Sobre o desvio de direita no P.C.(b) da U.R.S.S. – J. V. Stalin (Parte I)

Nota do Blog: Publicamos numa série de 3 partes e com tradução inédita do Blog Servir ao Povo esta importante obra que se trata da luta travada por Stalin no interior do Partido Comunista da União Soviética contra a linha de direita de Bukharin, Rykov e Tomski. Chamamos atenção para a correta condução e entendimento de Stalin à época sobre a luta de duas linhas que se processava como expressão no Partido Comunista da agudização na luta de classes na construção do socialismo.

SOBRE O DESVIO DE DIREITA NO P.C.(b) DA U.R.S.S.

J. Stalin

Discurso na sessão plenária do C.C. e do C.C.C. do P.C.(b) da U.R.S.S. em abril de 19291*

(Taquigrafia)

Camaradas: não vou me referir ao fator pessoal, embora nos discursos de alguns camaradas do grupo de Bukharin este tenha desempenhado um papel bastante impressionante. Não vou me referir a este, porque o fator pessoal é uma ninharia e não vale a pena que nos detivéssemos em ninharias. Bukharin falou de sua correspondência pessoal comigo. Ele leu várias cartas, nas quais fica claro que nós, ontem ainda amigos pessoais, agora discordamos em política. As mesmas notas soaram nos discursos de Uglanov e Tomski. Como é possível, dizem eles: somos velhos bolcheviques e, de repente, falam de divergências entre nós; não sabemos como respeitar uns aos outros.

Não acho que todas essas choramingas e lamentações valham alguma coisa. Não somos uma reunião de família, não somos um grupo de amigos pessoais, mas o partido político da classe operária. Não se deve permitir que os interesses da amizade pessoal sejam colocados acima dos interesses da causa.

Se a única razão pela qual nos chamamos de velhos bolcheviques é porque somos velhos, estamos em uma situação ruim, camaradas. Os velhos bolcheviques não são respeitados por serem velhos, mas porque, ao mesmo tempo, são revolucionários sempre novos que nunca envelhecem. Se o velho bolchevique se desvia da revolução ou desiste e morre no sentido político, ele pode ter até cem anos de idade, mas não tem o direito de se chamar de velho bolchevique, não tem o direito de pedir ao Partido que o respeite.

Além disso, os problemas da amizade pessoal não podem ser colocados no mesmo plano dos problemas da política; pois, como diz o ditado, amizade é uma coisa e dever é outra. Estamos todos a serviço da classe operária, e se os interesses da amizade pessoal divergirem dos interesses da revolução, a amizade pessoal deve ficar em segundo plano. Caso contrário, não podemos nos colocar o problema como bolcheviques.

Tampouco vou me referir às alusões e acusações veladas de caráter pessoal que apimentam os discursos dos camaradas da oposição bukharinista. Parece que esses camaradas querem encobrir as razões políticas de nossas discordâncias com insídia e equívoco. Eles querem substituir a política pela politicagem. Nesse aspecto, o discurso de Tomski é particularmente característico, um discurso típico de um político sindicalista que tenta substituir a política pela politicagem. Mas eles não conseguirão esse número.

E agora vamos ao que interessa.



I. Uma linha ou duas linhas?

O problema fundamental, camaradas, é se há uma linha geral comum em nosso partido ou se temos duas linhas.

Rykov disse aqui em seu discurso que temos apenas uma linha geral e que, se há certas discrepâncias “menores”, é porque há “nuances” na forma como a linha geral é concebida.

Isso é verdade? Infelizmente, não é. E não só não é verdade, como é o oposto da verdade. De fato, se temos apenas uma linha e há apenas questões de nuance entre nós, por que Bukharin foi até os trotskistas de ontem, liderados por Kamenev, e tentou formar com eles um bloco faccional contra o C.C. e seu Birô Político? Não é um fato que Bukharin disse que a linha do C.C. era “catastrófica” e falou das discordâncias de princípio de Bukharin, Tomski e Rykov com o C.C. do Partido e da necessidade de mudar radicalmente o Birô Político do C.C.?

Se a linha é uma só, por que Bukharin conspirou com os trotskistas de ontem contra o C.C. e por que Rykov e Tomski o apoiaram nessa questão?

Se a linha geral é uma só, como pode uma parte do Birô Político, se ela adere a essa única linha geral comum, ter permissão para realizar um trabalho de sabotagem contra outra parte do Birô Político, que adere à mesma linha geral?

Essa política de desertores é aceitável quando há uma linha geral comum?

Se a linha é uma só, como pode ser concebida a declaração de Bukharin de 30 de janeiro, dirigida toda ela contra o C.C. e sua linha geral?

Se a linha é uma só, como pode ser concebida a declaração dos três (Bukharin, Rykov e Tomski) de 9 de fevereiro, acusando descarada, grosseira e caluniosamente o Partido a) de seguir uma política de exploração militar-feudal do campesinato, b) de seguir uma política de fomento ao burocratismo e c) de seguir uma política de decomposição da Internacional Comunista?

Essas declarações desapareceram, agora são consideradas errôneas, Rykov, Bukharin e Tomski estão preparados para retirar essas declarações claramente errôneas e antipartidárias? Que eles nos digam com honestidade e franqueza. Assim, todos verão claramente que nossa linha é uma só e que há apenas pequenas diferenças de nuances entre nós. Mas eles se recusaram a fazer isso, como fica claro nos discursos de Bukharin, Rykov e Tomski. E, além de se recusarem a fazê-lo, eles não pretendem renunciar a essas declarações no futuro, pois insistem que ainda mantêm as opiniões expressas nelas.

Então, onde está a linha geral comum?

Se a linha é uma só, e a linha do Partido é, de acordo com o grupo de Bukharin, seguir uma política de exploração militar-feudal do campesinato, será que Bukharin, Rykov e Tomski querem seguir essa política catastrófica conosco em vez de combatê-la? Isso é uma estupidez.

Se a linha é uma só, e a linha do partido é, de acordo com a oposição bukharinista, incentivar o burocratismo, Rykov, Bukharin e Tomski querem incentivar o burocratismo no partido conosco em vez de combatê-lo? Isso é um absurdo.

Se a linha é uma só, e a linha do Partido é, de acordo com a oposição bukharinista, acabar com a Internacional Comunista, Rykov, Bukharin e Tomski querem acabar com a Internacional Comunista conosco em vez de lutar contra essa política? Como é possível acreditar nesse absurdo?

Não, camaradas, há algo anômalo na afirmação de Rykov de que nossa linha é comum. Como queira, mas não existe uma linha comum e única, se levarmos em conta os fatos que acabei de declarar sobre as declarações e a conduta do grupo de Bukharin.

Se a linha é uma só, qual é a razão para a política de renúncia de Bukharin, Rykov e Tomski? É concebível que, se há uma linha geral comum, uma determinada seção do Birô Político se recuse sistematicamente a cumprir as repetidas decisões do C.C. e, por meio ano, sabote o trabalho do Partido? Por que essa política desorganizadora de renúncia, conscientemente praticada por uma seção do Birô Político, se de fato temos uma linha geral comum?

A história de nosso partido conhece casos de uma política de renúncia. Sabe-se, por exemplo, que no dia seguinte à Revolução de Outubro, alguns camaradas, liderados por Kamenev e Zinoviev, recusaram-se a aceitar os cargos que lhes foram oferecidos e exigiram uma mudança na política do partido. Como se sabe, a política de renúncia foi então explicada pela exigência de formação de um governo de coalizão com os mencheviques e os esseristas, ao contrário do C.C. de nosso partido, que manteve a política de formação de um governo puramente bolchevique. Mas a política de renúncias tinha uma explicação, pois se baseava na existência de duas linhas diferentes, uma das quais consistia na formação de um governo puramente bolchevique e a outra na formação de um governo de coalizão com os mencheviques e os esseristas. Isso era claro e compreensível. Mas não há lógica, absolutamente nenhuma, quando a oposição bukharinista proclama, por um lado, a unidade da linha geral, enquanto, por outro lado, pratica uma política de renúncias copiada da de Zinoviev e Kamenev no período da Revolução de Outubro.

Das duas uma: ou a linha é uma só, e então a política de renúncia de Bukharin e seus amigos não pode ser entendida ou explicada; ou temos duas linhas, e então a política de renúncia pode ser perfeitamente entendida e explicada.

Se a linha é uma só, como é possível que três membros do Birô Político, Rykov, Bukharin e Tomski, tenham se abstido quando as teses fundamentais relativas ao plano quinquenal e à questão camponesa foram submetidas à votação no Birô Político? É comum que a linha geral seja uma só e que parte dos camaradas se abstenha quando questões fundamentais da política econômica são submetidas à votação? Não, camaradas, esses milagres não acontecem no mundo.

Por fim, se a linha é uma só e apenas questões de nuance estão envolvidas, por que os camaradas da oposição bukharinista, Bukharin, Rykov e Tomski, não aceitaram o compromisso que a comissão do Politburo propôs a eles em 7 de fevereiro deste ano? Não é verdade que esse compromisso ofereceu ao grupo de Bukharin uma saída perfeitamente aceitável do atoleiro em que ele mesmo se meteu?

Esse é o compromisso que a maioria do CC propôs em 7 de fevereiro passado:

A troca de opiniões no comitê destacou isso:

1) Bukharin admite que as negociações com Kamenev foram um erro político;

2) Bukharin admite que todas as afirmações em sua ‘declaração’ de 30 de janeiro de 1929, de que o C.C. segue na prática uma política de ‘exploração militar-feudal do campesinato’, que o C.C. decompõe a Internacional Comunista e que promove o burocratismo no Partido, foram feitas no calor da polêmica, mas ele nos assegura que não mantém mais essas afirmações e considera que não tem discordâncias com o C.C. nesse ponto;

3) em virtude disso, Bukharin reconhece que o trabalho proporcional no Birô Político é possível e necessário;

4) Bukharin retira suas renúncias, tanto do “Pravda” quanto da Internacional Comunista;

5) Bukharin, portanto, retira sua declaração de 30 de janeiro.

Em vista do exposto, a Comissão considera possível não submeter à reunião conjunta do Birô Político e do Presidium do C.C.C. seu projeto de resolução julgando politicamente os erros de Bukharin, e propõe à reunião conjunta do Birô Político e do Presidium do C.C.C. que todos os documentos existentes (o texto taquigráfico dos discursos, etc.) sejam retirados de circulação.

A Comissão convida o Birô Político e o Presidium do C.C.C. a garantir a Bukharin todas as condições necessárias para a normalidade de seu trabalho nos cargos de editor do ‘Pravda’ e de secretário do E.C. do I.C.”.

Por que Bukharin e seus amigos rejeitaram esse compromisso, quando nossa linha é de fato uma só e há apenas diferenças insignificantes de nuances entre nós? É difícil entender que Bukharin e seus amigos deveriam ter se agarrado com todas as suas forças a esse compromisso oferecido a eles pelo Birô Político, de modo a pôr fim à situação tensa dentro do Partido e criar uma atmosfera de trabalho unânime e de acordo no Birô Político?

Fala-se em unidade do partido, em trabalho coletivo no Birô Político. Mas não está claro que aqueles que querem uma unidade efetiva e prezam o princípio do trabalho coletivo devem aceitar esse compromisso? Por que, então, Bukharin e seus amigos o rejeitaram?

Não está claro que, se houvesse uma linha, não teria havido nem a declaração dos três de 9 de fevereiro, nem a recusa de Bukharin e seus amigos em aceitar o compromisso proposto a eles pelo Birô Político do C.C.?

Não, camaradas, não é verdade que exista uma linha comum, se os fatos mencionados acima forem levados em consideração. O resultado é que, na realidade, não temos uma linha, mas duas: uma, a linha do C.C., e a outra, a linha do grupo de Bukharin.

Rykov não foi sincero em seu discurso ao dizer que temos apenas uma linha geral. Dessa forma, ele quis mascarar sua própria linha, que era diferente da linha do partido, a fim de sabotar a linha do partido de forma dissimulada. A política do oportunismo consiste exatamente em ocultar as diferenças de opinião, em ocultar a situação real no partido, em mascarar a própria posição e em impedir a clareza total no partido.

Por que o oportunismo precisa dessa política? Para se camuflar com o discurso da unidade de linha e, de fato, aplicar sua própria linha, diferente da linha do partido. Rykov manteve esse ponto de vista oportunista em seu discurso no atual Pleo do C.C. e do C.C.C.C.

Quereis ouvir como o camarada Lênin define o oportunista em geral em um de seus artigos? Essa é uma definição importante para nós, não apenas por causa de seu significado geral, mas porque ela se encaixa perfeitamente em Rykov.

Aqui está o que Lênin diz sobre as peculiaridades do oportunismo e do oportunismo:

Quando falamos da luta contra o oportunismo, nunca devemos nos esquecer da característica de todo o oportunismo contemporâneo em todos os campos: seu caráter vago, difuso e inatingível. O oportunista, por sua própria natureza, sempre evita a abordagem concreta e nítida dos problemas, busca a resultante, se contorce como uma serpente entre pontos de vista mutuamente exclusivos, esforçando-se para ‘concordar’ com um e com outro, reduzindo suas discrepâncias a pequenas emendas, a dúvidas, a inocentes bons desejos, etc., etc.” (t. VI, p. 320).

Aí está a fisionomia do oportunista, com medo da clareza e da precisão e sempre tentando ocultar a situação real, velar as discrepâncias reais no partido.

Sim, camaradas, devemos ser capazes de encarar a realidade de frente, por mais desagradável que ela seja. Deus nos livre de sermos infectados pelo medo da verdade. Entre outras coisas, os bolcheviques são diferentes de qualquer outro partido porque não têm medo da verdade, não têm medo de encarar a verdade de frente, por mais amarga que ela seja. E a verdade, nesse caso, é que de fato não temos uma linha comum. Há uma linha, a linha do Partido, a linha revolucionária e leninista. Mas, paralelamente a ela, há outra linha, a linha do grupo de Bukharin, que luta contra a primeira linha por meio de declarações antipartidárias, por meio de renúncia, por meio de calúnias contra o partido, por meio de trabalho clandestino disfarçado contra o partido, por meio de barganhas nos bastidores com os trotskistas de ontem para organizar um bloco antipartidário. Essa segunda linha é uma linha oportunista.

Esse é um fato que nenhum discurso diplomático, nenhuma declaração inteligente sobre a existência de uma única linha, etc., etc., será capaz de apagar.

II. Mudanças nas relações de classe e nossas divergências.

Quais são nossas divergências e sobre o que elas se referem?

Elas se referem, em primeiro lugar, às mudanças nas relações de classe que vêm ocorrendo recentemente em nosso país e nos países capitalistas. Alguns camaradas pensam que as discrepâncias em nosso partido são de caráter casual. Isso é falso, camaradas, absolutamente falso. As discrepâncias existentes em nosso partido são devidas às mudanças nas relações de classe, são devidas à intensificação da luta de classes que vem ocorrendo nos últimos tempos e que determina uma mudança no curso das coisas.

O erro fundamental do grupo de Bukharin consiste em sua incapacidade de enxergar essas mudanças nas relações e essa mudança, em sua incapacidade de vê-las e em sua recusa em percebê-las. Isso explica, de fato, sua incompreensão das novas tarefas do partido e da Internacional Comunista, uma incompreensão que é a característica da oposição bukharinista.

Camaradas, vocês notaram como, em seus discursos perante o Plenum do C.C. e o C.C.C., os líderes da oposição bukharinista evitaram completamente o problema das mudanças nas relações de classe em nosso país, não disseram uma palavra sobre o recrudescimento da luta de classes e nem sequer aludiram de passagem à relação de nossas divergências com esse recrudescimento da luta de classes? Eles falaram sobre tudo, falaram sobre filosofia e teoria, mas não disseram uma palavra sobre as mudanças nas relações de classe, que determinam a orientação e a ação prática de nosso partido no momento atual.

Qual é o motivo dessa estranha ocorrência? Será que é por esquecimento? É claro que não! Os políticos não podem se esquecer do principal. É porque eles não veem e não entendem os novos processos revolucionários que estão ocorrendo hoje, tanto em nosso país quanto nos países capitalistas. A razão é que eles perderam os fundamentos, que não veem as mudanças nas relações de classe que não deveriam escapar ao político. Isso explica, acima de tudo, a perplexidade e o desamparo da oposição bukharinista diante das novas tarefas de nosso partido.

Lembre-se dos últimos acontecimentos em nosso partido. Lembrem-se das palavras de ordem que nosso partido apresentou recentemente em conexão com as novas mudanças nas relações de classe em nosso país. Refiro-me à palavra de ordem como a autocrítica, a intensificação da luta contra o burocratismo e a purificação do aparato soviético, o treinamento de novos quadros dirigentes da economia e de especialistas vermelhos, o fortalecimento do Kolkhoz e do movimento soviético, a ofensiva contra os kulaks, a redução do preço de custo e a melhoria radical do trabalho prático dos sindicatos, a purificação do partido e assim por diante. Para alguns camaradas, essas palavras de ordem foram surpreendentes e desconcertantes, quando está claro que eles são as palavras de ordem mais necessárias e oportunas do Partido no momento atual.

Começou quando, em conexão com o caso Shakhti2, levantamos de uma nova maneira o problema dos novos quadros dirigentes da economia, o problema do treinamento de especialistas vermelhos, oriundos da classe trabalhadora, para substituir os antigos técnicos.

O que o caso Shakhti revelou? Revelou que a burguesia está longe de ser esmagada; que ela está organizando e continuará a organizar a sabotagem contra nossa construção econômica; que nossas organizações econômicas e sindicais e, em parte, nossas organizações partidárias não estavam cientes do trabalho de sabotagem de nossos inimigos de classe e que, portanto, era necessário fortalecer e aperfeiçoar nossas organizações, por todos os meios e contribuindo com todas as forças, e desenvolver e fortalecer sua vigilância de classe.

Nessa ocasião, a palavra de ordem da autocrítica foi enfatizada. Por quê? Porque não é possível aprimorar nossas organizações econômicas, sindicais e partidárias, não é possível levar adiante a construção do socialismo e deter a sabotagem da burguesia, sem empregar ao máximo a crítica e a autocrítica, sem colocar o trabalho de nossas organizações sob o controle das massas. É um fato que a sabotagem não se manifestou e ainda não se manifesta apenas nas áreas de mineração de carvão, mas também na metalurgia, na indústria bélica, no Comissariado do Povo das Estradas, na indústria do ouro e da platina, etc., etc., etc. Daí a palavra de ordem da autocrítica.

Além disso, tendo em vista as dificuldades na coleta de grãos e os ataques dos kulaks à política de preços soviética, defendemos firmemente a necessidade de levar adiante, por todos os meios, o treinamento de kolkhozes e sovkhozes, a ofensiva contra os kulaks e a organização da coleta de grãos, pressionando, para esse fim, os kulaks e os elementos abastados do campo.

O que as dificuldades da coleta de grãos revelaram? Elas revelaram que o kulak não estava dormindo, que estava crescendo, que estava organizando o trabalho de minar contra a política do poder soviético e que as organizações do nosso partido, dos sovietes e das cooperativas, pelo menos uma parte delas, não viam o inimigo ou estavam se adaptando a ele, em vez de combatê-lo.

É por isso que a palavra de ordem da autocrítica foi mais uma vez enfatizada, bem como a palavra de ordem de monitorar e melhorar as organizações do nosso partido, as cooperativas e as de coleta em geral.

Além disso, em conexão com as novas tarefas de reestruturação da indústria e da agricultura com base no socialismo, foi apresentada a palavra de ordem da redução sistemática do custo de produção, do fortalecimento da disciplina do trabalho, do desenvolvimento da emulação socialista, etc. E essas tarefas exigiram a revisão de todo o trabalho prático dos sindicatos e do aparato dos sovietes, uma revitalização completa dessas organizações e sua eliminação de elementos burocráticos.

Por isso, a palavra de ordem da luta contra o burocratismo nos sindicatos e no aparato dos sovietes foi enfatizada.

Por fim, a razão para a palavra de ordem de purificação do partido. Seria ridículo pensar na possibilidade de fortalecer nossas organizações soviéticas, econômicas, sindicais e cooperativas, na possibilidade de limpá-las do lixo do burocratismo, sem afiar a borda do próprio partido. Não há dúvida de que os elementos burocráticos não se aninham apenas nas organizações econômicas e cooperativas, sindicais e soviéticas, mas também nas organizações do próprio partido. E se o partido é a força orientadora de todas essas organizações, é óbvio que a purificação do partido é um pré-requisito necessário, sem o qual a vivificação e o aprimoramento de todas as outras organizações da classe trabalhadora não podem ser concluídos. Daí a palavra de ordem da purificação do partido.

Essas palavras de ordem são casuais? Não, eles não são casuais. Vejam por si mesmos que não são. Essas palavras de ordem são elos necessários em uma cadeia ininterrupta, que é chamada de ofensiva do socialismo contra os elementos do capitalismo.

Essas palavras de ordem respondem, antes de tudo, ao período de reestruturação de nossa indústria e agricultura com base no socialismo. E o que é a reestruturação da economia nacional com base no socialismo? É a ofensiva do socialismo, implantada em toda a frente contra os elementos capitalistas da economia nacional. É um avanço muito importante da classe operária de nosso país em direção à construção do socialismo. Agora, para levar a cabo essa reestruturação, a primeira coisa é melhorar e fortalecer os quadros da construção socialista, os quadros dirigentes da economia, dos sovietes e dos sindicatos, bem como os do partido e das cooperativas; é necessário afiar a ponta de todas as nossas organizações, limpá-las do lixo, redobrar a atividade das grandes massas da classe operária e do campesinato.

Além disso, essas palavras de ordem respondem à resistência que os elementos capitalistas da economia nacional oferecem à ofensiva do socialismo. O chamado caso Shakhti não pode ser considerado fortuito. Hoje há “Shakhtistas” em todos os ramos de nossa indústria. Muitos deles foram pegos, mas nem todos, longe disso. A sabotagem dos intelectuais burgueses é uma das formas mais perigosas de resistência contra o avanço do socialismo. E essa sabotagem é ainda mais perigosa porque está em contato com o capital internacional. A sabotagem burguesa é uma prova indubitável de que os elementos capitalistas não desistiram, longe disso, mas estão reunindo forças para lançar novas ofensivas contra o poder soviético.

No que diz respeito aos elementos capitalistas do campo, há ainda menos motivos para descrever como casuais os ataques que os kulaks vêm fazendo há mais de um ano contra a política de preços soviética. Muitas pessoas ainda não conseguiram explicar por que os kulaks estavam entregando trigo voluntariamente até 1927 e depois pararam de fazê-lo. Mas isso não é surpreendente. Se antes o kulak era relativamente fraco e não tinha condições de estabelecer sua fazenda com seriedade, não tinha capital suficiente para fortalecê-la, o que o forçava a jogar todo ou quase todo o excedente de sua produção de grãos no mercado, agora, depois de vários anos de uma boa colheita, quando ele conseguiu organizar sua fazenda e levantar o capital necessário, ele se sente capaz de manobrar no mercado, pode armazenar trigo – a moeda de troca estrangeira – fazendo para si uma reserva pessoal e prefere levar carne, aveia, cevada e outros produtos de culturas secundárias para o mercado. Hoje em dia, seria ridículo confiar que o kulak entregaria o trigo voluntariamente.

É aí que reside o ponto crucial da atual resistência dos kulak à política do poder soviético.

E o que significa a resistência dos elementos capitalistas na cidade e no campo à ofensiva do socialismo? Significa o reagrupamento das forças dos inimigos de classe do proletariado para defender o velho contra o novo. É fácil entender que isso deve necessariamente intensificar a luta de classes. Mas, para resistir aos inimigos de classe e abrir caminho para os avanços do socialismo, é necessário, além de outras coisas, afiar todas as nossas organizações, limpá-las do burocratismo, melhorar seus quadros e mobilizar massas de milhões de homens da classe operária e dos estratos de trabalhadores rurais contra os elementos capitalistas na cidade e no campo.

É para essas mudanças nas relações de classe que as atuais palavras de ordem do nosso partido estão sendo apresentadas.

O mesmo se aplica às mudanças nas relações de classe nos países capitalistas. Seria ridículo pensar que a estabilização do capitalismo permaneceu inalterada. E seria ainda mais ridículo dizer que a estabilização do capitalismo está se firmando e ganhando força. Na realidade, a estabilização do capitalismo está sendo minada e está se desfazendo a cada mês que passa, a cada dia que passa. A intensificação da luta por mercados estrangeiros e matérias-primas, o aumento dos armamentos, o acirramento do antagonismo entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, o progresso do socialismo na URSS, a radicalização da classe operária nos países capitalistas, a onda de greves e batalhas de classe nos países europeus, o aumento do movimento revolucionário nas colônias, incluindo a Índia, o avanço do comunismo em todos os países do mundo: todos esses fatos revelam, sem sombra de dúvida, que nos países do capitalismo os elementos de um novo surto revolucionário estão amadurecendo.

Daí a tarefa de intensificar a luta contra a social-democracia e, acima de tudo, contra sua ala “esquerda”, como suporte social do capitalismo.

Daí a tarefa de intensificar, dentro dos Partidos Comunistas, a luta contra seus elementos de direita, como veículos de influência social-democrata.

Daí a tarefa de intensificar a luta contra as tendências conciliatórias em relação ao desvio da direita, tendências que servem de refúgio para o oportunismo nos Partidos Comunistas.

Daí a palavra de ordem para expurgar as tradições social-democratas dos partidos comunistas.

Daí as chamadas novas táticas do comunismo nos sindicatos.

Certos camaradas não entendem o significado e a importância dessas palavras de ordem. Mas o marxista sempre entenderá que, sem colocar essas palavras de ordem em prática, é impossível preparar as massas proletárias para as novas batalhas de classe, é impossível conquistar a vitória sobre a social-democracia, é impossível selecionar verdadeiros líderes do movimento comunista, capazes de dirigir a classe operária na luta contra o capitalismo.

Essas, camaradas, são as mudanças nas relações de classe que ocorreram em nosso país e nos países do capitalismo e com base nas quais surgiram as atuais palavras de ordem de nosso partido, tanto em sua política interna quanto na Internacional Comunista.

Nosso partido vê essas mudanças nas relações de classe, compreende a importância das novas tarefas e mobiliza as forças para realizá-las. É por isso que ele enfrenta os acontecimentos com todas as suas armas. É por isso que ele não teme as dificuldades que surgem à sua frente, pois está preparado para superá-las.

O infortúnio do grupo de Bukharin é que ele não vê essas mudanças nas relações de classe e não entende as novas tarefas do partido. E justamente por isso, por não compreendê-las, ele está completamente desnorteado, pronto para fugir das dificuldades, recuar e abandonar suas posições.

Você já viu pescadores enfrentando a tempestade em um rio de fluxo rápido, como o Yenisei? Eu já os vi em várias ocasiões. Alguns pescadores, quando veem a tempestade se aproximando, colocam toda a sua energia, incentivam seus companheiros e corajosamente partem para cima da tempestade: “Coragem, rapazes! Segurem o leme com força e atravessem as ondas – nós vamos conseguir!

Mas há outra classe de pescadores que, assim que sentem a tempestade, ficam desanimados, começam a se lamentar e a desmoralizar seu povo: “Que infortúnio, a tempestade está chegando; deitem-se no fundo do barco, rapazes, e fechem os olhos; talvez as ondas nos levem até a praia”. (Risos gerais).

Acho que não é preciso dizer que a atitude e a conduta do grupo de Bukharin se assemelham à atitude e à conduta dos segundos pescadores, aqueles que se apavoram com as dificuldades.

Dizemos que na Europa as condições estão amadurecendo para um novo surto revolucionário e que essa circunstância dita novas tarefas para nós em termos de fortalecimento da luta contra o desvio de direita dentro dos Partidos Comunistas e a expulsão do Partido dos desvios de direita, fortalecimento da luta contra o espírito de conciliação que encobre os desvios de direita, fortalecimento da luta contra as tradições social-democratas dentro dos Partidos Comunistas, etc., etc., etc. Mas Bukharin responde que tudo isso é futuro, que não temos essas novas tarefas e que, na realidade, tudo se resume ao fato de que a maioria do Comitê Central deseja “implicar” com ele.

Dizemos que as mudanças nas relações de classe em nosso país ditam novas tarefas para nós, que exigem uma redução sistemática do custo de produção e o fortalecimento da disciplina trabalhista nas empresas, e que é impossível cumprir essas tarefas sem uma mudança radical em todo o trabalho prático dos sindicatos. Mas Tomski responde que tudo isso é apenas uma fantasia, que não temos essas novas tarefas e que, na realidade, tudo se resume ao fato de que a maioria do Comitê Central quer “se meter” com ele.

Dizemos que a reestruturação da economia nacional dita novas tarefas para nós em termos de fortalecimento da luta contra o burocratismo do aparato soviético e econômico, em termos de expurgar esse aparato de elementos podres e estranhos, de sabotadores, etc., etc., etc. Mas Rykov nos responde que tudo isso é apenas uma questão de futuro, que não temos novas tarefas desse tipo e que, na realidade, tudo se resume ao fato de que a maioria do Comitê Central quer “se meter” com ele.

Não é ridículo, camaradas, não é óbvio que Bukharin, Rykov e Tomski não conseguem enxergar além de seus próprios narizes?

O infortúnio do grupo de Bukharin é que ele não percebe as novas mudanças nas relações de classe e não entende as novas tarefas do partido.

Justamente por não entendê-las, ele é forçado a acompanhar os acontecimentos e a capitular diante das dificuldades.

Esse é o ponto crucial de nossas discordâncias.

III. Discrepâncias com relação à Internacional Comunista.

Eu já disse que Bukharin não vê nem entende as novas tarefas impostas à Internacional Comunista – expulsar os elementos de direita dos Partidos Comunistas, restringir as tendências conciliatórias e purificar os Partidos Comunistas de suas tradições social-democratas. Essas são tarefas que ditam as condições do novo surto revolucionário que está amadurecendo. Isso é totalmente confirmado por nossas discordâncias em questões relativas à Internacional Comunista.

Como começaram as divergências nessa área?

Ele começou com as teses sobre a situação internacional que Bukharin apresentou ao Sexto Congresso3. Normalmente, as teses eram examinadas primeiro na delegação do P.C.(b) da U.R.S.S. Mas, nesse caso, essa condição não foi observada. As teses, com a assinatura de Bukharin, foram enviadas à delegação do P.C.(b) da U.R.S.S. ao mesmo tempo em que às delegações estrangeiras no Sexto Congresso. Mas essas teses se mostraram insatisfatórias em vários pontos, e a delegação do P.C.(b) da URSS teve de apresentar cerca de 20 emendas.

Essa circunstância colocou Bukharin em uma situação um tanto violenta. Por que Bukharin precisou enviar as teses para as delegações estrangeiras antes de serem examinadas pela delegação do P.C.(b) da URSS? Esta última poderia se abster de apresentar emendas se as teses fossem insatisfatórias? Como resultado, a delegação do P.C.(b) da URSS apresentou teses sobre a situação internacional que eram fundamentalmente novas e que as delegações estrangeiras começaram a contrapor às antigas teses subscritas por Bukharin. É óbvio que essa situação violenta não teria ocorrido se Bukharin não tivesse sido muito apressado ao enviar suas teses às delegações estrangeiras.

Gostaria de destacar quatro emendas fundamentais às teses de Bukharin apresentadas pela delegação do P.C.(b) da U.R.S.S. Gostaria de destacar essas emendas fundamentais para que a natureza das divergências relativas aos problemas da Internacional Comunista possa ser vista com mais clareza.

Primeira questão: o caráter da estabilização do capitalismo. De acordo com as teses de Bukharin, não há nada de novo no momento atual para perturbar a estabilização capitalista; pelo contrário, o capitalismo está sendo remodelado e mantido, em sua maior parte, com mais ou menos solidez. É óbvio que a delegação do P.C.(b) da U.R.S.S. não pôde aceitar essa avaliação do chamado terceiro período, ou seja, do período pelo qual estamos passando. Não podia aceitá-la, porque manter essa avaliação do terceiro período teria dado aos nossos críticos a oportunidade de dizer que estávamos adotando o ponto de vista da chamada “reorganização” do capitalismo, ou seja, o ponto de vista de Hilferding, que nós, comunistas, não podemos aceitar. Em vista disso, a delegação do P.C.(b) da U.R.S.S. apresentou uma emenda, enfatizando que a estabilização capitalista não é e nem pode ser sólida, mas que ela está e continuará a ser quebrada pelo curso dos acontecimentos, devido ao agravamento da crise do capitalismo mundial.

Isso, camaradas, é de importância decisiva para as seções da Internacional Comunista. Toda a orientação dos Partidos Comunistas em seu trabalho político diário depende do fato de a estabilização capitalista ser quebrada ou se ela se mantém. Se passaremos por um período de declínio do movimento revolucionário, um período de simples acúmulo de forças, ou se vivenciaremos um período de amadurecimento das condições para um novo levante revolucionário, um período de preparação da classe operária para as lutas de classe que virão, depende da orientação tática dos Partidos Comunistas. A emenda da delegação do P.C.(b) da U.R.S.S., posteriormente aceita pelo Congresso, foi boa precisamente porque deu uma orientação clara para a segunda perspectiva, para a perspectiva do amadurecimento das condições para um novo levante revolucionário.

Segunda pergunta: a luta contra a social-democracia. Nas teses de Bukharin, foi dito que a luta contra a social-democracia é uma das tarefas fundamentais das seções da Internacional Comunista, o que é verdade, é claro. Mas isso não é suficiente. Para combater a social-democracia com sucesso, é necessário enfatizar a luta contra a chamada ala “esquerda” da social-democracia, contra essa ala “esquerda” que, ao brincar com frases “esquerdistas” e, assim, enganar habilmente os operários, age como um freio para impedir que as massas trabalhadoras abandonem a social-democracia. É óbvio que, sem derrotar os social-democratas de “esquerda”, é impossível derrotar a social-democracia em geral. As teses de Bukharin, no entanto, negligenciaram completamente o problema da social-democracia de “esquerda”; isso, é claro, foi uma grande falha, em vista da qual a delegação do P.C.(b) da URSS teve que apresentar uma emenda correspondente às teses de Bukharin, que foi posteriormente aceita pelo Congresso.

Terceira questão: o espírito de conciliação dentro das seções da Internacional Comunista. As teses de Bukharin falavam da necessidade de combater o desvio da direita, mas nenhuma palavra foi dita sobre o combate às tendências de conciliação com ela. Isso, é claro, foi uma grande deficiência. O fato é que quando a guerra é declarada contra o desvio de direita, seus adeptos geralmente se disfarçam de conciliadores e colocam o partido em uma situação difícil. Para neutralizar essa manobra dos desvios de direita, é necessário travar uma luta resoluta contra o espírito de conciliação. Por essa razão, a delegação do C.C.(b) da URSS considerou necessário apresentar uma emenda correspondente às teses de Bukharin, que foi posteriormente aceita pelo Congresso.

Quarta pergunta: disciplina do partido. Nas teses de Bukharin não havia nenhuma menção à necessidade de manter uma disciplina férrea dentro dos Partidos Comunistas. Isso também foi um defeito bastante apreciável, por quê? Porque no período de fortalecimento da luta contra o desvio de direita, no período em que se aplica a palavra de ordem de expurgar os partidos comunistas de elementos oportunistas, os desvios de direita geralmente se organizam em frações e estabelecem sua própria disciplina faccional, quebrando e infringindo a disciplina do partido. Para manter o partido a salvo de tais manobras faccionais dos desviantes de direita, é necessário exigir uma disciplina de ferro dentro do partido, à qual os membros do partido devem se submeter incondicionalmente. Caso contrário, não poderá haver uma luta séria contra o desvio de direita. É por isso que a delegação do P.C.(b) da URSS apresentou uma emenda correspondente às teses de Bukharin, que foi posteriormente aceita pelo Sexto Congresso.

Poderíamos deixar de apresentar essas emendas às teses de Bukharin? Obviamente que não. Os antigos diziam de Platão: “Somos amigos de Platão, mas somos ainda mais amigos da verdade”. Podemos dizer o mesmo de Bukharin: Somos amigos de Bukharin, mas somos ainda mais amigos da verdade, do partido, da Internacional Comunista. É por isso que a delegação do P.C.(b) da U.R.S.S. foi obrigada a apresentar essas emendas às teses de Bukharin.

Esse foi, por assim dizer, o primeiro estágio de nossas divergências sobre questões relativas à Internacional Comunista.

A segunda etapa de nossas divergências está relacionada ao que é conhecido como o caso Wittorf e Thälmann. Wittorf, então secretário da organização de Hamburgo, foi acusado de desvio de fundos do partido e expulso sob essa acusação. Os conciliadores do Comitê Central do Partido Comunista da Alemanha, aproveitando-se das relações próximas entre Wittorf e o camarada Thälmann, embora este último não tivesse nada a ver com o crime de Wittorf, transformaram o caso Wittorf no caso Thälmann e lançaram um ataque à liderança do Partido Comunista da Alemanha. Você leria na imprensa, é claro, que os conciliadores Ewert e Gerhart conseguiram, por algum tempo, conquistar a maioria do Comitê Central do Partido Comunista da Alemanha contra o camarada Thälmann. E o que aconteceu? Eles removeram Thälmann da liderança e o acusaram de malversação, passando a publicar a resolução “correspondente” sem que o Comitê Executivo da Internacional Comunista tivesse tomado conhecimento dela ou a sancionado.

Assim, em vez de cumprir a instrução do Sexto Congresso do C.I. de lutar contra o espírito de conciliação, em vez de lutar contra o desvio da direita e o espírito de conciliação, o que estava sendo feito, na verdade, era violar essa instrução da maneira mais crua e lutar contra a liderança revolucionária do Partido Comunista Alemão, contra o camarada Thälmann, para encobrir o desvio da direita e fortalecer as tendências conciliatórias nas fileiras dos comunistas alemães.

Bem, em vez de voltar atrás e retificar a situação, em vez de colocar em prática a diretriz do Sexto Congresso, que havia sido violada, chamando os conciliadores à ordem, Bukharin propôs em sua conhecida carta que o golpe dos conciliadores deveria ser sancionado, que o Partido Comunista da Alemanha deveria ser entregue a eles, e que o camarada Thälmann deveria ser novamente difamado na imprensa e outra declaração de sua culpa deveria ser publicada. E um homem assim é chamado de “dirigente” da Internacional Comunista! Que “dirigente”! O C.C. examinou a proposta de Bukharin e a rejeitou. Bukharin não viu graça, é claro. Mas quem era o culpado? As resoluções do Sexto Congresso não foram tomadas com o objetivo de violá-las, mas para que fossem cumpridas. E se o Sexto Congresso resolveu declarar guerra ao desvio de direita e às tendências de conciliação com ele, mantendo na liderança do Partido Comunista da Alemanha seu núcleo fundamental, com o camarada Thälmann à frente, e os conciliadores Ewert e Gerhart tiveram a ideia de derrubar esse acordo, era dever de Bukharin chamar os conciliadores à ordem e não deixar a direção do Partido Comunista da Alemanha em suas mãos. A culpa foi de Bukharin, que “esqueceu” os acordos do Sexto Congresso.

A terceira etapa de nossas divergências está relacionada à luta contra os direitistas dentro do Partido Comunista da Alemanha, com o esmagamento da fração de Brandler e Thalheimer e a expulsão dos líderes dessa fração do Partido Comunista alemão. A “atitude” de Bukharin e de seus amigos com relação a esse problema fundamental foi a de permanecer constantemente à margem quando se tratava de resolvê-lo. O destino do Partido Comunista da Alemanha estava em jogo. Mas Bukharin e seus amigos, que sabiam disso, passavam o tempo travando a questão e sistematicamente se destacavam por sua ausência nas reuniões dos organismos correspondentes. Por quê? Talvez para se apresentarem como “puros” tanto para a Internacional Comunista quanto para a ala direita do Partido Comunista alemão. Para poderem dizer mais tarde: “Não fomos nós, os bukharinistas, mas eles, a maioria do Comitê Central, que impuseram a expulsão de Brandler e Thalheimer do Partido Comunista”. E isso é chamado de luta contra o perigo da direita!

Finalmente, a quarta etapa de nossas divergências. Ela se refere à exigência de Bukharin, na véspera do plenário de novembro do CC4, de retirar Neumann da Alemanha e chamar à ordem o camarada Thälmann, que, em um discurso, aparentemente havia criticado o relatório de Bukharin no Sexto Congresso. Obviamente, não podíamos aceitar a exigência de Bukharin, pois não tínhamos nenhum documento em nossa posse que a justificasse. Bukharin se comprometeu a apresentar documentos contra Neumann e Thälmann, mas não apresentou nenhum. Em vez de documentos, o que ele fez foi enviar aos membros da delegação do P.C.(b) da U.R.S.S. o conhecido discurso de Humbert-Droz ao Secretariado Político do E.C. da I.C., o mesmo discurso que o Presidium do C.E. da I.C. mais tarde descreveu como oportunista. Ao enviar esse discurso para os membros da delegação do P.C.(b) da U.R.S.S. e recomendá-lo como material contra Thälmann, Bukharin pretendia provar que estava certo ao exigir a retirada de Neumann da Alemanha e chamar o camarada Thälmann à ordem. Mas o que ele realmente demonstrou dessa forma foi sua solidariedade com Humbert-Droz, cuja posição o C.E. da I.C. havia descrito como oportunista.

Esses, camaradas, são os principais pontos de nossas discordâncias, no que diz respeito à Internacional Comunista.

Bukharin pensa que, ao lutar contra o desvio de direita e as tendências de conciliação dentro das seções da Internacional Comunista, ao expurgar o Partido Comunista alemão e o Partido Comunista da Tchecoslováquia dos elementos e tradições social-democratas, ao expulsar os Brandlers e Thalheimers dos Partidos Comunistas, o que estamos fazendo é “decompor” e “afundar” a Internacional Comunista. Pensamos o contrário: ao praticarmos essa política e insistirmos na luta contra o desvio da direita e as tendências de conciliação com ela, estamos fortalecendo a Internacional Comunista, expurgando-a dos oportunistas, bolchevizando suas seções e ajudando os Partidos Comunistas a preparar a classe operária para as lutas revolucionárias que estão por vir, pois o Partido se fortalece quando é limpo da podridão.

Como você pode ver, essas não são simplesmente questões de nuances dentro do C.C. do P.C.(b) da U.R.S.S., mas discordâncias bastante profundas, que afetam questões fundamentais da política da Internacional Comunista.

IV. Discrepâncias na política doméstica.

Falei acima sobre as mudanças nas relações de classe e a luta de classes em nosso país. Eu disse que o grupo de Bukharin está infectado pela cegueira e não vê essas mudanças, não entende as novas tarefas do partido. Ele disse que isso dá origem, na oposição bukharinista, a um estado de perplexidade, medo das dificuldades e prontidão para capitular diante delas.

Não se pode dizer que esses erros dos bukharinistas tenham caído do céu. Longe disso, eles estão relacionados com a fase de desenvolvimento que já foi superada e que é chamada de período de restauração da economia nacional, durante o qual o trabalho de construção estava acontecendo pacificamente, pode-se dizer por si só, e durante o qual as mudanças nas relações de classe que estão ocorrendo agora ainda não estavam ocorrendo, nem havia ainda o acirramento da luta de classes que estamos observando atualmente.

Mas hoje estamos em uma nova fase de desenvolvimento, diferente do período anterior, o período de restauração. Hoje estamos em um novo período de edificação, no período de reestruturação de toda a economia nacional com base no socialismo. Esse novo período traz novas mudanças nas relações de classe, acirra a luta de classes e exige novos métodos de luta, que reagrupemos nossas forças, melhoremos e fortaleçamos todas as nossas organizações.

O infortúnio do grupo de Bukharin consiste precisamente no fato de que ele vive no passado, de que não enxerga os traços característicos desse novo período e não compreende a necessidade de aplicar novos métodos de luta. Daí sua cegueira, sua perplexidade, seu pânico diante das dificuldades.

a) Luta de classes.

Qual é a base teórica para essa cegueira e perplexidade do grupo de Bukharin?

Acredito que a base teórica dessa cegueira e perplexidade é a abordagem falsa e não marxista de Bukharin ao problema da luta de classes em nosso país. Refiro-me à teoria não marxista de Bukharin sobre a integração dos kulaks ao socialismo, à sua compreensão errônea da mecânica da luta de classes sob a ditadura do proletariado.

A conhecida passagem do panfleto de Bukharin “O caminho para o socialismo”, que fala da integração dos kulaks ao socialismo, foi citada aqui várias vezes. Mas ela foi citada com algumas mutilações. Permitam-me lê-lo na íntegra. É necessário fazer isso, camaradas, para mostrar até que ponto Bukharin se afasta da teoria marxista da luta de classes. Ouçam o que ele diz:

A rede básica de nossas organizações cooperativas camponesas consistirá de células cooperativas, não do tipo kulak, mas de cooperativas de ‘trabalhadores’, que serão integradas ao sistema de nossos órgãos estatais e, assim, se tornarão elos da cadeia única da economia socialista. Por outro lado, os ninhos cooperativos dos kulaks serão integrados, exatamente da mesma forma, por meio dos bancos etc., a esse sistema; mas eles serão, até certo ponto, um corpo estranho, no estilo, por exemplo, das concessões”*

Ao citar essa passagem do panfleto de Bukharin, alguns camaradas, não sei por que, deixaram de fora a última parte, que fala dos concessionários. Rozit, aparentemente ansioso para ajudar Bukharin, aproveitou-se disso para gritar de seu assento que o texto de Bukharin estava sendo deturpado. E o mais notável é que o sal de toda a citação está precisamente nessa última parte, que se refere aos concessionários. Pois se os concessionários e os kulaks forem colocados no mesmo plano, e os kulaks forem integrados ao socialismo, que conclusão pode ser tirada? Só se pode chegar a uma conclusão, a saber, que os concessionários também estão integrados ao socialismo, que não apenas os kulaks, mas também os concessionários estão integrados ao socialismo. (Risos gerais.)

Essa é a conclusão inevitável.

Rozit: Bukharin diz “um corpo estranho”.

Stalin: Bukharin não diz “um corpo estranho”, mas “até certo ponto, um corpo estranho”. Isso quer dizer que os kulaks e os concessionários são, “até certo ponto”, um corpo estranho dentro do sistema do socialismo. Mas o erro de Bukharin consiste precisamente nisso, em acreditar que os kulaks e as concessionárias estão integrados ao socialismo apesar do fato de serem, “até certo ponto”, um corpo estranho.

É a isso que leva a estupidez da teoria de Bukharin.

Os capitalistas da cidade e do campo, os kulaks e os concessionários, integrando-se ao socialismo: Bukharin chegou ao ponto dessa estupidez.

Não, camaradas, esse não é o “socialismo” de que precisamos. Bukharin que fique com ele.

Até agora, nós, marxistas-leninistas, pensamos que há um antagonismo irreconciliável de interesses entre os capitalistas da cidade e do campo, por um lado, e a classe operária, por outro. Essa é precisamente a base da teoria marxista da luta de classes. Mas agora, de acordo com a teoria de Bukharin sobre a integração pacífica dos capitalistas ao socialismo, tudo isso é destruído, o antagonismo irreconciliável entre os interesses de classe dos exploradores e dos explorados desaparece, e os exploradores são integrados ao socialismo.

Rozit: Isso não é verdade, porque pressupõe a ditadura do proletariado.

Stalin: Mas a ditadura do proletariado é a forma mais aguda da luta de classes.

Rozit: É disso que se trata.

Stálin: E pelo que Bukharin diz, chega-se à conclusão de que os capitalistas estão sendo integrados nessa mesma ditadura do proletariado. Como você pode não entender, Rozit, contra quem devemos lutar, contra quem devemos dirigir essa mais aguda de todas as formas de luta de classes, se os capitalistas da cidade e do campo estão sendo integrados ao sistema da ditadura do proletariado?

A ditadura do proletariado é necessária para manter uma luta implacável contra os elementos capitalistas, para esmagar a burguesia e extirpar as raízes do capitalismo. Mas se os capitalistas da cidade e do campo, se o kulak e o concessionário estão sendo integrados ao socialismo, qual é a necessidade da ditadura do proletariado?

Rozit: Essa é a questão: de acordo com Bukharin, a integração pressupõe a luta de classes.

Stalin: Rozit fez um juramento de ajudar Bukharin. Mas ele lhe presta um péssimo serviço, como o urso da fábula, pois, querendo salvá-lo, na verdade o empurra para se afogar. Diz-se que “um urso prestativo é mais perigoso do que um inimigo”.

(Risos gerais.)

Ou existe um antagonismo irredutível de interesses entre a classe capitalista e a classe trabalhadora, que chegou ao poder e estabeleceu sua ditadura, ou não existe tal antagonismo de interesses, e nesse caso não haverá alternativa a não ser proclamar a harmonia dos interesses de classe.

Das duas, uma:

ou a teoria marxista da luta de classes, ou a teoria da integração dos capitalistas ao socialismo; ou o antagonismo irredutível dos interesses de classe, ou a teoria da harmonia dos interesses de classe.

Ainda é possível entender os “socialistas” do tipo Brentano ou Sidney Webb, que pregam a integração do socialismo no capitalismo e do capitalismo no socialismo, pois esses “socialistas” são, no fundo, antissocialistas, são liberais burgueses. Quem não pode ser entendido é um homem que, querendo ser marxista, prega a teoria da integração da classe capitalista ao socialismo.

Em seu discurso, Bukharin tentou apoiar a teoria da integração dos kulaks ao socialismo com uma conhecida citação de Lênin, afirmando que Lênin diz o mesmo que ele.

Isso é falso, camaradas. Trata-se de uma calúnia grosseira e intolerável contra Lênin.

Aqui está a citação de Lênin:

Naturalmente, em nossa República Soviética, o regime social é baseado na colaboração de duas classes, os operários e os camponeses, uma colaboração na qual os ‘nepemans’5, ou seja, a burguesia, agora também são admitidos sob certas condições” (t. XXVII, p. 405).

Como você pode ver, não há nenhuma menção aqui à integração da classe capitalista no socialismo. Tudo o que se diz é que, “sob certas condições”, na colaboração dos trabalhadores e camponeses, “admitimos” também os nepmans, ou seja, a burguesia.

O que isso significa, significa que estamos admitindo a possibilidade de os nepmans se integrarem ao socialismo? É claro que não. Essa citação de Lênin só pode ser interpretada dessa forma por aqueles que perderam o senso de vergonha. Significa simplesmente que, enquanto não aniquilamos a burguesia, que, enquanto não confiscamos sua propriedade, mas permitimos que ela continue a existir sob certas condições, ou seja, desde que se submeta sem reservas às leis da ditadura do proletariado, que levam à limitação progressiva dos capitalistas e ao seu desalojamento gradual da vida econômica.

Os capitalistas podem ser desalojados e as raízes do capitalismo extirpadas sem uma feroz luta de classes? Não, não é possível.

É possível abolir as classes defendendo, na teoria e na prática, a integração dos capitalistas ao socialismo? Não, não pode. Essa teoria e essa ação prática servem apenas para promover e perpetuar as classes, pois essa teoria se opõe à teoria marxista da luta de classes.

Bem, a citação de Lênin é absoluta e inteiramente baseada na teoria marxista da luta de classes sob a ditadura do proletariado.

O que pode haver em comum entre a teoria de Bukharin sobre a integração dos kulaks ao socialismo e a teoria de Lênin sobre a ditadura como uma forma feroz de luta de classes? É óbvio que não há e não pode haver a menor afinidade entre uma e outra.

Bukharin entende que, sob a ditadura do proletariado, a luta de classes deve ser extinta e desaparecer para que ocorra a supressão das classes. Lênin, ao contrário, ensina que as classes só podem ser suprimidas por uma luta de classes tenaz, uma luta que, sob a ditadura do proletariado, é ainda mais feroz do que antes.

A supressão das classes”, diz Lênin, “é o trabalho de uma longa, difícil e tenaz luta de classes, que não desaparece (como os personagens banais do velho socialismo e da velha social-democracia imaginam que seja) após a derrubada do poder do capital, após a destruição do Estado burguês, após o estabelecimento da ditadura do proletariado, mas apenas muda sua forma, tornando-se, em muitos aspectos, ainda mais encarniçada” (t. XXIV, p. 315).

É isso que Lênin diz sobre a supressão das classes.

Supressão das classes por meio de uma feroz luta de classes do proletariado: essa é a fórmula de Lênin.

Supressão das classes por meio da extinção da luta de classes e da integração dos capitalistas ao socialismo: essa é a fórmula de Bukharin.

O que pode haver em comum entre essas duas fórmulas?

A teoria bukharinista da integração dos kulaks ao socialismo é, portanto, um abandono da teoria marxista-leninista da luta de classes e uma aproximação da teoria do socialismo de cátedra6.

É aí que reside a fonte de todos os erros de Bukharin e seus amigos.

Pode-se objetar que não faz sentido insistir muito na teoria bukharinista da integração dos kulaks ao socialismo, já que ela mesma fala – e não apenas fala, mas grita – contra Bukharin. Isso é falso, camaradas! Enquanto essa teoria estivesse adormecida, ela poderia ser deixada de lado, pois não é pouca a quantidade de bobagens que podem ser encontradas nos escritos de vários camaradas! Foi o que fizemos até agora. Mas ultimamente a situação mudou. A força cega do elemento pequeno-burguês, desencadeada nos últimos anos, começou a dar vida a essa teoria antimarxista, e assim ela se tornou atual. Hoje não é mais possível dizer que essa teoria permanece adormecida. Hoje, a teoria perversa de Bukharin afirma ser a bandeira do desvio de direita em nosso partido, a bandeira do oportunismo. Portanto, não podemos mais passar por cima dela, mas temos o dever de desfazê-la como uma teoria falsa e prejudicial, a fim de facilitar a luta de nossos camaradas no partido contra o desvio de direita.

b) O acirramento da luta de classes.

O segundo erro de Bukharin, derivado do primeiro, consiste em sua abordagem falsa e não marxista do problema do acirramento da luta de classes, da crescente resistência dos elementos capitalistas contra a política socialista do poder soviético.

Do que se trata? Não será porque os elementos capitalistas estão se desenvolvendo mais rapidamente do que o setor socialista de nossa economia, que eles intensificam sua resistência, minando a construção socialista? Não, essa não é a questão. Além disso, é falso que os elementos capitalistas se desenvolvam mais rapidamente do que o setor socialista. Se fosse esse o caso, a construção socialista já estaria à beira da ruína.

A questão é que o socialismo está efetivamente mantendo a ofensiva contra os elementos capitalistas, que o socialismo está crescendo mais rápido do que os elementos capitalistas, que o peso relativo dos elementos capitalistas está diminuindo e que, precisamente porque o peso relativo dos elementos capitalistas está diminuindo, eles estão em perigo mortal e estão redobrando sua resistência.

E, por enquanto, eles podem fazer isso, não apenas porque têm o apoio do capitalismo mundial, mas também porque, embora seu peso relativo esteja diminuindo e seu desenvolvimento relativo, comparado ao do socialismo, esteja diminuindo, o desenvolvimento absoluto dos elementos capitalistas continua, o que, até certo ponto, permite que eles acumulem forças para se opor à ascensão do socialismo.

É com base nisso que, no atual estágio de desenvolvimento e sob a atual correlação de forças, a luta de classes está se aguçando e a resistência dos elementos capitalistas na cidade e no campo está aumentando.

O erro de Bukharin e de seus amigos é que eles não entendem uma verdade tão simples e evidente como essa. O erro deles é que não abordam a questão de forma marxista, mas de forma filisteia, tentando explicar o acirramento da luta de classes com todos os tipos de razões fortuitas: a “inépcia” do aparato soviético, a política “imprudente” dos dirigentes locais, a “falta” de flexibilidade, “exageros”, etc., etc.

Aqui está, por exemplo, uma citação do panfleto de Bukharin “O caminho para o socialismo”, que mostra a completa falta de uma abordagem marxista ao problema do acirramento da luta de classes:

De vez em quando, a luta de classes no campo se inflama em suas antigas manifestações; esse agravamento é geralmente provocado pelos elementos kulaks. Quando, por exemplo, os kulaks, ou as pessoas que lucram às custas dos outros, e que se infiltraram nos órgãos do poder soviético, começam a atirar nos correspondentes rurais, isso é uma manifestação da luta de classes em sua forma mais aguda. (Isso é falso, pois a forma mais aguda da luta de classes é a insurreição. – J. Stalin). Mas esses casos geralmente ocorrem quando o aparato soviético local ainda é fraco. À medida que esse aparato é aprimorado, à medida que todas as células básicas do poder soviético são fortalecidas, à medida que as organizações locais do Partido e do Komsomol na aldeia são aprimoradas e fortalecidas, esse tipo de fenômeno se tornará cada vez mais raro, o que é bastante óbvio, e acabará desaparecendo sem deixar vestígios”.

Segue-se, então, que o acirramento da luta de classes se deve a razões atribuíveis ao aparato dos sovietes, à aptidão ou inépcia, à força ou fraqueza de nossas organizações de base.

Acontece, por exemplo, que a sabotagem dos intelectuais burgueses em Shakhti, que é uma forma de resistência dos elementos burgueses ao poder soviético e uma forma de acirramento da luta de classes, não é explicada pela correlação das forças de classe, pelo progresso do socialismo, mas pela inépcia de nosso aparato.

Acontece que, até a sabotagem em massa no distrito de Shakhti, nossa máquina era boa; mas, na época da sabotagem em massa, a máquina de repente se tornou completamente inútil.

Acontece que, até o ano passado, quando a coleta de grãos estava ocorrendo por inércia e a luta de classes ainda não havia se tornado particularmente aguda, nossas organizações locais eram boas e até ideais; mas no ano passado, quando a resistência dos kulaks assumiu formas particularmente agudas, nossas organizações de repente se tornaram ruins e inúteis.

Isso não é uma explicação, mas uma caricatura de explicação; isso não é ciência, mas charlatanismo.

Como, de fato, esse acirramento da luta de classes pode ser explicado?

Há dois motivos para isso.

Primeiro: nossos avanços, nossa ofensiva, o desenvolvimento de formas socialistas de economia, tanto na indústria quanto na agricultura, um desenvolvimento que anda de mãos dadas com o deslocamento correspondente de certos grupos de capitalistas na cidade e no campo. A questão toda é que estamos vivendo sob a fórmula de Lênin de “quem vencerá a quem”: ou faremos com que os capitalistas se esfacelem e daremos a eles, como disse Lênin, a batalha final e decisiva, ou eles nos farão comer poeira.

Em segundo lugar, o fato de que os elementos capitalistas não estão prontos para se retirar voluntariamente de cena, mas estão resistindo e continuarão a resistir ao socialismo, pois veem sua última hora se aproximando. E eles ainda podem oferecer resistência, porque, apesar de seu peso relativo cada vez menor, ainda estão crescendo em termos absolutos: a pequena burguesia da cidade e do campo está, como disse Lenin, a cada dia e a cada hora fazendo surgir de seu meio capitalistas de maior ou menor grau, e esses elementos capitalistas estão tomando todas as medidas para defender sua existência.

Nunca aconteceu na história que as classes moribundas tenham se retirado voluntariamente de cena. Nunca houve um caso na história em que a burguesia moribunda não tenha apelado para suas últimas forças para defender sua existência. Independentemente de nosso aparato soviético básico ser bom ou ruim, nossos avanços, nossa ofensiva, reduzirão e deslocarão os elementos capitalistas, e esses, as classes moribundas, oferecerão resistência acima de tudo.

Essas são as razões para o acirramento da luta de classes em nosso país.

O erro de Bukharin e seus amigos é que eles identificam o aumento da resistência dos capitalistas com o aumento de seu peso relativo. Mas essa identificação é completamente infundada. E é infundada porque, se os capitalistas estão resistindo, isso não significa, longe disso, que eles se tornaram mais fortes do que nós. Precisamente o oposto é verdadeiro. As classes em extinção não resistem porque são mais fortes do que nós, mas porque o socialismo está crescendo mais rápido do que elas, e elas estão se tornando mais fracas do que nós. E justamente porque estão se tornando mais fracas, elas sentem que sua última hora está se aproximando e são forçadas a resistir com todas as suas forças, por todos os meios.

Essa é a mecânica do acirramento da luta de classes e da resistência dos capitalistas no atual momento histórico.

Qual deve ser a política do partido diante desse estado de coisas?

O Partido deve colocar a classe trabalhadora e as massas exploradas do campo em guarda, aumentar sua combatividade e desenvolver sua capacidade de mobilização para a luta contra os elementos capitalistas na cidade e no campo, para a luta contra os inimigos de classe resistentes.

A teoria marxista-leninista da luta de classes é boa, entre outras coisas, porque facilita a mobilização da classe trabalhadora contra os inimigos da ditadura do proletariado.

Por que a teoria bukharinista da integração dos capitalistas ao socialismo e a concepção bukharinista do problema do acirramento da luta de classes são prejudiciais?

Porque eles adormecem a classe trabalhadora, tiram a capacidade de mobilizar as forças revolucionárias de nosso país, desmobilizam a classe trabalhadora e facilitam a ofensiva dos elementos capitalistas contra o poder soviético.

Parte 2 | Parte 3

1 O Pleno do C.C. e da Comissão Central de Controle do P.C.(b) da U.R.S.S. se celebrou de 16 a 23 de abril de 1929 e examinou as seguintes questões: 1) assuntos internos do Partido; 2) questões da XVI Conferência do P.C.(b) da U.R.S.S.; 3) a depuração do Partido. O Pleno aprovou a resolução da reuião conjunta do Birô Político do C.C. e do Presídium da C.C.C., acerca dos assuntos internos do Partido, de 9 de fevereiro de 1929, e em uma resolução especialcondenou a atividade oportunista de direita de Bukharin, Rykov e Tomski. O Pleno aprovou e deliberou que se submetessem ao exame da XVI Conferência do Partido as teses apresentadas pelo Birô Político acerca do plano quinquenal de fomento da economia nacional, das vias para o acenso da agricultura e a redução dos impostos que cobravam dos camponeses médios, e acerca do balanço das tarefas imediatas da luta contra o burocratismo. O Pleno deliberou, da mesma forma, passar ao exame da XVI Conferência as teses aprovadas em linhas gerais, sobre a depuração dos membros e candidatos a membros do P.C.(b) da U.R.S.S. J. V. Stalin pronunciou, na reunião do Pleno de 22 de abril, o discurso “Sobre os desvios de direita no P.C.(b) da U.R.S.S.”. (V. As resoluções do Pleno do C.C. e da C.C.C. do P.C.(b) da U.R.S.S. em “o P.C.U.S nas resoluções e acordos dos Congressos e Conferências e dos Plenos do C.C.”, parte II, págs. 429-447, ed. em russo, 1953).

2Se refere ao trabalho subversivo da organização contrarrevolucionária de especialistas burgueses que, de 1923 a 1928, esteve ativa em Shakhti e em outros distritos da bacia de Donetsk.

3 O Sexto Congresso da Internacional Comunista foi realizado em Moscou de 17 de julho a 1º de setembro de 1928. O Congresso discutiu o relatório sobre a atividade do Comitê Executivo da Internacional Comunista, os relatórios do Comitê Executivo da Juventude Comunista Internacional e da Comissão Internacional de Controle, as medidas de luta contra o perigo das guerras imperialistas, o programa da Internacional Comunista, o problema do movimento revolucionário nas colônias e semicolônias, a situação econômica na URSS e a situação no PC(b) da URSS, e adotou os Estatutos da Internacional Comunista. O Congresso apontou em suas resoluções o aumento das contradições internas do capitalismo, o que inevitavelmente levou ao colapso da estabilização capitalista e a um grande agravamento da crise geral do capitalismo. O Congresso determinou as tarefas da Internacional Comunista decorrentes das novas condições da luta da classe trabalhadora, mobilizou os Partidos Comunistas para o fortalecimento da luta contra o desvio de direita como o principal perigo e contra as tendências de conciliação com ele. O Congresso destacou os sucessos da construção socialista na URSS e sua importância para o fortalecimento das posições revolucionárias do proletariado internacional, e conclamou os trabalhadores de todo o mundo a defender a União Soviética. J.V. Stalin participou da direção dos trabalhos do Congresso, foi eleito para sua presidência e para a Comissão de Programa e a Comissão Política responsáveis pela elaboração das teses sobre a situação internacional e as tarefas da Internacional Comunista.

4 Trata-se do Pleno do Comitê Central do P.C.(b) da U.R.S.S., em que participaram os membros da Comissão Central de Controle e da Comissão Revisora Central, celebrado de 16 a 24 de novembro de 1928.

* Grifos meus. J.St.

5 Nepmans eram os membros da burguesia que foram beneficiários da Nova Política Econômica (NEP) do governo soviético; política essa derivada da necessidade de recompor a economia soviética devastada pela I Guerra imperialista e a Guerra Civil, superar o comunismo de guerra e desenvolver as forças produtivas em determinados setores da economia.

6 Socialismo de cátedra: Corrente da ideologia burguesa, principalmente na economia política burguesa. Apareceu na segunda metade do século XIX, na Alemanha; mais tarde adquiriu grande difusão na Inglaterra, Estados Unidos e França. Os partidários desta corrente, professores liberais burgueses, que atuavam desde as cátedras universitárias (donde procede a denominação “socialismo de cátedra”), combatiam o marxismo e o movimento operário revolucionário em acenso, procuravam ocultar as contradições do capitalismo e predicavam a conciliação de classes. Os socialistas de cátedra negavam o caráter de classe explorador do Estado burguês e afirmavam que este é capaz, mediante reformas sociais, de aperfeiçoar o capitalismo. Engels escreveu acerca dos socialistas de cátedra alemães: “Os socialistas de cátedra não rebaixaram nunca, no sentido teórico, o nível dos economistas vulgares inclinados à filantropia, e no presente caíram ao nível de simples apologistas do socialismo de Estado de Bismarck” (K. Marx e F. Engels, Obras, t. XXVII, pág. 499, ed. em russo). As ideias liberais burguesas dos socialistas de cátedra foram propagadas na Rússia pelos marxistas legais. Os mencheviques russos, os partidos oportunistas da II Internacional e os socialistas de direita contemporâneos, em seu desejo de subordinar o movimento operário aos interesses da burguesia e em sua prédica da integração pacífica e gradual do capitalismo no socialismo, escorregaram também para o socialismo de cátedra.

* No discurso se incluem mais de 30 páginas de texto não publicadas a seu tempo na imprensa (Nota da Redação).