Nota do blog: Publicamos a seguir a parte final do documento.
g) Bukharin como teórico.
Esses são, em linhas gerais, os principais erros de Bukharin, o teórico da oposição de direita, sobre os principais problemas de nossa política.
Dizem que Bukharin é um teórico do nosso partido. Isso é verdade, é claro. Mas acontece que, no que diz respeito à teoria, ele não tem as coisas no lugar. Basta observar o acúmulo de seus erros em relação aos pontos da teoria e da política do partido que acabamos de examinar. Não é possível que esses erros, relacionados à Internacional Comunista, à luta de classes, ao acirramento da luta de classes, ao campesinato, à NEP, às novas formas de articulação, não é possível que todos esses erros sejam resultado do acaso. Não, esses erros não são acidentais. Esses erros de Bukharin são o resultado de sua orientação teórica viciada, de suas lacunas teóricas. Sim, Bukharin é um teórico, mas não é um teórico marxista de pleno direito, é um teórico que ainda tem muito a aprender para ser um teórico marxista.
A conhecida carta do camarada Lênin sobre Bukharin como teórico é mencionada. Vejamos o que diz essa carta:
“Quanto aos jovens membros do C.C.”, diz Lênin, “direi algumas palavras sobre Bukharin e Piatakov. Eles são, em minha opinião, os mais notáveis (entre os mais jovens), e neles deve-se ter em mente o seguinte: Bukharin não é apenas um teórico valioso e notável do Partido, mas também é legitimamente considerado o favorito de todo o Partido; mas suas concepções teóricas dificilmente podem ser chamadas de inteiramente marxistas, pois há algo de escolástico nele (ele nunca estudou e acredito que nunca entendeu completamente a dialética.”* (Ata taquigr´[afica do Pleno de julho de 1926, Fasc. IV, p. 66).
Ele é, portanto, um teórico sem dialética. Um teórico escolástico. Um teórico cujas “concepções teóricas dificilmente podem ser chamadas de inteiramente marxistas”. É assim que Lênin define Bukharin como um teórico.
Vocês entenderão, camaradas, que esse teórico ainda tem de aprender. E se Bukharin entendesse que seu treinamento como teórico ainda não está completo, que ele ainda precisa aprender, que ele é um teórico que ainda não domina a dialética, enquanto a dialética é a alma do marxismo; se ele entendesse isso, seria mais modesto, e o partido só teria a ganhar. Mas o problema é que Bukharin não erra na modéstia. O problema é que, longe de ser modesto, ele até se atreve a dar lições ao nosso mestre Lênin sobre vários problemas, especialmente sobre a questão do Estado. É isso que está errado com Bukharin.
Permita-me referir-me, nesta ocasião, à conhecida discussão teórica de 1916 entre Lênin e Bukharin sobre o Estado. Isso é importante para que possamos ver que pretensões desordenadas Bukharin, que aspira a dar lições a Lênin, nutre e onde estão as raízes de seus fracassos teóricos em problemas tão importantes como a ditadura do proletariado, a luta de classes etc.
Como é bem sabido, a revista “The Youth International”1 publicou em 1916 um artigo de Bukharin, assinado “Nota Bene”, que, no fundo, atacava o camarada Lênin. Bukharin escreveu nesse artigo:
“É muito errado procurar a diferença entre socialistas e anarquistas no fato de que os primeiros são apoiadores e os últimos são oponentes do Estado. Na realidade, a diferença entre eles consiste no fato de que a social-democracia revolucionária tem como objetivo organizar a nova produção social como produção centralizada, ou seja, a mais tecnicamente progressiva, enquanto a produção descentralizada dos anarquistas significaria apenas um retrocesso à velha técnica, à velha forma de empresa…”.
“… Para a social-democracia, que é, ou pelo menos deveria ser, a educadora das massas, é mais necessário do que nunca enfatizar sua hostilidade de princípio ao Estado…. A guerra atual mostrou quão profundas são as raízes da concepção de estado nas mentes dos trabalhadores”.
Lênin criticou essas opiniões de Bukharin em um artigo bem conhecido, publicado em 1916:
“Isso é falso. O autor planteia a questão da atitude diferente de socialistas e anarquistas em relação ao Estado, mas sua resposta não é para essa questão, mas para outra, a da atitude diferente deles em relação à base econômica da sociedade futura. Isso é, sem dúvida, muito importante e necessário. Mas isso não significa que o ponto fundamental sobre a atitude diferente dos socialistas e anarquistas em relação ao Estado possa ser esquecido. Os socialistas são a favor do uso do Estado moderno e de suas instituições na luta pela emancipação da classe operária, e também defendem a necessidade de usar o Estado como uma forma peculiar de transição do capitalismo para o socialismo. Essa forma de transição, que também é o Estado, é a ditadura do proletariado. Os anarquistas têm como objetivo ‘abolir’ o Estado, ‘demolir’ (‘sprengen’), como diz o camarada ‘Nota Bene’ em uma passagem, atribuindo erroneamente essa ideia aos socialistas. Os socialistas – o autor cita, infelizmente de forma muito incompleta, algumas palavras de Engels que têm relação com o assunto – reconhecem a ‘morte lenta’, a ‘extinção’ gradual do Estado após a expropriação da burguesia…”.
“Para ‘sublinhar’ a ‘hostilidade de princípio’ ao Estado, é necessário entendê-lo com ‘clareza’, e clareza é precisamente o que falta ao autor. E a frase sobre ‘as raízes da concepção de Estado’ não poderia ser mais confusa, pois não é marxista nem socialista. Não é a ‘concepção de Estado’ que se choca com a negação do Estado, mas a política oportunista (ou seja, a atitude oportunista, reformista e burguesa em relação ao Estado) que se choca com a política revolucionária social-democrata (ou seja, a atitude revolucionária social-democrata em relação ao Estado burguês e ao uso do Estado contra a burguesia, para derrubá-la). Essas são coisas muito, muito diferentes” (vol. XIX, p. 296).
Acho que a questão está clara, assim como está claro em qual lagoa semianarquista Bukharin caiu!
Sien: Naquela época, Lênin ainda não havia exposto a necessidade de “demolir” o Estado de forma abrangente. Bukharin, com seus erros anarquistas, chegou perto de formular esse problema.
Stalin: Não, não se trata disso agora, trata-se da atitude em relação ao Estado em geral; trata-se do fato de que, de acordo com Bukharin, a classe operária deve, por princípio, ser inimiga de todo Estado, incluindo o Estado da classe operária.
Sien: Naquela época, Lênin só falava da utilização do Estado, mas em sua crítica a Bukharin ele não se referiu de forma alguma ao conceito de “demolir” o Estado.
Stalin: Você está enganado: “demolir” o Estado não é uma fórmula marxista, mas anarquista. Atrevo-me a lhe assegurar que o que está em questão aqui é que os operários devem, de acordo com Bukharin (e os anarquistas), enfatizar sua hostilidade de princípio a todo Estado e, portanto, também ao Estado do período de transição, ao Estado da classe operária.
Tente explicar aos nossos operários que a classe operária deve manter uma hostilidade de princípio à ditadura do proletariado, que também é um Estado.
A posição de Bukharin, exposta em seu artigo na “The Youth International”, nega o Estado no período de transição do capitalismo para o socialismo.
Bukharin deixa passar uma “pequena coisa”: todo o período de transição, durante o qual a classe operária, se realmente quiser esmagar a burguesia e construir o socialismo, não pode prescindir de seu próprio Estado. Isso vem em primeiro lugar.
Em segundo lugar, é falso que o camarada Lênin não tenha se referido, em sua crítica naquela época, à teoria de “demolir”, de “abolir” o Estado em geral. Lênin não apenas se referiu a essa teoria, como pode ser visto nas citações que acabei de mencionar, mas a criticou como uma teoria anarquista, contrapondo a ela a teoria da criação e utilização de um novo Estado após a derrubada da burguesia, o Estado da ditadura proletária.
Finalmente, a teoria anarquista de “demolir” e “abolir” o Estado não deve ser confundida com a teoria marxista da “extinção” do Estado proletário ou da “demolição”, da “destruição” da máquina estatal burguesa. Há aqueles que tendem a confundir essas duas ideias diferentes, acreditando que elas são expressões do mesmo pensamento. Mas isso é falso. Lênin criticou a teoria anarquista de “demolir”, de “abolir” o Estado em geral, partindo precisamente da teoria marxista da “demolição” da máquina estatal burguesa e da “extinção” do Estado proletário.
Talvez não seja supérfluo citar aqui, para fins de clareza, algumas páginas dos escritos do camarada Lênin sobre o Estado, muito provavelmente escritos no final de 1916 ou no início de 1917 (antes da revolução de fevereiro de 1917). Esse manuscrito nos permite verificá-lo facilmente:
a) que, ao criticar os erros semi-anarquistas de Bukharin sobre a questão do Estado, Lênin estava partindo da teoria marxista da “extinção” do Estado proletário e da “demolição” da máquina estatal burguesa,
b) que, embora Bukharin, na expressão de Lênin, estivesse “mais próximo da verdade do que Kautsky”, no entanto, “em vez de expor os kautskistas, ele os ajuda com seus próprios erros”.
Esse manuscrito tem a seguinte redação:
“A carta de Engels a Bebel, de 18 a 28 de março de 1875, é de excepcional importância para o problema do Estado”.
Copio literalmente a passagem mais importante:
“…O Estado do povo livre se tornou o Estado livre. Gramaticalmente falando, um Estado livre é um Estado que é livre com relação a seus cidadãos, ou seja, um Estado com um governo despótico. Toda essa conversa sobre o Estado deve ser abandonada, especialmente após a Comuna, que não era mais um Estado no verdadeiro sentido da palavra. Os anarquistas esfregaram nossos narizes nisso para além com “Estado do povo”, embora o trabalho de Marx contra Proudhon e, mais tarde, o “Manifesto Comunista”, afirmem claramente que, com o estabelecimento do regime socialista, o Estado se dissolverá por conta própria (sich auflast) e desaparecerá. Sendo o Estado uma instituição meramente transitória, que é usada na luta, na revolução, para subjugar os adversários pela violência, é absurdo falar de um Estado popular livre: enquanto o proletariado ainda precisar (ênfase de Engels) do Estado, ele não precisará dele no interesse da liberdade, mas para subjugar seus adversários, e assim que se puder falar em liberdade, o Estado como tal deixará de existir. É por isso que proporíamos sempre dizer, em vez da palavra Estado (sublinhada por Engels), a palavra “Comunidade” (Gemeinwesen), uma boa e velha palavra alemã, que é equivalente à palavra francesa ‘Commune’”.
Essa talvez seja a passagem mais marcante e, sem dúvida, a mais dura, por assim dizer, “contra o Estado” de Marx e Engels.
(1) “Toda essa conversa sobre o Estado deve ser abandonada”.
(2) “A Comuna não era mais um Estado no verdadeiro sentido da palavra” (o que era, então? uma forma de transição do Estado para o não-Estado, obviamente!)
(3) Os anarquistas “esfregaram nossos narizes nisso” (in die Zähne geworfen; literalmente: esfregaram nossos narizes nisso) sobre o “Estado popular” (ou seja, Marx e Engels ficaram envergonhados com esse erro manifesto de seus amigos alemães; no entanto, eles pensaram – e nas circunstâncias da época eles estavam, é claro, certos – que esse erro era incomparavelmente menos grave do que o dos anarquistas. N. B, isso!!!).
(4) O Estado “se decompõe (‘se dissolve’) por si mesmo (Nota Bene) e desaparece”… (compare depois: “se extingue”) “com o estabelecimento do regime socialista”…
(5) O Estado é uma “instituição transitória”, necessária “na luta, na revolução”… (necessária para o proletariado, entenda-se)…
(6) O Estado é necessário não para a liberdade, mas para subjugar (Niederhaltung não significa, exatamente falando, subjugar, mas impedir a restauração, manter submisso) os oponentes do proletariado.
(7) Quando houver liberdade, não haverá Estado.
(8) “Nós” (ou seja, Engels e Marx) proporíamos dizer “sempre” (no programa), em vez de “Estado”, “Comunidade” (Gemeinwesen), “Comuna” !!!!
Disso decorre o quanto Marx e Engels foram vulgarizados e adulterados, não apenas pelos oportunistas, mas também por Kautsky.
Os oportunistas não entenderam uma única dessas 8 ideias ricas!!!
Eles se basearam apenas nas necessidades práticas do presente: usar a luta política, usar o estado atual para instruir e educar o proletariado, “extrair concessões”. Isso é preciso (contra os anarquistas), mas ainda não é mais do que 1/100 do marxismo, se é que podemos usar um termo aritmético.
Em seu trabalho como propagandista e em todo o seu trabalho como publicitário, Kautsky ocultou totalmente (ou esqueceu? ou não entendeu?) os pontos 1, 2, 5, 6, 7, 8 e o “Zerbrechen” de que fala Marx (em sua polêmica com Pannekoek em 1912 ou 1913 [veja abaixo, pp. 45-47], Kautsky já caiu completamente no oportunismo ao lidar com essa questão).
Dos anarquistas, nós nos distinguimos pelo (a) uso do Estado agora e (b) durante a revolução proletária (“ditadura do proletariado”), pontos da maior importância prática, neste exato momento. (E foi isso que Bukharin esqueceu!)
Dos oportunistas, verdades mais profundas e “mais eternas” sobre (aa) o caráter “temporário” do estado, (bb) o dano do “charlatanismo” sobre esse caráter agora, (cc) o caráter da ditadura do proletariado, que não tem inteiramente o caráter do Estado, (dd) a contradição entre Estado e liberdade, (ee) a maior precisão da ideia (concepção, termo programático) de “comunidade” em vez de Estado, (ff) a “destruição” (Zerbrechen) da máquina burocrático-militar.
Também não se deve esquecer que a ditadura do proletariado é contestada diretamente pelos oportunistas declarados na Alemanha (Bernstein, Kolb, etc.) e indiretamente pelo programa oficial e por Kautsky, silenciando-a em sua propaganda diária e tolerando renegados como Kolb e companhia.
Para Bukharin, foi escrito em agosto de 1916: “Deixe suas ideias sobre o Estado amadurecerem”. Mas ele, sem deixá-las amadurecer, foi para a imprensa como “Nota Bene” e o fez de tal forma que, em vez de expor os kautskistas, ele os ajudou com seus próprios erros!!! Embora, no fundo, “Bukharin esteja mais próximo da verdade do que Kautsky”2.
Essa é a breve história dessa polêmica teórica sobre o Estado.
Parece estar claro: Bukharin cometeu erros semi-anarquistas; é hora de corrigir esses erros e, a partir de agora, seguir os ensinamentos de Lênin. Mas esse é o modo de pensar dos leninistas. Como se vê, Bukharin não é dessa opinião. Ele afirma o contrário: que não foi ele quem cometeu o erro, mas Lênin; que não foi ele quem seguiu ou tem de seguir os ensinamentos de Lênin, mas, ao contrário, foi Lênin quem teve de seguir os ensinamentos de Bukharin.
Isso parece implausível para vocês, camaradas? Então continuem ouvindo. Após essa polêmica, que ocorreu em 1916, depois de nove anos, durante os quais Bukharin se manteve em silêncio, no ano da morte de Lênin, precisamente em 1925, Bukharin publicou na coleção de trabalhos intitulada “A Revolução da Direita”, um artigo “Contribuição à Teoria do Estado Imperialista”, não aceito na época pela equipe editorial do “Sbórnik Sotsial-Demokrata”9 (ou seja, por Lênin). Em uma nota de rodapé desse artigo, Bukharin declara abertamente que, nessa polêmica, era ele, e não Lênin, quem estava certo. Pode parecer exagerado, mas é um fato, camaradas.
Ouça o que essa nota diz:
“A esse artigo, publicado em ‘A Internacional da Juventude’, V. I. (ou seja, Lênin) respondeu com um folheto. O leitor verá facilmente que eu não estava cometendo o erro de que fui acusado, pois compreendia claramente a necessidade da ditadura do proletariado; e, por outro lado, lendo o folheto de Ilich, fica claro que, naquela época, ele mantinha uma posição falsa sobre a tese de ‘demolir’ o Estado (o Estado burguês, entenda-se), confundindo esse problema com o da extinção da ditadura do proletariado*. Talvez eu devesse ter desenvolvido mais a questão da ditadura. Mas, em minha defesa, direi que, naquela época, a epidemia social-democrata de exaltar o Estado burguês estava tão disseminada que era natural que eu concentrasse toda a minha atenção no problema de demolir essa máquina.
Quando voltei dos Estados Unidos para a Rússia e vi Nadiezhda Konstantinovna (em nosso Sexto Congresso, realizado na clandestinidade, quando V. I. estava escondido), suas primeiras palavras para mim foram estas: ‘V. I. me pediu para lhe dizer que agora ele não discorda mais de você no problema do Estado. Ao estudar o problema, Ilich chegou às mesmas*com relação à ideia de ‘demolir’ o Estado; mas ele desenvolveu esse tema e depois o da ditadura de tal forma que estabeleceu toda uma época na evolução do pensamento teórico a esse respeito”.
Assim escreve Bukharin sobre Lênin um ano após sua morte.
Aqui você tem um exemplo do verdadeiro pedantismo hipertrofiado de um teórico que ainda tem muito a aprender!
É bem possível que, de fato, Nadiezhda Konstantinovna tenha dito a Bukharin algo sobre o que ele escreveu. Mas o que se pode deduzir disso? Simplesmente se conclui que Lênin tinha alguma razão para pensar que Bukharin havia renunciado ou estava preparado para renunciar a seus erros. Nada mais. Mas Bukharin interpretou isso de forma diferente. E decidiu que, a partir de então, o criador, ou, pelo menos, o inspirador, da teoria marxista do Estado não deveria ser considerado Lênin, mas ele, Bukharin.
Até hoje, nós nos considerávamos e ainda nos consideramos leninistas. Mas agora se descobre que tanto Lênin quanto nós, seus discípulos, somos bukharinistas. Isso é um pouco ridículo, camaradas. Mas o que vocês querem? É assim quando temos de lidar com o pedantismo desenfreado de Bukharin.
Talvez se possa pensar que Bukharin cometeu um deslize na nota do artigo mencionado, que ele disse algo tolo e depois se esqueceu disso. Mas esse não é o caso. Acontece que Bukharin estava falando muito sério. Chegamos a essa conclusão, entre outras coisas, porque a declaração feita naquela nota sobre os erros de Lênin e os acertos de Bukharin foi repetida não muito tempo atrás, em 1927, ou seja, dois anos depois de seu primeiro ataque a Lênin, no esboço biográfico de Bukharin feito por Maretsky, sem que Bukharin sequer pensasse em protestar contra essa audácia de Maretsky. É evidente que o ataque de Bukharin a Lênin não pode ser atribuído ao acaso.
Portanto, verifica-se que é Bukharin quem está certo, e não Lênin, e que o inspirador da teoria marxista do Estado não é Lênin, mas Bukharin.
Esse, camaradas, é o quadro das adulterações teóricas e das pretensões teóricas de Bukharin.
E depois de tudo isso, esse homem se atreve a dizer aqui, em seu discurso, que na posição teórica de nosso Partido há “algo podre”, que na posição teórica de nosso Partido há um desvio para o trotskismo!
E isso vindo do mesmo Bukharin que comete (e que já cometeu no passado) inúmeros erros teóricos e práticos grosseiros, o mesmo Bukharin que até recentemente tinha Trotsky como seu mestre e que ontem mesmo estava buscando um bloco com os trotskistas contra os leninistas e estava correndo em direção a eles pela porta dos fundos!
Isso tudo não é ridículo, camaradas?
h) Plano quinquenal ou plano bienal?
Agora vou falar sobre o discurso de Rykov. Se Bukharin tentou dar uma base teórica ao desvio de direita, Rykov se esforça em seu discurso para dar a ele uma base em propostas práticas, assustando-nos com os “horrores” de nossas dificuldades na agricultura. Isso não quer dizer que Rykov tenha negligenciado as questões teóricas. Ele falou sobre elas. Mas, ao fazer isso, ele cometeu pelo menos dois grandes erros.
Em seu projeto de resolução sobre o plano quinquenal, que foi rejeitado pela Comissão do Politburo, Rykov afirma que “a ideia básica do plano quinquenal é aumentar a produtividade do trabalho do povo”. E apesar do fato de a Comissão do Birô Político ter rejeitado essa visão absolutamente falsa, Rykov a defendeu aqui em seu discurso.
É verdade que a ideia básica do plano quinquenal no país soviético é aumentar a produtividade do trabalho? Não, isso não é verdade. O que precisamos não é de um aumento qualquer na produtividade do trabalho do povo. O que precisamos é de um aumento determinado na produtividade do trabalho do povo: Um aumento que garanta a predominância sistemática do setor socialista da economia nacional sobre o setor capitalista. Um plano quinquenal que esquecesse essa ideia básica não seria um plano quinquenal, mas uma estupidez quinquenal.
O aumento da produtividade do trabalho em geral é de interesse de qualquer sociedade, tanto da sociedade capitalista quanto da sociedade pré-capitalista. O que distingue a sociedade soviética de qualquer outra sociedade é precisamente o fato de que o que lhe interessa não é qualquer aumento na produtividade do trabalho, mas o que garante a predominância das formas socialistas de economia sobre outras formas, e principalmente sobre as formas capitalistas de economia; o que garante, portanto, a derrubada e o despojo das formas capitalistas de economia. E Rykov se esquece dessa ideia, que é realmente a ideia básica do plano quinquenal para o desenvolvimento da sociedade soviética. Esse é seu primeiro erro teórico.
Seu segundo erro é que ele não distingue ou não quer entender a diferença, do ponto de vista da troca de mercadorias, entre os kolkhozes, por exemplo, e qualquer forma de economia individual, incluindo a economia capitalista individual. Rykov afirma que, do ponto de vista da troca de mercadorias no mercado de grãos, do ponto de vista da aquisição de grãos, ele não vê diferença entre os kolkhozes e os proprietários privados de grãos; portanto, não faz diferença para ele se compramos grãos de um kolkhoz, de um proprietário privado ou de qualquer armazenador de trigo na Argentina. Isso é absolutamente falso. Isso é repetir as conhecidas declarações de Frumkin, que afirmou por algum tempo que não fazia diferença para ele onde e de quem os grãos eram comprados, se de um indivíduo particular ou de um kolkhoz.
Essa é uma maneira dissimulada de defender, reabilitar e justificar as maquinações dos kulaks no mercado de grãos. O fato de essa defesa ser feita do ponto de vista da troca de mercadorias não a impede de ser, apesar de tudo, uma justificativa das maquinações dos kulaks no mercado de grãos. Se, do ponto de vista da troca de mercadorias, não há diferença entre as formas coletivas e não coletivas de economia, vale a pena incentivar os kolkhozes, vale a pena conceder-lhes isenções, vale a pena empenhar-se na difícil tarefa de superar os elementos capitalistas na agricultura? É evidente que Rykov parte de um ponto de vista falso. E esse é seu segundo erro teórico.
Mas isso é só de passagem. Vamos agora examinar os problemas práticos levantados no discurso de Rykov.
Rykov argumentou aqui que, além do plano quinquenal, era necessário outro plano paralelo: um plano de dois anos para o desenvolvimento da agricultura. Ele fundamentou essa proposta de um plano paralelo de dois anos citando as dificuldades encontradas na agricultura. Ele disse que o plano quinquenal é bom e que o defende, mas se adotarmos um plano de dois anos para a agricultura ao mesmo tempo, será ainda melhor; caso contrário, a agricultura ficará estagnada.
Parece não haver nada de errado com a proposta. Mas se olharmos com atenção, veremos que esse plano bienal para a agricultura foi criado para enfatizar a natureza supostamente irreal e especulativa do plano quinquenal. Poderíamos aceitar isso? Não, não poderíamos. E dissemos a Rykov: Se o senhor não concorda com o plano quinquenal no que diz respeito à agricultura, se o senhor considera insuficientes os valores destinados no plano quinquenal para a promoção da agricultura, diga-nos claramente quais são suas propostas suplementares, quais são os novos investimentos que o senhor propõe; estamos dispostos a incluir esses valores suplementares para a agricultura no plano quinquenal. E o que aconteceu? Descobriu-se que Rykov não tinha propostas adicionais para novos investimentos na agricultura, então por que, perguntamos, esse plano paralelo de dois anos para o desenvolvimento agrícola?
Além do plano quinquenal – também lhe dissemos – há planos anuais, que fazem parte do plano quinquenal; naqueles dos dois primeiros anos, podemos introduzir as propostas suplementares concretas que você trouxer para o aumento da agricultura, se tiver propostas a apresentar. E o que aconteceu? Aconteceu que Rykov não pôde oferecer nenhum plano concreto para alocações suplementares.
Entendemos, então, que a proposta de Rykov para o plano de dois anos não foi inspirada por um desejo de promover a agricultura, mas tinha a intenção de enfatizar um caráter supostamente irreal e especulativo do plano de cinco anos, e foi motivada por um desejo de desacreditá-lo. Para o “espírito”, para o bem das aparências, o plano quinquenal; para a realidade, para o trabalho prático, o plano bienal: essa era a estratégia de Rykov. Rykov apresentaria seu plano bienal para, em seguida, no decorrer da implementação prática do plano quinquenal, confrontá-lo com ele, refazer o plano quinquenal e adaptá-lo ao plano bienal, reduzindo e cortando as alocações para a indústria.
Por esses motivos, concordamos em rejeitar a proposta de Rykov de um plano paralelo de dois anos.
i) A área de plantio.
Rykov tentou assustar o Partido aqui afirmando que a área de plantio está diminuindo sistematicamente na URSS. E, ao dizer isso, ele apontou o dedo para o Partido, dando a entender que a política do Partido é a culpada pela diminuição da área de plantio. Ele não disse claramente que estamos marchando em direção à degradação da agricultura, mas a impressão deixada por seu discurso é que há algo semelhante à degradação.
É verdade que a área semeada tende a diminuir sistematicamente? Não, isso não é verdade. Rykov operou aqui com os números médios da área de semeadura em nosso país. Mas o método de números médios, não retificado com dados de área, não pode ser considerado um método científico.
Talvez Rykov tenha lido o livro de Lênin “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”. Se ele leu, deve se lembrar de como Lênin critica os economistas burgueses que usam o método de números médios sobre o aumento da área de plantio e desconsideram os dados de área. É estranho que Rykov repita agora os erros dos economistas burgueses. Bem, se observarmos o movimento da área de semeadura por zonas, ou seja, se abordarmos a questão de forma científica, veremos que em alguns lugares ela aumenta sistematicamente, enquanto em outros, às vezes, diminui, principalmente devido às condições climáticas, sem que haja qualquer dado que afirme que em qualquer zona importante de cultivo de cereais há uma diminuição sistemática da área de semeadura.
De fato, houve um declínio recente na área de semeadura em áreas afetadas por geadas ou secas, por exemplo, em algumas regiões da Ucrânia….
Uma voz: Não em toda a Ucrânia.
Shlijter: Na Ucrânia, a área semeada aumentou 2,7%.
Stalin: Estou me referindo à parte oriental da Ucrânia. Por outro lado, em outras áreas não afetadas por condições climáticas adversas – por exemplo, na Sibéria, no Volga, no Cazaquistão, na Bashkiria – a área de semeadura está aumentando constantemente.
Como se pode explicar que a área de semeadura aumente sistematicamente em algumas áreas e diminua em outras de tempos em tempos? Não é possível, de fato, dizer que a política do partido é uma na Ucrânia e outra no leste ou no centro da URSS. É óbvio que as condições climáticas desempenham um papel considerável nisso.
É verdade que os kulaks reduzem a área de semeadura, independentemente das condições climáticas. É muito provável que a “culpa” desse fato esteja na política do Partido de apoiar a massa de camponeses pobres e médios contra os kulaks. Mas o que se pode deduzir disso? Será que alguma vez nos comprometemos a seguir uma política que agradasse a todos os grupos sociais no campo, incluindo os kulaks? Será que, se quisermos manter uma política marxista, podemos seguir uma política que agrade tanto aos exploradores quanto aos explorados? O que há de tão especial nisso que, como resultado de nossa política leninista de restringir e expulsar os elementos capitalistas no campo, os kulaks começaram a reduzir parcialmente a área semeada? Poderia ter sido de outra forma?
Se entenderem que essa política está errada, que nos digam francamente: Não é estranho que, movidas pelo medo, as pessoas que se dizem marxistas tentem apresentar a redução parcial das semeaduras dos kulaks como prova da redução da área de semeadura em geral, esquecendo que, além dos kulaks, há camponeses pobres e médios, que semeiam cada vez mais, e que há kolkhozes e sovkhozes, cuja área de semeadura está aumentando em ritmo acelerado?
Por fim, o discurso de Rykov contém outra imprecisão sobre a área de semeadura. Rykov estava lamentando que em certos lugares, onde os kolkhozes são mais desenvolvidos, as semeaduras individuais dos camponeses pobres e médios estão começando a diminuir. Isso é verdade. Mas o que há de errado nisso, e como poderia ser de outra forma? Se os camponeses pobres e médios começarem a abandonar o cultivo individual e passarem para o regime coletivo, não é óbvio que a ampliação e a multiplicação dos kolkhozes implicam uma redução das semeaduras individuais dos camponeses pobres e médios? Bem, o que você queria?
Hoje, os kolkhozes têm dois milhões de hectares de terra e, até o final do plano quinquenal, terão mais de 25 milhões de hectares. No final do plano quinquenal, eles terão mais de 25 milhões de hectares. A que custo as semeaduras dos kolkhozes serão aumentadas? À custa dos campos dos camponeses pobres e médios. Existe alguma outra maneira de trazer as fazendas individuais dos camponeses pobres e médios para o fluxo das fazendas coletivas? Não está claro que as colheitas dos kolkhozes terão de ser aumentadas em muitas áreas às custas das fazendas individuais?
É estranho que existam pessoas que não queiram entender coisas tão simples.
(j) A coleta de cereais.
Muitas lendas foram contadas aqui sobre nossas dificuldades na coleta de grãos. No entanto, os principais fatores de nossas dificuldades específicas neste ano com relação a esse problema não foram levados em consideração.
Em primeiro lugar, foi esquecido que este ano colhemos de 500 a 600 milhões de puds de centeio e trigo a menos – estou falando do volume total da colheita – do que no ano passado. Será que isso não se refletiu em nossos estoques de cereais? É claro que não poderia deixar de ser refletido.
A culpa é da política do Comitê Central? Não, a política do C.C. não tem nada a ver com isso. O fenômeno pode ser explicado pela má colheita na parte oriental da Ucrânia (geada e seca) e pela má colheita parcial no norte do Cáucaso, na região central da Terra Negra e na região noroeste.
Isso explica, em particular, por que tínhamos 200 milhões de puds de centeio e trigo na Ucrânia em 1º de abril do ano passado, mas apenas 26 a 27 milhões de puds neste ano.
Isso também explica por que a colheita de trigo e centeio nas terras negras centrais foi reduzida a quase um oitavo e no norte do Cáucaso a um quarto.
Em algumas áreas do leste, os estoques de grãos são quase o dobro do nível do ano anterior. Mas isso não poderia e, é claro, não compensou o déficit de cereais na Ucrânia, no norte do Cáucaso e na Terra Negra Central.
Não se deve esquecer que, com colheitas normais, a Ucrânia e o norte do Cáucaso respondem por cerca de metade dos estoques totais de cereais da URSS.
É estranho que Rykov não tenha levado isso em consideração.
Há, finalmente, uma segunda circunstância, que é o principal fator das dificuldades específicas deste ano na coleta de grãos. Refiro-me à resistência dos elementos kulak no campo à política de coleta de grãos do poder soviético. Rykov ignorou essa circunstância. E ignorar esse fator significa omitir o principal sobre o armazenamento de grãos. O que a experiência dos últimos dois anos nos diz a esse respeito? Ela nos diz que as camadas abastadas do campo, que têm um excedente considerável de grãos e que ocupam uma posição importante no mercado de grãos, não querem nos entregar voluntariamente a quantidade necessária de grãos ao preço indicado pelo poder soviético. Para abastecer as cidades e fábricas, o Exército Vermelho e as áreas de cultivo industrial, precisamos de cerca de 500 milhões de puds de grãos por ano. O curso espontâneo de estocagem fornece cerca de 300 a 350 milhões de puds. Os outros 150 milhões devem ser obtidos por meio de pressão organizada sobre os kulaks e as seções abastadas do campo. Isso é o que nos diz a experiência da coleta de grãos dos últimos dois anos.
O que aconteceu nos últimos dois anos, quais são as razões para essas mudanças e por que o curso espontâneo dos estoques era suficiente no passado e agora é insuficiente? O que aconteceu é que esses anos fortaleceram os kulaks e os elementos abastados no campo; que esses anos de boas colheitas não foram em vão para eles; que esses elementos se tornaram economicamente mais fortes, acumularam seu pequeno capital e agora podem manobrar no mercado, retendo o excedente de grãos, esperando por preços altos e fazendo negócios em outras culturas.
Os cereais não devem ser considerados uma mercadoria comum. Os cereais não são algodão, que não é consumido e não pode ser vendido a todos. Ao contrário do algodão, os cereais, dadas as condições atuais de nosso país, são uma mercadoria que todos querem e sem a qual não podem viver. O kulak leva isso em conta, retém seus grãos e os distribui a todos que os têm. O kulak sabe que o grão é a moeda das moedas. O kulak sabe que os excedentes de grãos não são apenas um meio de enriquecer, mas também um meio de subjugar os camponeses pobres. Nas condições atuais, o excedente de grãos é, nas mãos do kulak, um meio que o fortalece econômica e politicamente. Portanto, ao tomar esses excedentes de grãos dos kulaks, além de facilitar o abastecimento das cidades e do Exército Vermelho, privamos os kulaks de um meio de se fortalecerem econômica e politicamente.
O que é necessário para obter esses cereais excedentes? Antes de tudo, precisamos acabar com a psicologia da espontaneidade, que é prejudicial e perigosa. Precisamos organizar a coleta de cereais. É necessário mobilizar as massas de camponeses pobres e médios contra os kulaks e organizar seu apoio social às medidas do poder soviético para intensificar a coleta de grãos. O método de coleta de grãos aplicado nos Urais e na Sibéria, com base no princípio de que os próprios camponeses determinam a quantidade de grãos a ser fornecida por cada camponês, é importante precisamente porque possibilita a mobilização das camadas trabalhadoras do campo contra os kulaks para impulsionar a coleta. A experiência mostra que esse método nos dá bons resultados. Também mostra que esses bons resultados são alcançados de duas maneiras: primeiro, tiramos dos elementos abastados do campo seus grãos excedentes, facilitando assim o abastecimento do país; segundo, mobilizamos para esse fim as massas de camponeses pobres e médios contra os kulaks, abrindo seus olhos politicamente e organizando-os como um poderoso exército político de milhões de homens no campo. Alguns camaradas não percebem essa segunda circunstância, que é precisamente um dos mais importantes, se não o mais importante de todos os resultados do método de coleta usado nos Urais e na Sibéria.
É verdade que esse método às vezes é combinado com a aplicação de medidas extraordinárias contra os kulaks, o que provoca lamentações cômicas de Bukharin e Rykov. Mas o que há de errado nisso? Por que, às vezes, sob certas condições, não se pode recorrer a medidas extraordinárias contra nosso inimigo de classe, contra os kulaks? Por que, se podemos prender os especuladores nas cidades às centenas e deportá-los para o território de Turukhansk, os kulaks, que especulam com grãos e tentam estrangular o poder soviético e subjugar os camponeses pobres, não podemos, por meio de coerção social, retirar deles o excedente de grãos pelos mesmos preços pelos quais os camponeses pobres e médios entregam os grãos às nossas organizações encarregadas dos estoques? De onde se segue que nosso partido nunca se declarou, em princípio, contra a aplicação de medidas extraordinárias contra especuladores e kulaks, e que não há lei contra a especulação?
Rykov e Bukharin parecem ser inimigos de princípio de qualquer coisa que envolva medidas extraordinárias contra os kulaks. Mas essa é uma política liberal burguesa, e não uma política marxista. Não se pode ignorar o fato de que, quando a nova política econômica foi introduzida, Lenin chegou a se declarar a favor de um retorno à política dos comitês de camponeses pobres, sob certas condições, é claro. E o que é a aplicação parcial de medidas extraordinárias contra os kulaks? Não é uma gota no oceano em comparação com a política dos comitês de camponeses pobres.
Os seguidores do grupo de Bukharin esperam persuadir o inimigo de classe a renunciar voluntariamente a seus interesses e a nos entregar voluntariamente seus excedentes de grãos. Eles estão confiantes de que o kulak, que se tornou mais forte, que especula, que tem a possibilidade de se vingar de outras colheitas e que esconde seus excedentes de grãos, nos entregará voluntariamente esses excedentes a nossos preços de estoque. Será que eles enlouqueceram? Não está claro que eles não entendem a mecânica da luta de classes, que não sabem o que são classes?
Será que eles não sabem como os kulaks zombam de nossos funcionários e do poder soviético nas assembleias de camponeses convocadas para intensificar a coleta de grãos? Será que eles não sabem de casos como, por exemplo, o do Cazaquistão, quando um de nossos agitadores, depois de passar duas horas tentando persuadir os detentores de trigo a entregá-lo para alimentar o país, ouviu um kulak, com seu cachimbo na boca, responder: “Dance um pouco, garoto, e eu lhe darei dois puds de trigo!”
Vozes: Que canalhas!
Stalin: Vá convencer a essas pessoas!
Sim, camaradas, uma classe é uma classe. Essa é uma verdade irrefutável. O método dos Urais e da Sibéria é bom exatamente porque ajuda a colocar os estratos dos camponeses pobres e médios contra os kulaks; porque ajuda a vencer a resistência dos kulaks e os força a entregar o trigo excedente aos órgãos do poder soviético.
A palavra mais em voga nas fileiras do grupo de Bukharin atualmente é a de “exageros” na coleta de grãos. Essa palavra é de uso comum entre eles, porque lhes permite mascarar sua linha oportunista. Quando querem mascarar sua linha, têm o hábito de dizer: “É claro que não somos contra a pressão exercida sobre os kulaks, mas somos contra os exageros cometidos a esse respeito e que afetam o camponês médio”. Em seguida, eles contam histórias “assustadoras” sobre esses exageros, leem cartas de “camponeses” e leem as comunicações acaloradas de alguns camaradas, no estilo de Markov, para chegar a uma conclusão: A política de pressão sobre os kulaks deve ser abolida.
O que você acha? Como foram cometidos exageros na aplicação de uma política correta, essa política correta deve ser abandonada. Esse é o método usual dos oportunistas: eles invocam os exageros cometidos na aplicação de uma linha correta a fim de exigir a abolição dessa linha e substituí-la por outra linha oportunista. Além disso, os partidários do grupo de Bukharin têm o cuidado de não dizer que há outro tipo de exagero que é mais perigoso e mais prejudicial: os exageros que levam à fusão com os kulaks, à adaptação aos estratos abastados do campo, à substituição da política revolucionária do partido pela política oportunista dos desvios de direita.
Todos nós, é claro, nos opomos a esses exageros. Somos todos contra o fato de que os golpes infligidos aos kulaks também devem recair sobre os camponeses médios. Isso é evidente e não pode ser posto em dúvida. Mas nos opomos resolutamente à tentativa de anular a política revolucionária de nosso partido e substituí-la pela política oportunista do grupo de Bukharin, por meio do charlatanismo sobre exageros, ao qual o grupo de Bukharin se dedica tão avidamente. Não, essa manobra não terá sucesso.
Aponte-nos pelo menos uma medida política do partido que não tenha sido acompanhada por esses ou outros exageros. Portanto, os exageros devem ser combatidos. Mas isso é motivo para denegrir a linha do partido, que é a única linha correta?
Tomemos como exemplo uma medida como a introdução da jornada de trabalho de sete horas. Essa é, sem dúvida, uma das medidas mais revolucionárias introduzidas por nosso partido nos últimos tempos. Mas quem não sabe que essa medida, profundamente revolucionária em sua essência, muitas vezes envolve muitos exageros, às vezes os mais escandalosos? Isso significa que devemos descartar a política de introduzir a jornada de trabalho de sete horas?
Será que os partidários da oposição bukharinista entendem em que poça caem quando querem tirar proveito dos exageros na coleta de grãos?
(k) reservas de moeda estrangeira e importações de trigo.
Por fim, uma palavra sobre a importação de trigo e as reservas de moeda estrangeira. Eu já disse que Rykov e seus amigos mais próximos levantaram o problema da importação de trigo várias vezes. No início, Rykov falou sobre a necessidade de importar de 80 a 100 milhões de puds, o que equivale a cerca de 200 milhões de rublos em moeda estrangeira. Mais tarde, ele sugeriu a necessidade de comprar 50 milhões de puds, ou seja, 100 milhões de rublos em moeda estrangeira. Rejeitamos a proposta, decidindo que era preferível espremer o kulak e tirar dele o excedente de grãos, que não era pequeno, em vez de gastar a moeda estrangeira destinada à importação de ferramentas para nossa indústria.
Rykov agora muda de rumo. Ele agora afirma que os capitalistas nos dão trigo a crédito e que não queremos aceitá-lo. Ele disse que alguns telegramas passaram por suas mãos indicando que os capitalistas queriam nos vender trigo a crédito, apresentando a questão como se houvesse pessoas entre nós que não quisessem aceitar trigo a crédito por capricho ou por algum outro motivo incompreensível.
Tudo isso, camaradas, é um absurdo. Seria ridículo pensar que os capitalistas do Ocidente, de repente, ficaram com pena de nós e querem nos dar várias dezenas de milhões de puds de trigo por pouco menos do que de graça ou para serem pagos a longo prazo. Isso, camaradas, é um absurdo.
Então, do que se trata? É que vários grupos capitalistas estão nos sondando, estão tentando, há meio ano, sondar nossas possibilidades financeiras, nossa solvência, nossa firmeza. Eles estão abordando nossos representantes de vendas em Paris, na Tchecoslováquia, na América e na Argentina e estão oferecendo a venda de trigo em prazos muito curtos, a serem pagos em três meses ou, no máximo, em seis meses. O objetivo deles não é tanto nos vender trigo a crédito, mas descobrir se nossa situação é realmente grave, se realmente esgotamos nossas possibilidades financeiras, se somos financeiramente sólidos e ver se vamos morder a isca que eles estão jogando em nós.
No mundo capitalista, há atualmente muita discussão sobre nossas possibilidades financeiras. Alguns dizem que já estamos falidos e que a queda do poder soviético é uma questão de meses, se não de semanas. Outros respondem que isso não é verdade, que a potência soviética é forte, tem possibilidades financeiras e tem trigo suficiente.
A tarefa agora é mostrar a firmeza e a resiliência necessárias, não se deixar embalar por falsas promessas de que o trigo será fornecido a crédito e mostrar ao mundo capitalista que não precisaremos importá-lo. Não sou o único que pensa assim. É assim que pensa a maioria do Birô Político.
Por essas razões, decidimos não aceitar a proposta dos vários benfeitores do gênero de Nansen de que a U.R.S.S. importasse trigo a crédito no valor de um milhão de dólares.
Pelas mesmas razões, respondemos negativamente a todos os espiões do mundo capitalista que, em Paris, na América e na Tchecoslováquia, nos ofereceram pequenas quantidades de trigo a crédito.
Pelo mesmo motivo, concordamos em economizar ao máximo no consumo de trigo e mostrar o máximo de espírito de organização na coleta de cereais.
Nosso objetivo era duplo: por um lado, impedir a importação de trigo e economizar moeda estrangeira para a compra de maquinário e, por outro lado, mostrar a todos os nossos inimigos que estamos firmes e não estamos dispostos a ser conquistados por promessas de ajuda.
Foi a política correta? Acho que foi a única política correta. Ela foi correta não apenas porque estávamos descobrindo aqui, no interior do nosso país, novas possibilidades de obter trigo. Também foi correta porque, ao evitar a importação de trigo e afastar os espiões do mundo capitalista, estávamos fortalecendo nossa posição internacional, aumentando nossa credibilidade e acabando com a conversa sobre o “colapso iminente” do poder soviético.
Há alguns dias, realizamos negociações preliminares com representantes dos capitalistas alemães. Eles prometeram nos conceder um crédito de 500 milhões e parece que, de fato, consideram necessário nos conceder esse crédito para garantir os pedidos soviéticos para sua indústria.
Há poucos dias, esteve em nosso país uma delegação de conservadores britânicos, que também considera necessário verificar a solidez do poder soviético e a conveniência de nos conceder créditos para obter encomendas industriais soviéticas.
Parece-me que não teríamos essas novas possibilidades de obter créditos – primeiramente dos alemães e, depois, de um grupo de capitalistas ingleses – se não tivéssemos demonstrado a firmeza necessária à qual me referi anteriormente.
Portanto, não se trata de recusar caprichosamente um trigo imaginário vendido a nós com um crédito imaginário de longo prazo. Trata-se de adivinhar a face de nossos inimigos, adivinhar suas verdadeiras intenções e manifestar a firmeza necessária para consolidar nossa posição internacional.
É por isso, camaradas, que nos recusamos a importar trigo.
Portanto, você vê que o problema das importações de trigo não é tão simples como Rykov o retratou aqui. As importações de trigo são um problema que afeta nossa situação internacional.
V. Questões da direção do partido.
Dessa forma, enumeramos todos os principais pontos de nossas discordâncias, tanto na teoria quanto na política adotada por nosso partido em relação aos problemas da Internacional Comunista e aos problemas de ordem interna. Do que foi dito, conclui-se que a afirmação de Rykov de que temos apenas uma linha não corresponde aos fatos. Do que foi dito, conclui-se que, na realidade, temos duas linhas. Uma é a linha geral do partido, a linha revolucionária e leninista do nosso partido. A outra é a linha do grupo de Bukharin. Essa segunda linha ainda não está completamente definida, em parte porque dentro do grupo de Bukharin reina uma inconcebível confusão de ideias, e em parte porque, devido à sua fraqueza, ao seu pouco peso dentro do partido, ele tenta se disfarçar de várias maneiras. Mas, apesar de tudo, essa linha existe, como vocês podem ver, e existe como uma linha diferente da linha do partido, como uma linha que se opõe à linha geral do partido em quase todas as questões de nossa política. Essa segunda linha é uma linha de desvio direitista.
Vamos nos voltar agora para as questões da direção do partido.
a) Fracionismo do grupo Bukharin.
Bukharin disse que em nosso partido não há oposição, que seu grupo não é oposição. Isso não é verdade, camaradas. Os debates no Pleno mostraram claramente que o grupo de Bukharin é uma nova oposição. O trabalho oposicionista desse grupo consiste no fato de que ele está tentando revisar a linha do partido e está preparando o terreno para substituí-la por outra linha, a linha da oposição, que só pode ser uma linha de desvio direitista.
Bukharin disse que os três não constituem um grupo fracionista. Isso não é verdade, camaradas. O grupo de Bukharin contém todos os elementos do fracionismo. Há uma plataforma, há exclusivismo fracionista, há uma política de renúncias, há uma luta organizada contra o C.C. O que mais eles querem? Por que esconder a verdade sobre o fracionismo do grupo de Bukharin, quando isso é uma questão natural? É por isso que o Pleno do C.C. e do C.C.C. se reuniu, para que toda a verdade sobre nossas divergências possa ser dita aqui. E a verdade é que o grupo de Bukharin é um grupo fracionista. E não se trata apenas de um grupo fracionista; eu diria que é o grupo fracionista mais raivoso e mesquinho de todos os que já existiram em nosso partido.
Isso fica claro pelo fato de que agora ele está tentando explorar, para seus motivos fracionais, algo tão minúsculo como os levantes da Adzharia. De fato, o que é essa chamada “insurreição” de Adzharia comparada com a de Kronstadt, por exemplo? Acho que, se as compararmos, a chamada “insurreição” de Adzharia não é nem uma gota no oceano. Houve algum caso em que os trotskistas ou zinovievistas tentaram explorar o importante levante de Kronstadt contra o C.C., contra o partido? Devemos admitir, camaradas, que não houve nenhum caso desse tipo. Pelo contrário, os grupos oposicionistas existentes em nosso partido no período desse importante levante ajudaram o partido a reprimi-lo, sem ousar tirar proveito disso contra o partido.
E o que o grupo de Bukharin está fazendo agora? Vocês tiveram a oportunidade de se convencer de que ele está tentando explorar essa “insurreição” microscópica em Adzharia contra o partido da maneira mais mesquinha e indecente. O que é isso, senão a cegueira e a mesquinhez fracionistas levadas ao extremo?
Aparentemente, pedem-nos que asseguremos que não haja distúrbios nas regiões periféricas que fazem fronteira com os Estados capitalistas. Aparentemente, estão nos pedindo para seguir uma política que satisfaça todas as classes de nossa sociedade, ricos e pobres, trabalhadores e capitalistas, e aparentemente estão nos pedindo para garantir que não haja elementos descontentes em nosso país. Será que esses camaradas do grupo de Bukharin não perderam a razão?
Como é possível exigir de nós, homens da ditadura do proletariado, que mantemos a luta contra o mundo capitalista dentro e fora de nosso país, como é possível exigir que não haja descontentamentos no país e que nunca haja desordem em algumas regiões periféricas que fazem fronteira com Estados que nos são hostis? Para que serve o cerco capitalista, então, se não para que o capital internacional concentre seus esforços na organização de atos contra o poder soviético nas áreas de fronteira pelos elementos descontentes em nosso país? Quem, além dos liberais vazios, pode exigir tal coisa de nós? Não está claro, então, que a mesquinhez fracionista às vezes é capaz de levar as pessoas a uma cegueira e a uma mentalidade fechada que é típica dos liberais?
b) Lealdade e direção coletiva.
Rykov declarou aqui que Bukharin é um dos militantes mais “irrepreensíveis” e “leais” em sua atitude em relação ao C.C. de nosso partido.
Permita-me questionar isso. Não podemos acreditar na palavra de Rykov. Pedimos fatos, que é o que Rykov não pode fornecer.
Tomemos, por exemplo, um fato como as negociações de bastidores de Bukharin com o grupo de Kamenev, ligado aos trotskistas, sobre a organização de um bloco fracionista, sobre a mudança da política do CC, sobre mudanças no Birô Político, sobre o aproveitamento da crise dos grãos para agir contra o CC. Onde está, perguntamos, a “lealdade” de Bukharin, a “impecabilidade” de sua atitude em relação ao CC?
Não é isso, ao contrário, a violação por um membro do Birô Político de toda lealdade ao seu C.C., ao seu partido? Se isso é chamado de lealdade ao C.C., o que é então traição ao seu C.C.?
Bukharin gosta de falar sobre lealdade, sobre honestidade; mas por que ele não tenta examinar sua conduta e se pergunta se não está violando da maneira mais desonesta possível os requisitos elementares de lealdade ao seu C.C. ao manter negociações nos bastidores com os trotskistas contra o C.C., traindo-o assim?
Bukharin falou aqui sobre a falta de direção coletiva no C.C. do Partido, dizendo-nos que a maioria do Birô Político do C.C. não preenche os requisitos da direção coletiva.
É claro que nossa plenária pode suportar qualquer coisa. Ela também pode suportar a declaração descarada e hipócrita de Bukharin. Mas você realmente tem que ter vergonha de ousar falar contra a maioria do CC dessa forma no plenário.
De fato, de que direção coletiva se pode falar, se a maioria do C.C., que se juntou à carruagem do Estado e a está conduzindo adiante, exercendo todas as suas forças, pede ao grupo de Bukharin que o ajude nesse trabalho difícil, e o grupo de Bukharin, longe de ajudar seu C.C., faz o oposto, coloca todos os tipos de obstáculos em seu caminho, ergue barreiras, ameaça se demitir e se alia aos inimigos do Partido, aos trotskistas, contra o C.C. de nosso Partido?
Quem pode negar, além dos hipócritas, que Bukharin, que entra em um bloco com os trotskistas contra o Partido e trai seu C.C., não quer e não vai praticar a direção coletiva no Comitê Central do nosso Partido?
Quem pode deixar de ver, além dos cegos, que se Bukharin continua, apesar de tudo, a falar direção coletiva no C.C., ao mesmo tempo em que dirige os tiros contra a maioria do C.C., ele está fazendo isso para mascarar sua posição de traidor?
Deve-se observar que essa não é a primeira vez que Bukharin viola os postulados elementares de lealdade e direção coletiva em relação ao C.C. do partido. A história de nosso partido conhece vários exemplos. Assim, no período da paz de Brest-Litovsk, durante a vida de Lênin, Bukharin, que havia sido deixado em minoria na questão da paz, voltou-se para os esseristas de esquerda, inimigos do nosso partido, e manteve conversas secretas com eles, tentando montar um bloco contra Lênin e o C.C. Infelizmente, ainda não sabemos3 o que ele conspirou com os esseristas de esquerda. Sabemos, sim, que os esseristas de esquerda tinham a intenção de prender Lênin e organizar um golpe antissoviético… Mas o mais estupendo de tudo é que Bukharin, ao mesmo tempo em que ia aos esseristas de esquerda e conspirava com eles contra o C.C., continuava a falar alto, como faz agora, sobre a necessidade da direção coletiva.
A história do nosso partido também conhece outros exemplos. Durante a vida de Lênin, com o apoio da maioria do Birô do nosso partido na região de Moscou e com o grupo de comunistas de “esquerda” seguindo-o, Bukharin conclamou todos os membros do partido a expressarem sua desconfiança em relação ao CC, a não se subordinarem a ele e a levantarem a questão de uma cisão em nosso partido. Isso ocorreu no período da paz de Brest-Litovsk, quando o CC já havia concordado com a necessidade de aceitar as condições da paz de Brest-Litovsk.
Essa é a lealdade e a direção coletiva de Bukharin.
Rykov falou aqui sobre a necessidade do trabalho coletivo, apontando o dedo para a maioria do Birô Político e afirmando que ele e seus amigos próximos são a favor do trabalho coletivo e que, portanto, a maioria do Birô Político é contra o trabalho coletivo. Mas Rykov não apresentou um único fato para sustentar suas declarações.
Para dissipar essa fábula de Rykov, posso citar alguns fatos, alguns exemplos demonstrativos de como Rykov pratica o trabalho coletivo.
Primeiro exemplo. Vocês conhecem a história da remessa de ouro para os Estados Unidos. Muitos de vocês pensarão que o ouro foi enviado para a América por acordo do Conselho dos Comissários do Povo, ou do C.C., ou com o consentimento do C.C., ou com o conhecimento do C.C. Mas não é assim, camaradas. O C.C. e o Conselho dos Comissários do Povo não têm a menor relação com esse assunto. Existe um acordo segundo o qual o ouro não pode ser exportado sem a sanção do C.C. Mas o acordo não foi cumprido. Quem autorizou o embarque? Acontece que o ouro foi enviado com a permissão de um deputado de Rykov, com o conhecimento e a concordância de Rykov.
O que é isso, trabalho coletivo?
Segundo exemplo. Trata-se de negociações com um dos maiores bancos privados da América do Norte, cujos ativos foram nacionalizados após a Revolução de Outubro e que agora está exigindo indenização por danos. O CC tomou conhecimento de que um representante do nosso banco estatal estava em negociações com esse banco sobre os termos dessa indenização.
A satisfação de reivindicações individuais é, como vocês sabem, uma das questões mais importantes diretamente relacionadas à nossa política externa. Pode parecer que as negociações foram conduzidas com a aprovação do Conselho dos Comissários do Povo ou do C.C. Mas não foi assim, camaradas. O C.C. e o Conselho dos Comissários do Povo não tiveram nada a ver com o assunto. Posteriormente, ao saber dessas negociações, o C.C. ordenou que elas fossem interrompidas. Mas uma pergunta permanece: quem sancionou essas negociações? Descobriu-se que elas haviam sido sancionadas por um deputado de Rykov com o conhecimento e a concordância de Rykov.
O que é isso, trabalho coletivo?
Terceiro exemplo. Trata-se do fornecimento de maquinário agrícola aos kulaks e aos camponeses médios. O Conselho Econômico da RSFJ4, presidido por um dos deputados de Rykov na RSFJ, decidiu reduzir o número de máquinas agrícolas destinadas aos camponeses médios e aumentar o número destinado aos estratos superiores do campo, ou seja, aos kulaks. Isso é o que diz essa disposição antipartidária e antissoviética do Conselho Econômico da RSSF:
“Para a R.S.S.S. do Cazaquistão e da Bashkiria, os territórios da Sibéria e do Baixo Volga e as regiões do Médio Volga e dos Urais, as porcentagens para a venda de máquinas e implementos agrícolas especificadas neste ponto são aumentadas para 20% para os estratos superiores da aldeia e reduzidas para 30% para os estratos médios”.
O que você acha? O Conselho Econômico da R.S.F.S.R., em um período de intensa ofensiva do Partido contra os kulaks e de organização das massas de camponeses pobres e médios contra os kulaks, concorda em diminuir o padrão de venda de maquinário para os camponeses médios e aumentar o padrão de venda para os estratos superiores da aldeia.
E isso se chama política leninista e comunista!
Posteriormente, quando o CC tomou conhecimento do caso, anulou a decisão do Conselho Econômico. Mas quem sancionou essa disposição antissoviética? Foi sancionada por um dos deputados de Rykov, com o conhecimento e a concordância de Rykov.
O que é isso, trabalho coletivo?
Parece-me que esses exemplos são suficientes para mostrar como Rykov e seus representantes praticam o trabalho coletivo.
c) A luta contra os desvios de direita.
Bukharin falou sobre a “execução civil” de três membros do Bureau Político, com os quais, em suas palavras, as organizações do nosso partido estavam “se intrometendo”. Ele disse que o partido havia decretado a “execução civil” de três membros do Birô Político, Bukharin, Rykov e Tomski, criticando seus erros, na imprensa e em assembleias, enquanto eles, esses três membros do Birô Político, eram “forçados” a ficar calados.
Tudo isso é um absurdo, camaradas. Essas são as falsidades de um comunista liberalizante, que está tentando enfraquecer o partido em sua luta contra o desvio de direita. De acordo com Bukharin, se ele e seus amigos se afundarem nos erros de um desvio direitista, não cabe ao partido expor esses erros e deve cessar a luta contra o desvio direitista até que Bukharin e seus amigos tenham vontade de retificá-los.
Quem o está forçando a permanecer em silêncio, a cruzar os braços quando todo o partido está mobilizado contra o desvio de direita e lança ataques determinados contra as dificuldades? Por que Bukharin e seus amigos próximos não intervêm agora e lançam uma luta determinada contra o desvio de direita e contra a atitude conciliatória em relação a ele? Alguém pode duvidar de que o Partido o receberia bem se Bukharin e seus amigos próximos decidissem dar esse passo, que não é tão difícil? Por que eles não decidem dar esse passo, que é, afinal de contas, uma obrigação para eles? Não é porque os interesses de seu grupo estão, para eles, acima dos interesses do partido e de sua linha geral? Quem é o culpado pelo fato de Bukharin, Rykov e Tomski se destacarem por sua ausência na luta contra o desvio de direita? Não é óbvio que esse charlatanismo sobre a “execução civil” de três membros do Birô Político não passa de uma tentativa mal disfarçada desses três membros do Birô Político de forçar o Partido ao silêncio e suspender a luta contra o desvio de direita?
A luta contra o desvio de direita não pode ser considerada uma tarefa secundária de nosso partido; a luta contra o desvio de direita é uma das tarefas decisivas de nosso partido. Se em nosso próprio partido, dentro de nosso próprio partido, no Estado-Maior político do proletariado, que lidera o movimento e leva o proletariado adiante; se dentro desse Estado-Maior permitíssemos a livre existência e a livre ação dos desvios de direita, que tentam desmobilizar o partido, decompor a classe operária, adaptar nossa política ao gosto da burguesia “soviética” e, assim, capitular diante das dificuldades de nosso trabalho de construção socialista; se permitíssemos tudo isso, o que significaria? Não significaria que estaríamos gradualmente pondo fim à revolução, que estaríamos interrompendo nosso trabalho de construção socialista, esquivando-nos das dificuldades e abandonando nossas posições aos elementos capitalistas?
Será que o grupo de Bukharin entende que renunciar à luta contra o desvio de direita equivale a trair a classe operária, a trair a revolução?
Será que o grupo de Bukharin entende que, sem derrotar o desvio de direita e a atitude conciliatória em relação a ele, é impossível superar as dificuldades que temos pela frente e que, sem superar essas dificuldades, nunca poderemos obter êxitos decisivos na construção do socialismo?
Depois de tudo isso, qual é o valor da lamentável frase “execução civil” de três membros do Politburo?
Não, camaradas, os Bukharinistas não assustarão o Partido com essa conversa liberal sobre “execuções civis”. O Partido exige deles uma luta resoluta contra o desvio de direita e contra a atitude conciliatória em relação a ele, ombro a ombro com todos os membros do C.C. de nosso Partido. E exige isso do grupo de Bukharin para facilitar a mobilização da classe operária, para quebrar a resistência dos inimigos de classe e para organizar a luta enérgica contra as dificuldades encontradas em nossa construção socialista.
Ou os bukharinistas cumprem essa condição do Partido, que, nesse caso, os receberá de braços abertos; ou não a cumprem, e então terão de arcar com as consequências.
VI. Conclusões.
Passo para as conclusões.
Faço as seguintes propostas:
1) Em primeiro lugar, as opiniões do grupo Bukharin devem ser condenadas. Devemos condenar os pontos de vista que esse grupo apresentou em suas declarações e nos discursos de seus representantes, ressaltando que esses pontos de vista são incompatíveis com a linha do partido e que coincidem totalmente com as posições do desvio de direita.
2) As negociações nos bastidores de Bukharin com o grupo de Kamenev devem ser condenadas como a expressão mais flagrante da deslealdade e do fracionismo do grupo de Bukharin.
3) A política de demissão de Bukharin e Tomski deve ser condenada como uma transgressão grosseira das normas elementares da disciplina do partido.
4) Bukharin e Tomski devem ser removidos de seus cargos e devem ser advertidos de que, no caso da menor tentativa de insubordinação contra as disposições do C.C., o C.C. será obrigado a expulsá-los do Birô Político.
5) Devem ser tomadas medidas para garantir que o menor desvio da linha do Partido, das decisões do C.C. e de seus órgãos não seja tolerado nos discursos públicos dos membros titulares e suplentes do Birô Político.
6) Devem ser tomadas medidas para garantir que a linha do Partido e as decisões de seus órgãos dirigentes sejam totalmente defendidas nos órgãos de imprensa, tanto no Partido quanto nos Sovietes, nos jornais e nas revistas.
7) Medidas especiais, até e inclusive a expulsão do CC e do Partido, devem ser tomadas contra aqueles que tentarem divulgar o sigilo dos acordos do Partido, seu CC e seu Birô Político.
8) A resolução do Pleno conjunto do C.C. e do C.C.C.C. sobre os problemas internos do Partido deve ser enviada a todas as organizações locais do Partido e aos membros da 16ª Conferência5, sem ser divulgada na imprensa por enquanto.
Essa, em minha opinião, é a saída para a situação.
Alguns companheiros insistem na expulsão imediata de Bukharin e Tomski do Birô Político do C.C. Não concordo com esses companheiros. Sou da opinião de que, no momento, uma medida tão extrema não é necessária.
Este é publicado na íntegra pela primeira vez.
*Sublinhado por mim, J. St. Pierre.
1 “Jugend Internationale” (“Juventude Internacional”): jornal, órgão da União Internacional da Juventude Socialista; publicado em Zurique de setembro de 1915 a maio de 1918. De 1919 a 1941, foi publicado como órgão do Comitê Executivo da Juventude Comunista Internacional (de 1925 a 1928, foi publicado com o nome “Juventude Comunista Internacional”).
2 Ver: Leninist Digest, vol. XIV, pp. 250-259, edição russa.
* Sublinhado por mim. J. St. Pierre.
* Sublinhado por mim. J. St. Pierre.
3 No período da paz de Brest-Litovsk (1918), Bukharin e o grupo de comunistas de “esquerda” que ele liderava, em acordo com Trotsky, travaram uma luta amarga dentro do partido contra Lênin, pedindo a continuação da guerra, a fim de expor a jovem República Soviética, ainda sem exército, aos golpes do imperialismo alemão. Em 1938, no julgamento do “bloco de trotskistas e direitistas” antissoviético, ficou estabelecido que Bukharin e o grupo de comunistas de “esquerda” que ele liderava, juntamente com Trotsky e os esseristas de esquerda, haviam montado uma conspiração contrarrevolucionária secreta contra o governo soviético, com o objetivo de torpedear o tratado de paz de Brest-Litovsk, prender e assassinar V. I. Lênin, J. V. Stalin e Y. M. Sverdlov, e formar um governo composto por bukharinistas, trotskistas e esseristas de esquerda.
4 Conselho Econômico da R.S.F.S.R.: Conselho Econômico ligado ao Conselho de Comissários do Povo da R.S.F.S.R.
5A 16ª Conferência do P.C.(b) da URSS foi realizada em Moscou, de 23 a 29 de abril de 1929. A Conferência discutiu as seguintes questões: o plano quinquenal para o desenvolvimento da economia nacional, as formas de promoção da agricultura e a redução dos impostos sobre os camponeses médios, o balanço e as tarefas imediatas da luta contra o burocratismo e a purificação e revisão dos membros e candidatos a membros do P.C.(b) da URSS. A Conferência rejeitou a variante “mínima” do plano, que foi defendida pelos capituladores de direita, e aprovou a variante “ótima” como obrigatória, independentemente das condições. A Conferência condenou o desvio de direita como um sinal de ruptura completa com a política leninista do Partido, como um passo aberto para a posição dos kulaks, e conclamou o Partido a combater com todas as suas forças o desvio de direita, o principal perigo desse período, bem como as tendências de conciliação com os desvios da linha leninista. V. M. Molotov discursou na Conferência. M. Molotov relatou sobre o Plenum de abril do C.C. e do C.C.C. do P.C.(b) da URSS e sobre o discurso proferido por J.V. Stalin naquele Pleo “Sobre o Desvio de Direita no P.C.(b) da URSS” (veja este volume) e uma resolução “Sobre os Assuntos Internos do Partido” foi adotada por unanimidade. A Conferência adotou um apelo a todos os operários e camponeses da União Soviética, convidando-os a desenvolver a emulação socialista (veja as resoluções da 16ª Conferência em “The P.C.U.S. in the Resolutions and Decisions of the Congresses and Conferences and Plenums of the C.C.”, Parte II, pp. 448-499, edição russa de 1953).
9 “Sbórnik Sotsial-Demokrata” (“Compilação Social-Democrata”); publicado pelo C.C. do P.O.S.D.R. em 1916 sob a direção imediata de V. I. Lênin. Foram publicadas duas edições: uma em outubro e outra em dezembro de 1916.
2 Comments