Nota do blog: Avançamos hoje na publicação de mais um segmento da importante análise dos camaradas da Associação de Nova Democracia (Nuevo Peru) – Hamburgo sobre a Venezuela.
Seção V
UMA LEITURA CRÍTICA DO ARTIGO “VENEZUELA: A CRISE ECONÔMICA DE 2016, DE MANUEL SUTHERLAND.
Hoje, continuamos abordando a situação da Venezuela, com a continuação da terceira parte, a partir de uma leitura crítica do artigo “Venezuela: a crise econômica de 2016, de Manuel Sutherland”, publicada em sinpermiso.net de 31/08/2016. Manuel é pesquisador do Centro de Pesquisa e Formação Operária (CIFO, em espanhol) e professor que sofreu represália da Universidade Bolivariana da Venezuela.
Outra fonte em seu relatório que apresentamos brevemente, Observatório da Economia da Venezuela, eumed.net, de 2006, Faculdade de Direto da Universidade de Málaga, Espanha, assinala que o caminho que o governo atual segue é o mesmo dos anteriores com outro discurso, e os resultados serão em ultima análise os mesmos, a limitação deste relatório é que ele vê o fenômeno porém não busca entrar nas relações internas do processo econômico do país, ou seja, procede como todo economista vulgar.
Diz: “Nestes termos, apesar de diferentes hipóteses sobre o tipo de sistema econômico que ambiciona, a política econômica do atual governo fundamentada em uma distribuição mais equitativa de oportunidade e renda, parece responder, por sua ação sobre a atividade econômica, a orientações cujos resultados eram característicos dos obtidos por governos das três ultimas décadas do século XX. Por isso, estamos diante de um cenário similar ao ocorrido nas décadas de setenta, oitenta e noventa acerca das mudanças no crescimento do produto, a evolução da taxa de cambio real e a inflação, que revelam um padrão distinto onde as autoridades não têm compromisso com uma estratégia a médio prazo. Assim, segundo Velasquez (2001), não é incomum uma política permissiva de supervalorização da taxa de cambio por períodos muito longos, o que prenuncia um cenário onde em algum momento virá, inevitavelmente, uma grande crise, uma grande desvalorização e um doloroso e completo processo de ajuste”.
Ou seja, em outras palavras, o relatório é da opinião que embora o que diz o governo sobre “o tipo de sistema econômico”, ou seja, seu “socialismo do século XXI”, com exceção de “uma distribuição mais equitativa de oportunidades e renda” – que como dissemos segue o recomendado pelo Banco Mundial para os países oprimidos e que o governo o aplica concretamente a serviço da corporativização da sociedade – este governo segue o mesmo modelo aplicado desde os anos 70 por todos os governos anteriores da grande burguesia venezuelana do século passado, e diz que terminará também como todos os anteriores governos, em uma grande crise. E hoje estamos palpando essa previsão. Claro, como dissemos, o governo chavista ou madurista segue o velho caminho de aprofundamento do capitalismo burocrático. E continua:
“Agora, para que se torne a cumprir este cenário recorrente da economia venezuelana, a perspectiva para os preços do petróleo nos próximos anos terá que reduzir-se substancialmente. Se ocorrer o contrário e manter-se o atual nível de preços, ainda sob um cenário de produção petroleira abaixo do limiar estabelecido para a Venezuela pela OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], a margem da manobra para lograr sustentabilidade fiscal do governo provavelmente seguirá sendo ampla. A princípio, a medida de adotar um regime de controle da taxa de cambio a partir de 2003, dificultando a saída maciça de capitais, não estava em desacordo com o compromisso de corrigir periodicamente sua supervalorização. Por outro lado, o aumento sustentado das reservas internacionais, juntamente com o cumprimento rígido dos compromissos da dívida externa, colocou o risco-país em uma posição muito vantajosa em relação a possíveis operações de endividamento externo. Porém, se tem assinalado o explosivo crescimento da dívida pública interna e a consequente carga fiscal que esta acarreta, como uma situação que pode comprometer a médio prazo a sustentabilidade fiscal.
Embora as políticas públicas implementadas nos últimos anos enfatizem os programas sociais orientados para cobrir as necessidades dos pobres negligenciadas por décadas, questiona-se a sustentabilidade deste modelo”.
Os sublinhados por nós nestes últimos parágrafos são expressivos e mostram porque estamos ante um governo que segue os planos do imperialismo segundo o chamado consenso de Washington, ou seja, o principal nos termos da chamada liberalização financeira altamente custosa para o país e a submissão do Estado venezuelano e seu governo e instituições financeiras do setor público e do chamado privado, como intermediários do sistema financeiro imperialista. Sobre isso voltaremos mais adiante em outra Parte [da análise]. E isso referente a chamada dívida interna mostra como o Estado e seu governo cumprem com o disposto pelo imperialismo ianque de impulsionar mais o rentismo, o corte de cupom, desviando poupanças particulares do investimento produtivo para a especulação, para viver do corte de cupom. Nisto estão as causas da queda da produção e da produtividade e da crise atual.
Outro estudo da mesma universidade, intitulado UMA NOVA APROXIMAÇÃO PARA O COMPORTAMENTO RECESSIVO DA ECONOMIA VENEZUELANA, de Moises Mata, encontrado na mesma rede da Universidade de Málaga, partindo da mesma comprovação sobre o modelo que o regime aplica, busca explicar além do fenômeno aparente de que “a Venezuela é um país petroleiro”, e busca investigar as causas da crise atual, investiga as relações partindo do desenvolvimento das forças produtivas usando o instrumento do PIB potencial e estabelece a relação entre salário e consumo com demanda e a oferta, baixa capacidade de consumo – superprodução interna e crise. É desnecessário dizer que vai além do autor Sutherland que fica no fenômeno. Claro que não se pode pedir que use a categoria econômica do capitalismo burocrático, pois isso depende de nós – usar a análise até onde chegam estes economistas profissionais, aprofundá-la e fazer a síntese correspondente, considerando em nossa análise e síntese a situação semifeudal do país. Leiamos as partes correspondentes deste estudo:
Continuará em breve.
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