Em celebração do centenário da Grande Revolução Socialista de Outubro (1917), dirigida pelo Partido Comunista (bolchevique) da Rússia, sob chefatura do Grande Lenin.
Outubro de 1916
Há alguma conexão entre o imperialismo e a monstruosa e nauseante vitória do oportunismo (na forma de social-chauvinismo) que tomou conta do movimento trabalhista na Europa?
Esta é uma questão fundamental do moderno socialismo. E tendo em nosso Partido uma literatura completamente estabelecida, primeiramente, sobre o caráter imperialista de nossa era e a presente guerra(1), e, em segundo, a inseparável conexão histórica entre o social-chauvinismo e o oportunismo, assim como a intrínseca similaridade entre sua ideologia política, nós podemos e devemos proceder a uma análise desta questão fundamental.
Nós temos que começar com uma tão precisa e completa definição quanto possível do que entendemos por imperialismo. Imperialismo é um estágio específico do capitalismo. Esta etapa é tripla: o imperialismo é capitalismo monopólico; parasitário ou capitalismo em putrefação; é o capitalismo moribundo. A substituição da livre competição pelo monopólio é um atributo econômico fundamental, é a essência do imperialismo. O monopólio se manifesta em cinco formas:
- Cartéis, sindicatos ou trustes – a concentração de produção alcança um grau que dá origem à estas associações monopolísticas de capitalistas;
- A posição monopólica dos grandes bancos – três, quatro ou cinco gigantes no sistema bancário manipulam toda a vida econômica da América, França e Alemanha;
- Captura de fontes de matérias-primas pelos trustes e a oligarquia financeira (capital financeiro é capital industrial monopólico amalgamado com capital bancário);
- A partilha (econômica) do mundo por cartéis internacionais já começou. Há mais de uma centena de cartéis internacionais que comandam o mercado mundial em sua totalidade e o divide “amigavelmente” entre eles – até que a guerra o repartilhe. A exportação de capital, uma forma distinta de exportação de mercadorias sob o capitalismo não-monopólico, é um fenômeno altamente característico e está claramente ligado com a repartição político-territorial e econômica do mundo;
- A partilha territorial do mundo (em colônias) foi completada.
Imperialismo é a mais alta etapa do capitalismo na América e na Europa e, posteriormente na Ásia, que tomou forma no período entre 1898-1914. A Guerra Hispânico-Americana (1898), a Guerra Anglo-Boer (1899-1902), a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) e a crise econômica européia em 1900 são marcos histórico centrais de uma nova era da história mundial.
O fato que o imperialismo é parasitário e um capitalismo decrépito manifesta-se, acima de tudo, em sua tendência à putrefação, que é uma característica de todo monopólio sob o sistema privado de propriedade dos meios de produção. A diferença entre o republicano-democrático e o reacionário-monárquico imperialismo burguês é demolido precisamente em razão de que ambos estão se decompondo vivos (o que, de forma alguma interrompe o extraordinariamente rápido desenvolvimento do capitalismo em setores individuais da indústria, em países em separado e períodos específicos). Em segundo lugar, o apodrecimento do capitalismo se manifesta com a criação de um enorme estrato daqueles que vivem de renda, capitalistas que vivem de “vales”. Em cada um dos quatro chefes imperialistas – Inglaterra, EUA, França e Alemanha – o capital em bancos se acumula em 100.000 ou 150.000 milhões de francos, do qual cada país deriva uma renda anual de não menos que 5 ou 8 mil milhões. Em terceiro, a exportação de capital é parasitismo em alto nível. Quanto, “capital financeiro luta por dominação, não por liberdade”. A reação política ao longo dessa linha é uma característica deste imperialismo. Corrupção, subornos em larga escala e todos os tipos de fraudes. Quinto, a exploração das nações oprimidas – que é inseparavelmente conectada com mais anexações – e, especialmente, a exploração das colônias pelas mãos das “Grandes” Potências, aumentando a transformação do mundo “civilizado” em um parasita nos corpos de centenas de milhões daqueles nas nações não-civilizadas. O proletariado romano vivia a expensas da sociedade. A sociedade moderna vive à custa do moderno proletariado. Marx destacou especialmente esta observação de Sismondi.(2) O imperialismo, em alguma medida, altera esta situação. Uma camada superior privilegiada do proletariado nos países imperialistas vive parcialmente à custa de centenas de milhões nas nações não-civilizadas.
É claro o porquê do imperialismo é uma forma moribunda de capitalismo, capitalismo em transição para o socialismo: monopólio, que cresce fora do capitalismo, já é um capitalismo morrendo, um começo para a transição para o socialismo. A tremenda socialização do trabalho pelo imperialismo (que segundo os apologistas da burguesia chamam de interconexão) produz os mesmos resultados.
Avançando na definição de imperialismo, temos a completa contradição com K. Kautsky, que se recusa de olhar o imperialismo como “fase do capitalismo” e o define como política “preferida” pelo capital financeiro, uma tendência de países “industriais” de anexar aqueles “agrícolas”.(3). A definição de Kautsky é metodologicamente falsa do ponto de vista teórico. O que distingue o imperialismo não é o papel do capital industrial, mas do capital financeiro, determinado à anexar não os países agrícolas, mas todo tipo de país. Kautsky divorcia dos países imperialistas a política da economia, divorciando o monopólio político do monopólio na economia na tentativa de pavimentar o caminho para o seu reformismo burguês vulgar, como “desarmamento”, “ultraimperialismo” e outros pontos similares, sem sentido. O propósito e significado dessa falsificação teórica é obscurecer as mais profundas contradições do imperialismo e, conseqüentemente, justificar a teoria da “unidade” com os que fazem apologia do imperialismo, com os completos social-chauvinistas e oportunistas.
Já escrevemos bastante sobre o rompimento de Kautsky com o marxismo, tanto no Sotsial-Demokrat como no Kommunist.(4). Nossos russos kautskyistas, aqueles que apóiam o Comitê Organizador(5), liderados por Axelrod e o Observador(6), incluindo mesmo Martov, e em grande parte Trotsky, preferem manter um discreto silencio na questão de Kautsky como uma tendência. Eles não desafiaram a defesa de Kautsky nos escritos durante a guerra, confinando-se a simplesmente aprovar Kautsky (Axelrod em seu panfleto em alemão, que o Comitê Organizador prometeu publicar em russo) ou citando cartas privadas dele (O Observador), em que ele diz que pertence à oposição e jesuiticamente tenta anular suas declarações chauvinistas.
Deveria ser notado que a concepção de Kautsky do imperialismo – que é equivalente à embelezar o imperialismo – é um retrocesso não apenas comparado ao “Capital Financeiro” de Hilferding (não importando quão assiduamente Hilferding agora defenda Kautsky e sua “unidade” com os social-chauvinistas) como também comparado com o social-liberal J. A. Hobson. Este economista inglês, que em nenhuma hipótese clama ser marxista, define o imperialismo e revela suas contradições muito mais profundamente em seu livro publicado em 1902(7). Isto é o que Hobson (em seu livro pode-se encontrar aproximações com o pacifismo de Kautsky e suas banalidades “conciliatórias”) escreveu sobre a alta importância da natureza parasitária do imperialismo:
Dois tipos de circunstâncias, na opinião de Hobson, enfraquecem o poder dos antigos impérios: 1. “parasitismo econômico” e, 2. Formação de exércitos de povos dependentes.
“Há primeiramente o hábito do parasitismo econômico, pelo qual o Estado dominador usa suas províncias, colônias e dependentes com o objetivo de enriquecer sua classe dominante e subornar as classes subalternas para sua aquiescência.”
Sobre a segunda circunstancia, Hobson escreve:
“Um dos mais estranhos sintomas da cegueira do imperialismo [esta fala sobre cegueira dos imperialistas cabe mais apropriadamente aos social-liberais Hobson do que ao “marxista” Kautsky] é a irresponsável indiferença com que a Grã-Bretanha, França e outras nações imperialistas estão embarcando nesta perigosa dependência. A Grã-Bretanha foi ainda mais longe. Muito das guerras pelas quais se ganhou o nosso Império nas Índias foi travada por nativos; na Índia e mais recentemente no Egito, exércitos foram colocados sob comandantes britânicos; quase todas as lutas associadas aos nossos domínios africanos, exceto na parte sul, foram feitos para nós pelos nativos.”.
A visão de dividir a China trazida por Hobson seguido pelo julgamento econômico:
“A maior parte da Europa Ocidental poderia presumir a aparência e caráter de que já exibe áreas do país no Sul da Inglaterra, na Riviera, e em partes destinadas para turistas ou partes residências da Itália e Suíça, pequenas coleções de aristocratas ricos dividindo os dividendos e pensões do distante Leste, com um largo grupo de profissionais assalariados e comerciantes e um vasto corpo de servos pessoas e trabalhadores do transporte mercantil e em estágios finais da produção de mercadorias perecíveis: todas as artérias principais de indústrias terão desaparecidos, alimentos e fluxos de semimanufaturados vindos como tributos da Ásia e África… Nós teremos previsto a possibilidade de uma larga aliança de países Ocidentais, uma federação européia de grandes potências, da presunçosa causa da civilização mundial, introduzindo o perigo do gigantesco parasitismo do ocidente, um grupo de nações industrialmente avançadas, cujas classes superiores sugam vastos tributos da Ásia e África com o qual eles mantêm salários mais altos, não apenas envolvidos na industrialização e manufatura, mas mantiveram a performance pessoal de pequenos serviços industriais sob o controle de uma nova aristocracia financeira. Deixemos aqueles que apóiam tal teoria [que ele deveria ter dito visão] à subservindo a consideração de examinar as condições sócio-econômicas dos distritos no Sul da Inglaterra hoje que já estão reduzidos às estas condições, e refletir sobre as vastas extensões que tal sistema pode deixar de sujeição para a China ao controle econômico de grupos similares de investidores, daqueles que vivem de renda e oficiais políticos e negociantes, drenando o maior reservatório potencial de lucros que o mundo poderia ter, para consumir na Europa. A situação é muito mais complexa, o papel das forças mundiais é de longe, incalculável, para submeter isto ou qualquer outra interpretação do futuro é muito provável; mas as influencias que governam o imperialismo europeu hoje estão se movendo nesta direção e, a menos que uma contra-força ou desconcentrado, será um fato consumado.”
Hobson, o social-liberal, falha de ver que uma contra-força só pode ser oferecida pelo proletariado revolucionário e a única forma é através da revolução social. Mas ele é um social-liberal! No entanto, no começo de 1902 ele teve uma excelente visão do significado e sentido de “Estados Unidos da Europa” (que isto seja dito para beneficio da Trotsky o Kautskyista!) e tudo que está sendo agora trazido pelos hipócritas kautskyistas de vários países, nomeadamente, os oportunistas (social-chauvinistas) que estão trabalhando de mãos dadas com a burguesia imperialista exatamente para criar uma Europa imperialista sobre a Ásia e África, e que, objetivamente, os oportunistas são uma fração da pequena burguesia e de certo estrato da classe trabalhadora que foi subornada com os super-lucros e convertida em cão-de-guarda do capitalismo e aceitaram atuar para a corrupção do movimento dos trabalhadores.
Ambos, em artigos e resoluções do nosso Partido, nós temos repetido esta questão, da mais profunda conexão econômica entre a burguesia imperialista e o oportunismo que tem triunfado (por quanto tempo?) no movimento dos trabalhadores. E, por isto, nós concluímos que o rompimento com os social-chauvinistas era inevitável. Nossos kautskyistas preferem evitar a questão! Martov, por exemplo, expressou em suas aulas a falta de imaginação em que o Boletim do Comitê Organizador, Secretariado Exterior(8) (n. 4, 10 de abril de 1916) que é expresso como se segue:
“… A causa da social-democracia revolucionária estaria em uma situação triste e certamente desesperadora se estes grupos de trabalhadores que estão em uma abordagem de desenvolvimento metal mais próxima da “intelligentsia” e que são os mais habilidosos fatalmente seguirem com o oportunismo…”
Pelo significado da imbecil palavra “fatalmente” e a certa destreza do “fato” que é deixado por “certos grupos de trabalhadores” que já “seguiram” o caminho do oportunismo e da burguesia imperialista! E há o fato que os sofistas do Comitê Organizador que escapar! Eles querem se confinar ao “otimismo oficial” do kautskyista Hilferding e muitos outros que agora se exibem: condições objetivas garantem a unidade do proletariado e o desenvolvimento de nossa vitória! Nós, em verdade, somos “otimistas” com relação ao proletariado!
Mas na realidade estes kautskyistas-hilferdinguistas, os que apóiam o Comitê Organizador, Martov e outros – são otimistas… Com relação ao oportunismo! Este é ponto central!
O proletariado é filho do capitalismo – do capitalismo mundial, e não apenas do capitalismo europeu ou do capitalismo imperialista. Em escala mundial, cinqüenta anos antes ou cinqüenta anos depois – medidos em escala mundial, este é um ponto menor – o “proletariado” obviamente “estará” unido e a social-democracia revolucionária irá “inevitavelmente” ser vitoriosa. Mas este não é o ponto, Senhores Kautskyistas. A questão é que no atual momento, nos países imperialistas da Europa, vocês estão exibindo afeição aos oportunistas que são estrangeiros ao proletariado enquanto classe, que são servos, aos agentes da burguesia e veículos de sua influência e, ao menos que o movimento dos trabalhadores lidere-o por si só, irá permanecer um movimento trabalhista aburguesado. Advogando “unidade” com os oportunistas, com os Legiens, Davids, os Plekhanovs, os Chkhenkelis, os Potresovs e demais, vocês estão objetivamente defendendo a escravização dos trabalhadores pela burguesia imperialista com a ajuda dos melhores agentes do movimento operário. A vitória da revolucionária social-democracia em escala mundial é absolutamente inevitável, apenas onde está se movendo e irá se mover progride e progredirá contra vocês e sua vitória será uma vitória sobre vocês.
Essas duas tendências, um deverá dizer que há mesmo dois partidos, nos dias atuais, no movimento operário, em que entre 1914-1916 obviamente tomou todas as partes do mundo e que pode ser rastreado até Marx e Engels na Inglaterra ao curso de décadas, aproximadamente de 1858 a 1892.
Nem Marx ou Engels viveram para testemunharem a época imperialista do capitalismo mundial, que começou não antes de 1898-1900. Mas é uma coisa peculiar na Inglaterra ainda que no meio de século dezenove que já manifestava duas tendências principais do imperialismo: 1. Vastas colônias, e; 2. Lucro monopólico (devido a sua posição de monopólio em relação ao mercado mundial). Em ambos os pontos, a Inglaterra era uma exceção, claramente e definitivamente indicada com sua conexão (temporária) da vitória do oportunismo no movimento dos trabalhadores ingleses.
Em uma carta para Marx, datada de 7 de outubro de 1858, Engels escreveu:
“… O proletariado inglês é atualmente mais e mais burguês, então, a mais burguesa das nações está aparentemente objetivando, em última instancia, à possessão de uma aristocracia burguesa e de um proletariado burguês lado a lado com a burguesia. Para uma nação que explora o mundo inteiro, isto é de certo modo justificável.”
Em correspondência para Sorge, de 21 de setembro de 1872, Engels informa ele que Hales expulsou uma grande corrente do Conselho Federal da Internacional e assegurou um voto para censurar Marx que havia dito que “os líderes operários ingleses se venderam”. Marx escreveu para Sorge em 4 de agosto de 1874:
“Como para os trabalhadores urbanos aqui [na Inglaterra], é uma pena que todo o conjunto de líderes não alcançou o Parlamento. Esta seria certamente um modo de tomar a direção das coisas.”
Em carta para Marx, de 11 de agosto de 1881, Engels fala sobre
“aqueles piores sindicatos ingleses que se permitem serem liderados por homens vendidos ou, ao menos, pagos pela burguesia”.
Em carta para Kautsky, de 12 de setembro de 1882, Engels escreveu:
“Você me perguntou o que os trabalhadores ingleses pensam sobre a prática colonial. Bem, exatamente o mesmo que pensam sobre política em geral. Não existem partidos dos trabalhadores aqui, apenas Conservadores e Radicais-Liberais, e trabalhadores que, felizes, compartilham festivamente o monopólio inglês sobre o mercado mundial e as suas colônias.”
Em 7 de dezembro de 1889, Engels escreveu para Sorge:
“A mais repulsiva coisa aqui [Inglaterra] é a ‘respeitabilidade’ da burguesia, que cresceu e se aprofundou nos ossos dos trabalhadores… Mesmo Tom Mann, que eu tinha como o melhor entre tantos, é afeito a mencionar que estará almoçando com o Senhor Prefeito. Se alguém comparar com os franceses, irá perceber que a revolução é boa, depois de tudo.”
Em uma carta de 19 de abril de 1890:
“Mas sob a fachada de movimento [da classe trabalhadora na Inglaterra] está se levando, e arrebanhando ainda maiores seções e até mesmo entre os mais rebaixados e estagnados estratos. O dia quando as massas se acharão não está distante, quando irão surgir em uma colossal moção”.
Em 4 de março de 1891, “O colapso do Sindicato de Trabalhadores das Docas”; “os antigos e conservadores sindicatos, ricos e além de tudo covardemente, ficaram sós no campo…”. 14 de setembro de 1891: no Congresso de Sindicatos e Sindicalistas de Newcastle, os antigos sindicalistas, inimigos da jornada de oito horas por dia, foram derrotados “e relatórios burgueses reconhecem a derrota do partido dos trabalhadores burgueses”…
Estas idéias que foram repetidas por Engels ao longo de décadas, eram ditas por ele abertamente, ao público e para a imprensa e fica provado no seu prefácio à segunda edição da “Condição da Classe Operária na Inglaterra”, em 1892. Lá, ele diz que “há uma aristocracia entre os trabalhadores”, sendo “uma minoria privilegiada de trabalhadores”, em contradição com as “grandes massas de povos trabalhadores”. “Uma pequena, privilegiada e protegida minoria” da classe trabalhadora, sozinha é “permanentemente beneficiada” pela posição privilegiada da Inglaterra em 1848-68, enquanto “grandes maiorias experimentam uma melhoria temporária”… “com a quebra do monopólio [industrial inglês], a classe trabalhadora inglesa perderá sua posição de privilégio…”.
Os membros dos “novos” sindicatos, as associações dos trabalhadores sem perícia
“foi tomada por uma imensa vantagem, que eles vêem como solo virgem, inteiramente livre para os respeitáveis prejuízos burgueses que obstruem os cérebros dos melhores “velhos” sindicalistas”… “os chamados representantes dos trabalhadores na Inglaterra são pessoas que esqueceram que são membros da classe trabalhadora porque eles gostariam de naufragar sua qualidade de serem trabalhadores no oceano do liberalismo…”.
Nós citamos deliberadamente os pronunciamentos diretos de Marx e Engels na tentativa de exemplificar melhor e na esperança de que o leitor possa estudá-los como um todo. E eles devem ser estudados e cuidadosamente avaliados. A história mostra quem é o pivô das táticas no movimento dos trabalhadores que são ditados pelas condições objetivas da era imperialista.
Aqui, novamente, Kautsky tenta “obscurecer o assunto” e substituir o marxismo por conciliação sentimental com os oportunistas. Argumentando contra os declarados e inocentes social-imperialistas (homens como Lensch) que justificam a participação alemã na guerra como uma forma de destruir o monopólio inglês, Kautsky “corrige” esta óbvia falsificação por outra igual falsificação! O monopólio industrial da Inglaterra, ele diz, foi há muito quebrado e agora não há nada deixado para ser destruído. Por que este argumento é falso?
Porque, primeiramente, ignora o monopólio colonial da Inglaterra. Ainda Engels, como nós vimos, indicou a esta clara questão em 1882, trinta e quatro anos atrás! Ainda que o monopólio industrial inglês pudesse ter sido destruído, seu monopólio colonial não apenas persiste, como se acentuou extremamente, por todo o mundo que agora já está dividido! Por meio desta suave mentira, Kautsky trafica para dentro pacifista-burguesa e filistina-oportunista idéia de que “não há nada pelo que lutar”. Ao contrário, não apenas os capitalistas têm algo para lutar agora, como não podem se ajudar lutando se quiserem preservar o capitalismo, lutam pela redivisão à força das colônias com novos países imperialistas que já não podem obter e gozar os privilégios usufruídos por aquelas antigas (e fracas) potências imperialistas.
Em segundo lugar, por que o monopólio inglês explica a (temporária) vitoria do oportunismo na Inglaterra? Por que o monopólio possibilita super-lucros, isto é, um valor adicional no volume de lucros sobre os lucros que são normais e costumeiros por todo o mundo capitalista. Os capitalistas podem devotar parte (e não uma pequena parcela desta) destes super-lucros para subornar seus próprios trabalhadores, para criar algo como uma aliança (relembre a celebrada “aliança” descrita no dicionário de inglês Webbs, que é a junção de sindicatos e empregadores) entre os trabalhadores de uma dada nação e os seus capitalistas contra os outros países. O monopólio industrial inglês já estava destruído no final do século dezenove. Isto está fora de questão. Mas como esta destruição aconteceu? Como todo o monopólio desapareceu?
Se assim foi, a “teoria” de Kautsky da conciliação (com os oportunistas) estaria em certa medida justificada. Mas não é só isto e não é este o ponto. Imperialismo é capital monopólico. Todo cartel, truste, sindicato, cada banco gigantesco é capitalismo monopólico. Super-lucros não desapareceram. Eles permanecem. A exploração de todos os países por um privilegiado, um país financeiramente rico permanece e se tornou mais intenso. Um pequeno grupo de países abastados – há apenas quatro deles, se nós nos referirmos aos verdadeiramente gigantescos, independentes e modernos: Inglaterra, França, Estados Unidos da América e Alemanha – já desenvolveu um monopólio de vastas proporções, eles obtém super-lucros administrando centenas, se não milhares de milhões, de pessoas mantidas no atraso e lutam entre eles pela divisão dos particularmente ricos, opulentos e fáceis espólios.
Esta é, de fato, a essência político-econômica do imperialismo, as profundas contradições que Kautsky embeleza ao invés de expor.
A burguesia das grandes potências imperialistas podem economicamente subornar, comprando os altos estratos de seus trabalhadores gastando com isto centenas de milhões de francos por ano dos seus super-lucros. E como esta pequena concessão é dividida entre ministros do trabalho, “representantes do trabalho” (lembre-se da esplêndida análise de Engels sobre o termo), membros trabalhistas dos Comitês de Indústrias da Guerra(9), oficiais do trabalho, trabalhadores pertencendo aos estreitos sindicatos de ramos especializados, empregados de escritório, etc., é uma questão secundária.
Entre 1848 e 1868, e em certa medida, até mesmo posteriormente, apenas a Inglaterra aproveitou-se de monopólios: isto é o porque do oportunismo ter prevalecido ali por décadas. Nenhum outro país possuía monopólio industrial e ainda ricas colônias.
No último terço do século dezenove, vimos uma transição para uma era imperialista. O capital financeiro não de um, mas de muitos, embora ainda restritos grandes países aproveitassem do monopólio. (No Japão e Rússia o monopólio de poder militar, vastos territórios ou serviços especiais para assaltar minorias nacionais, China, parcialmente suplementa e parcialmente toma lugar do monopólio moderno do atual capital financeiro). Esta diferença explica a razão do monopólio inglês ter tido a possibilidade de permanecer intocado por décadas. O monopólio do moderno capital financeiro está sendo freneticamente desafiado; a era das guerras imperialistas começou. Era possível naqueles dias subornar e distorcer a classe trabalhadora de um país por décadas. Isto é agora improvável, se não impossível. Mas cada potência imperialista pode e deve subornar setores menores de sua aristocracia de trabalhadores (como fez a Inglaterra entre 1848-68). Anteriormente, o “partido dos trabalhadores burgueses”, para usar a marcante e profunda definição de Engels, pôde dar origem em apenas um país que usava de privilégios monopólicos, e poderia fazê-lo por muito tempo. Agora, um “partido dos trabalhadores burgueses” é inevitável e típico em todos os países imperialistas; mas, tendo em vista uma luta desesperada eles estão empregando a divisão dos espólios de maneira que é improvável que tal partido possa prevalecer por muito tempo em numerosos países. Para os trustes, a oligarquia financeira, altos preços, etc., enquanto acionando o suborno das altas camadas, está aumentando a opressão, esmagando, arruinando e torturando as massas proletárias e semi-proletárias.
Há ainda, uma tendência da burguesia e dos oportunistas de converter um número de sua elite e nações privilegiadas em parasitas “eternos” no corpo de toda a humanidade, para descansar sobre os louros da exploração de africanos, indianos, etc., mantendo-os em sujeição com a ajuda das excelentes armas de extermínio fornecidas pelo militarismo moderno. Por outro lado, há uma tendência das massas, que agora, mais e mais oprimidas, de levantar-se contra as guerras imperialistas, para eliminar o jugo da opressão e derrubar a burguesia. Na sua luta entre duas tendências que a história do movimento operário irá agora inevitavelmente se desenvolver. Para a primeira tendência, não é acidental, é baseada na economia. Em todos os países a burguesia dá origem, promovendo e assegurando, para ela mesma, “partidos de trabalhadores burgueses” do social-chauvinismo. A diferença entre um partido definitivamente formado, como o de Bissolati na Itália, por exemplo, que é totalmente social-imperialista, e, digamos, os malformados e próximos de partidos como os de Potresov, Gvozdyovs, Bulkins, Chkheidzes, Skobelevs e outros, em uma diferença imaterial. A coisa importante é que, economicamente, há a deserção de camadas da aristocracia trabalhadora para a burguesia já amadurecida e que se torna um fato consumado; e o fator econômico que provoca uma alteração nas relações de classes, que vamos achar em uma forma política, de uma forma ou outra, sem nenhuma dificuldade em particular.
Sobre a base econômica já citada, as instituições políticas do capitalismo moderno – imprensa, parlamento, associações, congresso, etc. – têm criado privilégios políticos e feito concessões para obter o respeito e submissão dos burocratas e trabalhadores reformistas e patrióticos, correspondendo com privilégios econômicos e mais suborno. São empregos leves e lucrativos no governo ou nos comitês de indústrias de guerra, em equipes editoriais respeitáveis, legalmente estabelecidas em jornais ou na administração pública nos não menos respeitáveis “sindicatos respeitadores da lei burguesa” – estas são as formas com as quais a burguesia imperialista atrai e recompensa os representantes e apoiadores dos “partidos dos trabalhadores burgueses”.
O funcionamento da democracia política funciona na mesma direção. Nada em nossos tempos pode ser realizado sem eleições; nada pode ser feito sem as massas. E nesta era de imprensa e parlamentarismo é impossível de ganhar as massas sem uma sistemática administração amplamente ramificada e bem equipado sistema de adulação, mentiras, fraudes, negociatas com os populares e modernos slogans, prometendo de toda maneira reformas e bênção aos trabalhadores à direita e à esquerda – desde que eles renunciem a luta revolucionária para derrotar a burguesia. Eu poderia chamar este sistema de Lloyd-Georgismo, depois que o ministro inglês Lloyd George, um dos mais hábeis representantes deste sistema na terra clássica do “partido dos trabalhadores burgueses”. Um manipulador burguês de primeira classe, um político astuto, orador popular capaz de fazer todo tipo de discursos, de falas revolucionárias para uma audiência de trabalhadores até um homem capaz de obter moderadas concessões para os dóceis trabalhadores na forma de reformas (seguridade social, etc.), Lloyd George serve à burguesia esplendidamente(10), e serve precisamente entre os trabalhadores, influenciando o proletariado, aonde a burguesia precisa e onde é mais difícil subjugar moralmente as massas.
E há grandes diferenças entre Lloyd George e os Scheidemanns, Legiens, Hendersons e Hyndmans, Plekhanovs, Renaudels e outros? Dos últimos, podem contradizer, alguns irão retornar ao socialismo revolucionário de Marx. Isto é possível, mas é um nível pequeno de distinções, se a questão for observada do aspecto político, isto é, das massas. Certos indivíduos entre os atuais líderes social-chauvinistas poderiam retornar ao proletariado. Mas o social-chauvinismo ou (o que é a mesma coisa) o oportunismo tendem a não desaparecer e nem a “retornarem” ao proletariado revolucionário. Aonde o marxismo é popular entre trabalhadores, a tendência política destes trabalhadores aburguesados é jurar em nome de Marx. Eles não podem ser proibidos de fazer isso, assim como uma empresa não pode ser proibida de negociar uma marca, símbolo ou propaganda em particular. É sempre uma tendência na historia que após a morte de um líder revolucionário que era popular entre as classes oprimidas, que seus inimigos tentem se apropriar de seus nomes para iludir estes grupos.
O fato de que os “partidos trabalhadores burgueses”, como um fenômeno político, já foram formados em todos os países capitalistas e que a menos que luta incansável e determinada seja empreendida contra estes partidos – ou grupos, tendências, que são sempre a mesma coisa – não há dúvidas de que não pode haver luta contra o imperialismo, ou pelo marxismo, ou pelo movimento operário socialista. A facção Chkheidze(11), Nashe Dyelo e Golos Truda(12) na Rússia e os que apóiam o Comitê Organizador no exterior não são nada senão variações deste partido. Não há a menor razão para pensar que estes partidos desaparecerão antes da revolução social. Ao contrário, com a aproximação da revolução, mais e mais fortes eles brilharão e quanto mais súbitas e violentas transições e saltos de progresso, maior será a luta da torrente da massa revolucionária contra o oportunismo pequeno burguês que irá desempenhar no movimento operário. O Kautskyismo não é uma tendência independente, pois não possui raízes nem nas massas nem nos setores mais privilegiados que desertaram da burguesia. Mas o perigo dessa corrente reside no fato de que, utilizando a ideologia do passado, esforça-se para reconciliar o proletariado com “partidos de trabalhadores aburguesados” sob a escusa de preservar a unidade do proletariado com aquele partido, aumentando o prestígio destes oportunistas. As massas não mais seguem as confirmações dos social-chauvinistas: Lloyd George foi ridicularizado nas reuniões dos trabalhadores na Inglaterra. Hyndman deixou o partido, os Renaudels e Scheidemanns, os Potresovs e Gvozdyovs são protegidos pela polícia. Os kautskyistas e sua defesa mascarada dos social-chauvinistas são ainda mais perigosos.
Um dos mais comuns sofismas do kautskyismo é sua referência às “massas”. Nós não queremos, dizem eles, quebrar as massas e as organizações de massa! Mas pense como Engels coloca esta questão. No século dezenove, as “organizações de massa” dos sindicatos ingleses estavam ao lado da burguesia e trabalhadores alinhados à esta. Marx e Engels não se reconciliaram se abaixando a este patamar; eles o expuseram! Eles não esqueceram, primeiramente, que as organizações sindicais diretamente abraçaram uma minoria do proletariado. Na Inglaterra e depois na Alemanha, agora, não mais que um quinto do proletariado está organizado. Ninguém pode seriamente pensar que é possível organizar a maioria do proletariado sob o capitalismo. Em segundo lugar, e este é o ponto principal, não é tanto uma questão de tamanho de uma organização, mas o real significado objetivo de suas práticas: suas políticas representam as massas, servindo-as, isto é, tem por objetivo a sua libertação do capitalismo, ou, ao contrário, representa os interesses de uma minoria, a reconciliação da minoria com o capitalismo? O último era verdade na Inglaterra do século dezenove e é verdade na Alemanha agora. Engels traçou a distinção entre os partidos de trabalhadores que servem à burguesia e aos velhos sindicatos, uma minoria de privilegiados, e a “baixa massa”, a real maioria e apelos da última que ainda não foi infectada pela “respeitabilidade burguesa”. Esta é a essência da tática marxista.
Nem nós, nem ninguém pode calcular precisamente a porção do proletariado que está seguindo e irá seguir, no futuro, os social-chauvinistas e oportunistas. Isto será revelado apenas na luta, e será definitivamente decidido apenas pela revolução socialista.
Mas nós sabemos com certeza que os “defensores da pátria” na guerra imperialista representam apenas uma minoria. E é nosso dever, se nós queremos nos manter enquanto socialistas, aprofundar às verdadeiras massas; isto é o total significado e alegações da luta contra o oportunismo. Expondo o fato de que os oportunistas e social-chauvinistas estão na realidade traindo e vendendo os interesses das massas, que eles estão defendendo privilégios temporários de uma minoria de trabalhadores, que são veículos das idéias e influências burguesas, que são na realidade aliados e agentes da burguesia, nós educamos as massas a apreciar o verdadeiro interesse político, a lutar pelo socialismo e pela revolução pela qual as longas e dolorosas vicissitudes das guerras e do armistício imperialista.
A única linha marxista no movimento operário mundial é explicar para as massas a inevitabilidade e necessidade de romper com o oportunismo, de educá-las para a revolução empregando uma luta sem tréguas contra o oportunismo, utilizando a experiência da guerra para expor, não acobertar, a completa e depravada política dos trabalhadores nacional-liberal.
No próximo artigo, tentaremos resumir as principais diferenças entre nossa posição e o kautskyismo.
Notas:
(1) A referência é da Primeira Guerra Mundial entre 1914-18. p.5 — (nota de Lênin) (retornar ao texto)
(2) Veja Karl Marx, Prefácio da segunda edição do 18 Brumário de Louis Bonaparte, p. 6. (retornar ao texto)
(3) “Imperialismo é o produto do alto desenvolvimento do capitalismo industrial. Consiste na determinação de cada nação capitalista industrializada em subjugar e anexar largas porções territoriais de países agrários” (Kautsky in Die Neue Zeit; Setembro 11, 1914). — (nota de Lênin) (retornar ao texto)
(4) Sotsial-Demokrat — Órgão central do Partido dos Trabalhadores Social-Democrata Russo, publicado ilegalmente entre fevereiro de 1908 e janeiro de 1917. P. 7.
Kommunist — um jornal começado por Lenin, publicado em Genebra em 1915, pelo corpo editorial do Sotsial-Demokrat. Apenas um exemplar duplo surgiu. P. 7. (retornar ao texto)
(5) Comitê Organizador – o principal grupo de Mensheviks, que apoiavam a pequena burguesia, tendência oportunista no Partido Social-Democrata Russo. Formou-se em 1912, durante a guerra mundial imperialista, com o social-chauvinismo se levantando e justificando a guerra do governo czarista e apelando para idéias chauvinistas e nacionalistas. p.7 — (nota de Lênin) (retornar ao texto)
(6) Eeconomista ruso M. I. Nagimson. (retornar ao texto)
(7) J. A. Hobson, Imperialism, London, 1902. — (nota de Lênin) (retornar ao texto)
(8) Bulletin of the R.S.D.L.P. Comitê Organizador, Secretariado Estrangeiro — um órgão menshevik centrista, publicado em Genebra entre fevereiro de 1915 e março de 1917. Ao total, 10 exemplares foram publicados. (retornar ao texto)
(9) Comitês de Indústrias da Guerra foram estabelecidos na Rússia em maio de 1915 pela grande burguesia imperialista para ajudar o czarismo a conduzir sua guerra. Em uma tentativa de convencer os trabalhadores sob sua influência e incitar sentimentos derrotistas, a burguesia decidiu organizar “Grupos de Trabalhadores” dos Comitês de Indústrias da Guerra, mostrando um “pacto entre as classes”, entre a burguesia e o proletariado. Os Bolsheviks advogaram um boicote a estes comitês e venceram, assegurando o apoio da maior parte dos trabalhadores para este boicote. p. 4 — (nota de Lênin) (retornar ao texto)
(10) Eu recentemente li um artigo em uma revista inglesa de um Tory, um oponente político de Llyde George, intitulado “Lloyd George do ponto de vista de um Tory”. A guerra havia aberto os olhos deste oponente e fez com que ele percebesse que excelente servo da burguesia L. George era! Os Tories fizeram as pazes com ele! — (nota de Lênin) (retornar ao texto)
(11) Facção Chkheidze — O grupo Menshevik da Quarta Duma, liderada por N. S. Chkheidze. Oficialmente seguia uma posição de centro na I Guerra Mundial, mas apoiada pelos social-chauvinistas russos. Em 1916 o grupo era composto por M. I. Skobelev, I. N. Tulyakov, V. I. Khaustov, N. S. Chkheidze e A. I. Chkhenkeli. Lenin criticou seu oportunismo em vários artigos, incluindo “A Facção Chkheidze e seu papel”, “Tem o Comitê Organizador e o grupo Chkheidze uma política própria?” (retornar ao texto)
(12) Nashe Dyelo (Nossa Causa)— Um jornal mensal Menshevik, peça central dos social-chauvinistas russos. Publicado em Petrogrado em 1915 no lugar de Nasha Zarya (Nosso Amanhecer) que foi fechado em outubro de 1914. Contribuições incluíram Y. Mayevsky, P. P. Maslov, A. N. Potresov e N. Cherevanin. No total, 6 exemplares surgiram.
Golos Truda (Voz do Trabalho)— Um jornal Menshevik legal publicado em Samara em 1916, depois do fechamento de Nash Golos (Nossa Voz). 3 edições apareceram.