Nota do blog: O seguinte texto é um fragmento retirado da matéria “MST persegue mas recebe o troco em Quipapá” publicada em AND nº 29 (abril de 2006). Trata-se de uma análise proletária do movimento camponês em geral, e do MST, chafurdado no oportunismo, em particular.
MST com o oportunismo no poder
Com o triunfo eleitoral do oportunismo, em 2002, o que se viu foi o loteamento dos cargos do Incra entre os militantes do PT, MST, Pastoral da Terra, Contag e outras agremiações que, assim, se adonaram dessa instituição, inclusive com um representante da chamada “ala esquerda” do PT, Miguel Rosseto, ocupando o cargo de ministro do desenvolvimento agrário da gerência FMI-PT.
A ocupação de cargos na instituição não é novidade, só que antes isso se dava nos escalões inferiores. Agora, acontece o que se pode chamar de uma política conjunta do Incra com o a direção do MST, que constantemente tem jogado grandes contingentes de camponeses pobres nas margens das estradas e nem sequer toca nas cercas dos latifúndios.
Atordoado pelo relacionamento inebriante com a gerência do sistema de governo, os ideólogos do MST, divididos, seguem dando “uma no cravo e outra na ferradura”, combinando críticas leves e superficiais com o apoio quase incondicional à política da gerência. Assim ocorreu no caso da declaração da Secretaria Nacional do MST, publicada em 17 de fevereiro em seu informativo eletrônico, onde faz brandas críticas ao agronegócio incentivado pela gerência FMI-PT.
No texto, prevalece uma enfadonha cantilena que opõe o agronegócio à agricultura familiar. Luiz Inácio, vale lembrar, tão logo o PT assumiu a gerência do sistema de governo, declarou que no Brasil havia espaço tanto para um quanto para o outro.
Nada se diz a respeito da necessária e total destruição do latifúndio e uma efetiva distribuição de terras entre os camponeses pobres, justamente o que a massa dos subúrbios das cidades e as que estão nas margens das estradas aguardam ansiosamente. A questão toda se resume a créditos para a agricultura familiar. Vale dizer que créditos não são doações, mas empréstimos que prendem os camponeses eternamente aos bancos, até que se vejam na obrigação de vender seu pedaço de chão novamente ao latifundiário para pagar a dívida com o capital financeiro.
A bem da verdade, a chamada “agricultura familiar” guarda muitas semelhanças com as relações de trabalho semifeudais, porque permite a exploração da força de trabalho de toda a família, inclusive dos filhos pequenos, uma relação de trabalho não assalariada.
Unido a isso está o endividamento com os bancos e a “assistência técnica” que, longe de proporcionar o desenvolvimento das forças produtivas no campo, limitam a produção camponesa ao que o mercado dita em tal ou qual época, exigindo a produção que melhor satisfaça aos açambarcadores e especuladores de alimentos nas cidades.
Mas as massas de camponeses pobres, mesmo as dirigidas pela cúpula do MST, clamam pela destruição do latifúndio. Inclusive as mais combativas ações do movimento devem ser exclusivamente creditadas a essas massas, que nada têm a ver com a direção oportunista.
O problema é que os camponeses ainda filiados ao MST se debatem no interior de uma organização inconsequente. Por isso, vários grupos se despregam do MST, surgem novos movimentos, independentes e combativos, com princípios inegociáveis de destruição completa de todo latifúndio, de libertação das forças produtivas no campo e voltados para a construção do novo poder.