Sobre a atual situação na Venezuela – Parte II

Nota do Blog: Publicamos a seguir a continuação da série de análises sobre a situação da Venezuela propalada pelos companheiros da “Associação de Nova Democracia – Nuevo Peru” (Hamburgo – Alemanha).

 

SOBRE A CRISE POLÍTICA NA VENEZUELA

 

Nota de vnd-peru.blogspot.com

Publicamos este importante artigo que contém uma séria e cuidadosa análise dos camaradas da Bolívia sobre a situação da Venezuela, e é um importante aporte que contribui para o esclarecimento a partir de uma posição revolucionaria da situação nesse país. Fazemos isto para servir ao desenvolvimento do caminho do povo nesse pais contra o velho caminho reacionário representado pelos personagens do governo e da oposição, e de seus serviçais do revisionismo e do oportunismo.

Nós consideramos que, a causa da atual crise econômica e política na Venezuela é o processo de aprofundamento do capitalismo burocrático impulsionado pelos governos de Chávez e de Maduro.

Este aprofundamento do capitalismo burocrático tem levado o país, como mostra o artigo que publicamos, a uma maior dependência do imperialismo, principalmente ianque. Este aprofundamento do capitalismo burocrático tem conduzido o país a dependência de um só produto de exploração, a um maior endividamento externo via títulos soberanos, impulsionando o parasitismo da economia por esta via que desvia capitais da produção para a especulação (recorte del cupon), pela desindustrialização do pais e do caminho latifundiário no agro aplicado pelo regime, com o conseguinte boom importador e do crescimento da dívida externa, a exploração de capitais e a maior penetração imperialista no pais, decréscimo da produção e da produtividade na indústria, na agricultura e a maior parte de todos os outros ramos da atividade econômica, crescimento de desemprego, a fome e a miséria, em suma, maior exploração e opressão do proletariado e do povo.

Consideramos também, que a crise mundial, com a queda dos preços do petróleo no mercado mundial, agrava a já crítica situação econômica do pais, em cuja raiz está, ninguém duvida, a condição semifeudal e semicolonial de pais, aspecto que, pese tudo o que se diga ao contrário, precisamente o aprofundamento do capitalismo burocrático e a corporativização em marcha evolucionam e preservam.

Crise política nas alturas entre o governo chavista, representante da fração burocrática no comando do velho Estado latifundiário-burocrático a serviço do imperialismo principalmente ianque, e a fração compradora da grande burguesia. Além disso, duro conluio e pugna no interior de cada uma das frações, que só se pode explicar pela maior penetração dos outros países imperialistas cujos interesses competem pelo pais. Crise agravada pela convocatória do governo de uma Assembleia Constituinte claramente corporativista, sem participação dos partidos políticos e eleita por comunas e setores (corporações) para propulsar a organização corporativa da sociedade que o governo vem realizando.

É claro que as massas da Venezuela rechaçam as políticas de ajuste econômico e a política fascista e corporativa do regime, que descarregam todo o peso da crise sobre as costas do proletariado e do povo e causam uma maior exploração, desemprego, fome, miséria e escassez entre as massas.

Rechaçamos a repressão do governo fascista e corporativo contra o povo com prisões, mortes, perseguição e toda classe de medidas repressivas. Repudiamos a ação dos revisionistas e oportunistas, social-corporativistas, que chamam o povo para apoiar o governo “contra o os inimigos da revolução”.

Consideramos que, o rechaço das massas e seus protestos contra as medidas governamentais são justos e os revolucionários e os maoistas devem lutar junto delas e pugnar por dirigi-las, para servir a reconstituição do Partido Comunista e ao desenvolvimento do caminho do povo, o caminho da revolução de Nova Democracia com guerra popular para acabar com o imperialismo, a semifeudalidade e do capitalismo burocrático.

Os revolucionários, devem aplicar o boicote as eleições da constituinte corporativa e propagandear a necessidade de reconstituir o Partido Comunista de novo tipo, marxista-leninista-maoista para dirigir a revolução.

AND

Junho de 2017

 

CRISE POLITICA NA VENEZUELA E A BANCARROTA DO OPORTUNISMO

Análisis y Opnión

06/06/2017

A crise do capitalismo burocrático venezuelano – capitalismo dependente, atrasado, subjugado pelo poder imperialista e carcomido pela semifeudalidade – está marcando o fim dos chamados “governos progressistas” em meio a uma bancarrota e descrédito total. Este ciclo, pomposamente chamado “socialismo do século XXI”, “processo de mudança”, “revolução cidadã” e outros adjetivos ribombantes, não é mais que uma fase (um programa político e econômico) dentro do esquema do velho Estado, dentro do sistema capitalista e do imperialismo mundial.

Os discursos grandiloquentes e recarregados de retórica anti-imperialista não têm mudado o caráter fundamental do estado venezuelano, o ciclo de Chávez e Maduro não têm dado nem um só passo em direção ao socialismo e tem se manejado dentro dos limites do sistema econômico capitalista. Enquanto a retorica chavista gritava sua “luta contra os inimigos da revolução” o capitalismo bancário, ou seja, a oligarquia financeira lograva enormes lucros, isso mostra as cifras oficiais. Pode-se acreditar que os dirigentes da “revolução bolivariana” lutavam contra seus inimigos, esses que Chávez e Maduro dizem que fazem a sabotagem econômica, quando na realidade seu governo tem os feito engordar com grandíssimos lucros Alguns desses grandes empresários e banqueiros haviam declarado: “se isto é socialismo, então eu sou socialista”.

Este fenômeno de lucros extraordinários para os banqueiros não é exclusivo da Venezuela, ocorre o mesmo no Brasil desde as gestões de Lula e Dilma. Sucede também, com outro bastião dos “governos progressistas”: o governo boliviano de Evo Morales, onde os bancos obtiveram não só lucros extraordinários, mas históricos. Fortalecer os bancos não é precisamente combater o “inimigo de classe”, se removemos a retórica vemos que na realidade o programa burguês-burocrático dos chamados “governos progressistas” concilia, convive e serve às velhas classes dominantes.

Na gestão de Lula da Silva, por exemplo, [os governantes] fortaleceram enormemente a um setor empresarial ligado na teoria à produção nacional (construção, carne, entre outros). Várias dessas empresas cresceram consideravelmente amparados pelo Estado, mas não como parte do “fortalecimento da economia nacional” para opor-se ä subjugação do capital estrangeiro mas, pelo contrário, para converter-se em outro satélite ou lacaio desse capital transnacional, ou seja, do imperialismo, em particular o ianque, isto pode-se ver por exemplo na empresa JBS (Indústria de alimentos com foco em processamentos de carnes), cujos gerentes implicaram ao atual presidente Michel Temer o delito de suborno. Esta empresa que se beneficiou fortemente no governo de Lula, cresceu de tal forma que, com alianças de capitais imperialistas e com o dinheiro do Estado brasileiro, instalou suas operações nos Estados Unidos para converter-se em uma transnacional envolvida com o capital imperialista, não serviu para “fortalecer” a economia do pais e, finalmente deixou de ser uma empresa brasileira. Tanto para esta empresa JBS, como para a Odebrecth e muitas outras que também receberam muito dinheiro do Estado brasileiro e que se encontram implicadas em delitos de suborno e financiamento de campanhas em outros países, o “compromisso com o país” é na realidade compromisso com os lucros que o governante de turno possa lhe dar, uma vez modificado este, como aconteceu com Dilma, ofereceram seus serviços ao mafioso de turno.

Não se trata só de lucros destas empresas, os administradores do Estado, o governo de Lula/Dilma e os membros do Partido dos Trabalhadores com seus aliados, que participaram da gestão do Estado, receberam suculentos “emolumentos” registrados nos inumeráveis escândalos políticos de corrupção desde o mesmíssimo primeiro governo de Lula, toda esta torrente de dinheiro veio também, em parte, destas empresas.

Voltando ä Venezuela, enquanto o povo tem suportado as duras condições do programa econômico chavista, programa que cada vez mais tem assumindo um caráter conservador e reacionário, a cúpula de dirigentes do “socialismo do século XXI” tem loteado o Estado através do clientelismo, tem se beneficiado da administração do poder direta ou indiretamente, e tem se enlodado na lama da corrupção e da prebenda. Isto não é uma “propaganda da direita”, existe objetivamente e o reconhecem as próprias autoridades, mas buscam atenuar este problema através da propaganda que o Estado maneja com todo o poder econômico ä sua disposição. Este manejo da administração estatal tem causado o desprestígio de seu discurso, assim como o cansaço e fastio do povo.

Isto tampouco é uma característica restrita ao governo venezuelano, a maioria dos “governos progressistas” estão afundados até o pescoço em problemas de corrupção, o que a oposição conservadora exalta – isso nega a existência do problema no meio destes também. É certo que, a corrupção não é um problema exclusivo dos governos do oportunismo (“progressistas”), seus predecessores, estavam submersos em corrupção, prebendas, clientelismo, etc., porém, estes “novos” governos prometeram mudar as coisas na administração estatal, mas isto não tem acontecido e portanto enganaram a seus povos. Na Bolívia, os funcionários do Movimiento al Socialismo de Evo Morales muitas vezes argumentam, como atenuante aos escândalos de corrupção, que agora se rouba tanto como faziam antes os neoliberais, contudo, em alguns casos há que advertir que os funcionários corruptos do governo de Evo têm marcado algumas etapas históricas.

O governo venezuelano, desde a administração de Hugo Chávez, tem se autoproclamado antiimperialista, e tem arrastado com o discurso toda uma corrente de oposição (de palavra) às politicas ianques. Opor-se somente ao governo ianque por um lado e, atrair investimentos russos, chineses ou europeus por outro, não o faz anti-imperialista. O imperialismo é um sistema mundial, se bem está encabeçado pelo imperialismo norte-americano, está conformado também por outras potencias imperialistas, entre as quais estão a Rússia, a China, as potencias europeias como a Alemanha, o Reino Unido, a Franca, entre outras. Atirar os dardos contra as políticas ianques, como no caso, no máximo o faria antiianque mas não antiimperialista.

A presença do imperialismo na Venezuela não tem desaparecido, os dados e inclusive a bibliografia de intelectuais chavistas, dão conta da presença de capitais estadunidenses como Chevron/Texaco ou a Exxon Mobil, a britânica British Petroleum, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total, a espanhola Repsol, que seguem extraindo produtos energéticos pelas quais pagam teoricamente 50% de regalias ao Estado venezuelano.

A dependência da Venezuela ao capital imperialista não tem variado, a “herança” por chama-las de alguma maneira de políticas conservadoras dos governos anteriores ao de Chaves, de uma dependência de mais de 90% da economia exclusiva do petróleo, não tem sido modificada pelo dito governo do socialismo do século XXI. A participação da Venezuela no circuito imperialista tem se mantido e aprofundado sua dependência semicolonial, não só norte-americano mas mundial. O antiimperialismo de Chaves e Maduro não se distanciam dos programas nacionalistas reacionários que buscam um lugar melhor no circuito imperialista mundial, e isso não favorece o povo em nada, mas sim as classes dominantes conservadoras, que são as que fazem grandes negócios, como por exemplo a oligarquia financeira.

A crise venezuelana tem provocado a fuga de indígenas waraos para a cidade brasileira de Manaus, onde mendigam ou realizam trabalhos precários para sobreviver.

Deve-se acrescentar que, enquanto o povo venezuelano tem sustentado os rigores da crise, o governo não tem deixado de pagar nem um só centavo de sua dívida com o imperialismo ianque, não tem deixado de prover petróleo ainda que falte gasolina para sua população. Esta situação está agravada pela queda dos preços do petróleo, algo que tem ampliado a dívida venezuelana e sua maior dependência ao imperialismo, em particular o ianque, que nunca teve seus investimentos em risco.

É significativo, por exemplo, que Maduro as vezes tenha certos equívocos abertos sobre a política ianque. Nas últimas eleições norte-americanas, onde o fascista e arquirreacionario Donald Trump saiu vencedor, Maduro flertou com este e o chamou de “menos pior”, porém se diz que o mesmo governo venezuelano doou dinheiro através da empresa Citgo para sua posse. É verdade que, certos setores da economia ianque não veem Maduro como um inimigo mortal, o periódico norte-americano The Washington Post qualificou a Venezuela como “A revolução socialista preferida de Wall Street”.

Para buscar alianças com o imperialismo, Evo Morales a quem o diário londrinense Financial Times chamou de “o socialista mais bem sucedido do mundo”, organizou em 25 de outubro de 2015, dia de seu aniversário, uma conferência com “investidores” de Wall Street sobre “como investir na Bolívia” sob os auspícios da Corporação Andina de Fomento (CAF) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O governo boliviano despachou em gastos a cifra de 742 mil dólares enquanto que a CAF e o BID aportaram 330 mil. A comitiva boliviana esteve composta por membros das empresas estrangeiras mais importantes na Bolívia, ou seja, o imperialismo, e teve por objetivo convidar mais imperialistas para saquear o país.

Que pese a retórica das relações de Evo Morales com as agencias econômicas imperialistas, como a CAF, o BID e o Banco Mundial (BM) terem sido muito boas, o governo boliviano sempre voltou-se a estes organismos em busca de créditos para seu programa e obteve uma resposta favorável, isto levou Morales, em sua ingenuidade, ignorância ou cinismo, a felicitar o BM (Banco Mundial) por “estar com o processo de mudança”. Em julho de 2013, Evo organizou um show propagandístico levando a Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial, a localidade de Cliza em Cochabamba, onde foi felicitado e ovacionado pela clientela política do MAS, os dirigentes camponeses e as Bartolinas.

Nestes últimos anos, a penetração de capitais russos e chineses, assim como no Equador e na Venezuela, tem sido de importância estratégica, ainda que isto não tenha quebrado a supremacia ianque. São partes das já mencionadas contradições entre frações e grupos dominantes em nossos países, e explica em parte o que acontece na Venezuela com a crise política que já leva mais de 50 mortos, com um protesto social de parte da população que não só é manejada pela oposição ou o chavismo mas resulta de um descontentamento generalizado devido as condições extremas de escassez e carência, devido a gigantesca ineficiência do governo de Maduro e devido também as intenções de manter-se no poder, nessa missão o imperialismo russo e chines tem lhe dado respaldo, enquanto que a potência ianque trata de capitalizar o descontentamento popular através de seus lacaios e quer ter melhores posições na Venezuela porque, na verdade, enquanto tenha um cenário mais favorável será melhor para seus negócios.

Contudo, as classes dominantes atuam em conluio e pugna, pois seus interesses não são antagônicos mas são disputas para melhorar as condições de apropriação da riqueza, mais cedo  ou mais tarde pactuarão (tal como as potencias imperialistas) e deixarão o governo nas mãos de quem melhor se adeque as seus interesses, negando ao povo a satisfação de suas aspirações.

O oportunismo que o programa da burguesia burocrática segue nos Estados latino-americanos não pode ser a alternativa do campo popular, não tem sido nem nunca será, pois este forma parte de um programa reacionário e, normalmente prepara as condições para o retorno da fração compradora mais conservadora. Os povos na américa-latina precisam de uma vanguarda revolucionaria, que construa o caminho popular para fazer uma revolução autentica. Sem um partido revolucionário nossos povos nada terão.

Porém, as águas estão agitadas e os ventos de uma nova época sopram com bastante força, o desenvolvimento desigual das condições revolucionarias refletem também o desenvolvimento desigual da vanguarda revolucionária, por isso, a bancarrota dos chamados governos do socialismo do século XXI (oportunistas e revionistas) serão um grande avanço, abrindo o caminho para a revolução e combater a nefasta influencia que tem tido sobre o povo.