Presidente Gonzalo: 2ª Guerra Mundial e o Movimento de Libertação Nacional
Tradução não-oficial.
Estimados camaradas da Associação de Nova Democracia (Hamburgo, Alemanha):
Na presente situação internacional e a serviço da revolução proletária mundial, consideramos de suma importância entregar-lhes os seguintes extratos, de uma intervenção muito mais ampla, do Presidente Gonzalo sobre a II Guerra Mundial e o poderoso movimento de libertação nacional e, dentro disto, o processo e triunfo da revolução chinesa.
Não cremos serem necessários maiores esclarecimentos a respeito, pois a leitura destes extratos convencerá nossos amigos da América Latina e do mundo sobre a necessidade de tal estudo para melhor cumprimento da jornada.
Calorosas saudações.
MPP (CR)
Setembro de 2017.
Presidente Gonzalo: “Razão tem o Presidente Mao: ‘Nem tudo que é grande é poderoso, nem deve ser temido’, porque grande é o marxismo e esse sim é todopoderoso, e diante dele devem tremer todos os reacionários, pois serão varridos”.
(…)
- A II Guerra Mundial é um fato de transcendência na história do mundo
A II Guerra Mundial é um fato de transcendência na história do mundo, iniciada estritamente em 1939 e terminada em 1945 – desculpem se entro nestas expressões, acredito que seja necessário ao menos recordá-las, pois creio que por vezes alguns camaradas podem não saber; se me equivoco [sobre isso], [ainda assim] prefiro correr esse risco. É uma guerra mundial na qual, por um lado há a rapina imperialista, a disputa pela hegemonia mundial demandada pela Alemanha sob Hitler, e por outro lado há a defesa do socialismo e o desenvolvimento da revolução. É claro e certo que a guerra travada pela então URSS foi uma grande guerra patriótica. Insisto, às vezes camaradas, combatemos o revisionismo implacavelmente e esquecemos certas coisas. Foi uma justa guerra de defesa, uma grande guerra patriótica, assim, por isso foi definida com toda justeza; e [também] de desenvolvimento da revolução mundial, porque além dessa gloriosa defesa heroica que custou à URSS 20 milhões de homens, temos uma luta anti-imperialista que se desenvolverá em nações oprimidas, principalmente na China. E por que dizemos principalmente na China? É preciso recordar que na China manteve-se, durante longo tempo, 60% do exército japonês, por isso não estamos de acordo quando se fala simplesmente da frente ocidental, porém [deve-se falar também] da frente oriental considerando tudo como o travado na Europa. E observando o problema do Oriente, que é uma grande frente de luta e uma grande frente revolucionária, julgamos errôneo quando se pretende reduzir à ação dos ocidentais imperialistas, e principalmente dos Estados Unidos, isso não foi assim. É a grande guerra de resistência de nações oprimidas, como a China, Coreia, Birmânia, Indonésia, Filipinas, etc., onde precisamente os imperialistas fugiram como ratos, e foram os povos destas nações os que tomaram as armas. Os que tiveram a sorte de contar com um Partido Comunista triunfaram e avançaram, e os que não [tiveram essa sorte], ao menos libertaram-se de serem colônias de maneira transitória, por exemplo a Indonésia, que deixou de ser, em consequência desta guerra, colônia da Holanda.
Nessa guerra havia um sinistro plano: a cruzada contra a URSS, e reitero a palavra “cruzada” por sua raiz medieval, que expressa claramente sua entranha reacionária e porque assim foi levantada pelo próprio Hitler, como uma cruzada anti-bolchevique, porque o sonho negro que tinham era varrer a URSS da face da Terra. Fútil, sonho de vidro, despedaçado contra o poder da ditadura do proletariado, com a direção do Partido e do camarada Stalin, do proletariado russo, do povo russo. Páginas heroicas, camaradas! Stalingrado, a maior batalha em cidades, de guerra nas ruas, a que mais mortandade gera, ali foi disputado não apenas casa por casa, mas quarto por quarto; são capítulos que estremeceram o mundo.
Ali também foi visto claramente o jogo sujo e ardiloso dos aliados imperialistas: Estados Unidos, Inglaterra – não falo da França porque estava sob ocupação – e o foi em 18 dias. Ardilosos que atravessaram a abertura da invasão da Europa pelo norte para golpear o coração da Alemanha, buscando que a Alemanha fascista derrotasse a URSS. Todos sabemos, e devemos recordar camaradas, que essa ofensiva fascista encabeçada pelos nazistas, com a qual colaboraram os fascistas italianos, os fascistas espanhóis de Franco e que utilizou todo o poderio econômico da Europa subjugada, lançou um milhão e meio de homens à nata do exército alemão, 75% de sua força aérea, penetraram. Mas sabiamente o camarada Stalin havia manejado a diplomacia com bravura e sutileza – são coisas que “esquecer o pacto germano-soviético era necessário”, dizem alguns, mas isso não livrou a URSS da invasão, não sabem o que falam, uma coisa era ganhar tempo e outra coisa era que necessariamente a Alemanha golpearia a URSS, razão: não podiam seguir avançando no Ocidente com um poderoso inimigo às suas costas, e com uma selvagem e riquíssima terra de um fabuloso potencial. Sim camaradas, é preciso reconhecer, deve-se entender a realidade tal qual é, porque assim compreendemos inclusive em que se baseiam hoje em dia esses social-imperialistas e um povo de mais de 200 milhões, isso era inevitável.
Aqui deve-se destacar a sagacidade e penetração do serviço de inteligência soviético, isso era serviço de inteligência, que chegou a saber o dia da invasão. Dizem que de nada serviu – creio que são tolos eruditos. O que poderia fazer a Rússia diante de semelhante embate? Aplicar uma defensiva estratégica e isso é o que foi feito – nós como comunistas e já dirigindo guerra popular entendemos que é uma defensiva estratégica – e foi isso que se fez, unida à terra arrasada, ao não deixar-lhes nada, terra desnuda, e tiveram a audácia, a alta decisão de explodir monumentais obras como essa famosa represa que une o Volga e o Don, que tantos anos de esforço custou, foi destruída! Os alemães nunca sonharam ou pensaram que essa obra seria destruída, porque era demasiadamente importante e muito esforço havia custado. Camaradas, estava em jogo a ditadura do proletariado, estava em jogo a revolução, não podemos ser desatentos nem podemos simplesmente nos deixar entorpecer, como disse o Presidente Mao, pela defesa de centímetros de terrenos ou de carroças. Assim somos, pois, os comunistas.
Lançaram-se às portas de Leningrado, às portas de Moscou e Stalingrado. Porém não apenas deixaram a terra arrasada, mas deixaram guerrilhas e até homens individualmente com um bom fuzil, boa quantidade de munições e sua vodca para o frio; e para os alemães aniquilarem um desses, tinham que perder 40 homens, essa era a média, camaradas. Não foi fácil como os alemães acreditaram. Pensem, camaradas, que essa ofensiva [alemã] é um plano militar de alta qualidade, os mais altos e esclarecidos líderes militares alemães elaboraram esse plano e a escola alemã tem tradição de guerra muitas vezes comprovada: em três meses iam conquistar a URSS, em três meses.
Por previsão do camarada Stalin, medidas já haviam sido tomadas desde os anos trinta – quando da grande transformação do campo e da indústria -, já haviam transferido fábricas para além dos Urais, prevendo inclusive a possibilidade de abandonar Moscou, pois é certo, tudo já estava feito porque se não pudessem em último caso defender Moscou, ainda que essa fosse a decisão tomada, já estava previsto deslocar a direção e o centro para os Urais. Assim, a primeira coisa que se fez foi tomar medidas para a transferência de Lenin, porque não podia cair nas sujas mãos de miseráveis filhos do inferno, não podia cair. Porém, qual foi então a ordem, camaradas? Depois que penetraram até as portas acima referidas, a ordem foi não retroceder mais! Vocês diriam, e como haviam esses planos de ir para os Urais? Camaradas, sempre há um plano para o caso de falha, nunca se faz apenas um plano, isso é tenacidade, há planos para circunstâncias diversas e até para as mais extremas. É memorável e sempre deve ser ressaltada como em 7 de novembro, aniversário da Revolução, não havia onde celebrá-lo, dando já por impossível que isso se cumprisse. O camarada Stalin disse: “Para a estação!”, “mas ali não havia tribuna, não haviam cadeiras”. O camarada Stalin pegou um caixote e de pé sobre ele falou, celebrando a Revolução: “Quantos éramos quando conquistamos o Poder? Que forças tínhamos quando rechaçamos a agressão imperialista imediata à Revolução de Outubro? Poucas e débeis! Portanto, em comparação ao que somos hoje, não haverão de nos vencer, os esmagaremos! E aniquilaremos a besta em seu próprio covil, em Berlim!”. Não foi dito assim? Camaradas, são coisas que devem ser recordadas, assim não pode-se apenas julgar o camarada Stalin. Por isso o Partido afirma que é preciso observar a II Guerra Mundial.
É conhecido por todos como após isso veio a grande resistência, o rompimento das linhas alemãs, o cerco a Stalingrado a partir dos comandos. “Mas aqui – disse-lhes (Hitler) – os arianos não retrocedem, os arianos não podem ser derrotados por bárbaros, por mongóis, por inferiores”. Sim, mas estes bárbaros, mongóis, inferiores, os caçaram como ratos, obrigando-os a renderem-se.
É bom reiterar isto sempre: Stalin, dirigindo a guerra com destreza e sabedoria, sempre levava em conta o elemento moral, e fez os nazistas vencidos e rendidos desfilarem diante de todos, e lançarem fora suas bandeiras, suas águias, suas suásticas, aos pés do mausoléu de Lenin. Não apenas uma grande derrota militar, mas uma grande derrota moral! A arrogância, a soberba nazista havia sido afundada na lama e pisoteada. Foi o maior golpe moral recebido! Ali começou a derrocada do exército nazista. A outra resistência, dos 300 mil da raça heroica que impediriam o acesso dos russos à Alemanha, a ofensiva soviética do Exército Vermelho fez em mil pedaços, e explodiu mais 300 mil homens. A Alemanha estava claramente destruída, camaradas. É quando os ocidentais imperialistas apressaram-se em desembarcar na Normandia. Por quê? Porque o Exército Vermelho, os comunistas e o comunismo avançava ameaçador sobre toda a Europa. Mas bem sabemos que, em princípios de maio, o Exército Vermelho tomou Berlim, e no Reichstag, o parlamento corporativo que possuíam, cravaram a bandeira vermelha com a foice e o martelo, para eterna memória ficam as fotografias. Hitler se suicidou, como bem sabemos, foi ainda incinerado, pois sabia o que viria se ficasse, não o perdoariam. Os ocidentais talvez sim, mas a URSS não o perdoaria.
A outra grandiosa frente, no Oriente, tem como centro a China, onde o exército japonês foi espezinhado por um mar de massas, minado, debilitado pela guerra de guerrilhas. Diversas nações oprimidas pegaram em armas contra eles. Os ocidentais “apoiaram” para em seguida voltar atrás. É bom relembrar Mac Arthur, o melhor cadete que West Point teve, ou seja, a escola militar dos Estados Unidos, um dos mais altos estrategistas que o USA deu, que tinha seu quartel nas Filipinas. O que fez? Retirou-se pronunciando sua célebre frase: “Voltarei!”. Sim, quando derrotarem os japoneses, essa foi a parte que não disse claro, camaradas, pois o “voltaremos”, se voltassem, voltariam quando? Quando os japoneses estivessem minados, debilitados pelas forças na China e nas diversas nações oprimidas do Oriente. São, pois, os povos oprimidos, os que resistiram à besta japonesa que outra vez volta à ativa. Pensem nisto apenas para que vejam o que custou aos Estados Unidos, cem mil soldados, é tudo o que lhes custou a II Guerra Mundial, a maioria deles mortos no Oriente. Veem? E diante do horror concluído na guerra na frente ocidental europeia, e como diziam os acordos, a URSS devia voltar sua frente contra o Japão, diante do temor de que o Exército Vermelho se expandisse, então tiveram que usar a bomba atômica. Sim, ali se vê claramente como a política dirige a guerra, os japoneses seriam esmagados, não poderiam resistir. Justificativas que querem nos dar hoje são isso, justificativas.
Todo esse grandioso feito da II Guerra Mundial estremeceu o mundo, marcou os homens e rendeu bons frutos. Não em todas as partes, claro, mas rendeu também até frutos mediatizados. Por exemplo, França e Itália, razão: os revisionistas permitiram ter o triunfo arrebatado, os frutos da vitória, havendo guerrilhas de 500 mil homens, de 300 mil homens, forjados nesta heroica resistência da classe, e os povos europeus que também devem ser levados em conta. Assim, a II Guerra Mundial é um fato de grande transcendência. O prestígio da URSS aumentou grandemente sobre a Terra, basta ver os jornais da época. Vocês claro, ainda não haviam nascido, essa é a vantagem de ter mais idade. Recordo, camaradas, quando da vitória, sim, eu estive em Callao, o Porto que vocês conhecem, somente aqui, não? Como soavam as sirenes de fábricas e barcos quando a Alemanha se rendeu! Porque ali já estava ganha a guerra, o mais era terminá-la, foi uma algazarra mundial. Como também recordo, como se visse hoje, como os jornais já levantavam a bomba atômica como um garrote para assustar os medrosos, perguntando-nos “há risco de desintegração? A Terra será desintegrada?”, uma necessidade, pois se os cientistas tivessem falado tanto dos riscos, teriam usado a bomba atômica? Não faz sentido, isso é não ver a essência política que dirige a guerra, as armas são usadas em função dos objetivos políticos. Uma bombinha matou a bagatela de 80 mil pessoas em Hiroshima, em Nagasaki foram 145 mil, porém mais celebrada ou recordada é Hiroshima, pois foi a primeira vez, mas em Nagasaki foram mais, 145 mil. São fatos então de transcendência que vão formando as mentes das pessoas nestes fragorosos tempos.
- O poderoso movimento de libertação nacional e, dentro disto, o processo e triunfo da revolução chinesa.
Já antes do início da II Guerra Mundial e depois do fim desta, principalmente depois, intensificou-se a luta de libertação nacional: as nações oprimidas resistiam ao retorno dos imperialistas como opressores e exploradores. É óbvio que a revolução chinesa, dirigida pelo Presidente Mao, foi um marco histórico, com seu triunfo em 1949. Como dissemos, muda a correlação de forças no mundo. É preciso reiterar que na parte final da revolução chinesa, nos três anos finais, é guerra de libertação nacional, levada adiante pelo exército popular de libertação, sob a absoluta direção do Partido Comunista da China, sob o comando do Presidente Mao Tsetung. Creio que não é preciso insistir na revolução chinesa, pois a conhecemos.
O movimento de libertação nacional seguiu desenvolvendo-se. Um marco importante é a revolução vietnamita, que havia começado também no início dos anos 1930. Em 1945, quando da rendição japonesa, ocorre o levante de agosto e o norte se emancipa, o norte do Vietnã, porém ficou o sul sob domínio imperialista, primeiro francês, depois ianque. Grande lição: não permitir que se divida o país, pois após a emancipação, a parte do país que fica [com os imperialistas] demanda muito mais sangue, muito mais esforço. É preciso tirar lição. O sul do Vietnã, um pequeno povoado então com 14 milhões de habitantes, venceu, porque atreveu-se a pegar em armas, derrotou ao gendarme da reação mundial, o USA, o imperialismo ianque. Foi sua segunda grande derrota, porque a primeira lhe foi infligida na Coreia em 1953, com participação direta da China. Aqui também é preciso relembrar Mac Arthur, um brilhante estrategista, fez um “maravilhoso plano” para cercar os chineses e resultou cercado por eles. Quem teria plano melhor? Vi uma filme sobre Mac Arthur em que celebravam a genialidade estratégica da aldeia de Lachon. O que é a aldeia de Lachon – que é um porto da Coreia? É a humilhante derrota dos Estados Unidos, que têm que escapar tirando suas tropas por mar, fugindo como ratos, então não é uma genialidade, não é nenhuma genialidade. Não pode se comparar com a retirada de Rommel, isso sim um feito de grande importância na direção da guerra enquanto retirada. Lachon não é igual, são os ianques que querem elevar Mac Arthur, criam-lhe figura e supostos triunfos. Em 1973 os Estados Unidos tiveram que aceitar sua derrota. Como diziam então o ianque, Nixon, “Permita-nos a retirada”, é todo o problema que tinham, uma retirada honrosa, “que não nos humilhem”, isso era tudo o que pediam, os todopoderosos imperialistas ianques. Razão tem o Presidente: “Nem tudo que é grande é poderoso, nem deve ser temido”, porque grande é o marxismo e esse sim é todopoderoso, e diante dele devem tremer todos os reacionários, pois serão varridos.