Chang Chun-chiao (1917-2005): Um grande líder maoista

Nota do blog: Zhang Chunqiao foi dirigente da República Popular da China e ganhou grande notoriedade durante nos estágios finais da Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76) como de grande êxito na batalha que se deu contra a linha de direita do Partido Comunista da China. Com a morte de Mao e o golpe de Estado praticado pelos seguidores da via capitalista que estavam camuflados no P.C. da China, iniciou-se a perseguição aos dirigentes maoístas no P.C. da China e na sociedade como um todo, dos quais Zhang fora um dos presos e condenados, junto com mais quatro dirigentes no episódio conhecido como “perseguição ao bando dos quatro”. Morreu em 2005.
Mais sobre a história do camarada Zhang Chunqiao e todo o contexto histórico inserido neste episódio, segue o texto publicado pela revista Um Mundo a Ganhar, de 16 de março de 2005, retirado da Página Vermelha.


Chang Chun-chiao (1917-2005): Um grande líder maoista 

 
 

Morreu Zhang Chunqiao (também conhecido como Chang Chun-chiao na antiga transliteração do chinês), um dos maiores líderes revolucionários do século XX. Tinha 88 anos.

Zhang era um dos líderes do chamado “Bando dos Quatro”, juntamente com Jiang Qing (Chiang Ching), a mulher de Mao Tsétung. Na realidade, deveria ser o “bando dos cinco”, já que eles eram os mais próximos colaboradores de Mao na liderança do Partido Comunista da China. Eles foram presos um mês após a morte de Mao em 1976, como parte do golpe militar em que os opositores de Mao dentro do partido tomaram o poder, puseram um fim violento à Revolução Cultural que ele tinha liderado contra eles e destruíram o socialismo.

O comunicado oficial que a agência noticiosa chinesa, Xinhua, emitiu a 10 de Maio dizia que Zhang tinha morrido a 21 de Abril. A sua morte foi mantida em segredo durante quase três semanas, talvez para diminuir o perigo de desencadear uma nova vaga de agitação pró-Mao. No mínimo, a demora indicia uma indecisão baseada no medo e contradiz a ideia oficial de que a sua imagem tinha perdido todo o seu poder.

Os “Quatro” foram condenados em 1981 por aquilo a que o Diário do Povo da China agora resume como “os excessos da Revolução Cultural” e por “tentarem tomar o poder a seguir à morte de Mao”. Jiang Qing e Zhang Chunqiao foram condenados à morte (penas que seriam depois comutadas em prisão perpétua), enquanto os seus co-réus Yao Wenyuan e Wang Hongwen, que quebraram nesse julgamento, receberam penas de 20 anos. Jiang morreu na prisão em 1991 em circunstâncias estranhas, depois de 15 anos de isolamento. Wang foi libertado em 1998 e morreu mais tarde, enquanto Yao, também libertado há quase uma década, pensa-se que ainda esteja vivo. Tanto foi o secretismo que rodeou o encarceramento de Zhang e a sua subsequente localização e condições de detenção que, até este recente comunicado, a maior parte das pessoas pensava que ele tinha morrido em 1998. Segundo o curto comunicado oficial da Xinhua, ele foi libertado em Janeiro desse ano “por razões médicas”.

Durante o julgamento, Zhang, que já teria um cancro, recusou cooperar de qualquer forma com as autoridades ou mesmo dizer o quer que fosse, excepto para rejeitar as acusações. O seu olhar letal para os juízes foi inesquecível para todos os que viram as imagens televisivas, os seus olhos salientando-se num rosto com uma barba grisalha desafiadora e saliente mas claramente definida.

Jiang defendeu-se vigorosamente a si própria e à linha de Mao. O apoio de Zhang a Jiang e o desprezo em relação aos seus captores foram inconfundíveis. Em resposta às acusações, Jiang gritou-lhes que não havia nada de errado em derrubar os dirigentes do partido que trabalhavam para levar a China de regresso ao capitalismo. Ela disse que os que estavam agora a persegui-la a ela e a muitos milhares de outros revolucionários não estavam em posição de reclamar por terem perdido os seus lugares de liderança. Olhando hoje para trás, é ainda mais evidente que, independentemente de quaisquer “excessos” e erros cometido durante a Revolução Cultural, a diferença entre o quartel-general revolucionário que dirigiu os debates e as lutas de massas que atraíram muitos milhões de pessoas para a vida política durante os anos de Mao e o regime que destruiu esse socialismo e que mais tarde levou a cabo o massacre da Praça Tienanmen para aterrorizar as massas e silenciar toda a dissidência, é como a diferença entre o dia e a noite.

Uma das principais acusações específicas contra os Quatro foi que eles tinham tentado, a partir de Pequim, organizar uma revolta armada em Xangai contra o golpe de estado, numa tentativa de unificar a resistência em todo o país. Chang Chun-chiao tinha aí sido líder do partido. Embora as autoridades tenham conseguido impedir essa tentativa em Xangai, em parte por causa da vacilação dos que localmente eram a sua vanguarda, durante vários meses houve resistência armada em muitas cidades, até o exército, as prisões e as execuções lhes terem posto fim.

O golpe militar foi ostensivamente dirigido por Hua Guofeng, nomeado sucessor de Mao como dirigente do partido, quando ele ainda era vivo, num compromisso entre as poderosas forças que se opunham a Mao e os que lutavam por continuar a implementar os seus objetivo e políticas. Mas o verdadeiro líder do golpe foi Deng Xiaoping, o líder dos “seguidores da via capitalista” contra quem Mao tinha apontado a Revolução Cultural. Deng depressa afastou Hua e inverteu abertamente o rumo da China, transformando-a do dia para a noite de um país socialista onde “servir o povo” era a base de todas as decisões, para um país guiado pela expressão “ficar rico é glorioso”.

Deng colocou a China totalmente na via capitalista, onde está hoje. Antes do golpe, os trabalhadores da China estavam a tornar-se crescentemente nos mestres de toda a sociedade, começando a ser inseridos na tomada de decisões a todos os níveis e a determinar o futuro do país, estudando, debatendo e criticando destemidamente os que detinham posições de autoridade e uns aos outros. Depois, as cidades da China foram transformadas em fábricas de trabalho escravo onde máquinas do século XXI escravizam centenas de milhões de pessoas em condições do século XIX, trabalhando 12 horas por dia, sete dias por semana. Apesar do sofrimento, as massas ainda continuam impossibilitadas de assegurar o bem-estar das suas famílias ou mesmo de se libertarem do medo do desemprego – uma situação abolida poucos anos depois da revolução chinesa, mais de meio século antes. Hoje em dia, milhões de pessoas trabalham toda a sua vida, não para criar as condições para a emancipação do gênero humano, mas para enriquecerem ainda mais os capitalistas dos países imperialistas e os seus subcontratantes locais. Os camponeses, que ainda constituem a vasta maioria da população, afundam-se cada vez mais na pobreza e na humilhação e sofrem sob o peso de impostos feudais e do roubo frequente das suas terras. O desenvolvimento rural foi abandonado, dado que os recursos são pilhados das zonas rurais para desenvolver as cidades. Mesmo as classes médias estão sujeitas à tirania dos grandes magnatas e dos déspotas do partido e são privadas de vidas com significado.

Os imensamente ricos dentro e fora do partido jantam e divertem-se nos seus cintilantes arranha-céus de onde se vêem os bairros pobres, enquanto os responsáveis governamentais se vangloriam à comunicação social sobre a sua capacidade de “gestão dos mendigos” – ao tornar invisíveis os famintos mandando a polícia espancá-los nas ruas. O país inteiro está cheio de doenças recém espalhadas e de pragas sociais reavivadas após décadas de ausência, como as drogas, a prostituição e o assassinato de bebés do sexo feminino.

A China deu um salto no futuro em 1949 com a vitória da longa guerra revolucionária que derrubou os representantes das potências estrangeiras e os grandes senhores feudais e empresários monopolistas seus aliados que tinham governado a China. O socialismo tornou as fábricas e outras grandes unidades de produção em propriedade do povo e durante as décadas e muitas lutas que se seguiram, os camponeses desenvolveram a propriedade coletiva da agricultura. Mas Mao, estudando essa e a anterior experiência da União Soviética, incluindo o que ele classificou de restauração do capitalismo após a morte de Estaline, concluiu que a propriedade socialista não é suficiente – e que certamente não está garantida. Na URSS, e num grau já alarmante na própria China, tinha surgido uma nova classe capitalista, uma nova burguesia, dentro do próprio partido comunista. Para ela, agora que estava no poder, a revolução já tinha ido suficientemente longe. Mao, pelo contrário, acreditava que se a revolução não avançasse, esses pretendentes a novos senhores representavam um grande perigo.

Em 1966, quando essas duas tendências se envolveram em confronto, Mao fez alastrar a luta para fora dos confins do topo da liderança, apelando aos membros do partido e às massas para que “Bombardeiem o quartel-general”. Isso foi um apelo à critica e ao derrube dos líderes do partido que tentavam levar a China de regresso à via capitalista, um apelo a ganhar a iniciativa na criação de novas coisas socialistas que pudessem fazer avançar a sociedade numa direção revolucionária, ao estudo do Marxismo e à obtenção de uma mais profunda compreensão da diferença entre Marxismo e revisionismo, de para que um crescente número de pessoas representasse um maior papel nas decisões da sociedade. Jiang Qing e Zhang Chunqiao faziam parte do núcleo dirigente nacional dessa “revolução dentro da revolução” sem precedentes. Embora o partido estivesse numa situação perigosa e alguns dos seus líderes tivessem de ser demitidos, as complexas lutas da Revolução Cultural precisaram de ser guiadas e analisadas e o partido precisava de ser reconstruído no seu decurso, ou a vitória dos seguidores da via capitalista não conseguiria ser evitada.

Zhang era um jornalista de Xangai que tinha aderido ao partido no final dos anos 30. Como guerrilheiro, combateu atrás das linhas inimigas na guerra contra a ocupação japonesa. Depois da libertação, tornou-se funcionário do partido nessa cidade. Em 1967, quando se iniciou a Revolução Cultural, liderou um evento muito importante conhecido como Tempestade de Janeiro. Depois de meses de ferozes debates para clarificar ideias, os rebeldes das fábricas de Xangai, bem como dos bairros e das escolas, depuseram a antiga administração da cidade que era uma praça-forte dos seguidores da via capitalista. Dirigidos por membros revolucionários do partido, tentaram inicialmente estabelecer a Comuna de Xangai. Ela tinha por base o modelo da Comuna de Paris de 1871, a primeira e breve revolução da classe operária, em que não havia exército profissional e todos os responsáveis eram eleitos e estavam sujeitos a revogação imediata a qualquer hora. Marx chamou à Comuna de Paris o primeiro exemplo mundial da ditadura do proletariado, o governo da classe operária.

Mao elogiou essa insurreição, um momento decisivo da Revolução Cultural. As massas trabalhadoras tinham irrompido no palco político. Porém, depois de estudar a situação, mostrou que uma comuna não era um modo suficientemente poderoso de o proletariado governar nas circunstâncias então existentes. Contrariamente à situação em que Marx previra que surgiria o socialismo, a China estava cercada por um mundo dominado pelos imperialistas e não podia prescindir de um exército permanente. Do mesmo modo, não podia deixar de ter um governo estável – uma ditadura sobre os que a queriam derrubar – e um partido dirigente baseado na classe mais avançada que dirigisse as massas populares no exercer dessa ditadura. Caso contrário, os representantes da antiga sociedade tirariam proveito das desigualdades existentes na sociedade, das suas ligações e privilégios e das suas superiores capacidades que haviam desenvolvido nessa base, para regressar ao poder.

Mao sugeriu que os rebeldes constituíssem algo que já tinha surgido noutros lugares de um modo embrionário, uma combinação três-em-um a nível da cidade, com representantes das organizações rebeldes, dos dirigentes revolucionários do partido e do Exército Popular de Libertação. Desse modo, como Mao mais tarde explicaria, as massas populares, tendo exposto o que Mao chamaria de “lado negro” do partido, iriam “tomar o poder de um modo global e a partir de baixo”. No final de 1968, comités revolucionários baseados em princípios semelhantes tinham sido estabelecidos em toda a China.

Isso não era uma solução mágica. De fato, após uma década de luta, o exército de que a China não podia prescindir acabaria por prender os seguidores de Mao e os seguidores da via capitalista acabariam por tomar o partido, pondo um fim abrupto à revolução e impondo a sua própria ditadura. A autoridade de Mao também não foi suficiente. Ele viria a advertir, não muito antes de morrer, que algumas pessoas iriam tentar mais tarde usar algumas das suas palavras para estabelecer um regime capitalista disfarçado, enquanto outros usariam outras citações para despertar as massas contra os primeiros. Os maoistas perceberam que ainda tinham muitas lutas à sua frente e muito trabalho a fazer.

Zhang tornou-se num dos principais dirigentes do partido à medida que a Revolução Cultural prosseguia e atravessava diferentes fases e circunstâncias. Ele ajudou a dirigir as complicadas batalhas que mantiveram os seguidores da via capitalista afastados do poder, ao mesmo tempo que trabalhava para escavar o terreno – as condições sociais que restavam da antiga sociedade – em que eles se fundamentavam e de onde retiravam a sua força. Como parte disso, com base no estudo e na reflexão feita sob a direção de Mao sobre as experiências chinesa e mundial e os problemas que enfrentavam, ele fez importantes contribuições para a compreensão maoista do socialismo.

Em 1975, numa altura em que a luta estava a atingir um novo auge, ele publicou Sobre o Exercício da Ditadura Global do Proletariado, um pequeno mas denso texto que teve um efeito político explosivo. Ele analisava a natureza contraditória do socialismo, o modo como se caracteriza pelo confronto entre elementos da antiga e da nova sociedade. Zhang desenvolveu as ideias de Mao sobre o socialismo como uma sociedade em transição. Em primeiro lugar, escreveu ele, a propriedade socialista não tinha sido completamente atingida, em especial nos campos, e poderia ser facilmente perdida. Em segundo lugar, as relações entre as pessoas na produção também tinham que sofrer uma transformação constante – por outras palavras, as massas trabalhadoras tinham que ser crescentemente atraídas para a tomada de decisões sobre a produção e, ainda mais importante, na direção de toda a sociedade, incluindo na decisão dos pontos-chave sobre para que é que serve a produção e todos os principais aspectos dos objetivos e da organização da sociedade. Além disso, as relações de distribuição também tinham de mudar para que, passo a passo, a sociedade pudesse começar a deixar para trás o princípio de pagar às pessoas segundo o seu trabalho. Embora esse princípio signifique libertação da exploração, também representa uma situação que ainda perpetua desigualdades importantes e potencialmente opressivas, porque as pessoas não têm capacidades ou necessidades iguais. Em vez disso, com o passar do tempo, a sociedade tem de se orientar para criar as condições materiais e morais para que toda a gente contribua tanto quanto possa – para desenvolver todo o seu potencial colectivo e individual – e receba tudo o que necessita.

Sem uma luta constante para fazer avançar na sua totalidade as relações entre as pessoas e não apenas a propriedade e sem uma luta no domínio da cultura e das ideias contra as perspectivas e os hábitos herdados da antiga sociedade, a propriedade socialista seria transformada numa concha oca dentro da qual as antigas relações, em vez de serem gradualmente ultrapassadas, seriam perpetuadas e trazidas de volta com uma vingança.

O confronto mais importante numa sociedade socialista ocorre dentro do próprio partido, entre os que promovem ideias e políticas que representam os interesses de uma nova burguesia e os representantes do proletariado, a classe operária que não se pode libertar sem revolucionar toda a gente em todo o globo. Isto concentra-se numa luta entre as duas linhas políticas e ideológicas dentro do partido, as duas perspectivas e conjuntos de objetivos, estratégias e políticas em colisão que pretendem levar a sociedade em direções opostas.

“A luta de classes entre o proletariado e a burguesia, a luta de classes entre as diferentes forças políticas e a luta de classes na esfera ideológica [as ideias] entre a burguesia e o proletariado continuará a ser longa e tortuosa e será por vezes mesmo muito aguda”, escreveu Zhang. “Mesmo quando morrerem todos os proprietários e capitalistas da velha geração, essas lutas de classes não acabarão de maneira nenhuma e uma restauração burguesa ainda pode ocorrer se pessoas como Lin Piao chegarem ao poder.” A referência a pessoas como Lin Piao, um seguidor da via capitalista que tinha morrido alguns anos antes¹, significava um aviso muito específico sobre Deng Xiaoping. Como Mao claramente indicaria um ano depois do aparecimento desse ensaio, imediatamente antes da sua própria morte: “Vocês estão a fazer a revolução socialista e, no entanto, não sabem onde está a burguesia. Ela está no próprio Partido Comunista – nos que estão no poder e seguem a via capitalista.”

A solução, escreveu Zhang, é a seguinte: “A experiência histórica mostra-nos que tanto o caso de o proletariado poder triunfar sobre a burguesia como o de a China se tornar revisionista, dependem de nós conseguirmos perseverar no exercício de uma ditadura global sobre a burguesia em todos os domínios e em todas as fases da revolução.” Isto significa, disse ele citando Marx, continuar passo a passo rumo “à abolição de todas as distinções de classe, à abolição de todas as relações de produção nas quais elas se baseiam, à abolição de todas as relações sociais que correspondem a essas relações de produção e à revolução de todas as ideias que resultam dessas relações sociais.”

“A única maneira de atingir esse objetivo”, concluiu ele, “é exercer uma ditadura global sobre a burguesia e levar até ao fim a revolução contínua sob ditadura do proletariado, até que as acima mencionados quatro todas sejam banidas da Terra, para que seja impossível que a burguesia e todas as outras classes exploradoras existam ou que novas surjam; em definitivo, não devemos fazer uma paragem no caminho da transição.”

Muito do que isto significa em termos de conceitos políticos, sociais e econômicos concretos foi explicado em grande detalhe num manual escrito por uma equipa liderada por Zhang. Baseado e desenvolvendo as ideias de Mao sobre as contradições na sociedade socialista, o “Manual de Xangai” é uma análise valiosa e sem igual da economia política do socialismo. Repesca e aplica a compreensão marxista de que a economia trata, em última análise, das relações não entre coisas mas entre pessoas. Os autores destinaram o seu trabalho “aos jovens que lutam nas linhas da frente nos campos e nas fábricas… Para que melhor se empenhem no combate e que mais depressa se tornem politicamente preparados, os jovens devem estudar alguma economia política.”

Esse trabalho é um bom exemplo do que era a Revolução Cultural: despertar as massas populares para a luta pelos mais elevados objetivos da humanidade, fazer avançar a ciência do Marxismo fazendo um esforço para uma melhor compreensão do que nela é correto e descartando algumas ideias erradas do passado, encontrar maneiras de popularizar amplamente os pontos-chave e fazer com que uma profunda compreensão se torne propriedade de tanta gente entre as massas quanto possível. Também é um exemplo empolgante do materialismo dialético – rigorosamente materialista na sua análise das razões para a divisão das pessoas em classes antagônicas e de como superar essa divisão em concreto e não menos rigorosamente dialético na sua compreensão do caráter contraditório e dinâmico de todas as coisas. Em termos econômicos apenas, as políticas maoistas foram pelo menos tão efetivas na promoção do crescimento como as políticas capitalistas que as substituíram, se não mesmo mais. Além disso, o crescimento durante o socialismo fez a China seguir numa direção completamente oposta, em termos de criação das condições para a emancipação da humanidade, em vez de perpetuar a escravidão ao capital e aos seus representantes.

O Manual de Xangai teve várias edições à medida que os seus autores lutavam por aperfeiçoar a sua compreensão, à medida que os avanços e recuos das batalhas políticas com os seguidores da via capitalista se aproximavam do seu final. A nova classe dominante capitalista proibiu o livro e confiscou todas as cópias da editora, assim que tomaram o poder.

A quantidade de provocações – e mentiras – que a comunicação social ocidental e chinesa lançou sobre Zhang quando ele morreu são prova da sua estatura revolucionária. As mais aguçadas acusações contra ele vieram dos que foram o alvo da Revolução Cultural, na China e no mundo. Aquela revolução representou o ponto mais elevado que a humanidade alcançou até hoje. A avaliação maoista da vida e obra de Zhang baseia-se na nossa compreensão sobre por que é que a Revolução Cultural foi absolutamente necessária e dos objetivo da ditadura do proletariado que ela serviu. Os que acreditam que há algum outro caminho para a emancipação da humanidade devem apresentar argumentos sólidos e não apenas calúnias.

O fato de o socialismo ter sido derrotado na China não prova necessariamente que foram cometidos erros. Como salientaram os revolucionários chineses durante essa última batalha, nos últimos séculos a classe capitalista em ascensão desencadeou muitas revoluções contra o feudalismo e foi derrotada vezes sem conta até finalmente triunfar. Para o proletariado, a primeira classe revolucionária da história que não tem como objetivo substituir uma classe exploradora por outra e que só pode sair vitorioso quando “as quatro todas forem banidas da Terra” e não apenas num ou em vários países, o caminho terá certamente voltas e reviravoltas, vitórias e derrotas, à medida que os povos do mundo se revoltam continuamente contra as grilhetas ao potencial da humanidade, até que acabem por as quebrar de uma vez por todas.

“‘Não há uma estrada régia para a ciência’”, diz o Manual de Xangai citando Marx, “e apenas os que não têm medo da fatigante ascensão pelos seus íngremes caminhos têm alguma hipótese de atingir os seus cumes luminosos”. E continua: “Os dirigentes revolucionários do proletariado dedicaram toda a sua vida a fundar e a desenvolver a teoria marxista. Seguindo o seu exemplo luminoso e lendo diligentemente as obras de Marx, de Lenine e do Presidente Mao, devemos lutar por estudar e dominar esta arma teórica marxista para a revolução socialista e a construção do socialismo e para atingir o comunismo a nível mundial.”

Hoje em dia, apoiamo-nos nos ombros desses gigantes, é necessário e natural que continuemos a desenvolver o Marxismo. Os maoistas avançarão com base em sintetizar ainda mais a experiência do socialismo e da Revolução Cultural na China e continuarão com base nas verdades que Mao e os seus seguidores descobriram e pelas quais lutaram.


¹ A questão de Lin Piao é muito complexa e de fato não há como saber o que ocorreu acerca do episódio envolvendo a morte de Lin Piao; há a versão oficial chinesa, de que ele teria tentado um golpe de Estado pró-social-imperialismo soviético e morreu quando fugia para a URSS social-imperialista; e há a versão de alguns maoistas atualmente, de que Lin Piao, sendo representante da linha proletária encabeçada pelo Presidente Mao, foi vítima do divisionismo praticado pela burguesia no Partido através de picuinhas.


 

 

(Sobre o Exercício da Ditadura Global do Proletariado foi reproduzido no nº 14 da revista Um Mundo a Ganhar (A World to Win, AWTW), em breve disponível em www.aworldtowin.org. Para saber mais sobre a Revolução Cultural e as questões que ela envolveu, veja os nos 17 e 19 da AWTW. O Manual de Xangai foi publicado em inglês com o título Maoist Economics and the Revolutionary Road to Communism (A Economia Maoista e a Via Revolucionária para o Comunismo) [Banner Press, New York, 1995] e está disponível em: AWTW, 27 Old Gloucester Street, London WC1N 3XX, UK.)