigas, fofocas e isolado. Assim pensa e age a direção do PCBrasileiro, que, até outro dia, estava também ocupada pelos atuais “dissidentes”, que sempre coadunaram e até aplaudiam esses espetáculos. Não por acaso a dissidência em seu “Manifesto” combate adocicadamente os “academicistas” caracterizando a tergiversação de “o ‘marxismo e leninismo’” como “formulação menos rigorosa”. Agora, lamentam ter experimentado o próprio veneno. Por outro lado, tal sistema caracteriza-se por ser puro pragmatismo (filosofia totalmente oposta ao marxismo). A máxima é: desde que se aplique a “política” (a questão é: ela deriva de qual concepção de mundo?), pode-se defender o que se quiser no terreno dos princípios. O que há de marxismo nisto? Ah, o da “Reconstrução Revolucionária do PCB”!
Conclusão
A atual crise do PCBrasileiro é, na verdade, a crise do próprio revisionismo. A crise do revisionismo é resultado da radicalização da luta de classes na situação política. Ao longo dos últimos 28 anos, os comunistas marxistas-leninistas-maoistas lutaram na clandestinidade para reconstituir o Partido Comunista do Brasil – P.C.B. como partido comunista maoista militarizado, mobilizando, politizando, organizando e armando as massas, principalmente no campo, mas não somente, o que tem conduzido à radicalização da luta de classes. Em seu governo (2019-22), Bolsonaro declarou guerra à organização camponesa na Amazônia devido ao crescimento perigoso da luta pela terra, acusando a revolução agrária de ser terrorismo. Em seguida, montou dois cercos militares com milhares de tropas, em RO, fracassando em seu objetivo de esmagar a luta pela terra. Fatos estes, absurda e covardemente ocultados pelos “heróis da liberdade de imprensa”, os de sempre monopólios de imprensa, como também por parte dos meios de informação dos partidos oportunistas. Sobre estes últimos, não foram poucos manifestações de protestos em suas bases ante tamanha omissão, inclusive ao ponto de a seção do UJC de Porto Velho, por ter tido a posição corajosa de manifestar seu apoio a luta dos camponeses, tomando parte da caravana de entidades democráticas que se deslocaram ao local dos acontecimentos em solidariedade e defesa daquelas massas que resistiam bravamente sob cerco brutal de grande aparato de guerra reacionária, terem seus membros sofrido uma reprimenda pública da direção central do PCBrasileiro, na qual sobravam sentenças condenatórias sobre a não existência de semifeudalidade no Brasil. Hilário, tal ato reacionário!
A luta de classes movimentou as placas tectônicas da situação política; a massa de militantes revolucionários desperta da liturgia de suas organizações, e passa a exigir respostas à altura. Incapazes de aplicar uma linha revolucionária proletária, os revisionistas e outros tanto oportunistas, nas cúpulas, em disputa pelo controle do aparato, se dividem sobre qual caminho adotar para dar uma resposta e manter as bases unidas. No caso do PCBrasileiro, o CC revisionista escolheu o caminho de enveredar explicitamente pela velha via eleitoreira do cretinismo parlamentar (Lenin) e acadêmica, o crescimento quantitativo sem princípios, expulsando abertamente os opositores. O PCBrasileiro-RR têm escolhido o caminho de dar uma fraseologia vermelha para tentar manter coesa a base e, ao mesmo tempo, tentar tomar a direção da organização. Mas, ambos rejeitam o leninismo, a aliança operário-camponesa e a luta armada como tarefa da ordem do dia (e não para um “futuro” que intimamente todos sabem que nunca chegará). Por isso, no fundo, trata-se de uma bifurcação que dará no mesmo destino: o revisionismo em ideologia e o ecletismo em filosofia; o reformismo, pacifismo, legalismo e pragmatismo em política, além do decorrente sectarismo e autoritarismo no organizativo.
Nós já publicamos, aqui mesmo, a Carta de Ruptura de uma ex-dirigente do CR da Paraíba do PCBrasileiro, em que, muitas das acusações dos agora expulsos já haviam sido denunciadas, como a perseguição e o sectarismo. Na carta, a ex-dirigente demonstra como isso é uma derivação da linha ideológico-política. A desagregação orgânica é uma consequência inevitável da degeneração ideológico-política, e este será o destino inevitável dos dois novos agrupamentos que resultam desta ruptura. O processo de decomposição de uma organização política pode ser demorado, mas não cessa. A fração revisionista do Partido Comunista Brasileiro, surgida com o V Congresso de 1960, após se render frente ao regime militar fascista, caracterizado por este, como apenas “uma quartelada”, já após 1964 cindiu-se em inúmeras outras frações que se lançaram na resistência armada àquele regime que prendia, torturava, matava e desaparecia seus opositores. Aquelas organizações foram desclassificadas pela então direção do PCBrasileiro por aventureiros e provocadores e ainda que a maioria delas tenham adotado concepções errôneas, deram a resposta revolucionária àquele regime, ao qual o PCBrasileiro não teve nenhuma, a não ser seu revisionismo kruschovista da ação pacifista a reboque dos liberais, ademais da baixeza de lançar epítetos de agentes da CIA ianque aos chefes da resistência armada. Coisa esta que existia mesmo dentro do comitê central dos acusadores, o que levou ao massacre de dez velhos e honestos comunistas, membros daquela direção. Posteriormente, já nos finais do regime militar, a ruptura e autocritica de Luiz Carlos Prestes, repudiando todo o direitismo que era a essência daquela direção revisionista, demonstrou sua humildade comunista já na altura dos seus mais de 90 anos de idade e quase 60 de militância comunista, e autocriticamente assumiu ter liderado a posição direitista por 43 anos. Revelou nesta atitude sua condição de marxista, o que gente como Amazonas nunca foi capaz. Este acontecimento antecedeu a uma maior decomposição, quando a parte mais putrefata, liderada pelo calejado revisionista Roberto Freire, assumiu com todas as letras a condição social-democrata de direita que por décadas medrava aquela organização.
Agora, os herdeiros da legenda revisionista Partido Comunista Brasileiro enfrentam novo aprofundamento de sua decomposição. Aos que honestamente querem dedicar-se à causa do comunismo, cabe realizar uma reflexão muito mais profunda do que o proposto pelo “Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do Partido Comunista Brasileiro”. Já é bem tarde, senhores! Mas o Presidente Mao afirmou que há marxistas em várias porcentagens, disse que o grande Stalin poderia ser avaliado como 90% de acerto e 10% de erros, ou 80% de acertos e 20% de erros, concluiu que teve 70% de acertos e 30% de erros, que o camarada Stalin foi um grande marxista. Disse ainda que há marxista de até 10%, quer dizer, se há algo de marxista em alguém, vale a pena este alguém lutar por elevar sua condição marxista, o que exige brigar para estar à altura do verdadeiro Partido Comunista. Aquele ou aquela que já vem de longa militância no revisionismo exige-se esforço bem maior, a começar por uma profunda autocrítica, almejando e mesmo chegar a 70%, é muito difícil, mas possível, pois os que a esse nível chegaram, senhores, apesar dos percalços e vicissitudes fizeram revolução e iniciaram edificação do socialismo na Terra, de fato e não no papel.
Aos comunistas, não há outro caminho. O Partido Comunista do Brasil – P.C.B. não é nenhum dos dois grupos e que se debatem, nem outras siglas que se intitulam comunistas; os honestos, que aspiram realmente a luta revolucionária, já sabem onde encontrar a verdadeira linha revolucionária do proletariado. É preciso abandonar as ilusões e preparar-se para o combate!
Equipe Editorial Servir ao Povo