Nota do blog: Importante análise do jornal democrático A Nova Democracia (AND) – Brasil sobre as contradições no seio da burguesia imperialista francesa sobre a União Europeia, que se evidenciaram na farsa eleitoral levada a cabo neste mês de maio de 2017.
Todas as contradições fundamentais da época do imperialismo se agudizam, as disputas interimperialistas se acirram, sobem os tons e surgem arquirreacionários em cada país que correspondem ao momento de profunda pugna. A reacionarização no interior e no exterior seguem se impulsionando e apontam a preparar uma nova guerra mundial imperialista para definir no campo de batalha a repartilha das semicolônias e da hegemonia no mundo. Aumenta-se a superexploração das massas em todo o mundo. Tudo isso acicatea a revolução proletária mundial que se desenvolve em sua nova grande onda.
A farsa eleitoral na França, que teve início em 23 de abril e o seu segundo turno no dia 7 de maio (após o fechamento desta edição), enfrentou grandes dificuldades para conquistar o mínimo de legitimidade frente o total descrédito dado pelas massas.
Cerca de dois terços da população, segundo pesquisas, aderiram ao boicote à farsa eleitoral. Segundo o próprio jornal reacionário Der Spiegel, 50% dos jovens entre 18 e 25 anos não deverão votar. Desenvolve-se neste contexto a campanha “Boycott 2017”.
O Partido Comunista Maoista da França, que organizou e impulsionou a campanha, afirmou: “A democracia burguesa é ditadura da burguesia! Nós, comunistas, dizemos claramente que suas eleições são uma farsa! Não há sombra de dúvidas de que eles têm como único propósito tentar, em vão, legitimar o sistema existente”. “Vamos construir os três instrumentos para a Guerra Popular Prolongada!”, arrematou.
“Não conte com os bairros da classe operária este ano para salvar a França”, afirmou a jovem de 26 anos, Inès Seddiki, muçulmana filha de marroquinos, em entrevista ao The New York Times às vésperas da eleição. “O segundo turno é uma catástrofe. Com Macron estamos enfrentando uma guerra econômica, e com Le Pen estamos enfrentando uma guerra civil, é ruim de todo jeito”, concluiu Cheker Messaoudi, francês de 29 anos, descendente de tunisiano, à mesma fonte.
O fantasma do Brexit
Os dois candidatos que disputaram o segundo turno da farsa eleitoral, Emmanuel Macron e Marine Le Pen, representam diferentes frações da burguesia monopolista francesa e, portanto, suas posições expressam também a contradição entre elas.
Na última edição de AND (nº 187), recordamos o Brexit e afirmamos que aquele processo levado a cabo pela Grã-Bretanha estremeceria todo o bloco, fomentando novas ameaças de rompimento na disputa pela hegemonia. Esse tema é objeto principal de divisão no seio da burguesia monopolista francesa.
A candidata populista Marine Le Pen, ao estilo do arquirreacionário Donald Trump, levantou a bandeira da “soberania” e propôs o rompimento com a União Européia (UE).
Entre outras propostas estão o fim do “Euro” como moeda na França e o restabelecimento do “Franco”, e o maior controle contra imigração. Esta última proposta, na prática, serve mais para mobilizar setores das massas médias francesas a favor da guerra imperialista no Oriente Médio, assentando-se na retórica do “imigrante criminoso”. Isso porque a França, como país imperialista, depende cada vez mais da superexploração do trabalho imigrante. “A França agora defenderá os interesses da França”, afirmou Le Pen.
Isso expressa a contradição que se debate no interior da própria UE: quando uma potência imperialista vê suas chances de exercer hegemonia no bloco se reduzirem irreversivelmente, logo questiona-se a utilidade do mesmo. A França, segunda força na UE depois da Alemanha – quem domina – está vendo suas possibilidades de passar à hegemonia na região sensivelmente reduzidas, e logo surge o “fenômeno Le Pen”.
Há, no entanto, o setor da burguesia imperialista francesa, representado por Emmanuel Macron (vencedor da farsa eleitoral), que mantém a posição de fortalecer a União Europeia e pugnar dentro do bloco para ganhar mais influência e disputar com os alemães.
Para tanto, a proposta de Macron é reformar a governança da zona do Euro, como: estabelecer a união bancária, um instrumento de dívida da zona do Euro e uma política orçamentária comum – propostas que visam enfraquecer o poder dos bancos alemães, visto que estes são, tomados sozinhos, os mais poderosos e fornecem maior influência ao imperialismo alemão dentro do bloco.
A importância destas reformas para o imperialismo francês é vital. Não à toa, Macron, tido como “pró-europeu”, neste 1º de maio, disparou: “Ou a União Europeia se reforma ou poderá enfrentar um Frexit”, na tentativa de pressionar a Alemanha, visto que a saída francesa seria o fim da UE e um golpe certeiro nos planos hegemônicos da Alemanha. Isso, no entanto, seria também um golpe igualmente duro no próprio imperialismo francês.
São estes os problemas do imperialismo francês que se desenvolvem por trás da farsa eleitoral e explicam os reais motivos da sua “polarização”. Macron já afirmou, na posse, que irá intensificar as contrarreformas e a “luta contra terrorismo” no país e no exterior. Será um governo ainda mais reacionário, genocida e chauvinista.