Nota do blog: Publicamos a seguir trechos retirados da Entrevista do Século, do Presidente Gonzalo ao jornal democrático El Diario (Peru), em 1988, após o I Congresso do Partido Comunista do Peru e 8 anos de guerra popular. A entrevista encontra-se em seu idioma original, espanhol, disponível na internet.
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EL DIARIO: Muitos se perguntam e não entendem de onde radicam a força e a decisão do militante do PCP? Será acaso sua sólida formação ideológica? Como se dá este processo na militância?
PRESIDENTE GONZALO: A força dos militantes do Partido realmente sustenta-se na formação ideológica e política; sustenta-se em que os militantes abraçam a ideologia do proletariado e sua especificação, o marxismo-leninismo-maoismo, pensamento Gonzalo, o programa e a linha política geral e seu centro, a linha militar. A partir disto desenvolve-se a força da militância. Uma coisa que nos preocupou bastante para o início da guerra popular foi a militância. Na preparação da guerra popular colocamos como temperar a militância, e nos impusemos altas exigências: romper com a velha sociedade, dedicação cabal e completa à revolução e dar nossa vida.
É muito expressivo recordar a Plenária do Comitê Central do ano de 1980 e a Escola Militar, ao término destes eventos toda a militância fez um compromisso, todos assumimos ser iniciadores da guerra popular, foi um compromisso solene que logo se fez em todo o Partido. Como se dá este processo? Parte primeiro de como vai-se forjando cada um dos futuros militantes, antes de sê-lo, na luta de classes. Cada um vai participando na luta de classes, vai avançando, vai trabalhando mais proximamente conosco, até que chega o momento em que a pessoa individualmente toma a grande decisão de pedir seu ingresso no Partido, este analisa suas condições, seus méritos, também suas limitações – porque todos temos – e lhe outorga a militância, se a merece. No Partido começa já a formação ideológica sistemática, é nele que nós vamos nos tornando comunistas, é ele que vai nos tornando comunistas. A circunstância dos últimos anos tem como característica que a militância se tempera na guerra. E mais: os que ingressam o fazem num Partido que dirige a guerra, portanto, se ingressam é para desenvolver-se como comunistas primeiro e principalmente, como combatentes do Exército Guerrilheiro Popular e como administrador, no caso que corresponda nos níveis do Novo Estado que organizamos. Então a guerra popular é outro elemento de muita importância que auxilia a forja da militância. Sintetizando, se bem partimos do ideológico-político, a própria guerra vai forjando o militante, nessa ardorosa frágua, segundo o Partido vai nos modelando; e assim avançamos todos nós e servimos. Entretanto, sempre temos uma contradição entre a linha vermelha que prima em nossa cabeça e a linha contrária – temos as duas, pois não há comunista cem por cento – e em nossa mente trava-se a luta de duas linhas. Esta luta é chave também para a forja da militância, apontando a que sempre prime em nós a linha vermelha. Isso é o que buscamos. Assim está forjando-se a militância e os fatos mostram o grau de heroísmo revolucionário de que são capazes de chegar os militantes, assim como outros filhos do povo.
EL DIARIO: Que se sente sendo o homem mais procurado pelas forças repressivas deste governo?
PRESIDENTE GONZALO: Sinto que está sendo cumprido uma responsabilidade e que se esforça por cumprir sua tarefa. O resto é ter mais responsabilidade com a revolução, com o Partido, com o marxismo-leninismo-maoismo, com a classe, o povo e as massas. E pensar sempre que a vida nós a levamos na ponta dos dedos, senão não poderíamos ser comunistas. Consequentemente terão suas razões. As minhas são as que o Partido estabelece, a elas espero ser cada vez mais fiel e mais útil, pois a vida fica enredada em qualquer escarpa do caminho, além disso tem começo e tem fim, tempo mais, tempo menos.
EL DIARIO: Você tem algum tipo de temor?
PRESIDENTE GONZALO: Temor? Creio que é uma contradição: temer e não temer. O problema é tomar a ideologia e potenciar em nós o valor, é a ideologia que nos faz valentes, o que dá valor. A meu ver, ninguém nasce valente; é a sociedade, a luta de classes que tornam valentes os homens e os comunistas, a luta de classes, o proletariado, o Partido e a ideologia. Qual poderia ser o máximo temor? Morrer? Como materialista, creio que a vida termina algum dia, o que prima em mim é ser otimista, com a convicção de que o trabalho ao qual sirvo outros hão de prosseguir e levarão até o cumprimento de nossas tarefas definitivas, o comunismo. Porque o temor que poderia ter, seria o de que não se prosseguisse [N.T.: a revolução, a obra iniciada], porém esse temor se dissolve quando se confia nas massas. O pior temor, ao fim e ao cabo, é não confiar nas massas, é crer-se indispensável, centro do mundo, creio que isso é, e se alguém, formado pelo Partido com a ideologia do proletariado, com o maoismo principalmente, compreende que as massas fazem a história, que o Partido faz a revolução, que a marcha da história está definida, que a revolução é a tendência principal, então esfumaça-se o temor e fica somente a satisfação de ser argamassa e, junto a outras argamassas, servir para pôr alicerce para que algum dia brilhe o comunismo e ilumine toda a Terra.
EL DIARIO: Alguns dizem que seus discursos: A Bandeira e ILA 80, são formosos poemas políticos de guerra. O que diz disto Presidente?
PRESIDENTE GONZALO: Eu diria que, às vezes, na política há que soltar a alma para que a paixão, o profundo sentimento, impulsione nossa vontade.Nessas circunstâncias fala o coração, como se diz, creio que sai a paixão revolucionária que é indispensável para a guerra. Qual valor tenham literariamente, não poderia precisá-lo.
EL DIARIO: Alguma vez você se deprime?
PRESIDENTE GONZALO: Não. Creio que tenho otimismo quase orgânico e me movo mais em problemas de compreensão e vontade do que em problemas de sentimentos e depressão. Ao contrário, creio que sou bastante otimista, é o marxismo, o Presidente Mao que nos fez entender que os homens, nós comunistas em especial, somos otimistas. Sempre que me encontro em momentos difíceis, me esforço por encontrar o que há de positivo, ainda que pouquíssimo, inclusive, que pode ter um momento para desenvolver-se; porque nunca tudo pode ser negro, nem tudo pode ser vermelho. Inclusive se houvera, ainda que não tenhamos tido até hoje, uma grande derrota, sempre haveria uma parte boa.O problema está em tirar a lição e sobre isso, bom, seguir trabalhando; sempre encontrarás quem apoie, quem dê calor intenso, ajudando no combate porque o comunismo une.
EL DIARIO: Tem amigos?
PRESIDENTE GONZALO: Não tenho. Camaradas sim, e estou muito orgulhoso de ter os camaradas que tenho.