Método dialético para a unidade interna do Partido (Mao Tsetung, 1957)
Nota do blog: Publicamos à seguir o discurso do Presidente Mao, em ocasião da Conferência de Representantes dos Partidos Comunistas e Operários, celebrada em Moscou (Rússia) em plena ofensiva geral do revisionismo soviético onde o Grande Timoneiro explica, sob o ponto de vista dialético materialista, a questão da luta interna; não obstante, este discurso também representa uma etapa, até então, já avançada da luta de crítica do PCCh – dirigido pelo mesmo – para com o PCUS, dirigido pela camarilha de Kruschov, já em marcha para a restauração burguesa; luta que veio a devenir-se com a ruptura entre as partes em 1964.
Traduzido pelo núcleo de colaboração.
Método dialético para a unidade interna do Partido
Mao Tsetung
18 de novembro de 1957
Parte da intervenção do Presidente Mao Tsetung na Conferência de Representantes dos Partidos Comunistas e Operários celebrada em Moscou.
No que se refere ao problema da unidade, quero dizer algumas palavras sobre seu método. A meu parecer, devemos tomar uma atitude de unidade para com todos os camaradas, sejam quem forem, exceto aos elementos hostis e sabotadores. No trato com os camaradas, devemos adotar o método dialética e não o metafísico. Que significa aqui o método dialético? Significa tratar as coisas de maneira analítica, reconhecer que todo homem pode incorrer em erros e não desqualificar completamente a alguém pelo fato de cometer erros. Lenin disse que não há no mundo pessoa alguma que não cometa erros. Toda pessoa necessita o apoio das outras. Até um valente precisa da ajuda de outras três pessoas, e um muro é sustentado por três estacas. Sendo tão belas as flores de lótus, só com o verde das folhas aumenta a sua beleza. Estes são provérbios chineses. Na China há outro provérbio que reza: Três simples sapateiros fazem um sábio Chuke Liang. Um Chuck Liang por si só nunca é perfeito, sempre tem limitações. Olhem o caso de nossa Declaração de doze países: já demos o primeiro, segundo, terceiro e quarto rascunhos, mas ainda agora não o terminamos. Penso que é inadequada toda ideia que o leve a gabar-se de sabe-tudo e onipotente como Deus. Assim sendo, que atitudes devemos tomar para com os camaradas que incorrem em erros? Fazer análise e adotar o método dialético e não metafísico. Houve um tempo em que o nosso Partido se viu submetido à metafísica – o dogmatismo –, que anulou por completo todos aqueles que não agradavam aos dogmáticos. Mais tarde, criticamos o dogmatismo e pouco a pouco fomos aprendendo algo mais da dialética. O conceito fundamental da dialética é a unidade dos contrários. Se se o aceita, como se deve então tratar aos camaradas que cometem erros? Em primeiro lugar, lutar contra eles a fim de liquidar completamente suas ideias errôneas e, em segundo, ajuda-los. Ou seja, primeiro, luta e, segundo, ajuda. Partindo da boa vontade, ajuda-los a corrigir seus erros de modo que tenham uma saída.
Enquanto a outro tipo de pessoas, o método deve ser distinto. Para com pessoas como Trotski ou como Chen Tu-siu, Chang Kuo-tao e Kao Kang na China, não havia maneira de assumir uma atitude de ajuda, pois eles eram incuráveis. Houve, além disso, outros indivíduos incuráveis como Hitler, Chiang Kai-shek e o czar; com eles não poderíamos fazer outra coisa que derrubá-los, porque existia uma incompatibilidade absoluta entre eles e nós. Neste sentido, não tinham um caráter duplo, mas único. O mesmo ocorre, em última instância, com o sistema imperialista, com o sistema capitalista, que finalmente serão, inevitavelmente, substituídos pelo sistema socialista. Assim sucede também com a ideologia; há que substituir o idealismo com o materialismo, o teísmo com o ateísmo. Isto é assim desde o ponto de vista de nosso objetivo estratégico. No tocante às etapas táticas, o caso é diferente, pois elas admitem compromissos. Não chegamos a um compromisso com os norte-americanos com o paralelo na Coreia? Não se fez outro com os franceses no Vietnã?
Nas diversas etapas táticas, devemos saber lutar e, ao mesmo tempo, saber fazer compromissos. Voltemos agora a determos nas relações entre camaradas. Proponho aqui que celebrem negociações aqueles camaradas entre os que têm falta de compreensão. Alguns parecem considerar que, uma vez admitidos no Partido Comunista, todos se convertem em santos, ficam livres de desacordos, de mal-entendidos, e se encontram além de toda análise, isto é, que conformam um todo monolítico como uma lâmina de aço, que são uniformes e parelhos e, em consequências, não necessitam de negociações. A eles lhes parece que, uma vez dentro do Partido Comunista, todos hão de ser marxistas 100 por cento. Na realidade, há diversos tipos de marxistas: marxistas em 100 por cento, marxistas em 90 por cento, marxistas em 80 por cento, marxistas em 70 por cento, marxistas em 60 por cento, marxistas em 50 por cento, e alguns são marxistas só em 10 ou 20 por cento. Não podemos conversar entre dois ou várias pessoas em um pequeno quarto? Não podemos celebrar negociações partindo do desejo de unidade e com um espírito de ajuda? Não Claro que não se trata de negociações com o imperialismo (com este também necessitamos celebrar negociações), mas de negociações internas entre comunistas. Peguemos um exemplo: Acaso não é sustentar negociações o que estão fazendo aqui os doze partidos reunidos? Não é negociar o que estão fazendo os sessenta e tantos Partidos? Efetivamente, isso é o que fazemos. Em outras palavras, a condição de não minar os princípios marxistas-leninistas, aceitamos as opiniões aceitáveis de outros e descartamos aquelas nossas que podem ser descartadas. Assim, atuamos com duas mãos: uma para a luta com os camaradas que incorrem em erros e outra para a unidade com eles. O propósito da luta é perseverar nos princípios marxistas, o qual supõe a fidelidade aos princípios. Esta é uma mão; a outra é para velar pela unidade. O propósito da unidade é dar uma saída a esses camaradas, estabelecendo compromissos com eles, o que significa flexibilidade. A integração da fidelidade aos princípios com a flexibilidade constitui um princípio marxista-leninista e é uma unidade de contrários.
O mundo, seja qual for sua tipificação, está repleto de contradições, e isto, por suposto, é particularmente certo para as sociedades de classes. Alguns dizem que na sociedade socialista se pode “falar” contradições. Esta maneira de levantar as coisas me parece incorreta. Do que se trata não é de se pode ou não falar contradições, mas de que esta sociedade está repleta de contradições. Não há lugar algum onde não existem contradições, nem há ninguém que escape a toda análise. É metafísico admitir a existência de uma pessoa que não seja suscetível de análise. Veja, o mesmo átomo encerra todo um complexo de unidades de contrários. Ele é uma unidade de dois contrários: núcleo atômico e elétrons. O núcleo atômico, por sua vez, é uma unidade de contrários: prótons e nêutrons. Visto que existem prótons, há também anti-prótons, e visto que existem nêutrons, há também anti-nêutrons. Em uma palavra, a unidade dos contrários é onipresente. A respeito do conceito da unidade dos contrários, a respeito à dialética, é necessário fazer uma ampla propaganda. Eu diria que a dialética deve sair do cenáculo dos filósofos para chegar às amplas massas populares. Proponho que se aborde este problema nas reuniões dos burôs políticos dos diversos Partidos e nas sessões plenários de seus comitês centrais, assim como nas reuniões de seus comitês locais a todos os níveis. Em realidade, nossos secretários de célula compreendem deveras a dialética. Quando se preparam para fazer um informe numa reunião de célula, costumam deixar escritos em suas livretas os dois aspectos das coisas: primeiro, os acertos e, segundo, as deficiências. Um se divide em dois: este é um fenômeno universal, isto é dialética.