USA: Dia Internacional dos Trabalhadores (Guardas Vermelhos de Austin, 2018)

Nota do blog: Publicamos declaração dos Guardas Vermelhos de Austin, em alusão ao 1º de Maio. Os jovens maoistas mandaram saudações aos Partidos Comunistas maoistas em guerra popular e àqueles em processo de reconstituição e preparação para desatá-las.

Retirado originalmente de redguardsaustin.wordpress.com


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Dia Internacional dos Trabalhadores

 

O Dia Internacional dos Trabalhadores deve ser compreendido tanto como celebração quanto como rebelião. Comunistas não devem se ater apenas a um aspecto desta dualidade. Nós não podemos e nem iremos diminuir nossa rebeldia através de nossa socialização rotineira e chamá-la de ‘resistência’. Isto quer dizer que não iremos a piqueniques ou desfiles enquanto fingimos “comunizar o espaço”. Para nós, o comunismo é inseparável da resistência. O Dia Internacional dos Trabalhadores detém um significado especial, pois ele nasceu do sangue da classe trabalhadora em suas lutas pelas oito horas de trabalho por dia. Não é honesto sentarmos em um lugar onde já é permitido estar e cumprir com os termos do estado reacionário.

A atividade de Primeiro de Maio do ano passado em Austin serve como uma perfeita demarcação entre nossas políticas e as dos socialdemocratas e revisionistas. Forças revolucionárias, anti-imperialistas e antifascistas foram alvos de ataques por uma coalizão de fascistas e, embora isso tenha nos fortalecido, esse fato foi celebrado por aqueles que reconhecidamente estão atados às políticas comuns de Austin, aqueles que colaboram com as ong’s, e apenas forçam ações pacíficas e simbólicas – nunca se rebelam, sempre tornando seu ‘socialismo’ mais fraco até que este seja aceitável para seus mestres capitalistas. Há dois tipos de Primeiro de Maio: o primeiro de maio deles que carrega a cor branca e a nossa que é vermelha.

 

O Primeiro de Maio significa internacionalismo

 Não podemos localizar um Primeiro de Maio que possa completamente honrar sua história e sua herança. Nós somos apenas uma parte da Revolução Mundial, parte da justa batalha proletária contra a exploração, a opressão e a injustiça. Nós desejamos estender nossa solidariedade a aqueles que batalham. Saudações vermelhas aos movimentos liderados por comunistas ao redor do mundo, especialmente aqueles em países oprimidos pelo imperialismo norte-americano. Isso inclui os partidos levantando a Guerra Popular: o Partido Comunista da Turquia/Marxista-Leninista, o Partido Comunista da Índia (Maoista), o Partido Comunista das Filipinas e o Partido Comunista Maoista de Manipur.

Saudações vermelhas a todos que ainda não chegaram ao estágio de Guerra Popular, mas marcham firmemente conosco a esse objetivo. Isso inclui especialmente partidos e partidos em formação na América Latina, um dos centros mais tempestuosos da Revolução Mundial. Corrente do Povo – Sol Vermelho (México), Partido Comunista do Brasil (Fração Vermelha), Partido Comunista do Equador – Sol Vermelho, Movimento Popular Peru (Comitê de Reorganização), Fração Vermelha do Partido Comunista do Chile, Frente Revolucionária Popular da Bolívia MLM e Organização Maoista pela Reconstituição do Partido Comunista da Colômbia.

Nós estendemos nossa máxima solidariedade às organizações maoistas lutando nos centros imperialistas. Isto inclui o Partido Comunista Maoista da França, o Partido Comunista Maoista da Itália, o Comitê pela Construção do Partido Comunista (Maoista) da Galícia, Comitês pela Fundação do Partido Comunista (Maoista) da Áustria, Comitê Bandeira Vermelha (Alemanha), Jugendwiderstand (Alemanha), Tjen Folket (Noruega) e o Partido Comunista Revolucionário (Canadá).

O Maoismo vive e se expande pelo mundo. O Comunismo é e sempre será uma ameaça à ordem burguesa; nós somos apenas uma pequena parte da gloriosa luta do proletariado.

 

Maoismo nos Estados Unidos

 O empenho pela construção do Partido Maoista dos Estados Unidos tem tido grandes saltos no último ano. Os revisionistas têm avançado em caminhos obscuros, enquanto que as organizações genuinamente marxistas-leninistas-maoistas (principalmente maoistas) tem se aproximado cada vez mais de seu objetivo final, de unificar em um único centralismo democrático. Enviamos nosso respeito e solidariedade para nossas organizações irmãs: Guardas Vermelhos de Los Angeles, Guardas Vermelhos da Cidade do Kansas, Guardas Vermelhos de Pittsburgh e Guardas Vermelhos de Charlotte. Nós estendemos nossa solidariedade às organizações que estão sob a bandeira dos Guarda Vermelhos mesmo que não esteja refletido no nome, incluindo a Associação Revolucionária de Houston e Caminho Vermelho de Saint Louis, assim como nossos companheiros próximos da Frente Revolucionária de San Marcos. Estas organizações irão se espalhar e avançar a cada ano. Elas formam o embrião do partido comunista que objetivamos construir.

Respeitamos as organizações revolucionárias das massas em todas as prisões do país, organizações que inspiram e nos ensinam diariamente sobre a luta de classes. Incluindo as organizações Servir ao Povo em Austin, Cidade do Kansas, Los Angeles, Charlotte, Houston e Pittsburgh. Em Austin, a Servir ao Povo acendeu o caminho inspirando projetos para dar início a uma diversidade de lutas em outras cidades. Eles não perderam tempo para arrecadar fundos para presos políticos e realizando concertos antifascistas, tudo isso enquanto se engajam em apoiar as lutas dos moradores na contínua guerra contra a gentrificação¹. Em Houston, a Servir ao Povo tem organizado bairros afetados pelo Furacão Harvey, distribuindo bens, construindo casas e educando politicamente a população. Em Los Angeles, eles são a liderança do movimento na organização de moradores e antigentrificação no bairro de Boyle Heights. Eles ajudaram seus companheiros a defender Boyle Heights, a fechar pelo menos três galerias de artes elitistas e ajudaram a formular treinos de autodefesa para mulheres da classe trabalhadora. Na Cidade do Kansas, a Servir ao Povo intensificou a pressão contra proprietários de habitações e tem sido incisiva e ousada em seus confrontos. Em Pittsburgh, a Servir ao Povo tem mantido presença firme junto dos mais oprimidos de sua cidade e também tem tomado a frente da luta dos moradores, assim como programas antifascistas e antigentrificação. Em Charlotte, eles deixaram claro sua oposição a abusadores e às políticas de identificação, conduzindo trabalhos anti polícia, projetos culturais e outras campanhas ao lado de sua comunidade. Assim, a Servir ao Povo cresce fortemente pelo país, e isso é resultado das suas ações, diferenciando-os grandiosamente das organizações de caridade que se aproveitam do respeito que carregam em seus nomes para persuadir as massas.

A Servir ao Povo se firma como o principal embrião da infraestrutura que irá se formar no socialismo. Através do ‘empoderamento’ da comunidade a nível local e mobilizando-a contra os inimigos da classe, eles foram organizações populares e desenvolvem comitês populares, na qual administram seus casos sem o controle do Estado. Essas instituições irão crescer e um dia nos ajudarão a devorar nossos inimigos. Esse crescimento não pode ocorrer independentemente da luta de classes e do confronto. Servir às massas significa atacar de volta. Nada se conquista sem derramamento de sangue. A classe trabalhadora está desenvolvendo os meios para controlar suas próprias comunidades e afastar qualquer inimigo que queira manter o controle ao lado das classes dominantes.

Austin mantém a presença das organizações revolucionárias de massa que existem para mobilizar e organizar as massas em suas lutas de classe diárias; nós desejamos estender nossas saudações às essas organizações, que incluem Stonewall Militant Front, Defend Our Hoodz e a Frente Estudantil Revolucionária. O SMF, que antigamente era conhecido como a Aliança Revolucionária de Pessoas Trans Contra o Capitalismo, lidera a vanguarda da luta LGBT da classe trabalhadora. Essa trincheira de combate tem sido deixada nas garras das ONGs e organizações burguesas liberais. O SMF busca mudar isso levando as políticas proletárias dentro desta luta, enfrentando os aspectos secundários desse sistema sexista. A FER toma a trincheira estudantil e tem levantado a base para a organização estudantil nos Estados Unidos. Eles atenderam ao chamado de colocar o ‘feminismo proletário’ na prática militante, lideraram campanhas contra misóginos em posição de autoridade e inspirando ações audaciosas, como pintar de vermelho a água da fonte da Universidade do Texas e fazer pichações com teor revolucionário em muros próximos. O DOH continua a aprofundar a luta revolucionária contra a gentrificação, mobilizando nações oprimidas e a classe trabalhadora contra a migração forçada e violenta. Essas organizações enriquecem e avançam o movimento revolucionário em Austin e tem sido uma honra marchar ao lado deles nos Primeiros de Maio.

 

Primeiro de Maio Vermelho, o passado e o presente

Este Primeiro de Maio marca o 50º aniversário dos levantes de Maio de 1968 na França, no qual estudantes e trabalhadores tomaram o país, lutando contra os capitalistas no poder e os revisionistas que serviam a eles. Ocupações e levantes de estudantes e trabalhadores fez a economia francesa estagnar e enviou ondas de choque ao mundo inteiro. A Confederação Geral do Trabalho, que foi, naquele momento, controlada pelo Partido Comunista Francês aliado aos soviéticos, tentou em vão canalizar o ultraje das massas em complacência através de demandas econômicas pequenas (um aumento nos salários), porém as massas e os revolucionários não eram tolos. Esse levante popular era, em parte, inspirado pela Grande Revolução Cultural Proletária na China e também se notou sua contribuição às ações maoistas. Um partido que pudesse tomar o poder do estado não tinha sido formado ainda, e em pouco tempo as rebeliões foram reprimidas pelo parlamentarismo. Foi na luta contra o capitalismo e o imperialismo norte-americano que, entretanto, nosso companheiro Pierre ganhou experiência em organização revolucionária. Seu último ano nos lembra que o espírito de 68 continua vivo nos corações dos revolucionários em todo o mundo. E iria adiante para ajudar a fundar o Partido Comunista Maoista da França, na qual carrega este espírito em sua tradição. Esse é o tipo de partido que a classe trabalhadora francesa necessita como vanguarda. Ele oferece o espírito revolucionário de 68, assim como as correções de suas limitações. Estamos orgulhosos de apoiar o PCM e de chamá-los de companheiros.

Por três anos nós lideramos e organizamos os atos de Primeiro de Maio em Austin e não iremos recuar. O primeiro, em 2015, foi em solidariedade com as rebeliões das massas em Ferguson no Missouri e em Baltimore em Maryland. Essas demonstrações trouxeram o apoio das massas e estagnou o trânsito de Austin, frustrando os esforços do departamento de polícia em manter o controle do ato. Bandeiras vermelhas tomaram as ruas ao passo que a bandeira imperialista dos Estados Unidos era queimada às cinzas, que eram levadas com o vento ao Rio Colorado.

Em 2016 nós lideramos uma marcha sem precedentes contra a gentrificação, que levou nossa luta ao coração da ocupação da Rua Rainey e outros lugares gentrificados, aonde os inimigos foram confrontados e as ruas fechadas. Múltiplas disputas ocorreram, mas a população não desencorajava ou dispersava. A mensagem do Primeiro de Maio Vermelho não foi enviada apenas para o inimigo, mas também para as pessoas do leste de Austin, que enfrentam o peso da exploração capitalista e da opressão nacional.

Em 2017 nós ficamos de pé contra fascistas bem organizados, enquanto a polícia nada fez e os revisionistas se esconderam atrás das ONGs e políticos liberais locais. Neste último ano nós também celebramos o centenário da Revolução de Outubro. É nosso objetivo manter o espírito do Primeiro de Maio Vermelho vivo e continuar a luta nas ruas de Austin, Texas.

 

Nada temos e tudo queremos! 

 A classe trabalhadora de Austin tem sido afastada do centro da cidade e sido inserida em um estado mais profundo e mais baixo. O aluguel aumentou e os ataques contra nós continuam. A classe trabalhadora não controla o que ela produz; ela também não tem o controle da mídia. Também não tem controle sobre a educação ou da vida de seus próprios filhos. Enquanto classe, nós fomos despossuídos e somos eliminados quando nossa exploração não é mais necessária ou desejada. Somos usados e descartados como equipamentos velhos e passamos a nossa vida numa corrida de ratos só para encontrar o final. Mas os dias dessa degradação e miséria estão contados e isso se dá pela constituição do proletariado em um partido na qual os papéis serão revertidos. A classe trabalhadora irá conquistar sua emancipação e as classes dominantes serão reprimidas pelo estado revolucionário.

Este será o quarto ano de Primeiro de Maio Vermelho em nossa cidade. Os ataques fascistas e o aumento da repressão estatal não irão nos dissuadir na inatividade ou nos braços no revisionismo. Abuso policial, gentrificação, sexismo, racismo e o imperialismo norte-americano não cederam e nós também não iremos ceder na nossa luta contra eles. Não temos nenhum desejo de revelar nossos planos para o Primeiro de Maio deste ano nem para o estado nem para outros inimigos de nossa classe. Eles irão nos conhecer pelos nossos atos. Qualquer organização revolucionária trabalhando ao lado do povo irá receber sua bandeira vermelha em ação.

Nós vivemos em tempos notáveis; a Revolução Mundial entrou no estágio de ofensiva estratégica. O imperialismo dividiu o mundo e continua em busca do lucro a todo custo. O imperialismo é uma besta morrendo, ferida pela sua própria compulsão e ganância. Ele simplesmente não pode ir mais adiante e apenas o socialismo pode substituí-lo. Nosso lema é “Guerra Popular até o Comunismo”. Isso significa que até que o comunismo transforme a vida de todos na Terra – quando todas as classes e estados forem abolidos – terá incessante guerra popular para pôr fim à velha ordem e trazer uma nova.

Os partidos comunistas do mundo inteiro devem se reconstruir na base do Marxismo-Leninismo-Maoismo (principalmente Maoismo). Esses partidos podem e irão abolir o velho mundo e forjar uma nova época. Em todo canto, o imperialismo está em decadência enquanto este se devora em cima de trabalhadores mortos. Estamos agora armados e com uma maior unidade junto dos Maoistas dos Estados Unidos, que iniciaram sua militarização, ganhando pequenas vitórias no combate de classe. Essas organizações são o embrião do partido comunista que tomará o poder do Estado e irá impor a ditadura do proletariado. Em todos os países do mundo, os comunistas devem construir e reconstruir seus partidos e iniciar uma séria preparação para a luta armada. Nós devemos não nos comprometer endossando partidos burgueses ao custo do internacionalismo proletário – para tal, apenas o partido comunista pode servir como vanguarda do povo

O revisionismo será extirpado e o mundo imperialista irá ruir. Nós nos erguemos no início de um novo mundo, um mundo que irá ser conquistado pelos comunistas através da violência revolucionária. A cada Primeiro de Maio nós marchamos firmemente, cada vez mais próximos do nosso objetivo de tomar nosso posto nas guerras populares da Revolução Proletária Mundial. Comunistas devem rejeitar a falsa “esquerda” que sufoca a criatividade das massas. Devemos nos empenhar em nossas ações independentes e celebrar nossas lutas e confrontar o inimigo em todo Primeiro de Maio.

Vida longa ao proletariado internacional!

Pela construção e reconstituição dos partidos comunistas!

Guerra Popular até o Comunismo!

 

– Guardas Vermelhos Austin, 2018

 

 

  1. NT ‘gentrificação’ – termo utilizado pela organização para descrever o fenômeno de remoção de pessoas de classe baixa de espaços urbanos, transformando esses espaços e sendo ocupados pelas classes mais altas pelo processo da especulação imobiliária.
  2. Fotos retiradas do sítio da internet da organização.