Agit-Prop: Como um agitador fala ao povo

Imagem do periódico “A Classe Operária” e o destaque
à formação de quadros de agit-prop.
Nota do blog: “Agit-Prop: Como um agitador fala ao povo” é certamente uma demonstração clara da postura acertada do Partido Comunista do Brasil (o então PCB) nesta época, meados de 1952. Com clareza e contato direto e objetivo com as massas populares, incluindo operários e camponeses, o PC do Brasil seguira, até a intervenção revisionista de Prestes pós-XX Congresso do PCUS, uma linha que deu e daria muita dor de cabeça às classes dominantes locais e imperialista. Neste texto, publicado no então órgão de imprensa e de massas do Partido Comunista chamado “A Classe Operária”, formava suas bases na arte de aprender e ensinar com as massas populares, expandir a atividade do Partido às massas e fundir-se a elas. Segue o texto, retirado do Centro de Documentação Maoísta:

Agit-Prop: Como um agitador fala ao povo
Se a palavra falada é a “principal arma do agitador” (AGIT PROP, maio de 1952), como manejar esta arma no trabalho de agitação?
Eis uma questão de grande interesse para os comunistas. As palestras que os agitadores realizam entre os companheiros de trabalho na empresa, ou entre os vizinhos do bairro, são um poderoso meio de agitação. Estas palestras devem ser simples, cheias de naturalidade
Palestrar com familiaridade
Que quer dizer naturalidade? Muitas vezes os agitadores vão conversar com a massa e já levam a intenção de parecer cordiais, familiares. Mas, por isso mesmo, essa intenção calculada tira toda a naturalidade de sua palestra.
Vamos supor, no entanto, que o agitador começa a conversar com um grupo de operários sobre qualquer assunto da vida diária – um jogo de futebol por exemplo. Partido desse assunto, não é difícil falar no preço elevado das entradas para os jogos. E daí se pode chegar a tratar da carestia da vida, dos baixos salários, da responsabilidade do governo e da necessidade de lutar contra essa situação. É claro que nesta palestra não há nada de forçado.
Da discussão nasce a luz
Além destas palestras espontâneas, onde o assunto surge como que naturalmente, deve haver palestras organizadas, onde o agitador vai tratar de um assunto determinado. Tanto em um como em outro tipo de palestras, o agitador deve portar-se com naturalidade e não como um professor.
A naturalidade não significa que a palestra não deva ser orientada. É preciso orientá-la no sentido de convencer os ouvintes da justeza das palavras de ordem do Partido. Mas isto não deve ser feito de maneira forçada. Se uma pessoa, por exemplo, está se desviando do assunto que interessa, o agitador pode, com uma simples pergunta habilmente feita, chamar novamente a atenção de todos para o tema da palestra.
É necessário provocar uma troca de opiniões, uma discussão animada, com perguntas e respostas, tanto entre o agitador e alguns ouvintes como entre os ouvintes, de um para outros. “Da discussão nasce a luz” – diz a sabedoria popular. Travado o debate, o agitador dará sua opinião com apoio em fatos de argumentos concretos, de moto que entre os presentes não fiquem dúvidas sobre o caminho a tomar.
A modéstia do agitador
O agitador deve evitar apresentar-se como um pessoa dotada de mais conhecimentos ou de mais inteligência  do que  a massa que o rodeia. Isto quer dizer: deve ser modesto.
Se a massa observa o menor sinal do vaidade ou de presunção no agitado não terá confiança nele nem o respeitará. É preciso não tratar as pessoas com superioridade, mesmo as pessoas mais atrasadas. Pelo contrario, é necessário encorajá-las e valorizar seus conhecimentos, por menores que sejam.
Kalinin, grande mestre da agitação bolchevique, quando pronunciava suas palestras não parecia “ensinar” aos ouvintes; dava mais a impressão de que pedia a opinião deles. Falando aos agitadores, Kalinin dizia que se uma pessoa não sabe responder uma pergunta, acanha-se e confessa sua ignorância, pode-se animá-la: “-por que finges? Será que em vez de cabeça tens um melão? Sei que entenderá tudo tão bem quanto eu, mas estás te fazendo de tolo”. E assim, amigavelmente, devemos ajudá-la a compreender a questão.
Falar a verdade
A palavra do agitador deve ser verdadeira, sincera, franca. E com a verdade que convencemos a massa. Mostremos ao povo a realidade: a situação de miséria, opressão e ameaça de guerra em que vive o Brasil e apontemos o caminho da luta para sair desta situação. Só a propaganda reacionária precisa falsificar a realidade para enganar o povo.
Não se trata, portanto de pintar quadros cor de rosa, como também não se trata de ser pessimista. O agitador deve revelar as privações e dificuldades que o povo atravessa; mas não pode deixar de explicar ao povo sua grande força, de explicar  ao povo que sua vitória através da luta está próxima e é inevitável.
Evitar frases feitas
O mais difícil para o agitador é aprender a falar como deve. A primeira vista, isto parece ser muito fácil, mas é preciso algum esforço para consegui-lo.
Como deve expressar o agitador? 1-Precisa transmitir seus pensamentos de forma viva e interessante, para que eles impressionem os ouvintes; 2-Além disso, deve expor suas idéias em poucas palavras, pois dispõe de pouco tempo; 3-E, finalmente, as idéias têm que ser claras e compreensíveis para todos e para cada um dos ouvintes.
O principal é evitar as frases feitas, os chavões decorados. O orador que não fala com suas próprias palavras que recorre a frases aprendidas de memória não emociona nem convence ninguém. É o caso do agitador de um curtume no Rio que, no início da agressão americana à Coréia, dirigiu-se aos operários de sua empresa nos seguintes termos: “Neste momento, que ora se inicia mais uma criminosa investida política totalitária e criminosa, de violação de soberania dos povos e de desencadeamento de uma guerra mundial, os chacais imperialistas nazi-ianques contam com o apoio servil das classes dominantes de nosso país para uma guerra de rapina contra o humilde povo da Coréia”… A essa altura, já os operários não queriam mais ouvir.
Linguagem viva e clara
O agitador deve falar com suas próprias palavras, empregando uma linguagem viva, simples e clara. Para explicar melhor seus pensamentos deve recorrer a exemplos, imagens, comparações e ditos populares.
Nas obras do camarada Stalin encontram-se numerosos modelos de agitação bolchevique. O 1º volume das “Obras” de Stalin, há pouco editado no Brasil, contém várias proclamações que são verdadeiras obras primas da agitação. Tomemos como exemplo alguns trechos do manifesto: “Operários do Cáucaso, chegou a hora de nos vingarmos!”

“Estais ouvindo, camaradas? – escreve Stalin – Pedem nos que esqueçamos o estalar do chicote e o zunido das balas, as centenas de heróicos companheiros assassinados, suas sombras gloriosas que rondam em volta de nós e que nos murmuram: – Vingai-nos! A autocracia nos estende cinicamente a mão ensangüentada e aconselha a conciliação! Publicou um certo “decreto soberano” em que nos promete uma certa “liberdade”… Velhos bandidos! Pensam alimentar com palavras milhões e milhões de proletários russos famintos! Esperam contentar com palavras os milhões e milhões de camponeses reduzidos à miséria e à exaustão! Querem enxugar com palavras o pranto das famílias órfãs, das vítimas da guerra! Miseráveis! Estão se afogando e querem agarrar-se a uma palha!… Por outro lado, as massas populares indignadas preparam-se para a revolução e não para a reconciliação com o tzar. Elas se aferram obstinadamente ao provérbio “Só a cova endireita o corcunda”. Sim, senhores, são vãos vossos esforços! A revolução russa é inevitável. Tão inevitável como o nascer do sol! Podeis deter o sol nascente?… Portanto, avante, camaradas! Quanto a autocracia tzarista vacila, nosso dever é preparmo-nos para a o ataque decisivo! Chegou a hora de nos vingarmos!”

Como Stalin sabe falar à massa! É esta linguagem simples, clara e combativa que deve servir de exemplo aos nossos agitadores.
(AGIT-PROP, AGOSTO DE 1952).