Tradução não-oficial
Documento preparado pelo Partido Comunista do Peru
1976
I. O problema camponês e o problema do poder
Possui especial importância e é decisivo abordar o problema camponês a partir do ponto de vista sobre como serve à tomada de poder, e isto é o que interessa em última instância ao Partido, pois o problema do poder é a questão central da revolução. Assim, organizar e dirigir a luta de classes em seu conjunto com o propósito definido de tomar o poder, e nesta perspectiva esclarecer e resolver os problemas que surgem, é fundamental. A V Plenária do PCP, ao abordar tópicos como este, afirma:
“O problema do Poder como questão central, a Guerra Popular como concretização da violência revolucionária, as condições em que se desenvolve um Partido em um país como o nosso e a importância do trabalho camponês como sustento da Guerra Popular são, assim, problemas materiais de nossa linha, que sempre devemos ter em conta e que hoje, quando impulsionamos a reconstituição do Partido, serão cada vez mais postos sobre a mesa e repercutirão nas questões da linha política e sua aplicação”.
Assim, é notória a importância de abordar um tema como o problema camponês: afinal de contas, o desenvolvimento do movimento camponês em meio à luta armada constitui hoje o cerne do problema do poder.
Os grandes mestres do proletariado estabeleceram as questões básicas sobre este assunto. Marx o expressa acertadamente em uma carta a Engels:
“Todo o curso dos acontecimentos, na Alemanha, dependerá da possibilidade de prestar ajuda à revolução proletária através de uma segunda edição, por assim dizer, da guerra camponesa”.
Lenin reafirma esta ideia ao tratar sobre a revolução russa:
“O proletariado deve levar a termo a revolução democrática, atraindo a massa de camponeses, para aplastar pela força a resistência da autocracia e paralisar a instabilidade da burguesia” (Duas Táticas da Socialdemocracia na Revolução Democrática).
E em um informe para o III Congresso da Internacional afirma:
“O movimento avança e as massas trabalhadoras, os camponeses das colônias, apesar de ainda atrasados, desempenham um papel revolucionário muito grande nas sucessivas fases da revolução mundial”.
E por último Mao Tsetung, que alcançou uma compreensão muito profunda sobre o papel do movimento camponês, aponta:
“A atual ascensão do movimento camponês é um acontecimento grandioso. Em breve, centenas de milhões de camponeses nas províncias do Centro, do Sul e do Norte da China se levantarão como uma tempestade, um furacão, com uma força tão impetuosa e violenta que nada, por poderoso que seja, poderá contê-los. Romperão todas as barreiras e se lançarão pelo caminho da libertação. Sepultarão todos os imperialistas, caudilhos, militares, funcionários corruptos, déspotas locais e ‘shenshi’ malvados. Todos os Partidos e camaradas revolucionários serão submetidos à prova ante os camponeses e terão que decidir de qual lado colocar-se. Pôr-se à frente deles e dirigi-los? Ficar em sua retaguarda, gesticulando e criticando-os? Ir ao seu encontro e combatê-los? Cada chinês é livre para optar entre estas três alternativas, apenas os acontecimentos o obrigarão a decidir-se rapidamente” (Informe sobre uma Investigação do Movimento Camponês em Junán).
Mariátegui, o fundador do Partido, definiu este problema básico na Linha Política Geral. Falando sobre o campesinato indígena, afirmou: “A esperança indígena é absolutamente revolucionária” e assinalou ao PCP o objetivo de organizar operários e camponeses em caráter absolutamente classista e “estimular primeiro e realizar depois as tarefas da revolução democrático-burguesa”, ou seja, conduzir a revolução agrária.
Ao retomar o caminho de Mariátegui, o PCP vem elevando sua compreensão deste importante problema. Assim, o editorial de Bandera Roja nº 41 afirma:
“Sem um trabalho revolucionário entre as massas camponesas, isto é, politicamente orientado pelo marxismo-leninismo, dirigido pelo Partido Comunista, não pode haver desenvolvimento das forças armadas nem pode haver libertação nacional, portanto, nem destruição da exploração imperialista e feudal”.
II. O movimento camponês e a revolução democrático-nacional
A luta camponesa pela terra, que é uma luta antifeudal, assenta as bases para a revolução democrático-nacional, isto resulta das leis gerais da luta de classes de nossa revolução, leis sistematizadas por Mariátegui como Linha Política Geral. Nossa sociedade tem um caráter semicolonial e semifeudal, onde o povo peruano sofre a exploração e opressão do imperialismo, dos latifundiários feudais e do capitalismo burocrático. Aqui inicia a necessidade de derrubar estas classes e varrer seu domínio, nisso consiste a etapa atual da revolução, de conteúdo demo-burguês, que não vai contra toda a burguesia, mas apenas contra uma parte dela, a burguesia burocrática, além de combater os latifundiários feudais e o imperialismo.
Destacamos o papel do capitalismo burocrático, que em seu desenvolvimento amadurece as condições finais para o triunfo da revolução democrático-nacional. Mao nos ensina que este capital monopolista associado ao poder do Estado, assim como estreitamente sujeitado e ligado ao imperialismo e aos latifundiários, conforma um capital monopolista estatal, comprador e feudal, desta maneira chega ao ápice de seu desenvolvimento e prepara “suficientes condições materiais para a revolução de nova democracia”, ficando a tarefa de “confiscar a terra da classe feudal e entregá-la aos camponeses” e “confiscar o capital monopolista”. Em nosso país desenvolve-se um aprofundamento deste capitalismo burocrático, e é particularmente impulsionado o capital monopolista estatal como alavanca da economia, buscando acumular enormes capitais e monopolizar as artérias vitais da economia. Tudo isso leva forçosamente às mesmas conclusões assinaladas por Mao Tsetung sobre a revolução democrática-nacional e sobre a guerra camponesa. Até que ponto estão ligados o problema camponês e o problema da guerra como condições absolutas da revolução democrática-burguesa, estabelece Mao Tsetung ao analisar a revolução chinesa:
“Portanto, a revolução democrática-burguesa da China tem duas características fundamentais: 1) o proletariado, ou bem estabelece uma frente única nacional revolucionária com a burguesia, ou a rompe quando se vê obrigado a isso, e 2) a luta armada é a forma principal da revolução. Não consideramos aqui como característica fundamental a relação do Partido com o campesinato e sua relação com a pequena burguesia urbana, pois primeiro, estas relações são em princípio as mesmas que têm todos os Partidos Comunistas do mundo, e segundo, na China, quando falamos da luta armada, nos referimos no fundo à guerra camponesa e à estreita relação do Partido com a guerra camponesa e sua relação com o campesinato são uma e a mesma coisa.” (Por Ocasião do Surgimento de O Comunista).
Fica assim bem claro que a luta armada que nos cabe realizar é uma revolução agrária realizada pelos camponeses sob a direção do proletariado, o que constitui uma constante, o meio natural da revolução. Se a guerra ainda não foi desatada, tudo deve servir a prepará-la e, uma vez que se inicie, tudo deve servir a desenvolvê-la.
Sobre a aliança operário-camponesa, Mariátegui nos ensina:
“A força da revolução residiu sempre na aliança entre agraristas e trabalhistas, isto é, das massas operárias e camponesas”.
De acordo com isto, operários e camponeses formam as massas básicas da revolução, uma vez que sejam mobilizados e organizados, os exploradores serão derrotados e a revolução triunfará. Sobre a base da aliança de milhões de operários e camponeses será possível unir também a pequena burguesia urbana e, sob certas condições, a burguesia nacional.
O campesinato é a classe mais numerosa e mais oprimida, sobre ele pesam as grossas correntes do sistema semifeudal e, por isso mesmo, têm latente uma força formidável. Como disse nosso fundador:
“O índio, tão facilmente tachado como submisso e covarde, não cessou de rebelar-se contra o regime semifeudal que o oprime sob a república assim como sob a colônia”.
Apoiar os camponeses em sua luta pela terra nos leva a ganhar o aliado maior do proletariado e, assim, organizar forças de combate. O campesinato resulta ser a força principal da revolução democrática-nacional e o melhor aliado do proletariado.
O proletariado, a classe mais avançada da história, tem o dever impostergável de dirigir a massa camponesa. Mariátegui sintetiza cabalmente este problema no prefácio de “El Amauta Atusparia”:
“As reivindicações camponesas não triunfaram contra a feudalidade na Europa, enquanto não se expressaram pela violência. Triunfaram com a revolução liberal burguesa, que as transformou em um programa. Em nossa América espanhola, ainda semifeudal, a burguesia não soube nem quis cumprir as tarefas de liquidação da feudalidade. Descendente próxima dos colonizadores espanhóis, lhe foi impossível apropriar-se das reivindicações das massas camponesas. Cabe ao socialismo esta empresa. A doutrina socialista é a única que pode dar um sistema moderno, construtivo, para a causa indígena, que situada em seu verdadeiro terreno social e econômico, e levada ao plano de uma política criadora e realista, conta para a realização desta empresa com a vontade e a disciplina de uma classe, que faz hoje sua aparição em nosso processo histórico: o proletariado.”
Dar direção proletária ao campesinato é a essência da aliança operário-camponesa, significa fundir o Partido com o campesinato e suas lutas, dar concepção proletária aos camponeses, ganhar ativistas entre eles e construir o Partido no campo. É concretamente mobilizar, organizar e armar o campesinato sob a direção da classe operária representada por seu Partido, o Partido Comunista.
III. A luta pela terra
O caminho burocrático. Ao longo de séculos a opressão feudal manifestou-se em que a propriedade da terra encontra-se concentrada nas mãos de uns poucos latifundiários, enquanto que milhões de camponeses não possuem nenhuma terra, ou se a possuem é muito pouca. Assim, sobre esta gigantesca concentração de terra, usurpada cruelmente pela classe feudal, levanta-se um sistema de servidão que, sob distintas modalidades (trabalho gratuito, pagamento em espécie ou dinheiro), permite que a classe latifundiária feudal viva como parasita em meio a todo luxo à custa da miséria e da opressão sem limites do camponês, afundando assim todo o nosso povo no atraso e na fome. Latifúndio e servidão mantiveram-se assim, ao longo de vários séculos, como pilares da organização social, política e econômica do Peru.
A economia latifundiária é evolucionada em um processo muito lento e prolongado até uma forma capitalista seguindo o caminho burocrático, que consiste em introduzir técnicas e modalidades capitalistas mantendo a grande propriedade agrária e resguardando o poder da classe latifundiária feudal. Por este caminho a economia latifundiária é evolucionada internamente e, em vez de libertar o camponês, aproveita ao máximo a exploração do trabalho gratuito e outras modalidades feudais para lograr uma acelerada acumulação de capitais. O camponês sofre dolorosamente este longo processo de transformação em que são sugados seu trabalho e seus bens, vê-se despojado de suas poucas terras e ainda é lançado fora do campo. O latifúndio e a servidão mantém-se ocultos sob novos nomes (CAP, SAIS, “Propriedades Sociais”, “trabalho comunal, etc) e ligam-se mais estreitamente ao capitalismo burocrático e ao Poder estatal.
Mariátegui explica este processo com as seguintes palavras:
“O capitalismo, como sistema econômico e político, manifesta-se incapaz na América Latina de edificar uma economia emancipada dos pesos feudais. O preço da inferioridade da raça indígena consente a máxima exploração do trabalho desta raça e não está disposto a renunciar a esta vantagem, da qual tantos proveitos obtém. Na agricultura, o estabelecimento do salário, a adoção de máquinas, não apagam o caráter feudal da grande propriedade. Simplesmente aperfeiçoam o sistema de exploração da terra e das massas camponesas.”
O problema camponês não pode ser desligado do problema nacional. Mariátegui já nos dizia “o problema dos índios é o problema das três quartas partes da população do Peru. É o problema da maioria. É o problema da nacionalidade”. A luta contra o imperialismo tem seu sustento na luta do campesinato, na luta semifeudal. Desligar ambos é crer em um falso nacionalismo.
“Terra para quem nela trabalha”. O fundador de nosso Partido, em “Esquema do problema indígena” diz:
“A luta dos índios contra os gamonales tem residido invariavelmente na defesa de suas terras, contra a absorção e o despejo. Existe, portanto, uma instintiva e profunda reivindicação indígena: a reivindicação da terra. Dar um caráter organizado, sistemático, definido a esta reivindicação é a tarefa que temos o poder de realizar ativamente.”
Mariátegui resume assim séculos de luta camponesa, além da necessidade de canalizar esta aspiração camponesa de “terra para quem nela trabalha”, pois apenas com o proletariado organizado junto aos camponeses a luta pela terra terá um bom fim. A entrega da terra ao campesinato, após aplastar a classe latifundiária e seu estado, permitirá apagar para sempre a servidão, emancipando assim o campesinato das relações agrárias feudais. Com o caminho camponês na agricultura abre-se a perspectiva de um desenvolvimento capitalista nas melhores condições possíveis para o campesinato. É na segunda etapa da revolução, a etapa socialista, que estas relações capitalistas são limitadas e restringidas para passar à coletivização do campo. Assim, como parte do caminho burocrático, os camponeses exigem uma reforma agrária que liquide a feudalidade. Esta reforma exige:
- Destruição do latifúndio, sua partilha para os camponeses.
- Confisco ou “expropriação sem indenização”.
- Execução pela força, pela guerra camponesa, pelo poder popular.
IV. A guerra popular é uma guerra camponesa
A guerra popular é uma necessidade absoluta para a realização da nossa revolução. Mariátegui coloca, ao PCP e ao proletariado peruano, este princípio marxista-leninista de validez universal, com as seguintes palavras: “o poder é conquistado através da violẽncia… conserva-se o poder apenas através da ditadura”. Capacitar as vastas massas no emprego da violência revolucionária é a chave para lograr a libertação de nosso povo, e esta é ainda mais urgente em um país atrasado, de condição semifeudal e semicolonial como o nosso.
A guerra é a forma principal de luta. A vitória do proletariado e do povo sobre os inimigos é o futuro inevitável. A atual situação de debilidade do povo e a força do inimigo é apenas aparente e temporal, pois vistas as coisas em seu conjunto, a reação não é mais que “um tigre de papel”, enquanto o povo é uma verdadeira muralha de ferro, é invencível. Este conceito de Mao Tsetung é fundamental para combater seguros da vitória, segundo suas próprias palavras:
“O inimigo tem uma base frágil, desintegra-se internamente, está separado do povo e imerso em inextricáveis crises econômicas, portanto pode ser derrotado”, e ao mesmo tempo “as massas, os milhões e milhões de homens que apóiam com toda sinceridade a revolução. Esta é a verdadeira muralha de ferro que força alguma poderá romper”. Considerar o inimigo como se fosse todo-poderoso é direitismo que freia a ação. Em seu medo do inimigo, alguns chegam a dizer “o fascismo é a destruição do movimento popular e suas organizações” e optam pelo ocultismo em nome de “fazer a retirada” ou “ilegalizar-se”.
A reação tem um grande exército mas sua economia está em grandes contradições e lhe acomete uma grave crise econômica, política e ideológica. A força do inimigo repousa em um ponto débil, mas esta debilidade não se manifesta da noite para o dia. Da mesma maneira, as massas são vastas e fortes, mas sua debilidade consiste em que não estão mobilizadas e organizadas.
Necessita-se, portanto, empreender uma guerra prolongada, uma guerra de morte em que destruamos o inimigo parte por parte. Assim, e apenas assim, através de um longo processo com altos e baixos, a debilidade do inimigo se fará evidente e a fortaleza do povo será avassaladora.
O proletariado deve forjar-se e capacitar-se em meio à guerra, deve organizar e mobilizar todo o povo e principalmente o campesinato em função desta forma de luta. O fato de ser um país semifeudal e semicolonial, de que o imenso campo está agrilhoado pela opressão feudal, sem liberdade nem direito político algum, determina que a revolução armada tenha que enfrentar a contrarrevolução armada se quiser avançar.
Mao Tsetung sintetizou esta grande verdade, válida para todos os países atrasados, e de tremendo valor para construir o Partido Comunista nestes países:
“Na China, a forma principal de luta é a guerra, e a forma principal de organização, o exército. Todas as demais formas, como as organizações e luta das massas populares, são também muito importantes e absolutamente indispensáveis, e de modo algum devem ser deixadas de lado, mas o objetivo de todas elas é servir à guerra. Antes da eclosão de uma guerra, todas as organizações e lutas têm por finalidade prepará-la… Após a eclosão de uma guerra, todas as organizações e lutas coordenam-se de modo direto ou indireto com a guerra.” (Problemas da Guerra e da Estratégia).
Não nos cabe então um longo período de preparação e uso da legalidade antes de desatar a guerra, como em um país capitalista. É em meio à guerra que iremos ganhando o povo e destruindo o inimigo, parte por parte.
A guerra é dos camponeses sob a direção do proletariado. O campesinato, por constituir a base da revolução democrática-nacional é também a base da guerra popular. Esta é uma guerra camponesa ou não é nada..
Mariátegui analisou o papel do campesinato na revolução e defendeu a necessidade de armar os operários e os camponeses para conquistar suas reivindicações, a primeira das quais é a guerra. Assinalou “a ação armada das massas camponesas” no México e que ali “a revolução propagou-se rapidamente”, ainda que não tivesse um programa. “Sua primeira reivindicação concreta era a reivindicação da terra usurpada pelos latifundiários” (Terras de Nossa América) e especificou que tratava-se de uma revolução democrático-burguesa, que apenas avançaria se o proletariado a dirigisse, do contrário a revolução daria marcha-ré. A hegemonia do proletariado na revolução democrático-nacional, uma vez que conte com uma linha justa, é medida pela direção que exerce sobre o movimento camponês. O Partido deve preocupar-se em mobilizar o campesinato e organizá-lo como poderosa força de combate.
O caminho da revolução é do campo para a cidade. Mariátegui ensinou este caminho quando sentenciou:
“Derrotada a feudalidade latifundiária, o capitalismo urbano carecerá de forças para resistir à crescente classe operária”. Este caminho consiste em cercar as cidades a partir do campo, para terminar tomando as cidades. Assim, aproveita-se que o inimigo é débil e tem forças reduzidas no campo, enquanto as vastas massas camponesas são o contingente principal nesta guerra.
A revolução deve desenvolver suas forças ocupando primeiro amplas zonas rurais e, uma vez fortalecidos no campo, marchar para a tomada das cidades, onde a reação concentra sua força armada. Este caminho da revolução nos países atrasados foi sistematizado por Mao Tsetung, que com seus profundos ensinamentos, confere uma valorosa arma para nossa própria revolução:
“Tendo em conta que os poderosos imperialistas e seus reacionários aliados chineses há muito encontram-se entrincheirados nas principais cidades de nosso país, os destacamentos revolucionários negam-se a transigir com o imperialismo e seus lacaios e querem perseverar na luta, querem acumular forças, temperar-se e evitar, enquanto não dispuserem de suficiente poderio, uma batalha decisiva com o poderoso inimigo, devem converter as atrasadas zonas rurais em avançadas e sólidas bases de apoio, em grandes baluartes militares, políticos, econômicos e culturais da revolução, a partir de onde lutar com o feroz inimigo, que ataca as zonas rurais utilizando as cidades, e levar passo a passo a revolução à vitória completa, através de uma guerra prolongada.” (A Revolução Chinesa e o Partido Comunista da China).
Não vamos conquistar o campesinato de imediato. Primeiro vamos construir bases de apoio em extensas zonas e a partir delas desenvolver a Guerra Popular. Construir uma base de apoio requer aniquilar as forças inimigas, mobilizar as massas camponesas e desenvolver as próprias forças armadas. Nestas bases de apoio levanta-se o poder popular e realiza-se a reforma agrária. O problema da base de apoio é cardinal para o desenvolvimento da guerra popular.
A construção do Partido e seu trabalho no campo devem estar orientados a converter a luta camponesa em luta armada. No quadro geral de seu trabalho revolucionário, é exigido que o Partido se construa no campo, que tenha alí seu peso principal. O Partido deve conhecer à risca a situação econômica e política do campo e, utilizando o marxismo-leninismo, deve investigar as classes para definir quem são os amigos e quem são os inimigos.
O Partido deve ir aos mais pobres e criar raízes entre eles, mobilizando e organizando as massas em sua luta pela terra, este trabalho leva insensivelmente à luta armada, e nos cabe dirigir esta luta para, derrubando o poder reacionário em uma região, estabelecer o poder popular. Assim é como é colocado ao Partido o problema de estabelecer bases de apoio, avançadas nos aspectos ideológico, político, organizativo e militar. Por último, deve-se realizar a reforma agrária, confiscando a terra dos latifundiários feudais e repartindo-a aos camponeses.
Mariátegui preocupou-se sempre com a construção do Partido no campo. Falando sobre um ativista camponês da época, dizia:
“O ‘novo índio’ espera. Tem uma meta. Eis aí seu segredo e sua força… Urviola representa a primeira faísca de um incêndio que está por vir. Era o índio revolucionário, o índio socialista… hoje a Serra está prenha de Spartacus.”
Outro importante problema da guerra é o exército popular, que é a forma principal de organização e um dos 3 instrumentos da revolução. Mariátegui define o papel deste exército de novo tipo, do qual diz:
“O exército vermelho é um novo caso na história militar do mundo. É um exército que sente seu papel de exército revolucionário e que não esquece que sua finalidade é a defesa da revolução”. E destacando as guerrilhas afirma que “a mesma relação de corpo, de classe, existia entre o rebelde e as massas operárias e camponesas. Os rebeldes eram simplesmente a parte mais ativa, batalhadora e dinâmica das massas”. O problema da guerra e suas leis gerais deve ser estudado conscienciosamente por todo o Partido para cumprir resolutamente o papel que a história nos assinala.
V. O caminho da reação
Em nosso país, a reação desenvolve um caminho burocrático que, em essência, desenvolve o domínio imperialista e feudal, e sobre estes dois pilares desenvolve o capitalismo burocrático.
Este caminho contou desde seu início com a firme oposição do povo, que apresentou uma série de dificuldades para seu avanço. Na década de 1960, o campesinato se levantou e arrastou todo o povo a um auge revolucionário que pôs a reação em sérios apuros e questionou seu poder. Disto a reação tirou duas conclusões: 1) aprofundar o capitalismo burocrático, e 2) corporativizar a sociedade peruana.
Com este espírito surge o regime fascista como plano piloto e preventivo orientado a aplastar a Guerra Popular. Uma das principais medidas dada foi a lei agrária, que consiste na manutenção e desenvolvimento da grande propriedade, baseada em novas formas de trabalho gratuito. Trata-se do caminho burocrático no campo e não de “socialização” como dizem alguns.
Ante as dificuldades que esta medida encontra pela oposição do campesinato, o reajuste geral corporativo empreendido há dois anos pelo regime fascista, busca assegurar seus objetivos através de “levar o capitalismo ao campo” e de uma frenética exploração dos camponeses para lograr sua ansiada “acumulação acelerada de capitais”. No 7º Aniversário da Lei Agrária (junho de 1976), o ministro da agricultura anunciou que “todas as instituições, tanto os setores públicos quanto os privados, devem concorrer nesta grande mobilização para transformar o campo peruano na roda mais rápida e poderosa que fará a nossa pátria caminhar para o desenvolvimento”.
Na realidade, com estas medidas, ao levar o capitalismo burocrático ao campo, farão com que caminhe-se para a revolução. Engels deixou claro este problema já há muito tempo: “A transformação de todos os pequenos proprietários rurais domésticos em operários industriais a domicílio, o desaparecimento do antigo isolamento, e portanto, da nulidade política dos pequenos camponeses, arrastados pelo ‘turbilhão social’, resulta na extensão da revolução industrial no campo, e assim, a transformação da classe mais estável e conservadora da população em um viveiro revolucionário e, como ponto culminante de tudo isto, a expropriação dos camponeses dedicados à indústria a domicílio pela máquina que lhes empurra forçosamente para a insurreição”.
VI. O caminho do povo
O povo peruano tem um único caminho através do qual se libertará, este é o caminho de Mariátegui. Este caminho nos aponta com urgência que a revolução democrática-nacional apenas seguirá adiante se nos munirmos “de fuzis, de programa e de doutrina”, como dissera textualmente Mariátegui, o que hoje conhecemos como os três instrumentos da revolução: Partido, Exército e Frente Única.
Na atualidade vive-se um desenvolvimento das massas como tendência principal, em que o povo trava lutas cada vez maiores e desenvolve-se em todos os aspectos: ideológico, político e orgânico. As massas mais profundas e atrasadas do país vivem intensamente esta situação, instala-se entre elas o descontentamento e preparam-se para desatar grandes tormentas revolucionárias.
Esta tendência principal leva necessariamente a um auge das massas. Recordemos a experiência da década de 1960, o auge das massas significa, em primeiro lugar, o auge do campesinato, nesse momento o campesinato toma a terra e desconhece os tribunais, chegando ao enfrentamento violento com a reação. Certamente, vivemos uma situação tal que, como dissera Mao Tsetung, “uma única faísca pode incendiar toda a pradaria”, em que todas as contradições agudizam-se e do mais profundo do povo surgir[á] uma massa colossal e auto-impulsionada.
Mariátegui magistralmente analisa uma situação similar à nossa, à do México nos momentos prévios à sua revolução:
“Para um povo, que tão profundamente se bateu por seu direito à posse da terra, não era possível resignar-se a este regime feudal e renunciar a suas reivindicações. Além disso, o crescimento das fábricas criava um proletariado industrial, ao qual a imigração estrangeira aportava o pólen das novas ideias sociais. Apareciam novos núcleos sindicalistas e socialistas… E, sobretudo, fermentava nos campos uma acre disposição revolucionária. Um caudilho, uma escaramuça qualquer, podia incendiar e conflagrar o país” (Temas de Nossa América, p.39). Nesta candente situação, cabe ao PCP impulsionar sua reconstituição e fundir-se às massas, principalmente camponesas. Concluímos com inteira confiança nestas sábias palavras de Mao Tsetung:
“Que seja correta ou não a linha ideológica e política, é o que decide tudo. Quando a linha do Partido é correta, temos tudo. Se não temos homens, teremos; se não temos fuzis, conseguiremos; e se não temos o Poder, o conquistaremos. Se a linha é incorreta, perderemos o que obtivemos.”
Edições Bandera Roja, Nº 46, agosto de 1976.