Nota do blog: Este texto é uma declaração do Presidente Mao em apoio a luta revolucionária afro-americana que, na época, era levada a cabo por organizações e personalidades como Robert Williams, Malcolm X, etc. Essa declaração foi o impulso definitivo para a aproximação dos movimentos afro-americanos à personalidade de Mao e ao marxismo-leninismo, aproximação essa que ainda hoje existe consistentemente. Depois dessa declaração, a partir de 1966, surge o Partido dos Panteras Negras pela Autodefesa como uma organização de luta das massas influenciada pelo marxismo-leninismo e pelos ensinamentos do Presidente Mao, dentre muitas outras.
De toda a história da resistência das massas negras que nunca deixaram de combater na cidadela mais fortificada e protegida do imperialismo – mostrando sua decisão e coragem muito além dos revisionistas no USA que se escondem por detrás dos livros – através de suas organizações de massas como o Partido dos Panteras Negras e semelhantes, até mesmo com outras organizações de tipo religioso que dirigia ideológico-politicamente uma parte dessas massas; o que sempre faltou foi uma direção revolucionária capaz de responder à altura a demanda dessas massas, uma direção à altura dessas massas tão combativas, para desembocar tal energia numa revolução, único caminho que responde realmente aos interesses dessas massas. Esta direção não pode ser outra que não um Partido Comunista no USA, partido que precisa ser reconstituído pelos revolucionários para impulsionar a luta dessas massas negras, dos imigrantes, do proletariado e massas populares em geral. Partido Comunista maoísta militarizado dirigindo o Exército Popular e a Frente Única: só assim se garantirá a vitória da classe e se dará consequência revolucionária à heróica luta das massas.
De imprescindível importância, segue a Declaração do Presidente Mao, inédito em português em formado digital, traduzido para o blog.
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Robert Williams (citado na declaração)
e Presidente Mao, na China. |
Declaração de apoio aos negros americanos em sua justa luta contra discriminação racial pelo imperialismo norte-americano.
8 de Agosto de 1963.
Mao Tsé-Tung.
Um negro americano líder agora exilado em Cuba, Robert Williams, presidente da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (em ingles: National Association for the Advancement of Coloured People) de Monroe, Carolina do Norte, me pediu duas vezes essa semana para que eu escrevesse uma declaração de apoio à luta dos negros americanos contra o racismo. Em nome do povo chinês, eu gostaria de tomar essa oportunidade para expressar nosso firme apoio à luta dos negros americanos contra a discriminação e a favor da liberdade e da igualdade.
Há mais de 19 milhões de negros no EUA, ou 11% da população. Eles são escravizados, oprimidos e discriminados, como em sua posição na sociedade. A esmagadora maioria é depravada de seu direito ao voto. Em geral, somente os trabalhos árduos e desprezados são abertos a eles. Sua média de salário é em torno de três vezes menor ou metade da dos brancos. A proporção de desemprego entre os negros é a maior. Em muitos estados eles são proibidos de frequentar as mesmas escolas, de comer na mesma mesa, de viajar no mesmo vagão de trem ou seção do ônibus que os brancos o fazem. Negros são usualmente presos, espancados e mortos pela vontade das autoridades do EUA em vários níveis ou pelos membros da Ku Klux Klan e outros racistas. Por volta de metade de todos os negros estão concentrados nos estados sulistas, onde a perseguição e a discriminação que sofrem são chocantes.
Os negros americanos estão acordando e sua resistência está se tornando cada vez mais forte. Os anos recentes são a testemunha da sua luta popular contra o racismo e a descriminação, pela igualdade e liberdade.
Em 1957, os negros de Little Rock, Arkansas, travam uma luta feroz contra a barragem de seus filhos da escola pública. As autoridades usaram as forças armadas contra eles, o que criou o chocante episódio de Little Rock.
Em 1960, negros de 20 organizaram protestos Sit-in (na traudução livre: sentar) contra a segregação em bares, restaurantes, lojas e em outros lugares públicos.
Em 1961 lançaram a campanha dos Freedom Riders (na tradução livre: guias da liberdade) contra a segregação no transporte público. A campanha rapidamente se espalhou para vários estados.
Em 1962 os negros do Mississipi lutaram pela igualdade de oportunidades no ingresso às universidades e deram de encontro à sangrenta repressão das autoridades.
Esse ano os americanos negros começaram sua luta no começo de Abril em Birmingham, Alabama. Desarmados a mãos nuas, foram presos em massa e barbaramente reprimidos apenas por organizar encontros e marchas contra a descriminação racial. No dia 12 de Junho, Medgar Evers, líder negro do Mississipi foi assassinado a sangue frio. Desafiando a brutalidade e a violência, os negros indignados travaram sua luta ainda mais heroicamente e em pouco tempo ganharam apoio dos outros estados e de pessoas de várias camadas ao longo do país. Uma gigantesca e vigorosa luta em todo o EUA está seguindo em vários estados e aumentando a luta. Organizações negras decidiram iniciar uma Marcha Pela Liberdade em Washington dia 28 de Agosto, da qual 250.000 pessoas vão fazer parte.
A rapidez do desenvolvimento da luta negra nos EUA é uma manifestação nítida da luta de classes e da luta nacional dentro do país. Isso causou uma crescente tensão nos círculos dominantes americanos. A administração do Kennedy está insidiosamente usando uma tática dualista. Por um lado, continuam sendo coniventes e tomando papel na perseguição aos negros, enviando até tropas para reprimir. Por outro lado, na tentativa de entorpecer o desejo de luta do povo negro e enganar a massa, a administração do Kennedy está desfilando como um advogado da defesa dos direitos humanos e da proteção do povo negro, convidando-o a praticar o constrangimento ao propor ao congresso a Legislação dos Direitos Civis. Porém, cada vez mais os negros estão vendo a verdadeira face dessas táticas. As atrocidades fascistas do imperialismo americano contra o povo negro expuseram a verdadeira natureza da tão chamada ‘’democracia e liberdade americana’’ e revelou a ligação interior das políticas reacionárias prosseguidas pelo governo americano “em casa” e suas agressões no exterior.
Eu apelo aos operários, camponeses, intelectuais revolucionários, elementos esclarecidos da burguesia e outros esclarecidos de outras cores no mundo, seja branco, preto, amarelo ou “marrom”, para se unirem a oposição contra a política discriminatória dos EUA e apoiar a luta dos americanos negros contra o racismo. Na análise final, a luta nacional é uma luta de classes. Os brancos nos EUA são os únicos círculos dominantes que oprimem o povo negro. Eles não podem, de qualquer maneira, representar os trabalhadores, fazendeiros, intelectuais revolucionários e outras pessoas esclarecidas que querem esmagar a supremacia branca. No momento, é a mão cheia dos imperialistas, encabeçados pelos EUA e seus parceiros, reacionários de países diferentes, que estão oprimindo, agredindo e ameaçando a esmagadora maioria das nações no mundo. Nós somos a maioria; eles, a minoria. No máximo eles são 10% das 3 bilhões de pessoas no mundo. Estou firmemente convencido de que, com o apoio dos 90%, o povo negro dos EUA sairá vitorioso da sua justa causa. O sistema colonialista e imperialista se ergueu e prosperou com a escravização e com o comércio dos negros, e com certeza terá seu fim com a completa emancipação do povo negro.