“Podem nos cortar em mil pedaços mas não podem quebrar nossa moral Comunista” (1987)

Por ocasião do Dia da Heroicidade – 19 de Junho

Retirado de Dazibao Rojo


 POR OCASIÃO DO 19 DE JUNHO DE 1986

DIA DA HEROICIDADE

 “PODEM NOS CORTAR EM MIL PEDAÇOS MAS NÃO PODEM QUEBRAR NOSSA MORAL COMUNISTA”*

A carta chegou a nós, e a publicamos como testemunho do mais sério genocídio no país. Quase lúcida para uma morte. Dramática e cheia de esperança.

A missiva foi escrita quando o Pavilhão Azul, que os presos políticos chamavam de Luminosa Trincheira de Combate, foi totalmente destruído pelos bombardeios de morteiros, bazucas e tiros de canhão dos marinheiros. O agonizante senderista, finalmente deixou de existir junto a mais de 150 presos assassinados nesta ilha penal.

Em todo momento – conta o testemunho – os militares faziam fogo longe do pavilhão. “Não puderam se aproximar por medo de perderem mais homens”, disse.

Na tarde se reiniciaria a ofensiva sangrenta.

“Quando eram aproximadamente duas da tarde, um morteiro explodiu atrás do muro onde eu estava. Ali perdi desmaiei e não soube mais nada até o momento em que despertei”.

“Havia passado uma hora quando recobrei a consciência e vi o pavilhão invadido por marinheiros. Começaram a identificar os sobreviventes, separando os delegados de outros companheiros. Separaram cinco ou seis e os levaram para a Ilha São Lorenzo, depois não se soube mais dele até hoje”.

“Pude ver, em minha semi inconsciência, um companheiro que praticamente se despedia da vida, dando vivas ao presidente Gonzalo e entoando canções. Assim que os marinheiros notaram isso, se aproximaram dele e o finalizaram.

O FUZILAMENTO

“Acreditando que os militares iriam respeitar as normas sobre prisioneiros de guerra, quinze companheiros decidiram abandonar seu esconderijo em um sótão do mesmo pavilhão. Saíram com os braços erguidos para render-se. Os marinheiros ordenaram que se enfileiram-se com as mãos na parede do banheiro e os fuzilaram covardemente”, assinalou.

Nesses momento a testemunha desmaiou, devido o sangue que havia perdido, e apenas recobrou a consciência quando se encontrava na cama que hoje ocupa.

“Com profundo carinho, por amor à verdade e à liberdade. Não tenho nada em minha mãos que fique da LTC, a não ser este cinzeiro, trabalho dos prisioneiros de guerra que hoje jazem seus corpos assassinados covardemente”, começa a carta.

Em seguida, continua dizendo que “os reacionários geram distúrbios e fracassam até sua ruina final. Nada nem ninguém poderá nos derrotar, o rio aumenta seu curso natural, o estouro é uma lei.”

O combatente afirma também que  “o povo tem sua lei, lutar e fracassar, voltar a lutar e fracassar de novo. Voltaremos a lutar até obter a vitória que nos chama”

“Os sangues derramados – prossegue – são estandartes que convocam todo o povo a conseguir o que tanto queremos: o PODER, estamos condenados a triunfar, é uma bela condenação”.

Acrescenta, além disso, que “podem nos esmagar, cortar em mil pedaços, mas não poderão quebrar nossa moral COMUNISTA, estamos dispostos a morrer, a moral da classe está em jogo, há que defendê-la e o faremos com sangue, dor e lágrimas”.

“Ah! Apenas a guerra comoverá profundamente os homens até o ultima ponta de sua alma”.

“Como combatente desta heroica LTC eu soube como resistir tenazmente aos bombardeios das FF.AA., reacionárias genocidas, desonra dos herois nacionais, valentes para matar e covardes para morrer. Outro dia falaremos de outros assuntos. Reafirmo meu compromisso com nossa revolução mundial. Seguirei seus exemplos de lutar por nosso povo. Servir ao povo de todo coração sem nenhum motor pessoal, com total desinteresse pessoal”, finaliza a carta.


(*) Publicado no periódico “El Nuevo Diario” de Lima e reproduzido no livro de Juan Cristobal “Todos morreram?”, Edição Tierra Nueva, Lima, Maio de 1987, pp. 137,138. Texto selecionado e transcrito para Dazibao Rojo por R. Manzanares.