Como ser um bom dirigente (Chou Enlai, 1943)

Nota do blog: Publicamos a seguir esquema da intervenção do camarada Chou Enlai, importante quadro dirigente do Partido Comunista da China e da Revolução Chinesa, sobre o papel e a política que devem adotar os dirigentes para cumprir bem seu trabalho.


Como ser um bom dirigente

Esquema para a conferência sobre a direção e a verificação

Chou Enlai

22 de abril de 1943

I – Definição do dirigente

Todo quadro em geral tem a possibilidade de encarregar-se de algum trabalho de direção e muitos deles o estão fazendo. Por trabalho de direção aqui nos referimos ao que fazem os quadros dirigentes em todos os níveis: superior, intermediário e inferior.

Os que trabalham em Hongyan e em Zengjiayan se distinguem entre si pelas diferentes tarefas que realizam e não por ser uns dirigentes e outros dirigidos, e ainda menos por ser uns quadros e outros não. Hoje, ainda que em ambos os centros e na redação do Diário Xinhua existam camaradas que não estão encarregados diretamente de algum trabalho de direção, não são, no fundo, menos quadros dirigentes.

II – Posição do dirigente

A posição de todo quadro dirigente deve ser a mesma do Partido. Sendo esta uma expressão por demais simples, a concretizaremos desdobrando-as nos seguintes pontos:

1) Firme concepção marxista-leninista do mundo e concepção revolucionária da vida;

2) Perseverança nos princípios;

3) Confiança na força das massas;

4) Afã de aprender;

5) Indomável espírito de luta, e

6) Elevado sentido de disciplina.

III – Dirigentes e organismos de direção

1) Direção coletiva e direção escalonada – a unificação e centralização da direção e a vida democrática (discussão e divisão do trabalho).

2) Responsabilidade pessoal e direção individual – forma de direção que resulta ainda mais necessária nas condições da Grande Retaguarda e que, entretanto, não será descartada por uma direção coletiva.

3) Intervenção direta e solução direta – prática que não deve ser habitual, mas só factível em circunstâncias excepcionais ou para dar um exemplo.

IV – O que é direção acertada?

Abordarei esta questão à luz dos três pontos assinalados por Stalin.

1) Saber tomar as decisões acertadas. Em primeiro lugar, é necessário apreciar as circunstâncias que nos rodeiam e as mudanças que sofrem e descobrir as características próprias de um momento e lugar dados. Em segundo lugar, sobre esta base e em consonância com a tarefa geral do Partido, precisar as tarefas e a orientação para um determinado período. Em terceiro lugar, de acordo com esta orientação, determinar as consignas e táticas apropriadas para o momento dado e, por último, traçar sobre esta base planos e diretivas ajustadas à realidade. Tudo isso deve efetuar-se mediante a mais séria investigação e estudo da realidade e a integração dos dados obtidos na prática com as teses e princípios do Partido.

2) Saber organizar a execução das decisões acertadas. Em primeiro lugar, selecionar com prudência pessoas competentes para a execução de ditos planos. Em terceiro lugar, organizar lutas para cumprir os planos do Partido. Acrescenta-se a tudo isto a prática pessoal do dirigente para exemplificar o cumprimento. Assim ficará provado, através da prático, se são corretas a linha e as táticas do Partido e se é necessário complementá-las.

3) Saber verificar como se vêm executando as decisões adotadas. Métodos para a verificação: a) Não julgar pelas promessas, mas sim pelos resultados do trabalho realizado; b) Não julgar pelo plano em papel elaborado entre quatro paredes, mas sim pela realidade: ver se foi cumprido na prática ou se fez simplesmente cobrindo-se as aparências; c) Não julgar pelo aspecto formal, mas sim pelo conteúdo, e ver se realmente uma decisão foi executada de maneira correta ou se foi tergiversada; d) Efetuar a verificação não só de cima a baixo, mas sim, também, vice-versa; e) Efetuar de maneira sistemática e constante, e f) Participar pessoalmente o próprio dirigente.

Tudo isto, como assinala Stalin, implica estabelecer vínculos com as massas e sintetizar as experiências tanto das dirigentes como das massas. Só deste modo é acertada a direção.

V – Tarefas do dirigente

O camarada Mao Tsetung assinala que as tarefas do dirigente consistem em saber empregar os quadros e conduzir os assuntos. O que disse é verdade. Desdobrando, me parece que:

1) Se exige que os quadros dirigentes tomem firmemente em suas mãos a direção política e ideológica, e daí a necessidade de elevar constantemente seu próprio nível ideológico e intensificar sua têmpera política. Exigimos que nossos camaradas ponham atenção no seguinte: a) Seguir com atenção os acontecimentos importantes; b) Aguçar a vigilância política; c) Elevar seu nível teórico; d) Reforçar a luta ideológica dentro e fora do Partido, e e) Fazer uma propaganda ativa sobre as políticas do Partido e os êxitos obtidos.

2) Se exige que os quadros dirigentes tomem firmemente em suas mãos a direção no organizativo. Uma vez traçada a linha política, será o trabalho organizativo que decide tudo. Demandamos que os camaradas tenham presentes estas questões: a) Levar a direção no organizativo a altura da direção política. Isto quer dizer que todo o assunto deve ser colocado à altura dos princípios e ligado com as tarefas políticas; b) Velar para que todo o trabalho organizativo e prático garanta o cumprimento das tarefas políticas e os planos de trabalho do Partido; c) Atribuir importância à direção cotidiana do Partido, fazendo com que a organização do Partido se aproxime às massas de base e imprima um caráter mais concreto a seu trabalho; d) Mobilizar as organizações e as massas na luta por superar todas as dificuldades com que se tropeça no trabalho; e e) Combater todo o oportunismo no trabalho prático (negligência, fanfarronice, arrogância, burocratismo, formalismo, papeleo, praticismo etc.). Assim como a degeneração e a corrupção ideológica.

3) Proceder com prudência na seleção de quadros e em sua colocação. Isto, se bem toma parte do trabalho organizativo, conviria abordá-lo à parte. A seleção de quadros deve ter como critério as qualidades políticas e a capacidade de trabalho de cada um, sem que falta nenhum desses dois aspectos. Não obstante, a fiabilidade política é o primordial. Stalin já assinalou o prejudicial que é para o Partido o desacato aos princípios na utilização de quadros, dizendo que os que procedem assim emprega exclusivamente aos “seus” e, donde quer que vão, andam sempre seguidos de toda uma “comitiva”. Em seus informes sobre a retificação do estilo de trabalho, o camarada Mao Tsetung criticou também a semelhantes homens por sua desonestidade, defeito similar ao dos “enviados imperiais” que se pavoneavam por todas as partes. Ainda tratando-se de um quadro digno de confiança no político, não deixa de ser muito importante saber designar-lhe um trabalho apropriado (apropriado ao momento, ao lugar e às circunstâncias).

4) Comprovação do trabalho. Comprovar o pessoal e a marcha da execução dos planos de trabalho. A tarefa da comprovação, como disse Stalin, consiste em descobrir os méritos e os defeitos, em primeiro lugar, dos quadros, em segundo lugar, dos organismos executivos e, em terceiro lugar, dos próprios planos e diretivas. Se equivoca quem considera que uma comprovação assim conduziria facilmente nossos pontos débeis e, em consequência, a minar o prestígio dos dirigentes ou a faltar confiança em nós mesmos. O prestígio dos dirigentes não aumenta mediante a dissimulação dos erros cometidos, senão com a correção deles, e não se forja por meio de vangloriar-se, senão através de esforços persistentes e tenazes. A retificação dos erros, longe de debilitar a confiança no êxito do trabalho, a reforça. Só aqueles que permanecem apegados à vaidade e à ostentação têm medo da denúncia de seus erros.

5) Orientar-se para as massas. O dirigente não só deve educar as massas, mas também aprender delas. Como seus conhecimentos são incompletos e suas experiências insuficientes e como, ademais, seu posto de dirigente não basta para adquirir conhecimentos e experiência, torna-se mais que necessário dirigir-se às massas e assimilar suas experiências. Exigimos aos camaradas que façam o seguinte: a) Acercar-se às massas, vincular-se e até certo ponto fundir-se com elas; b) Escutar atentamente sua voz; c) Aprender delas; e d) Educá-las e não cair a seu reboque.

VI – Dirigir as massas e travar amizade com elas

1) O método de dirigir o Partido é diferente do de dirigir as massas. O método de direção e a atitude que adotamos para com as massas devem ser tais que não deem a impressão de que estamos dirigindo-as.

2) O método fundamental para dirigir as massas é a persuasão e, de nenhum modo, o de dar ordens. Só em casos em que, havendo a maioria dado já sua aprovação, uma minoria siga em desacordo, pode-se, em circunstâncias de necessidade, impor a esta as opiniões daquela.

3) Para dirigir as massas e travar amizade com elas, o próprio dirigente deve comportar-se de forma exemplar.

4) Quando seja necessário, o dirigente deve não dar ouvidos a afrontas recebidas.

5) Em nenhum caso deve o dirigente subestimar o papel e a influência de sua pessoa, e deve trabalhar com cuidado e cautela.

VII – A arte de direção

Segundo os ensinamentos de Lenin e Stalin sobre a arte de direção, não convém ir demasiado adiantado nem ficar a reboque de um movimento. É preciso impulsioná-lo para frente apreendendo o elo central.

Como assinala o camarada Mao Tsetung ao falar da arte de direção, deve-se ter em conta a situação em seu conjunto, tomar em consideração a maioria e trabalhar junto aos aliados.

VIII – Métodos de trabalho

1) Comprovar em meio da luta as teses e princípios teóricos.

2) Traçar e comprovar as políticas através do trabalho prático.

3) Melhorar o trabalho com espírito revolucionário.

4) Pôr em jogo a democracia e levantar a crítica e autocrítica.

5) Recorrer principalmente ao método de persuasão e não o administrativo. Apelar para o método de dar ordens só em caso de emergência.

IX – Estilo de trabalho

1) O estilo de trabalho de Lenin se baseia em:

– O ímpeto revolucionário russo, e

– O sentido prático norte-americano.

2) O estilo do camarada Mao Tsetung consiste em:

– A modéstia e o espírito realista da nação chinesa;

– A simplicidade e a laboriosidade dos camponeses chineses;

– O afã de aprender e pensar com profundidade dos intelectuais;

– Agilidade e serenidade dos militares revolucionários; e

– A firmeza e tenacidade dos bolcheviques.

3) Combater todo oportunismo no trabalho prático. Na atualidade, há que lutar em particular contra a negligência, a charlatanice, a megalomania, o formalismo e o praticismo, assim como contra todo fenômeno lesivo às belas tradições de nosso Partido e Exército.