Índia: Combater o Fascismo-Hindu Brahmânico! Expandir a Guerra Popular Prolongada! Avançar a Revolução de Nova Democracia! (Varavara Rao, 2018)

Nota do blog: Publicamos a tradução de importante artigo do intelectual revolucionário Varavara Rao, presidente da Frente Revolucionária Democrática na Índia, onde denuncia o genocida Estado indiano e suas ações contrarrevolucionárias, indicando o caminho consequente para sua suplantação e superação.

Publicado originalmente em dazibaorojo.com


Combater o Fascismo-Hindu Brahmânico! Expandir a Guerra Popular Prolongada! Avançar a Revolução de Nova Democracia! Por Varavara Rao.

5 de Abril de 2018

Os assassinatos de Mohammad Akhlaq, Prof. M M Kalburgi e Yakub Memonhave vieram simbolizar de diversas maneiras a situação prevalente no país sob a ordem de Modi – eleito pelo Partido Bharatiya Janata(PBJ). Akhlaq foi espancado até a morte em sua casa na cidade de Dadri em setembro por um grupo de linchamento que foi incitado, mobilizado e liderado por um grupo de capangas de Sanghi após maliciosamente um rumor de consumo de carne vermelha ter se alastrado. Prof. Kalburgi foi baleado e morto por assassinos fascistas hindutvas desconhecidos por conta de sua consistente e irreprimível oposição aos seus projetos em Kamataka. Memon foi enforcado em julho na prisão de Nagpur após sua convicção nas explosões ocorridas em Mumbai no ano de 1993. Para os autonomeados policiais do ‘Rashtra Hindu’ (Estado Hindu), comer algo da escolha de alguém é antinacional, falar algo contrário é antinacional, até mesmo ser irmão de um muçulmano que é acusado de atividades ditas antinacionais é ser antinacionalista – crimes nos quais são passíveis de pena de morte de acordo com os fascistas Hindutva Manuvadi. Independente da execução ser realizada judicialmente pelo estado ou por algum dos numerosos grupos de extermínio erguidos pelo Hydra RSS – pouca diferença faz para a pessoa que irá recebe-la no final. Esses assassinatos (e os assassinatos ocorridos anteriormente de Govind Phansade e Narendra Dabholkar) são apenas alguns dos incidentes mais falados do que se tornou uma incessante barragem de ataques realizados de diversas formas pelos fascistas Hindutvas em todo o país. Particularmente, desde que o governo PBJ subiu ao poder, esses ataques tem tomado lugar na rotina diária. Apesar de ser considerado por alguns como “intolerância”, isso é parte de um ataque total das forças fascistas hindu bramânicos contra as pessoas, afetando todos os âmbitos de suas vidas. Esses ataques são simultaneamente ideológico, politico, social, religioso, étnico, econômico, cultural, jurídico e ambiental – realizado com meios violentos e não violentos, legais e ilegais, constitucionais e extra-constitucionais. Em sua mira estão todos os tipos de dissidência e não-submissão, particularmente as organizações de combate e indivíduos – revolucionários, democráticos, seculares e patriotas – assim como muçulmanos e cristãos, Dalits e Adivasis, mulheres e pessoas de outros gêneros oprimidos, nacionalidades oprimidas e até seções de oposição do parlamento.

Na verdade, qualquer pessoa que se recusa a cumprir com sua agenda Hindutva ou se opor a suas ordens fascistas é um alvo em potencial. De fato, em tempos como esse em que as ações dos fascistas-hindutvas têm se tornado notavelmente maiores em todas as esferas do estado e da sociedade, ninguém pode ser culpado por se questionar se uma grande parte do nosso povo já está vivendo sob as sombras de um verdadeiro “Estado Hindu”. O fascismo-hindu, mesmo com suas especificidades, compartilha de muitas características dos regimes fascistas que emergiram em países capitalistas em momentos de crise política, econômica e social durante os anos 1930, a Grande Depressão e o interval entre duas Guerras Mundiais inter-imperialistas. Assim como o fascismo italiano e o nazismo alemão, o hindutva também é um fenômeno da era do imperialismo e da revolução proletária, emergindo junto a partidos direitistas ou fascistas, bem como instituições, destacamentos armados e gangues nos países imperialistas capitalistas com ou sem apoio democrático do parlamento. O fascismo levantou sua cabeça a seu maior estágio quando o capitalismo adentrou num periodo de crise geral e o socialismo emergiu como uma alternativa concreta aos povos do mundo inteiro com a vitória da Revolução Bolchevique. O papel dos alemães, italianos, japoneses e outros movimentos fascistas da época foi direcionar essa ameaça existencial enfrentada pelas classes dominantes imperialistas de seus respectivos países.

Essa foi a ofensiva política da burguesia contra o proletariado, para sair de sua graves crises politico-econômicas. Eles obtinham uma política interna de explícita ordem terrorista e uma política externa de agressão e guerras. Internamente, o inimigo principal dos fascistas eram as organizações e movimentos de operários e massas trabalhadoras, partidos proletários revolucionários e organizações junto de outras classes democráticas e minorias nacionais, migrantes, enquanto internacionalmente, seu alvo primário era a campanha socialista liderada pela União Soviética junto dos movimentos de libertação nacional das colônias e semi-colônias. Eles promoveram guerras contrarrevolucionárias contra forças comunistas e democráticas por todo o mundo até que as guerras revolucionárias e de libertação nacional finalmente os enviaram para suas covas. Mas o Hindutva – a variação “feita na Índia” do fascismo – não apenas escapou do destino de seus contemporâneos europeus e japoneses, como na verdade tem prosperado durante os últimos cem anos de sua existência. O Hindutva funde elementos do sistema de castas-feudal indiano (bem como sua ideologia reacionária bramânica e noções de superioridade inata profundamente enraizadas, etc.) com conceitos burgueses modernos (como nação,  teoria ariana de  intelectuais colonial-orientalistas e sua formulação sobre a história Indiana, etc) que serve aos interesses das classes dominantes e das forças e instituições sociais obsoletas.

Falsificam a história para inventar um passado glorioso da ‘nação hindu’, negligentes ao fato que nem uma comunidade religiosa chamada “Hindu” nem uma nação chamada “Indiana” existiram antes da conquista britânica do subcontinente. A ideia dos primeiros proponentes do Hindutva é a reacionária utopia neo-bramânica de ‘Nação Hindu”, na qual os fascistas hindutvas projetam como o ‘glorioso’ passado do país e sustentam como o ideal para o futuro do país. Eles visam impor essa ideologia fascista em ambos Hindu ou não-hindus e em todas as comunidades sociais, seções e classes que não concordam com sua concepção comunal de sociedade e história.

Enquanto muçulmanos e cristãos são vistos como aliens para serem assimilados, mantidos na linha ou suprimidos, os sikhs, budistas, dalits e adivasis já são considerados   hindus e são incluídos na ‘nação hindu’ contra sua vontade. A hierárquica, hegemonica e chauvinista ideologia, cultura e valores hindutvas são impostos em todos eles suprimindo, controlando ou cooptando suas diversas culturas, idiomas, credos e costumes. Essa ideologia fascista hindutva é também refletida na estrutura organizacional da organização fascista-hindu. RSS, Mahasabha Hindu etc. que foram estabelecidos nos início dos anos 1920 são extremamente autoritários e não permitem desacordo entre os líderes. O comando de Sarsanghchalak é a última palavra na RSS e é aceito sem questionamentos. Desde seu princípio, as forças hindutvas receberam apoio e patrocínio dos grandes donos de terra e da grande burguesia compradora enquanto sua ideologia reacionária e sua estrutura organizacional autoritária fosse uma ferramenta útil para seus interesses econômicos e politicos.

Eles também eram subservientes aos colonizadores britânicos, convocando a população à luta pela ‘regeneração nacional’ em um momento que todas as forças anti-coloniais, democráticas e patrióticas estavam engajadas na luta pela independência (Savarkar glorificou o colonialismo por escrever que “a vitória dos império britânico é grandiosa” (V D Savarkar, Hindutva, p. 85, 166); Goldwalkar expressou seu desdém pela independência nacional por denominá-la como “esse pacote aleatório de direitos politicos” (M S Goldwalkar, We or Our Nationhood Defined, p.7).

Leais ao seu caráter comprador, os fascistas-hindutvas continuaram a celebrar colaboradores e traidores como heróis como Savarkar ao passo que denunciava verdadeiros patriotas e nacionalistas como Tipu Sultan. As forças fascistas-hindutvas defendem a conciliação de classes antagônicas para evitar o desenvolvimento da consciência de classe nas massas e uma intensificação da luta de classes organizada.

Por exemplo, RSS escreveu para PM Nehru em 1948, “O Rashtriya Swayamsevak Sangh é a única maneira de enfrentar o comunismo e é a única ideologia que pode integrar e harmonizar os interesses de diferentes grupos e classes e, desta forma, exitosamente evitar qualquer guerra de classes” (Carta do escritório do RSS a PM Nehru, publicada no Organiser, 23 de outubro de 1948). Eles fizeram uso da tradicional adaptabilidade do Hinduismo nas mudanças sociais por preservar, proteger e fortalecer todos os seus aspectos reacionários a serviço das classes dominantes – sejam os colonizadores ou a elite dominante indiana, subserviente ao imperialismo, na qual tomaram seu lugar. Eles reforçaram a articulação conjunta dos grandes latifundiários e da grande burguesia compradora através da supressão das classes democráticas, agitando o chauvinismo comunal e nacional, perseguindo minorias religiosas e oprimindo as nacionalidades minoritárias, dalits, adivasis e mulheres. Ideologicamente, o mundo metafísico, idealista e subjetivo Hindutva é um difícil oponente de todas as formas de aproximação científica, materialista, racional, objetiva e dialética para compreender e mudar o mundo – a maioria da aproximação marixsta do socialismo científico e materialismo histórico-dialético.

Doutrinação politico-ideológica, demagogia social, chauvinismo religioso e nacional, propaganda goebbelsiana, cooptação e suborno – tudo indica que o sujo e o justo são partes de seu arsenal para ganhar em cima de uma parte da grande massa e aterrorizar outras.

Eles amplamente utilizam da ingenuidade, do atraso, da ignorância e das contradições da grande massa bem como os aspectos reacionários na cultura e nos valores populares enraizados no sistema semi-colonial e semi-feudal do país. Eles constantemente se enpenham em mentiras, fraudes, hipocrisia e subterfúgios para manipular a opinião pública e para ludibriar, confundir e fragmentar as massas – frequentemente fazendo o oposto do que falam e falando em pleno constraste com o que eles fazem. Eles utilizam dos produtos da ciência e tecnologia modernas para escravizar as massas e conquistar seus objetivos politicos, econômicos, sociais e culturais reacionários.  O fascismo-hindutva se adaptou às condições de mudança e utilizou todas as formas disponíveis de espalhar seu traçoeiros, enganosos e sangrentos tentáculos. Contrários à sua ideologia e objetivos estabelecidos, eles se comprometem com meios não violentos, declararam aderência à constituição indiana e se apresentaram como uma mera organização cultural (assim como a RSS fez após o assassinato de Gandhi para ter seu banimento revogado) – porém eles não se sujeitam a isso na prática.

Assim como os nazistas em contrapartida, eles utilizaram do sistema parlamentar indiano para subir ao poder em busca de seus objetivos. Da formação do Bharativa Jana Sang hem 1951 até o primeiro governo BJP no centro em 1997, o fascismo-hindutva ganhou terreno em grandes partes do país através do trabalho sob a máscara de políticas parlamentares. Mas como a agitação Janmabhoomi, Rath Yatra, a demolição do Babri Masjid, o subsequente banho de sangue de muçulmanos em diversas partes do país, o programa Gujarat e outros inumeráveis, grandes e pequenos atos hediondos, eles utilizaram métodos terroristas violentos e extra-parlamentares para fins parlamentares. Eles conquistaram sucesso significante em suas táticas principalmente porque sua oposição dentro do parlamento – seja o congresso, o PCI revisionista, PCI (Maoista) ou diversos partidos regionais – tem provado ineficiência em frear o avanço do fascismo-hindutva.

De fato, esses partidos das classes dominantes tem muita adesão encoberta ou explícita aos Hindutvas dentro deles e ajudaram o fascimo-hindutva a crescer com suas políticas oportunistas de conciliação de classes. Desde as eleições parlamentares de 2014, o PBJ emergiu como o maior, mais poderoso e mais preferido partido de toda Índia dos grandes capitalistas compradores burocráticos e latifundiários subservientes aos imperialistas por deslocar o Congresso para essa posição.

Assim como os fascismos do passado, o presente crescimento do fascismo-hindutva toma lugar em meio a uma crise aguda do sistema capitalista mundial que começou em 2008 e não mostra sinais relevantes de recuperação. Tendências fascistas de várias nuances estão emergindo novamente em todas as partes do mundo. Na índia também, o velho metódo de controle do Congresso – liderado pelo UPA, se tornou inadequado para as classes dominantes indianas nas presentes condições de crise. Modi – PBJ foi, portanto, levado ao poder nas últimas eleições para dar cabo à agenda de “reformas” neo-liberais de forma mais agressiva e impiedosa – de forma fascista se necessário. O PBJ com sua ideologia hindutva neo-fascista e uma vasta rede de organizações fascistas trabalhando em quase todas as regiões e campos junto de todas as seções sociais, era o melhor cotado para esse serviço.

O ritmo “lento” das reformas neoliberais do FMI pelo mundo ou os atrasos na abertura de todos os setores da economia para estrangeiros e grandes capitalistas indianos fez com que o PBJ e seus aliados da NDA passassem por cima de muitas mudanças políticas por meios parlamentares e extra-parlamentares.

Mostrando claro majoritarianismo baseado em sua maioria absoluta em Lok Sabha, o governo de Modi está impondo essas políticas com o argumento fascista que eles tem o mandato popular para implementar quaisquer programas e políticas eles quiserem. É válido evidenciar que os fascistas na Itália e os nazistas na Alemanha também ganharam o maior número de cadeiras nas eleições parlamentares e utilizaram essa maioria bruta para impor suas políticas. Conforme a economia do país afunda cada vez mais no abismo da recessão e da crise, os fascistas-hindutvas liderados por Modi estão tomando medidas desesperadas de satisfazer seus mestres – os imperialistas.

Em uma mão, os grandes capitalistas e latifundiários recebem uma grande onda de lucros financeiros através da introdução de novas leis pró-corporativas e mudanças nas leis existentes, corte nos impostos e feriados fiscais, dispensa de empréstimos e reestruturação de débito, desinvestimentos, entrega de propriedades governamentais à preços extremamente baratos e através de inúmeras maneiras sejam legais ou ilegais. Um grande número de leis relacionadas ao bem-estar social da população como leis trabalhistas, leis que dão direitos a subsídios e compensações aos camponeses, pensões, benefícios de aposentadoria e regulamentações de seguro para as classes assalariadas, leis relacionadas à segurança social, saúde e educação, etc. estão sendo modificadas pelo governo, determinando que estas são obsoletas e antiquadas, enquanto as velhas leis coloniais utilizadas para suprimir a população não apenas são mantidas como são reforçadas com novas emendas. Projetos como “desenvolvimento de qualificação” são introduzidos para preparar alguns milhões de desempregados como mão de obra barata e semi-qualificada para encarar as necessidades da economia capitalista global e os grandes capitalistas indianos.

O drama do debate é encenado no ‘chiqueiro’ do parlamento pelos partidos dominantes e igualmente pela oposição, porém todas as políticas anti-populares são ultimamente aprovadas com consentimento mútuo.

Em outra mão, os gastos do governo na agricultura e na manufatura, bem-estar social e subsídios, educação e saúde, água e moradia, etc., são drasticamente cortados em nome da austeridade e da disciplina fiscal. Direitos politicos e econômicos conquistados pela população – sejam trabalhadores, camponeses, mulheres trabalhadoras, empregadores, pessoas assalariadas e outros das classes médias através de árduas e longas lutas – são cortados passo a passo para server os interesses dos imperialistas e das classes dominantes indianas.

São introduzidas uma série de novas políticas que estão tendo uma influência sobre todos os âmbitos – educação, economia, saúde, meio-ambiente, bem-estar social e etc. O investimento estrangeiro, que só faz estreitar o laço do imperialismo é apresentado peloo governo de Modi como a solução de todos os problemas econômicos que assolam o país. Enquanto proferem discursos piedosos sobre “justiça ambiental”, o governo está procedendo remover até mesmo restrições remanescentes ao homônimo em zonas ambientalmente sensíveis para atrair investimento estrangeiro e maximizar a exploração dos recursos naturais.

Emitindo autorização indiscriminada para mineração, represas, rodovias, portos, habitação, indústrias e vários outros projetos e quase todos os tipos de serviços em regiões frágeis ecologicamente, [o governo] está fazendo um convite aberto à poluição e destruição ecológica sem precedentes, sem contar no grande deslocamento de pessoas [dessas áreas]. Incapaz de tratar dos problemas básicos das massas ou de cumprir com as maioria das promessas feitas na pré-eleição, Modi e seus ministros estão recorrendo à artifícios e ‘percepção de gestão’. Seguindo o modelo do grande propagandista nazista, Joseph Goebbels, o governo de Modi está fazendo uso extensivo de mídias digitais, eletrônicas e impressas para maliciosamente manipular a opinião pública, para iludir as massas com mentiras e decepções e para vender a agenda pró-imperialista e pró-hindutva que estão tentando implementar.

A mídia está sendo controlada de maneira ora explícita ora dissimulada para monopolizar os meios de difusão de informação. Frases como ‘desenvolvimento’, ‘empoderamento’ dos pobres e dos dalits, adivasis, das mulheres e outras ‘partes mais vulneráveis’, ‘Sadbhavana-Shanti-Suraksha’, ‘desenvolvimento da nação’, ‘interesse nacional’ e tantas outras são bombardeadas implacavelmente de uma maneira goebbelsiana.

Organizações Sangh Parivar também estão usando as mídias de massa para esconder a verdadeira face do fascismo-hindutva, para moldar a opinião pública a favor de sua agenda e para tornar ilusões em realidade. Hipocrisia, tanto nas palavras quanto na prática, é uma marca registrada dos fascistas-hindutvas. Paralelamente a esse processo há a gradual fascistização do estado. Seja a burocracia, o judiciário, as forças armadas, prisões ou qualquer outra parte do estado – o governo do PBJ está organizando seu pessoal com adeptos ao hindutva sempre que possível. As forças militares, paramilitares e policiais estão sendo fascistizadas mais rapidamente durante seus treinamentos e serviços pelos fascistas-hindutvas através do poder estatal. Eles estão sendo doutrinados com pseudo-patriotismo e o temas favorites do Hindutva como unidade e integridade do país, interesse nacional, Guerra ao terror, etc. Desta maneira eles estão sendo trazidos para mais perto do campo hindutva e sendo ideologicamente preparados para impiedosamente esmagar a população e todas as formas de movimentos democráticos em nome da defesa do país e da nação, religião e fé, civilização e cultura, etc.

Mantendo Narendra Modi como liderança, Sangh Parivar está tentando expandir sua base social ao introduzir alguns programas populistas de bem-estar social como o ‘Beti Bachao-Beti Padhao’, ‘Jan Dhan Yojana’, ‘Swacch Bharat Abhiyan’. Assim como todas as forças fascistas do passado, o governo de NDA e de Sangh estão tomando algumas dessas medidas populistas apenas para facilitar a maxima exploração e repressão das massas trabalhadoras e de grupos sociais oprimidos sem resistência generalizada da população. Uma nova tentativa está sendo tomada na ‘safronização da educação’¹ através de medidas como a reescrita de livros escolares, mudanças nas sílabas, imposição do sankrit, da yoga e rituais hindús nas escolas e outras medidas similares. O governo de Modi intensificou sua interferência nos casos particulares das universidades e de todas as outras instituições autônomas com o objetivo de impor a agenda fundamentalista hindutva. Isso está além da intensificação das políticas do governo anterior de promover a privatização da educação. Eles agressivamente elogiam figuras da RSS como Savarkar, Shyama Prasad Mukherjee e Deen Dayal Upadhyaya etc. e sistematicamente os homenageiam em pontos de referência como rodovias, instituições públicas, projetos de bem-estar, etc. em conformidade com sua ideologia. Essas medidas estão fazendo os defensores dos ricos, dos hindus, das castas ‘elevadas’, o sexismo do estado ainda mais proferidos.

Muçulmanos e suas organizações estão sendo alvejadas pelo estado em nome do ‘combate ao terrorismo islâmico’, enquanto a discriminação contra minorias religiosas se torna mais alarmante. Enquanto uma mão livre é dada pelo estado aos infratores hindus e assassinos envolvidos no massacre de muçulmanos, punições severas incluindo termos de vida e pena de morte estão sendo entregues aos muçulmanos acusados. Uma grande parte deles estão sendo mantidos em prisões de longo prazo sem julgamento. Fascistas-hindutvas estão exibindo minorias religiosas como inimigas na frente do povo para desviar sua crescente frustração e raiva em canais inofensivos. Igualmente, dalits, adivasis, mulheres, nacionalidades oprimidas, racionalistas, ateístas, democratas, comunistas e até mesmo a oposição parlamentar – qualquer pessoa que esteja em oposição a eles – estão sendo mirados. Qualquer um que se levantar pela democracia genuína, independência, soberania e autoconfiança ou militantemente erguendo demandas democráticas básicas do povo está sujeito à violência brutal utilizando do estado ou do terrorismo hindu. Centenas desses ataques tem sido realizados nos últimos um ano e meio de governo Modi, e o número vem aumentando. O aumento de incidentes de intolerância em todo o país também é parte de todo um plano fascista-hindutva. Internacionalmente, o governo PBJ e os fascistas hindutvas estão buscando um status de ‘superpotência’ para a India através de colaborações mais estreitas com o imperialismo norteamericano e clamando por um papel maior nos assuntos internacionais. Em sua tentativa de transformar o país em um forte posto avançado regional dos estados unidos e outras potências imperialistas, NDA e RSS são uma política de grande poder chauvinista e expansionista no sul da Ásia. Eles vociferam farpas chauvinistas contra o Paquistão e a China e estão clamando expandir o combate ao ‘terror islâmico’ através do alinhamento mais estreito com as políticas externas dos estados unidos e Israel.

Guiados pela ideia hegemônica do Hindu Rashtra e Akhand Bharat, eles estão seguindo mais agressivamente as políticas expansionistas de governos anteriores, interferindo nos assuntos internos dos países vizinhos como Nepal, com um escasso respeito a sua soberania, assim atraindo a ira de seu povo.  Portanto, o ataque total dos fascistas hindutvas está se tornando insuportável não apenas para as grandes massas da Índia, mas também para o povo de nossos países vizinhos. Apesar das similaridades, entretanto, o fascismo hindutva não é o nazismo de Hitler na Alemanha ou o fascismo de Mussolini na Itália. A base material do fascismo hindutva se sustenta nas condições sociais e relações de produção atrasadas do país. Essas relações de produção servem principalmente aos interesses do feudalismo e do capitalismo burocrático, no qual estão fortemente interligados e dependentes do monopólio capital do imperialismo e são subservientes à ele.

Isso resulta no peculiar tipo de fascismo em nosso país e em qual país semi-colonial e semi-feudal –  fascismo ‘comprador-feudal’.  Como um resultado, o fascismo hindutva é necessariamente mais fraco e mais instável que seus semelhantes em países capitalistas. Assim como foi posto por Dimitrov, aqui não pode haver questão de ver “o tipo de fascismo que estamos acostumados a ver na Alemanha, Itália e outros países capitalistas” (Dimitrov, Sétimo Congresso da Internacional Comunista 1935). O fascismo comprador-feudal, através de sua natureza compradora, é incapaz de se igualar ao fascismo dos países imperialistas. Além do mais, a opressiva, discriminatória, hierárquica, não científica, anti-povo e reacionária ideologia bramânica e o podre sistema Jati-Varna associado à ela nunca passou incontestado no país. Eles enfrentam resistência ideológica e política, assim como outras formas de resistência incluindo resistência violenta das massas trabalhadoras oprimidas desde o princípio. Sejam os Charvakas, Sankhyas e os Budistas dos tempos antigos; Ravidas, Kabir e outros da idade media ou Jotiba Phule e Savitribai, Shahuji Maharaj, Dr. Ambedkar, Periyar e vários outros representantes dos dalits, adivasis, mulheres e forças democratico-revolucionárias do tempo moderno, cada um de sua maneira tomou parte nessa ininterrupta história de resistência. Nosso povo, apoiado pelo povo democrático e revolucionário do mundo inteiro, agora está novamente se colocando no caminho do fascismo neo-bramânico hindutva.

Não é plausível, portanto, estabelecer a ‘Nação Hindu’ que eles sonham, que requer a transformação da presente ordem semi-fascista (com ordem fascista bem velada em algumas regiões do país como Dandakaranya, Bihar-Jharkhand, Jammu e Kashmir e o noroeste) para uma completa e explícita ordem neo-fascista por todo o país.

Entretanto, o presente nível de ataque fascista sem precedentes está enfrentando uma grande resistência no país. Protestos contra o terrorismo hindu e a fascistização do estado estão em curso, com cada vez mais pessoas se juntando e unindo suas vozes. A indignação generalizada contra os assassinatos do professor Kulbargi, Akhlaq e, em menor grau, o assassinato judicial de Yakub Memon, levou a frente o movimento anti-fascista.

Recentemente, centenas de escritores, artistas, acadêmicos, atores, jornalistas, cinegrafistas e outros do campo literário, cultural e acadêmico, devolveram prêmios dados pelo governo em um protesto paralelo contra os ataques e crescente ameaça do fascismo-hindutva. Sua oposição à perseguição de minorias, ataques aos direitos civis básicos e democráticos, incluindo liberdade de expressão e de discordância e tentativas de impor o controle e ordem, passou de uma bola de neve à uma verdadeira avalanche de protestos. Um grande número de demonstrações, dharnas, encontros etc. estão sendo organizados diariamente em todo o país. Os povos de outros países também expressam sua reprovação ao crescente facismo-hindutva em um forte contraste a reabilitação oportunista dos crimes de Modi e sua corja em seus governos. A recente explosão de raiva da população lutando pela reserva de Patidar contra símbolos estatais odiados como delegacias tem mostrado que até lugares como Gujarat, que era considerado uma fortaleza hindutva, não estão a salvo da raiva e frustração cada vez maior do povo. O povo certamente fará os fascistas hindutvas perceberem que eles fazem parte de uma minoria no país e que defendem forças ultrapassadas, a ordem reacionária das classes dominantes e seus capangas.

A maior parte da população do país não irá nem aderir à sua ideologia reacionária nem irão acatar à imposição forçada do ‘majoritarianismo’ hindu. Cedo ou tarde, o PBJ e Sangh Parivar irão perceber que não é divertido ser lacaio do imperialismo. O MIB evidentemente estende sua solidariedade revolucionária a todos aqueles que compõem esta luta em comum – forças revolucionárias, democráticas, patriotas e seculares, trabalhadores e camponeses, minorias nacionais e religiosas, dalits e adivasis, classes urbanas pobres e medias, a burguesia nacional, estudantes, professores e intelectuais, acadêmicos, historiadores, escritores, artistas, atores, advogados, jornalistas, médicos, cientistas, pesquisadores, mulheres, LGBT, os velhos e os jovens, e pessoas de todos os estilos de vida que estão se levantando contra a escravização fascista-hindutva. Tomando como inspiração as experiências do proletariado internacional e nas forças democráticas no combate ao fascismo, nós convocamos todas as classes, comunidades, seções e grupos explorados e oprimidos a se unirem e se tornarem uma força poderosa contra o fascismo-hindu bramânico e dar cabo à luta armada para, assim, enterrá-lo de uma vez por todas.

Compreendendo que o fascismo só pode ser completamente extirpado pela via revolucionária e não pela via revisionista, reformista e parlamentar ou através das “vitórias” eleitorais sobre o PBJ, o MIB apela para que todos fortaleçam a luta armada revolucionária e agrária em curso, liderada pelo PCI (Maoista) para estabelecer uma genuína república democrática, independente, soberana e auto-suficiente do povo, que será a verdadeira cova do fascismo-hindutva.

(Varavara Rao é um ativista, poeta e escritor revolucionário)


 Notas

¹ – ‘safronização da educação’ consiste na difusão da cultura hindu através da educação a fim de produzir mudanças sociais significativas pelo apelo ao passado histórico da Índia através de religiões como o hinduísmo, budismo, sikhismo e jainismo.