Marxismo: A Luta de Classes (V.I. Lenin, 1914)
Por ocasião dos 200 anos do nosso grande fundador, Karl Marx – Proletários de todos os países, uni-vos!
Trecho extraído da publicação “Karl Marx”, de 1914, do grande Lenin. Repartimos essa importantíssima obra e vamos publicando-as por parte.
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A Luta de Classes
Sabe-se que, em todas as sociedades, as aspirações de uns se chocam com as de outros, que a vida social é cheia de contradições, que a história nos revela a luta entre povos e sociedades, bem como, no seio de cada povo e de cada sociedade; que nos mostra, além disso, uma sucessão de períodos de revolução e de reação, de paz e de guerra, de estagnação e de progresso rápido, ou de decadência. O marxismo descobriu o fio condutor que, neste labirinto e neste caos aparente, permite descobrir a existência de leis: a teoria da luta de classes. Só o estudo do conjunto das aspirações de todos os membros de uma sociedade, ou de todo um grupo de sociedades, permite definir, com uma precisão científica, o resultado destas aspirações.
Ora, as aspirações contraditórias nascem da diferença de situação e de condição de vida das classes de que se compõe toda a sociedade.
“A história de toda a sociedade, até os nossos dias — escreveu Marx, no Manifesto do Partido Comunista, exceto a história das comunidades primitivas, acrescentara Engels, mais tarde, — não tem
sido mais que a história da luta de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em oposição constante, mantiveram uma guerra ininterrupta, ora dissimulada, ora aberta, uma guerra que acabava sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta…
A sociedade burguesa moderna, elevada sobre as ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez mais que substituir por novas classes, por novas condições de opressão, por novas formas de luta, as de outrora. Entretanto, o caráter distintivo de nossa época, da época da burguesia, é o de ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade se divide, cada vez mais, em dois grandes campos opostos, em duas grandes classes, declaradamente inimigas: a Burguesia e o Proletariado”.
Depois da grande Revolução Francesa, a história da Europa revelou, em numerosos países, com uma evidência marcante, a verdadeira causa dos acontecimentos — a luta de classes. Já na época da Restauração, apareceram, na França, alguns historiadores (Thierry, Guizot, Mignet, Thiers), que, generalizando os acontecimentos, não puderam deixar de reconhecer que a luta de classes é a chave de toda a história da França. Porém, a época mais recente, com a vitória completa da burguesia, das instituições representativas, do sufrágio ampliado (ou universal), dos jornais diários a preços baixos e que penetram nas massas, etc, a época das associações operárias poderosas e cada vez maiores e das associações patronais, etc, mostrou, com maior evidência ainda, embora às vezes sob uma forma unilateral, “pacífica”, “constitucional”, que a luta de classes é o motor dos acontecimentos. O seguinte trecho do Manifesto Comunista, de Marx, mostra-nos o que ele esperava da sociologia do ponto de vista da análise objetiva da situação de cada classe, no seio da sociedade moderna, em ligação com a análise das condições do desenvolvimento desta classe:
“De todas as classes que, no momento presente, se acham frente a frente à burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes arriscam-se e acabam por se arruinar com o advento da grande indústria; o proletariado, ao contrário, é o seu produto mais especial.
“As classes médias, pequenos fabricantes, varejistas, artesãos, camponeses, combatem a burguesia porque ela é uma ameaça contra a sua existência, como classes médias. Entretanto, elas não são revolucionárias mas conservadoras; e ainda mais, elas são reacionárias; elas procuram fazer com que a história caminhe para trás. Se elas agem revolucionariamente é com receio de cair no proletariado; elas defendem então seus interesses futuros e não seus interesses atuais, abandonando, portanto, o seu próprio ponto de vista para aceitar o do proletariado”(24).
Numa série de obras históricas, Marx deu exemplos brilhantes e profundos de historiografia materialista, pela análise da condição de cada classe particular e mesmo de diversas categorias ou camadas no seio de uma classe, mostrando, com evidência, por que e como “toda a luta de classes é uma luta política”. O trecho que acabamos de citar indica claramente quão complicada é a tessitura das relações sociais e dos graus transitórios entre uma classe e outra, entre o passado e o futuro, conforme analisou Marx, a fim de esclarecer a resultante de toda a evolução histórica.
A teoria de Marx encontra sua confirmação e sua aplicação mais profunda, mais absoluta e mais detalhada, na sua doutrina econômica.