Nota do blog: Artigo produzido pelo Núcleo de Estudos do Marxismo-leninismo-maoísmo. Retirado da Edição Especial do Jornal A Nova Democracia (nº 244, setembro/outubro de 2021).
O Presidente Gonzalo é imortal porque imortal é seu pensamento
Filho de Abimael Guzmán Silva e Berenice Reynoso, Manuel Ruben Abimael Guzmán Reynoso nasceu no dia 3 de dezembro de 1934 em Mollendo, capital da Província de Islay, pertencente à região de Arequipa, no Peru, mesma região onde nasceu José Carlos Mariátegui, fundador do Partido Comunista do Peru (PCP). Abimael Guzmán perdeu sua mãe aos 5 anos de idade.
Desde muito jovem, mais especificamente ao findar de seus estudos secundaristas, Abimael interessava-se pela política. A luta das massas populares, em especial o levantamento de 1948 em Callao, seria fundamental para o despertar de sua consciência política.
Aos 19 anos de idade, Abimael inicia os seus estudos superiores na Universidade Nacional de San Agustín (Arequipa), onde cursou Direito e Filosofia. Era então, 1953, o ano da morte de Stalin. Abimael Guzman seguirá estudando arduamente, com reconhecido esforço e disciplina de seus semelhantes. As suas teses de pós-graduação (Sobre o Estado Democrático Burguês e Sobre a Teoria Kantiana do Espaço) refletem o crescente interesse de Abimael pelo marxismo, muito por influência das lutas estudantis.
A ida a Ayacucho: nasce o Camarada Gonzalo
Em 1958 ingressa no PCP. A princípio, entrou para o Comitê Regional de Arequipa como militante. Ávido leitor dos clássicos marxistas-leninistas que circulavam no Peru na época, em 1962, a convite de Efrain Morote da Universidade Nacional de San Cristóbal de Huamanga (Ayacucho), começa a trabalhar como professor, lecionando uma disciplina no curso de Ciências Sociais. Abimael pensou que esta viagem de ensino seria por um curto período de tempo, mas, por casualidade histórica, esta tinha-lhe reservado outras responsabilidades. “Ayacucho me serviu para descobrir o campesinato”, reconheceria anos mais tarde.
Em sua visita ao departamento rural de Ayacucho, Abimael compreendeu mais profundamente a tese de Mariátegui que afirmava que “o progresso do Peru será fictício, ou pelo menos não será peruano, enquanto não for obra e não signifique o bem-estar da massa peruana, que na sua maioria é indígena e camponesa”. Neste mesmo período Abimael estuda incansavelmente as obras do Presidente Mao Tsetung e sua luta antirrevisionista. Nasce aí o Camarada Gonzalo, que mais tarde viria a converter-se na Chefatura inconteste, o Presidente Gonzalo.
Sobre esses anos em Ayacucho, que antecederam o Início da Luta Armada (ILA-80), o Presidente Gonzalo recordou: “Alguém teve a má sorte de emprestar-me a famosa Carta Chinesa, a Proposição acerca da linha geral do Movimento Comunista Internacional; me emprestou com a obrigação de devolvê-la. Obviamente, o furto era compreensível. A Carta me levou a adentrar-me na grande luta entre marxismo e revisionismo”.
Luta contra o revisionismo no PCP
O Comitê Regional de Ayacucho terá a direção do Camarada Gonzalo desde o início dos anos 60, antes do rompimento orgânico com o revisionismo contemporâneo de Del Prado. Nessas décadas (1960 e 70) desenvolverá a Fração Vermelha no interior do PCP. Outras frações vão surgir e, no desenvolver do processo da luta interna, a Fração Vermelha colocará a tarefa de Reconstituir o Partido. Durante toda esta luta, a Fração Vermelha levantou a palavra de ordem: Retomar Mariátegui e desenvolvê-lo.
Em todo esse processo, o Presidente Gonzalo atuará como grande dirigente marxista-leninista pensamento mao tsetung, promovendo a luta de duas linhas entre marxismo e revisionismo e contra as outras frações revisionistas de diferentes tipos; ele desenvolve, desde então, organizações do Partido entre as massas camponesas e iniciará a forja do contingente que inicia a Guerra Popular no ILA-80.
Del Prado
O surgimento do revisionismo moderno de Kruschov após o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) nos fins dos anos 1950 e suas consequências no início dos anos 1960 abalou profundamente o PCP. No Peru, o ano de 1964 é marcado pela expulsão de Del Prado e seus sequazes, representantes no Peru do revisionismo moderno kruschovista. A luta contra o revisionismo de Del Prado foi levada a cabo por todo o Partido. A maioria dos Comitês do PCP se une em torno da posição anti-revisionista, toma parte pelo marxismo-leninismo e logra aplastar as posições kruschovistas de Del Prado da direção do Partido.
Nos anos 80, o Presidente Gonzalo, já em meio à direção da Guerra Popular, fala desta luta contra a direção oportunista e revisionista, apontando que no processo de unificação dos Comitês partidários que lograram a expulsão do revisionismo de Del Prado na IV Conferência Nacional (1964), a Fração Vermelha era copartícipe dessa luta desde o início. Luta que se desenvolveria ainda mais nos anos seguintes.
O ano 1964 é também o ano em que Abimael Guzman casa-se com Augusta La Torre Carrasco, a Camarada Norah, que também conformava a Fração Vermelha. A Camarada Norah tornar-se-á membro do Comitê Central (CC) que dirigiria a Guerra Popular, convertendo-se em heroína do PCP e da Guerra Popular.
Viagem à China e a Escola Político-Militar de Shanghai
Em 1965, o Presidente Gonzalo e outros destacados comunistas do Peru viajam à República Popular da China e participam das atividades da Escola Político-Militar de Shanghai, organizada para a formação de comunistas da América Latina e dirigida pelo Presidente Mao Tsetung. No mesmo ano, o PCP realiza sua V Conferência. Se define uma linha política geral de acordo com os princípios revolucionários a partir da adoção do marxismo-leninismo pensamento mao tsetung.
O Comitê Regional do PCP em Ayacucho se debruça sobre a questão da construção dos três instrumentos da revolução (Partido, Exército e Frente Única). A Fração Vermelha se unificou em torno dessa questão para desenvolver a tese para a Reconstituição do Partido que seria aprovada na VI Conferência Nacional, junto com a Base de Unidade Partidária.
As frações Patria Roja, a fração de Saturnino Paredes e a autodenominada fração “bolchevique” vão buscar, nos próximos períodos, cada uma à sua maneira, renegar a linha do PCP. Com isso, se desenvolverão três lutas de duas linhas durante a Reconstituição do PCP.
Luta contra Patria Roja
A fração Patria Roja se nega a assumir a ideologia do marxismo-leninismo pensamento mao tsetung, adotada pelo PCP desde 1965 (V Conferência), e, por consequência, não reconhece a existência de uma situação revolucionária no Peru. É expulsa por ter violado os acordos e princípios adotados pelo PCP.
Já expulsa do PCP, Patria Roja vai fundar uma organização própria, e, durante os anos 80, se transformará em uma “agência do revisionismo chinês com seus caudilhos adoradores de Teng”, segundo aponta o Presidente Gonzalo ao El Diário na Entrevista do Século.
Fascismo ou burguesia nacional: a caracterização do governo Velasques
Em 1968 inicia-se o governo do general Juan Velasques no Peru, que contará com o apoio do partido fascista Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra). Será Velasques quem dará o golpe em 1975. Desde o início, seu governo apontou para a corporativização fascista da sociedade peruana, tendo como principal alvo as massas camponesas através da política de “reforma agrária”. Em torno da caracterização de seu governo e das consequentes táticas a serem adotadas pelo Partido neste novo momento da luta de classes, novas lutas surgirão no interior do PCP.